EBD – A Sutileza contra a prática da mordomia cristã

Pr. Sérgio Loureiro
Pr. Sérgio Loureiro
Sou o Pastor Sérgio Loureiro, Casado com Neusimar Loureiro, Pai de Lucas e Daniela Loureiro. Graduando em Administração e Graduando em Teologia. Congrego na Assembleia de Deus em Bela Vista - SG

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Prezados professores e alunos,

Paz do Senhor!

“E [Abrão] deu-lhe o dízimo de tudo.” (Gn 14.20)

INTRODUÇÃO

O nosso tempo é marcado pelo apego às coisas materiais. Por isso, esse tempo também é marcado pelo enfraquecimento da mordomia cristão, ou seja, a administração dos bens que Deus nos deu. Nesse sentido, a presente lição apresenta o problema do “evangelho” da barganha; depois expõe a doutrina bíblica do dízimo; em seguida, amplia a reflexão a respeito da mordomia cristã de modo geral. Assim, veremos que Deus é o fiel provedor; e o homem, o despenseiro das coisas de Deus.

Antes comentar o primeiro tópico, queremos trazer a definições da palavra Mordomia, segundo Russell Champlin, vejamos:

Três expressões hebraicas e duas palavras gregas estão envolvidas neste verbete, a saber:

Ha-ish asher ai, “homem que está sobre”. Expressão hebraica que aparece somente em Gn. 43.19.

Asher ai bayith, “quem está sobre a casa”. Outra expressão hebraica, que só pode ser encontrada em Gn. 44.4.

Ben mesheq, “filho de aquisição”. Essa expressão hebraica ocorre somente uma vez, em Gn. 15.2.

Epitropos, “encarregado”. Palavra grega que é usada por três vezes: Mt. 20.8; Lc. 8.3; Gl. 4.2. O verbo aparece em Lc. 3.1; e o substantivo, “encargo”, em Atos 26.12.

Oikonômos, “mordomo”. Termo grego usado por dez vezes: Lc. 12.42; 16.1,3,8; Rm. 16.23; 1 Co. 4.1,2; ou, 4.2; Tito 1.7; 1Pe. 4.10. O verbo reaparece em Lc. 16.2. O substantivo, “mordomia”, ocorre por nove vezes: Lc. 16.2-4; 1Cor. 9.17; Ef. 1.10; 3.2,9; Cl. 1.25; 1Tim. 1.4.

Aquelas três expressões hebraicas têm equivalentes semânticos no acádico e no ugaritico, embora sejam especialmente comuns, esses equivalentes, nos idiomas semiticos ocidentais. A terceira dessas expressões não tem explicação, embora os Targuns a interpretem por “mordomo”. Nossa versão portuguesa põe a palavra “herdeiro” nos lábios de Abraão, bem como na resposta que lhe deu o Senhor (ver Gên. 15.2, 4); mas o original hebraico sô tem aquela expressão no vs. segundo, enquanto que no vs. quarto o Senhor usou outra palavra hebraica, yarash, “herdeiro”. Isso significa que nossa versão portuguesa não reflete a expressão hebraica ben mesheq, Em 1 Crônicas 28: 1, algumas versões dizem “mordomos”, onde a nossa versão portuguesa, mais acertadamente diz’ “administradores”. Todavia, no original hebraico temos a palavra sar, “príncipe”, que aceita a ideia secundária de “supervisor”.

No Novo Testamento grego, o equivalente semântico de sar é epitropos, ao passo que oikonômos é, realmente, a palavra que deveria ser traduzida em português por “mordomo”. (CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 4. p. 359).

I- CONHECENDO O EVANGELHO DA BARGANHA

1- Dízimos e ofertas como moeda de troca.

O que é a Teologia da Prosperidade. É a doutrina, segundo a qual o crente, por ser filho de Deus, jamais passará por agruras financeiras, pois foi ele destinado a viver de maneira regaladamente pródiga, sem ter de se defrontar com as carências materiais comuns a todos os seres humanos.

A doutrina de Bildade. Como predecessor da Teologia da Prosperidade, acreditava Bildade que, se Jó estava sofrendo e já nada possuía, era porque pecara contra o Senhor. Pois somente são atribulados aqueles que desobedecem a Deus. Logo: os que o obedecem, acham-se em larguezas e profusões. A fim de fundamentar a sua doutrina, evoca Bildade o testemunho dos antigos: “Porque, eu te peço, pergunta agora às gerações passadas e prepara-te para a inquirição de seus pais. Porque nós somos de ontem e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra” (Jó 8.8,9).

