Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“E amava Isaque a Esaú, porque a caça era do seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó”. (Gn 25.28)
INTRODUÇÃO
Veremos na lição desta semana que, quando desviamos das normas de convivência saudável que Deus estabeleceu em sua Palavra, o relacionamento familiar é profundamente prejudicado. Lendo no Livro de Gênesis, encontramos a predileção dos filhos por parte do casal Isaque e Rebeca. O relato bíblico nos ensina que é uma tragédia moral e espiritual quando os pais preferem qualquer um dos filhos. Pois os filhos são herança do Senhor (SL 127.3) e cabe aos pais a responsabilidade com o desenvolvimento saudável e equilibrado do ponto de vista físico, emocional e espiritual dos filhos (Ef 6.4). Vale destacar que a formação do caráter dos filhos tem como referência o relacionamento sadio entre os pais, o qual é a principal referência para os filhos.
I – O PLANO DE DEUS PARA A FAMÍLIA E SUA PRESCIÊNCIA
1- O Plano divino para a família de Isaque e Rebeca.
[…] a oração de Isaque por Rebeca (25.19-21). Isaque casou-se com Rebeca quando tinha quarenta anos de idade e orou por ela vinte anos até que ela concebesse. Isaque é o único patriarca monogâmico. Rebeca era estéril.
O Senhor ouviu-lhe as orações, e Rebeca concebeu. Se Abraão esperou 25 anos para que Deus abrisse a madre de Sara, Isaque orou vinte anos para que Deus fizesse o mesmo com Rebeca, o que mostra que a paciência e a perseverança na oração era uma marca de Isaque. Jacó teve de trabalhar catorze anos para conseguir Raquel, e José precisou esperar 22 anos para encontrar sua família. Nosso tempo está nas mãos de Deus, como diz o salmista: Nas tuas mãos, estão os meus dias… (Sl 31.15). (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
2- O propósito presciente de Deus.
A presciência divina é uma qualidade da onisciência de Deus que se refere ao fato de que o Senhor conhece de antemão tudo o que ainda está por acontecer. Deus conhece todas as coisas, incluindo o futuro. O sábio Salomão declarou que “os olhos do Senhor estão em toda parte” e conclui que Ele está “observando atentamente os maus e os bons” (Pv 15.3, NVI). O rei Davi, em Salmos 139.1,2, diz: “Senhor, tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento”.
Deus sabia por antecedência o futuro de Isaque e Jacó. O plano estava feito e estabelecido. Isso não significa determinismo, mas significa que Deus sabia o que haveria de acontecer com os gêmeos de Isaque e Rebeca, independentemente dos elementos circunstanciais que envolveram essa história.
Mesmo que não compreendamos os desígnios de Deus, sabemos que a vontade do Senhor é perfeita. Quando Rebeca percebeu que estava grávida, houve grande alegria entre o casal.
Porém, no desenvolvimento da gestação, alguns meses depois, os gêmeos já lutavam entre si no ventre de Rebeca. Presciência é o pré-conhecimento divino de todas as coisas. Ela não é causativa, mas é o que determina que algo aconteça. No caso dos gêmeos, Esaú e Jacó, Deus sabia que eles, criados como agentes livres para fazerem o que quisessem, seriam rivais. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 29-30).
II – O CONFLITO FAMILIAR
1- A esterilidade de Rebeca.
É interessante notar nessa história que a esterilidade de Rebeca e outros fatos relacionados com Isaque são similares à história de Abraão e Sara, e, não por mera coincidência, as experiências de ambas as famílias tinham um mesmo propósito disciplinar da fé. No propósito divino estava inserido em seu contexto o modo de Deus trabalhar com as circunstâncias.
Mas o que é esterilidade feminina, especialmente, nesse caso? É a dificuldade de conseguir gravidez e é chamada, também, “infertilidade”. Os médicos associam a esterilidade feminina a diversos fatores, como doenças hormonais, anatômicas, que podem ser alterações no útero, ovários e fator tubário. Também denominados problemas de autoimunes, genéticos e infecciosos. No caso de Rebeca, tudo indica que ela não apresentava problemas físicos, senão o problema da infertilidade.
Naquela época não havia os recursos médicos que a vida moderna oferece. Portanto, o que prevalecia era a busca de solução da parte do Criador. Isaque e Rebeca oraram a Deus e tiveram a resposta positiva conforme diz o texto de Gênesis 25.21: “E Isaque orou instantemente ao Senhor por sua mulher, porquanto era estéril; e o Senhor ouviu as suas orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu”. Entretanto, tudo quanto aconteceu com Isaque e Rebeca objetivava ensinar-lhes a confiar em Deus e na dependência dEle.
