Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dois rei, e dos filhos de Israel” (At 9.15)
No início ao quarto trimestre de 2021, quando estaremos estudando a biografia, de um personagem das Escrituras: O apóstolo Paulo.
Sem dúvida alguma, o apóstolo Paulo foi o personagem que mais sobressaiu no Novo Testamento. Ele é escritor de 13 livros, ou 14 livros, se se entender ter sido ele o escritor da epístola aos Hebreus, se assim não se considerar, 13 dos 27 livros.
“Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério” (Rm 11.13)
O apóstolo Paulo quem compreendeu o mistério da Igreja em toda a sua plenitude, como sendo um corpo formado tanto por judeus quanto por gentios e que formam um novo povo, entendimento que não adveio de sua capacidade intelectual, que era tamanha, mas de revelação divina (Ef 2.1; 3.12).
O apóstolo Paulo, depois que o Jesus Cristo trouxe a graça, levar até o povo de Deus, não mais Israel mas a Igreja, o significado desta graça e como devemos viver sobre a face da Terra à luz desta graça.
“Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.17)
Como Moisés, para realizar seu papel, foi preparado desde o seu nascimento para realizar esta tarefa, fazendo com que tivesse períodos distintos em sua vida de modo a que aprendesse, na primeira infância, as promessas de Deus, depois se tornasse filho da filha de Faraó para se tornar instruído em toda a ciência dos egípcios,
“E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em suas palavras e obras” (At 7.22)
Depois, tivesse a experiência da solidão do deserto quando aprendeu a pastorear ovelhas para, então, tornar-se o libertador e líder dos filhos de Israel, Paulo também foi criado na cultura judaica pelos seus pais, obteve a formação filosófica grega na sua cidade natal, Tarso,
“Quanto a mim, sou varão judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade aos pés de Gamaliel, instruído conforme verdade da lei de nossos pais, zeloso para com Deus, como todos vós hoje sois” (At 22.3).
Depois foi levado até Jerusalém, onde, tornado fariseu (At.26:5), aprendeu aos pés do mestre Gamaliel, tendo se tornado grande perseguidor dos cristãos (At 8.1; 9.1; 1Tm 1.12), até ser alcançado pelo Senhor Jesus para se tornar o mais laborioso dos apóstolos (2Co 11.22-33), como também o de maior profundidade doutrinária (2Pe 3.15).
Pelo que já exposto, é extremamente útil e proveitoso estudarmos a vida desta personagem bíblica, que se identificou como “imitador de Cristo”
“Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1Co 11.1),
Estudando e praticando, as lições de vida e de ministério que nos deixou o apóstolo Paulo, teremos certamente um bom referencial em nosso peregrinar neste mundo na caminhada para o céu.
Nesta lição teremos uma visão de como era o mundo no tempo do apóstolo Paulo, teremos um primeiro bloco em que analisaremos a biografia do apóstolo, enfocando a fase de sua vida em que ainda não era um cristão, mas, sim, um terrível perseguidor da Igreja (lição 2), a sua conversão (lição 3) e a sua vocação para o apostolado (lição 4).
Em seguida, faremos uma análise de aspectos do ministério do apóstolo: o poder do Espírito (lição 6), a plantação de igrejas (lição 7), o discipulado de vidas (lição 8) e a sua dedicação aos vocacionados (lição 9).
Por fim, faremos uma análise do ânimo do apóstolo, de como submeteu todo o seu ser à vontade de Cristo, mostrando seu amor pela igreja (lição 10), seu zelo pela sã doutrina (lição 11), sua coragem diante da morte (lição 12) e a sua gloriosa esperança (lição 13).
Que ao término do trimestre sejamos todos imitadores de Paulo, e, assim fazendo, estaremos todos sendo genuínos e autênticos servos de Deus.
O MUNDO DE PAULO NO IMPÉRIO ROMANO
Segundo Charles Fergusson Ball (2002, pp. 08,09), asseverou que nos dias de Paulo, toda a vida do mundo concentrava-se no Mediterrâneo. Todas as grandes civilizações desenvolveram-se junto ao mar cujo nome aludia ao centro da terra. A palavra Mediterrâneo é formada por dois vocábulos que, juntos, significam ‘o meio da terra’.