A falácia de Bildade. Quão falacioso e sofístico era Bildade! Além de brincar com as palavras e jogar com raciocínios aparentemente válidos, ousa invocar até o depoimento dos antigos. Não agem assim os modernos proponentes da Teologia da Prosperidade? Na defesa deste aleijão doutrinário, torcem as Sagradas Escrituras, brincam com a verdade, fazem uso de subterfúgios lógicos e até citam, fora de seu contexto, o testemunho dos antepassados (2 Pe 3.16).

AS CONTRADIÇÕES DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Se Bildade viveu num período anterior ao patriarca Abraão, como acreditamos, que exemplo poderia ele apresentar dos antigos, para que a sua doutrina fosse devidamente justificada?

A prosperidade material. De acordo com a História Sagrada, os ímpios vêm prosperando materialmente muito mais do que os justos (Sl 73.1-10). O que dizer da civilização inaugurada pelo homicida Caim? A cidade por ele fundada era, tecnologicamente, avançadíssima (Gn 4.17-22). Enquanto isso, nem notícia temos do progresso alcançado pelos filhos do piedoso Sete. Que riquezas lograra Enoque? Ou Noé? Ou ainda Sem? Enquanto isso ia os descendentes do indecoroso e irreverente Cão fundando grandes impérios: Líbia, Egito, Etiópia e os domínios de Canaã (Gn 10.1-20).

As provações dos justos. A História Sagrada, no registro dos fatos que ocorreram após a era de Bildade, fala de alguns homens que, apesar de sua comprovada e singular piedade, foram submetidos às piores agruras. Se Abraão, Isaque e Jacó foram abençoados com grandes riquezas, José foi vendido como escravo, e como escravo viu-se constrangido às mais inumanas humilhações (Gn 37.26-36). Elias, Amós e Lázaro vivenciaram necessidades básicas. O primeiro viu-se na contingência de nutrir-se do que lhe traziam os corvos (1 Rs 17.5-7). O segundo, como boieiro, alimentava-se de sicômoros (Am 7.14). E o terceiro, além da extrema pobreza, fora coberto por uma terrível chaga; e, assim, abandonado por todos, comia das migalhas que caíam da mesa do rico (Lc 16.20-25).

A evidência de uma vida piedosa. Não quero, com isso, ressaltar a pobreza como evidência de uma vida plena de Deus, como não o é também a riqueza. Pois, se nas Sagradas Escrituras há ricos piedosos, há também pobres incrédulos e nada tementes a Deus.

Temos de agir com equilíbrio e discernimento, pois o extremismo teológico quer à esquerda, quer à direita da Bíblia, são nocivos. Logo: que ninguém seja julgado pelo que tem, mas pelo que é (Mt 5.16; 1 Tm 5.25; Tg 1.26,27). Quer Deus nos conceda riquezas, quer nos deixe experimentar necessidades, tenhamos sempre em mente que Ele é soberano e, como tal, sabe tratar com seus filhos (Jr 18.1-6). Habacuque e Paulo sabiam viver na abundância, e não se perturbavam na privação (Hc 3.17-19; Fp 4.10-13).

2- Dízimos e ofertas como práticas legalistas.

Quando fórmulas, técnicas ou quaisquer outros meios substituem a comunhão do crente com o seu Deus, então o caminho para uma fé deformada está aberto. Esse modelo teológico que ignora a existência humana e não leva em conta a soberania de Deus sobre a história tem produzido uma geração de crentes superficiais. E o que é pior — tem se tornado quase que exclusivamente o único tipo de fé conhecida. O cristianismo ortodoxo tem sido empurrado para a periferia da fé. A química resultante da mistura desse modelo teológico com o princípio bíblico da retribuição tem originado uma excrescência dentro do protestantismo evangélico — a Teologia da Barganha.