Na antiguidade, a esterilidade de uma mulher era vista como maldição divina. Mulheres inférteis eram consideradas inferiores como mulheres porque não podiam procriar. Se, depois do casamento, o marido descobrisse que a mulher com quem se casara era estéril, podia repudiá-la. Sem dúvida, um modo injusto para com as mulheres. No caso de Isaque e Rebeca, quando o patriarca percebeu que sua mulher não podia lhe dar filhos, orou a Deus para que a esterilidade de Rebeca fosse desfeita e ela pudesse gerar, e Deus ouviu a oração de Isaque. Não é o único caso da intervenção de Deus na vida de uma mulher; há vários exemplos não só no Antigo Testamento, mas também no Novo Testamento e nos tempos atuais. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 33-34).
2- O conflito: “E os filhos lutavam no ventre dela” (Gn 25.22).
“E os filhos lutavam no ventre dela” (Gn 25.22). Dentro da vontade permissiva de Deus, por razões maiores que a nossa compreensão possa imaginar, o Senhor permitiu que no ventre de Rebeca houvesse a concepção de dois meninos.
Porém, ainda antes de nascerem, Rebeca percebeu que as duas crianças se movimentavam de forma quase que assustadora dentro do seu ventre. Na realidade, iniciou-se dentro de Rebeca uma luta de proeminência que ela não sabia explicar. Literalmente, o texto diz que “os filhos lutavam dentro dela” (Gn 25.22).
No versículo seguinte, Rebeca não estava entendendo aquele movimento dentro de seu ventre e foi perguntar ao Senhor, que lhe disse: “Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas: um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor”. Até que os dois nasceram e a busca pela proeminência familiar continuou. Os dois cresceram e tornaram-se homens, cada qual com o seu estilo de vida completamente distinto um do outro. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 35).
3- O favoritismo do casal pelos filhos.
O princípio básico estabelecido pelo Criador da família é a união de todos os seus membros, mesmo sendo cada um distinto em termos de personalidade e temperamento. Esaú e Jacó cresceram como pessoas distintas em termos de personalidade e temperamento. No texto de Gênesis 25.25-28, está relatado que Deus havia revelado a Rebeca as diferenças entre os gêmeos. O “menor” (Jacó) teria uma descendência forte e o “maior” (o mais velho, Esaú) haveria de servir ao menor.
No capítulo 27, Isaque estava velho e cego, e achava que morreria logo. Por isso, se preocupava com o dia que abençoaria Esaú com a bênção patriarcal do “direito da primogenitura”. Entretanto, Rebeca, a mãe, sabia que havia um plano especial de Deus com Jacó e, por essa razão, ela tinha um favoritismo especial para com Jacó. Mas o velho Isaque, alicerçado nos padrões legais do direito patriarcal, dedicava-se a Esaú, até porque Esaú o satisfazia com o prazer das caças que lhe trazia. Até então, Isaque não havia entendido o plano de Deus para com os seus filhos. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 37-38).
[…] o erro de Isaque e Rebeca na criação de Esaú e Jacó (25.28). Isaque e Rebeca cometeram um erro primário na educação de seus filhos, isto é, tiveram predileção por um filho em detrimento do outro, e, assim, jogaram um filho contra o outro. Colocaram uma cunha no relacionamento deles e abriram uma fenda de animosidade entre os filhos, dividindo, assim, seu próprio lar. (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
Isaque gostava de Esaú, de seu temperamento e franqueza, enquanto que Rebeca gostava de Jacó. Assim, estava a casa dividida entre os dois filhos. Esse espírito de mau governo doméstico causou, não pouco dissabores, tanto aos dois filhos como aos pais. (Mesquita. Antônio Neves de Livro de Genesis. Editora JUERP).
III – O PROBLEMA DA PREDILEÇÃO POR FILHOS NA FAMÍLIA
1- Esaú, o filho predileto de Isaque.
Bruce Waltke tem razão em dizer que o primogênito mantinha a posição de honra no seio da família, tanto que Israel, como primogênito de Deus, recebe uma posição de honra entre as nações (Êx 4.22; Jr 31.9).