Todos os interesses da vida humana achavam-se concentrados numa estreita faixa que se estendia pela costa sul da Europa, pela costa norte da África e pelas costas ocidentais da Síria e Palestina. Além dessa fronteira, havia regiões inexploradas, onde viviam povos bárbaros, que só entrariam na corrente da civilização anos mais tarde. Três nações da época foram suficientemente grandes e fortes para deixar sua marca sobre as demais: Roma, Grécia e Israel. Notemos:
Roma. Os romanos governavam o mundo. Conquistaram esse direito pela força dos seus exércitos. Eles possuíam o dom da colonização e do governo. Devido ao poder de suas legiões estacionadas em todas as colônias, eram os donos do mundo. Embora poderosos, não se aproveitavam dos povos conquistados; pelo contrário, procuravam integrá-los ao seu império, dando-lhes um lugar de honra. Tanto por sua grandiosidade quanto por sua fraqueza, os romanos deixaram na história a sua marca indelével. A seu favor deve ser dito que construíram o maior império que o mundo já viu.
Grécia. Se os romanos foram os líderes mundiais no tocante à lei e ao governo, os gregos lideraram na cultura e no conhecimento. A arte, a ciência e a literatura desenvolveram-se mais na Grécia que em qualquer outra parte. Embora o império fosse romano, a língua grega foi reconhecida como o idioma empregado pelas pessoas cultas. Os gregos eram um povo genial. Guiados por Alexandre, o Grande, conquistaram o mundo e procuraram helenizá-lo. Desempenharam tão bem sua tarefa que, mesmo após a morte de Alexandre e a divisão de seu império, uma porção da arte e da literatura gregas permaneceu em cada nação. Os professores e filósofos gregos eram os intelectuais reconhecidos da época. Eles divulgaram, em todas as nações, a literatura, arquitetura e pensamento científico de seu país.
Israel. A nação, porém, que mais marcou a civilização mundial foi Israel. Sua marca jamais se apagará. Embora os judeus não tivessem poderio militar, destacaram-se por sua religião. Dispersos por todas as terras, construíam sinagogas para adorar a Deus. Isso se dera devido ao fato de a Assíria, Babilônia e Roma terem invadido a Palestina, e levado daqui milhares de judeus para o cativeiro. Onde quer que fosse, o povo escolhido levava consigo as Sagradas Escrituras e as profecias de um Messias vindouro.
A origem de Paulo
Paulo nunca escondeu a origem de sua terra natal. Tarso, onde Paulo nasceu e foi criado, era a capital e principal cidade da Cilícia, atual Turquia, na Ásia Menor. Nas próprias palavras do apóstolo Paulo, Tarso não era uma cidade qualquer: “Na verdade que sou um homem judeu, cidadão de Tarso, cidade não pouco célebre na Cilícia” (At 21.39a). A expressão não pouco célebre significa, no grego “não insignificante”. Vejamos por que era uma cidade destacável:
Cidade cheia da cultura grega. Pouco antes da época do apóstolo Paulo, Tarso tinha atravessado um brilhante período de sua história, quando ela se tornou a Atenas do Mediterrâneo oriental, uma cidade universitária, para onde convergiam homens de erudição. Paulo, desde muito cedo, foi influenciado pela cultura grega enraizada em sua cidade. Isso depreendemos a partir de suas citações de filósofos (At 17.28; Tt 1.12), e, também do seu nome, que em hebraico é Saul, mas que por influência grega, era Saulo. Não é demais afirmar que sabia também falar o idioma grego.
Cidade dominada por Roma. A região de Tarso foi governada a princípio, pelos governantes selêucidas, como uma província. No entanto, quando Antíoco foi derrotado pelos romanos, a cidade de Tarso tornou-se parte de uma província romana. Na época, em que Paulo nasceu, primeiro século da era cristã, Tarso era colônia romana. Como tal, os seus habitantes desfrutavam de alguns privilégios dentre os quais a cidadania romana. A cidadania romana originalmente era restrita a nativos livres da cidade de Roma, mas, à medida que o controle romano da Itália e das terras do Mediterrâneo se ampliava, a cidadania era conferida a várias outras pessoas, de certas províncias seletas, que não eram romanos por nascimento.
Por isso, quando questionado pelo tribuno: “… Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim. E respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento” (At 22.27,28). Em outra ocasião também evocou esta cidadania (At 16.35-40). Devido a influência do latim na sua vida, Saulo também era chamado Paulo.