Os pressupostos da Teologia da Barganha já são perceptíveis no Antigo Testamento, nos argumentos defendidos pelos amigos de Jó: Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú. E possível vermos na teologia desses homens uma relação distorcida entre pecado e punição. Em palavras mais simples, eles defendiam a tese de que por traz do sofrimento de Jó estava algum tipo de pecado cometido, porém ainda não conhecido. Algo semelhante àquilo que é pregado em muitas igrejas neopentecostais. Luiz Alexandre Solano Rossi (2008, p. 75) comenta:

A teologia da retribuição está assumindo a sua forma e assim permanecerá durante o desenrolar de todo o livro de Jó. O homem pode, sim, ser conduzido a agir por interesse: se ele faz o bem, recebe a felicidade; se pratica o mal, recebe a infelicidade. A vida de fé está a um passo de se transformar em uma relação comercial. A fé pode estar sendo vista a partir de uma prateleira de supermercado, ou seja, Deus se apresentaria como um negociante. A consagrada expressão brasileira do “toma lá, dá cá” se encaixa perfeitamente nessa situação […] Contra essa teologia da retribuição ele (Jó) tem um único argumento: sua experiência pessoal e sua observação da história, na qual a injustiça permanece impune. Sua observação e intuição são corretas: existem somente homens situados no espaço e no tempo, no sentido de que vivem em uma época precisa em um contexto social, cultural e econômico preciso […].

Vejamos um resumo de seus discursos:

a) Elifaz sugere que Jó é um pecador;

b) Baldad diz abertamente que seus filhos morreram por seus pecados;

c) Sofar assegura a Jó que seu sofrimento é menos do que ele merecia;

d) Eliú afirma que o sofrimento tem um caráter pedagógico. Eles representam perfeitamente o modo mais comum de se mascarar a verdadeira fé bíblica: a ideologia, a ortodoxia e o heroísmo convencional.

O troco na troca

Pois bem, os léxicos da língua portuguesa trazem os termos trocar e negociar como significados da palavra barganha. Dentro de um contexto comercial, o barganhista é aquele que leva vantagem em uma transação feita. No contexto religioso, barganhar é usar a fé para obter vantagens pessoais. A ideia por trás é a da troca. O devoto não busca a divindade simplesmente com o coração de um adorador, mas com o sentimento de um mercador. Hoje, com a explosão do neopentecostalismo, a velha prática da barganha voltou com força para o meio das igrejas evangélicas. A fé virou uma poderosa moeda de troca e Deus passou a ser visto como um realizador de sonhos narcisísticos.

Barganhar, uma prática muito antiga

Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção, recebendo o galardão da injustiça; pois que tais homens têm prazer nos deleites cotidianos; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em seus enganos, quando se banqueteiam convosco; tendo os olhos cheios de adultério e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza, filhos de maldição; os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça. Mas teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta. (2 Pe 2.12-16)

A história bíblica narra que na rota do êxodo rumo à Terra Prometida, os israelitas entraram em confronto com outras nações. Uma dessas nações eram os moabitas que possuíam Balaque como rei (Nm 22.4).

Balaque ouvira falar das conquistas dos hebreus e, temendo ser derrotado por eles, entrou em aliança com os midianitas. O passo seguinte foi alugar os serviços de Balaão, um falso profeta e adivinho da cidade de Petor na Mesopotâmia. O propósito era que este invocasse maldições sobre o povo de Deus (Nm 22.6).

A primeira comitiva enviada por Balaque não obteve êxito, pois Balaão foi proibido por Deus de acompanhar os mensageiros de Balaque (Nm 22.12).

O Senhor mostrou a Balaão que ele não poderia amaldiçoar um povo que já era abençoado. O rei dos moabitas não desistiu, e enviou uma caravana com pessoas mais nobres e com promessas de honrar mais ainda e recompensar a Balaão. Balaão cede e vai com os mensageiros, mas prometendo fazer somente aquilo que Deus permitisse. Na trajetória, ele é repreendido quando Deus permite que seu animal de carga fale em voz humana. Balaão instrui o rei Balaque a fazer sete altares e por três vezes tentou amaldiçoar os israelitas, mas em vez de amaldiçoar foi forçado por Deus a abençoar (Nm 24.17).

