O Casal Cristão e a Experiência do Ninho Vazio

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Fator Desencadeante

Os filhos nascem e os pais ficam felizes e orgulhosos. Então vem o cuidado desses pais, primeiro o absoluto, porque a criança depende totalmente de alguém para sobreviver; ao passar do tempo, esse cuidar se modifica, logo após se altera novamente e, em um piscar de olhos os filhos saem de casa para construir uma vida própria. Após anos de noites mal dormidas e dedicação chega o momento de ver o filho (a) sair e deixar o ninho vazio.

Um sentimento contraditório toma conta de muitos pais, ao mesmo tempo há o orgulho porque “meu filho é capaz”; também outras emoções se fazem presentes: tristeza, solidão, perda, entre outras. Nesse momento alguns pais desencadeiam sintomas psicossomáticos, como distúrbios gastrointestinais, alergias, dificuldades respiratórias sem outra causa justificável, ou angústia e uma profunda melancolia, podendo chegar até a depressão mais severa.

Explicando o Ninho

Esse quadro acima revela a síndrome do ninho vazio, a mãe, o pai ou o casal se depara com esse vazio. É certo que cada indivíduo genitor reage ou expressa as suas emoções de forma diferente, e essa diferença tem a ver com a sua subjetividade, com o seu contexto sócio-cultural. O período da síndrome do Ninho Vazio (SNV) acontece associada com diversas outras mudanças, como aposentadoria, menopausa, que agravam os sentimentos de depressão e baixa auto-estima.

Com a saída dos filhos, mulheres que abdicaram de suas vidas e de sua individualidade para os cuidados de seus filhos, acabam sentindo-se rejeitadas, incapazes e muitas até arrependidas. Frases como: “não sirvo pra mais nada” são comuns de se ouvir, porque muitas só exerceram em seus casamentos papéis de mãe, da cuidadora. Na verdade, é função imprescindível no casamento a clareza dos papéis. O homem é marido de sua esposa e vice-versa, ou seja, além de tudo que se entende como convivência de um casal, exercem o papel de pai e mãe. Aquelas mães e pais mais controladores acabam sofrendo mais os efeitos do esvaziar do ninho, uma vez que esses filhos não se encontram mais na visão total de seus olhos. Alguns pais, até de forma inconsciente são “castradores”, pois tentam em tudo criticar seus filhos, por puro medo de que estes realmente cresçam.

O papel dos Filhos

O filho, nesse momento, precisa ser forte psiquicamente e ter a capacidade de mostrar a esses pais que ele está crescendo, se desenvolvendo, que é saudável, e que essa atitude de sair de casa do jeito e na hora certa não significa, em hipótese alguma falta de amor. A orientação aos filhos é de que jamais batam de frente com seus pais, dizendo que eles são caretas, antigos, errados ou que você sabe tudo, ao contrário, entender a dor de seus pais e dizer a eles que continuarão sempre sendo amados é uma ótima forma de ajudá-los a enfrentar o ninho vazio. Demonstrar isso através de ações e palavras e expressar o eterno respeito e reconhecimento por tudo o que esses pais fizeram ou acreditam que fizeram de bom para você filho, ao mesmo tempo que você planeja sua vida e segue o seu próprio caminho poderá trazer um certo conforto a eles e será menor o sentimento de rejeição sentindo por eles. Poder conversar sobre os sentimentos envolvidos na síndrome do ninho vazio é muito saudável tanto para o casal como para os filhos. Como a própria palavra de Deus mostra: – “A ansiedade no coração do homem o abate, mas boas palavras o alegra” Provérbios 12.25.

O vazio interior

Estudos mostram que aqueles pais que estão mais ativos e de alguma forma trabalham, assim como mães que têm outros afazeres que não necessariamente os da casa acabam passando pela fase SNV com mais tranquilidade, assim como mães que têm mais filhos em casa ou seus filhos casados moram próximos. O importante também é salientarmos que o problema não está necessariamente no ninho vazio, mas sim no vazio existencial que já existia ainda com o ninho cheio, do pai ou da mãe. Outro ponto importante é a diferença entre homem e mulher. De um modo geral os homens têm mais dificuldades de falarem sobre o assunto e acabam reprimindo as suas emoções. Promover o diálogo poderá ser enriquecedor para o casal cristão, que pode aproveitar esse momento para falar de seus medos em relação às mudanças de suas vidas. Tenho visto no consultório que os casais enfrentam muito melhor essa fase da vida com o diálogo, o apoio mútuo, e parte dessa síndrome é apenas medo do novo, que gera ansiedade e insegurança.

O que fazer no ninho

O casal deverá aproveitar que o ninho está aparentemente vazio para se aproximar ainda mais afetivamente e sexualmente um do outro. As muitas lutas e funções da vida afastam outras funções importantes do casal, e esse é um momento próprio para deixar de viver apenas em função dos seus filhos, muitas vezes um casamento “de fachada”, e partir para um reencontro dentro do próprio casamento, agora mais maduro e sem as inseguranças lá do início, quando vieram os primeiros filhos etc.

A fase do SNV é importante também para que o casal tenha a clareza que jamais deixarão de ser pais de seus filhos, porém, é importantíssimo que eles possam dar a possibilidade de seus filhos crescerem com a vida e acreditarem que a educação que eles proporcionaram irá contribuir para que seus filhos sejam cidadãos de bem, de moral e de caráter, consecutivamente filhos capazes e amarem a si, a seus pais e acima de tudo a Deus. A Bíblia diz: “ama o teu próximo como a ti mesmo”, então fica claro a importância dos pais criarem filhos com afeto seguro, pois sendo assim se amarão e conseguirão amar ao próximo, porque na verdade só é capaz de amar ao próximo quem se ama.

Os pais que se encontram com os ninhos vazios deverão observar que a tão sonhada frase “enfim sós” estará mais presente do que nunca, não por “se livrarem dos filhos”, jamais, mas por terem agora mais tempo um para o outro. Querida irmã, aproveite esse momento para que você se redescubra em muitas áreas de sua vida. “Seja bendito o teu manancial e alegra-te com a mulher da tua mocidade…” Pv 5.18.

Assim como um dia vocês se amaram, se não estiverem nesse momento tão envolvidos, achando que a vida a dois tem não tem mais sentido, pois já criaram seus filhos e acabam se sentindo perdidos, reconquistem um ao outro, façam as coisas que antes não podiam, caminhem , façam esportes, participem demais atividades na igreja, estudem, façam cursos teológicos, faculdades juntos ou individualmente, participem de mais grupos de orações, façam novos desafios na vida a dois, vocês poderão em muito contribuir com as obras sociais de sua igreja.

Vejam o momento da saída de seus filhos como mais uma etapa vencida e como um momento de novas possibilidades de crescimento, com uma melhor qualidade de vida física, psicológica e espiritual. Com o casamento de seus filhos os netos chegarão e uma nova e linda etapa em suas vidas você vai descobrir sendo avós. E você sabe, avós são pai e mãe com açúcar!

Conclusão

A vida pode ser vista através de nosso olhar como sendo triste ou bela. Cada um olhará através de suas janelas internas. Não se esqueça como a Palavra de Deus diz: Há um tempo determinado para cada coisa. Sejamos cristãos obedientes e nos alegremos no Senhor. O coração alegre aformoseia o rosto. Vamos reconstruir novos ninhos de amor dentro de cada um de nós, a cada dia. Se você sabe que precisa de ajuda procure um pastor ou psicólogo de sua confiança.

Por Valquíria Salinas é cristã evangélica, com vasta formação na Psicologia e áreas correlatas.

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