O primogênito da madre (Êx 13.2; Dt 15.19) e as primícias do solo (Dt 18.4; Ne 10.38,39) pertencem singularmente ao Senhor. O primogênito desfruta de status privilegiado (43.33; 49.3) e o direito de sucessão (2Cr 21.3); assim, por sua primogenitura, ele recebe uma porção dobrada da herança paterna (Dt 21.17). (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
2- Jacó, o filho predileto de Rebeca.
Jacó, o filho menor tinha a preferência da mãe, Rebeca A mãe, Rebeca, percebeu que a bênção patriarcal poderia ser conferida a Esaú, o filho mais velho, o qual não se preocupava com a liderança espiritual da família. Rebeca não foi sábia nem temente a Deus, mas foi astuta o suficiente para interferir na ordem dos fatos e, sem consultar a Deus, preferiu antecipar a bênção do velho pai para Jacó. Ela sabia que a bênção deveria pertencer a Jacó, conforme Deus lhe havia revelado anteriormente. Porém, ela se colocou acima do plano divino e interferiu no projeto de Deus com uma atitude de engano e mentira. Ela sabia que Esaú já havia quebrado alguns princípios, entre os quais, casar-se com mulher estrangeira (Gn 26.34-35).
Sem medir consequências, Rebeca arquitetou um plano para enganar o velho Isaque para abençoar a Jacó com a bênção da primogenitura. Sua influência sobre Jacó o tornou um homem cheio de artimanhas e mentiras ao longo de sua vida, mesmo tendo recebido na infância o legado do avô Abraão do temor a Deus. Ela instruiu cuidadosamente Jacó naquilo que ele deveria fazer. Sua ideia era aquela que se dissemina hoje de que “os fins justificam os meios”. Sabendo que Esaú havia saído para o campo para encontrar alguma caça e prepará-la para satisfazer seu pai, Rebeca arquitetou seu plano astucioso para enganar o velho Isaque. Ela e Jacó resolveram agir na ausência de Esaú e prepararam um cabrito bem temperado ao gosto do velho Isaque e o assaram. Rebeca pegou o couro peludo de um bode e o vestiu em Jacó, para que ele levasse o assado para o pai e imitasse a voz de Esaú. Foi uma trapaça de Rebeca, que queria a bênção para o filho Jacó. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 40-41).
3- O problema da predileção pelos filhos.
Existe uma palavra de exortação do apóstolo Paulo para os pais que diz o seguinte: “E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos” (Ef 6.4). À primeira vista, parece que o texto nada tem a ver com a questão de preferencialismo dentro de casa. Já dissemos que no sistema da cultura patriarcal na antiguidade, o pai tinha autoridade absoluta sobre a família e especialmente sobre os filhos (Êx 21.7; Dt 21.18-21). O pai era o responsável pela educação dos filhos e pelo bem-estar deles, especialmente com os meninos, que deviam ser educados para o futuro.
Além do conhecimento que os pais tinham acerca dos dois filhos, faltou a Isaque, como o líder da família, a habilidade e a sabedoria para saber contornar o conflito existente. Isaque e Rebeca provocaram os filhos à ira, ao ódio e a se tornarem filhos rancorosos. Quando Esaú vendeu para Jacó o “seu direito de primogenitura” por um prato de lentilhas (Gn 25.29-34), não podia imaginar que sua mãe, Rebeca, não se esqueceria da negociação feita com Jacó. Rebeca não avaliou os danos morais e espirituais nos seus filhos.
Ela não confiou em Deus o suficiente para esperar a intervenção divina para colocar aquela situação no seu verdadeiro lugar. A verdade é que Isaque tinha um tratamento preferencial por Esaú, mesmo sabendo que Esaú tinha uma índole rebelde. Rebeca, por outro lado, preferia e favorecia ao filho Jacó. Isaque e Rebeca não souberam amar seus filhos pelo que eles eram como indivíduos, suas personalidades e sentimentos. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 41-42).
CONCLUSÃO
Portanto depois de apontar os malefícios da predileção para a formação do caráter dos filhos, nas Escrituras Sagradas, encontramos normas que servem de convivência saudável e cristã para a vida familiar. No Novo Testamento, o apóstolo Paulo orienta aos pais quanto a criação dos filhos (Ef 6.1-4). Nessa orientação, os filhos devem ser obedientes a eles (Ef 6.1-3) e os pais não devem provocar a ira aos filhos (Ef 6.4). Assim, quando o casal não respeita a personalidade dos filhos, tratando-os com predileção, infelizmente, o resultado é o conflito entre os membros da família.