Vendo-se proibido por Deus de amaldiçoar o povo que Deus mesmo abençoou, Balaão muda de estratégia e passa agora a instruir Balaque a pôr tropeço no caminho do povo de Deus por meio da fornicação e corrupção (Nm 31.16). Balaão não conseguiu amaldiçoar, mas induziu o povo de Deus ao pecado. Os apóstolos Pedro e João mostram que Balaão “amou o prêmio da injustiça” e induziu o povo de Deus a se “contaminar” (2 Pe 2.15; Ap 2.14). O adivinho fez do sagrado um negócio para obter ganhos pessoais.

A história se repete

Por outro lado, a história registra que no século XVI Lutero, até então monge católico, se levantou contra o clero quando este promovia a venda de indulgências. Ele descobriu que a salvação é pela graça e ninguém pode barganhar com Deus (Rm 1.17). Sentindo a necessidade de construir a basílica de São Pedro, a igreja católica empreendeu uma campanha para arrecadar fundos. Foi feita uma barganha com a fé dos devotos que eram instruídos a depositar suas ofertas com a promessa de terem em troca a libertação das almas de parentes que se encontravam no purgatório. Foi esse episódio que fez com que explodisse a Reforma Protestante de 1517. O que levou Lutero a romper com a igreja institucional foi a iluminação que recebeu do Espírito Santo sobre a passagem de Romanos 1.16,17, quando ministrava um curso sobre essa epístola na Universidade de Wittenberg em 1512. De fato, como bem observou C. Leonard Allen (1998, p. 120,121), ele ficou estupefato: pela fé, não por obras; pela fé, não pela austeridade monástica; pela fé, não pela meticulosidade das confissões […] munido dessa nova convicção, Lutero dispôs-se a contestar qualquer um que tornasse o amor e a aceitação por parte de Deus dependentes da justiça humana. Ele atacou os negociadores de indulgências por venderem a graça de Deus por preço determinado.

A Reforma provocou mudanças na igreja e na cultura ocidental, mas os séculos passaram e os seus princípios caíram no esquecimento. Novamente nos deparamos no contexto evangélico com a velha prática da barganha. Estamos presenciando um verdadeiro festival de “toma lá dá cá”. Há uma rifa da fé, e quem der mais tem a promessa de conseguir muitas bênçãos. Até mesmo a Bíblia que em anos passados foi o instrumento da Reforma está sendo usada como moeda de troca. Em troca das bênçãos de Deus se oferece aos crentes “toalhinhas”, “água do rio Jordão”, “sabonetes ungidos”, etc. (José Gonçalves. A Prosperidade a Luz da Bíblia. Editora CPAD. 1 Ed. 2011. pag. 151-154).

II – A DOUTRINA BÍBLICA DO DÍZIMO SOB ATAQUE

1- O dízimo era uma prática da lei.

Alguns usam uma justificativa teológica, dizendo: Ah, eu não sou dizimista, porque dízimo é da lei. E eu não estou debaixo da lei, mas sim da graça. Sim! O dízimo é da lei, é antes da lei e é depois da lei. Ele foi sancionado por Cristo. Se é a graça que domina a nossa vida, porque ficamos sempre aquém da lei? Será que a graça não nos motiva a ir além da lei? Veja:

– a lei dizia: Não matarás = eu, porém vos digo aquele que odiar é réu de juízo.

– a lei dizia: Não adulterarás = eu, porém vos digo qualquer que olhar com intenção impura.

– a lei dizia: Olho por olho, dente por dente = eu, porém vos digo: se alguém te ferir a face direita, dá-lhe também a esquerda.

A graça vai além da lei: porque só nesta questão do dízimo, ela ficaria aquém da lei? Esta, portanto, é uma justificativa infundada. Em Mt 23.23 que diz: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas.

Justiça, misericórdia e fé também são da lei. Se você está desobrigado em relação ao dízimo por ser da lei, então você também está em relação a estas virtudes. (Renovato. Elinaldo,. Tempo, Bens e Talentos: Sendo Mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. 1 Ed 2019. Editora CPAD. pag. 60-61).

2- O dízimo como contribuição imposta.

Paulo cita outro exemplo para legitimar o seu direito de receber sustento da igreja. O argumento agora está fundamentado na prática do Antigo Testamento. “Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento?” (1Co 9.13).

Se você ler atentamente o capítulo 9 de I Coríntios perceberá que quase todo ele está em forma de perguntas. Eu imagino Paulo como um orador no tribunal, defendendo a sua causa. Ele está fazendo perguntas retóricas. Ele recorda o sacerdote e o levita no Antigo Testamento que cuidavam do templo, do ministério, e do altar. Quando alguém trazia a oferta, o dízimo e o sacrifício, o levita e o sacerdote recebiam para o seu sustento as primícias de tudo aquilo que era trazido à casa de Deus.

Os sacerdotes e os levitas recebiam o sustento financeiro dos sacrifícios e ofertas que eram trazidos ao templo. A regulamentação que governava a parte deles nas ofertas e nos dízimos está em Números 18.8-32; Levítico 6.14-7.36; Levítico 27.6-33. A aplicação feita pelo apóstolo Paulo é clara: Se os ministros do Antigo Testamento, que estavam sob a lei, recebiam sustento financeiro do povo a quem eles ministravam, não deveriam os ministros de Deus, no Novo Testamento, sob a graça, receberem também suporte financeiro? (LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios Como Resolver Conflitos na Igreja. Editora Hagnos. pag. 175-176).

III – A DOUTRINA BÍBLICA DA MORDOMIA CRISTÃ

1- Deus, o criador e provedor.

Antes de tratarmos dos princípios e normas que devem direcionar a mordomia de um cristão, convém dizer que nem todas as igrejas adotam ou possuem os mesmos modelos de mordomia. Mas o que deve ficar claro é que uma pessoa, ao aceitar voluntariamente fazer parte da membresia de uma igreja, deve ficar consciente de como aquela igreja pratica a mordomia cristã. Deve saber, por exemplo, como o estatuto de sua igreja especifica os deveres de cada membro, inclusive na questão de contribuição financeira.

O que não pode é o crente aceitar fazer parte de uma comunidade que tem entre seus princípios e normas receber dízimos e ofertas de seus membros, e se recusar a cumprir o que antes havia prometido fazer. Isso porque por ocasião do batismo as igrejas costumam perguntar aos batizandos se estão dispostos a seguir a orientação e as diretrizes dadas pela igreja. Ninguém é obrigado ou constrangido a fazer parte de igreja nenhuma. Toda adesão a uma determinada igreja e denominação deve ser feita de forma voluntária. Contudo, ao fazermos parte de uma igreja, devemos estar conscientes de que temos não apenas direitos, mas também deveres. O estatuto de nossa igreja diz, por exemplo, que são direitos dos membros:

receber orientação e assistência espiritual; participar dos cultos e demais atividades desenvolvidas pela Igreja; tomar parte das Assembleias Gerais ordinárias e extraordinárias; votar e ser votado, nomeado ou credenciado.

Por outro lado, é estatutário também o cristão cumprir com seus deveres:

cumprir o Estatuto, bem como as decisões ministeriais, pastoral e das Assembleias Gerais; contribuir, voluntariamente, com seus dízimos e ofertas[…] para as despesas gerais da Igreja, atendimentos sociais, socorro aos necessitados, missionários, propagação do evangelho, empregados a serviço da Igreja e aquisição de patrimônio e sua conservação.

Se essa parte dos deveres dos crentes descritas não fosse observada pela membresia da igreja, jamais faríamos as obras sociais que destaquei. Foram os dízimos e ofertas de gente simples, mas que acredita na graça de dar, de contribuir, que podemos fazer alguma coisa pelos necessitados. Aqueles que vivem a procurar texto-prova para não serem dizimistas já foram pegos pelo espírito de avareza há anos. Estão aprisionados e tudo o que conseguem fazer é criticar. Que Deus se apiede da alma deles.

Pois bem, vamos aqui destacar alguns princípios que acredito governarem a nossa mordomia dos dízimos e ofertas.

Em primeiro lugar, quando dizimamos e ofertamos, estamos reconhecendo a soberania e a bondade de Deus.

Um dos princípios básicos da prática do dízimo é o reconhecimento de que Deus é soberano sobre todas as coisas. Tudo vem dEle e é para Ele (Ag 2.8). Quando o crente devolve a Deus o seu dízimo, demonstra que reconhece o Senhor como a fonte de todas as coisas. À saudação de Melquisedeque: “Bendito seja o Deus Altíssimo”, respondeu Abraão dando-lhe o dízimo (Gn 14.20). O princípio da devolução do dízimo demonstra que somos dependentes de Deus. É lamentável que alguns crentes ignorem esse fato e ajam como se as suas conquistas materiais fossem apenas mérito de seus esforços:

“E disse o SENHOR a Gideão: Muito é o povo que está contigo, para eu dar os midianitas em sua mão; a fim de que Israel se não glorie contra mim, dizendo: A minha mão me livrou.” (Jz 7.2).

(Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022).

2- O homem como despenseiro e administrador das coisas de Deus.

Quando dizimamos e ofertamos estamos reconhecendo o valor do próximo. Deuteronômio registra que havia um tipo de dízimo que deveria ser repartido entre os pobres (Dt 14.28,29; 26.12-15). Esse “dízimo comunitário” devia ser praticado a cada três anos. O propósito é mostrar apreço pelos menos favorecidos. Inclusive, há uma promessa de a bênção do Senhor estar sobre todas as atividades de quem cumprir esse preceito.

Quando dizimamos e ofertamos, estamos nos expondo às bênçãos de Deus. Tanto o Antigo como o Novo Testamento demonstram que Deus reconhece e recompensa a fidelidade do seu povo. Quando o crente é liberal em contribuir para o Reino de Deus, uma decorrência natural do seu gesto é a bênção da multiplicação dada pelo Senhor. Deus promete derramar bênçãos sem medida e fazer abundar em toda graça (2 Co 9.6-10). Malaquias relaciona a prosperidade do povo de Israel à devolução dos dízimos e das ofertas (Ml 3.10,11). O mesmo princípio é destacado em o Novo Testamento quando Paulo diz que Deus é poderoso para fazer abundar em toda graça aqueles que demonstram voluntariedade em contribuir para o Reino de Deus.

O vocábulo dízimo quer dizer “a décima parte”. No contexto bíblico, refere-se àquilo que é devolvido ao Senhor, quer em dinheiro, quer em produtos e bens,

“Honra ao SENHOR com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda” (Pv 3.9).

Já a oferta tem o sentido de contribuição voluntária. O que deve ficar claro é que a Lei mosaica não criou as práticas do dízimo ou das ofertas, mas apenas deu-lhes conteúdo e forma por intermédio das diversas normas ou leis que as regulamentaram. Tal verdade fica patente ao constatar que o ofertar já era uma prática observada nos dias de Abel (Gn 4.4), e que o dízimo já era praticado pelos patriarcas (Gn 14.20; 28.22). No período mosaico, o dízimo aparece como preceito de um princípio já existente no período patriarcal. Os preceitos mudam e até desaparecem, todavia, os princípios são imutáveis e permanentes. De acordo com a Lei de Moisés, os dízimos deveriam ser entregues aos sacerdotes para a manutenção do culto e para o sustento dos levitas já que estes não tinham possessão em Israel (Nm 18.20-32).

Há aqueles que supõem que a prática do dízimo estava restrita ao Antigo Testamento. Esses precisam entender que a natureza e os fundamentos do culto não mudaram. Mudou apenas a forma e a liturgia, mas não a sua função: a adoração a Deus deve ser em espírito e verdade! O culto levítico com seus rituais já não existe. Todavia, o princípio da adoração continua o mesmo (1 Pe 2.9). O dízimo levítico pertencia à ordem de Arão, que era transitória. Entretanto, o dízimo cristão pertence à ordem de Melquisedeque que é eterna e, portanto, anterior à Lei de Moisés (Hb 5.10; 7.1-10; Sl 110.4). Jesus não veio ab-rogar a Lei, mas cumpri-la (Mt 5.17).

Ele não apenas reconheceu a observância da prática do dízimo, mas a recomendou (Mt 23.23). Nas Epístolas, Paulo faz referência ao dízimo levítico para extrair dele o princípio de que o obreiro é digno do seu salário (1 Co 9.9-14; Lv 6.16,26; Dt 18.1). Se o apóstolo não reconhecesse a legitimidade da prática do dízimo, jamais teria usado esses textos do Antigo Testamento. (Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

CONCLUSÃO

A nossa mordomia em relação aos dízimos e ofertas está fundamentada nos princípios bíblicos da gratidão e da honra com as primícias do que Deus nos dá. Estimule os alunos a serem gratos a Deus e a honrá-lo com as primícias do que Deus tem dado. Todo dia somos beneficiados pelo favor de Deus, pelo bem do Senhor.

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