“Neste ponto, Lucas observou que Saulo era também conhecido como Paulo. A implicação é de que ele já tinha os dois nomes, mas começou a usar o último, preferindo usar o seu nome romano para equilíbrio da sua missão orientada pelos gentios. A partir deste ponto, Paulo é sempre chamado pelo seu nome romano no registro de Lucas”. (Comentário do Novo Testamento, 2009, p. 681)
“Todavia, Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo e fixando os olhos nele, disse:” (At 13.9).
Cidade banhada pela religiosidade judaica. Por certo, havia uma sinagoga em Tarso. Paulo sendo, descendente de hebreus adquiriu uma herança nacional, cultural e religiosa. Segundo o seu próprio relato:
a) Judeu de nascimento. Ele não era um judeu prosélito; ele nasceu judeu e era um membro da raça que havia recebido o rito da circuncisão no tempo estabelecido pela lei (Gn 17.12; Lv 12.3; Fp 3.5).
b) Da linhagem de Israel. Paulo pertencia ao povo eleito, o povo do concerto, o povo exclusivamente privilegiado (Êx 19.5,6; Nm 23.9; Sl 147.19,20; Am 3.2; Rm 3.1,2; 9.4,5). Era da linhagem de Benjamim, um dos doze filhos de Jacó, a tribo de onde veio o primeiro rei de Israel, Saul. Por certo, seu nome hebreu Saulo era em homenagem a este rei. A tribo de Benjamim, não aderiu a rebelião das dez tribos, mas conservou-se com Judá sob a liderança davídica (1Rs 12.21).
c) Da seita mais rigorosa do judaísmo. Paulo era fariseu, membros da seita mais fervorosa e severa na obediência à lei de Moisés: “segundo a lei, fui fariseu” (Fp 3.5). Confira também (At 26.5). A palavra fariseu no grego “farisaios” significa: “separado”. Essa seita do judaísmo pregava a separação da vida comum e das tarefas comuns para consagrar suas vidas à observância minuciosa dos detalhes da Lei. Paulo falava a língua hebraica (At 21.40). Embora tenha nascido na cidade pagã Tarso, foi para Jerusalém e educou-se aos pés de Gamaliel (At 22.3).
Era de uma pessoa como esta que Jesus necessitava, um judeu hábil no Antigo Testamento, que falava o grego e com nacionalidade romana para poder introduzir o evangelho aos povos. Segundo Champlin, “nenhum outro homem, daquela época da história, combinava essas características tão harmoniosa quanto Paulo de Tarso. Seu meio ambiente talhou-o para esse propósito” (2004, p. 323).
Paulo foi estudar em Jerusalém e logo se destacou como um dos principais alunos de Gamaliel, tanto que disse que estudou aos pés daquele mestre (At 22.3) e é sabido que, naquele tempo, os mestres ensinavam sentados (Mt 5.1) e os alunos ficavam em pé, mas os melhores alunos, aqueles que se destacavam e se apresentavam como futuros mestres, eram convidados a ficar aos pés do mestre, igualmente sentados, junto do mestre que, normalmente, ficava num lugar mais elevado a fim de que pudesse ser visto por todos os que o ouviam.
Estudando aos pés de Gamaliel, logo o apóstolo se destacaria entre os fariseus, pois Gamaliel era fariseu (At 5.34), que é conhecido pelos judeus como “raban”, título que recebia aquele era o mestre superior do Sinédrio, o segundo homem daquele órgão, abaixo apenas do sumo sacerdote, o que explica como conseguiu a autorização do sumo sacerdote para prender todos os judeus que fossem cristãos em Damasco (At 9.1,2).
A formação com Gamaliel, também, explica o zelo religioso que o apóstolo terá, porque a seita dos fariseus era a mais escrupulosa de todas, exigindo não só o cumprimento da lei mas de uma série de mandamentos outros, considerados como a “cerca da Torá” (Mt.23:3,4).
OBS: Esta noção de “cerca da Torá” está no chamado “Tratados do Pais” (Pirkei Avot) do Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo: “ Moshê (Moisés) recebeu a Torá no Monte Sinai e a transmitiu a Yehoshua (Josué); Yehoshua (Josué) aos Anciãos; os Anciãos aos profetas; e os Profetas transmitiram-na aos Homens da Grande Assembleia. Ele [os Homens da Grande Assembleia] disseram três coisas: Sejam prudentes no julgamento; preparem muitos discípulos; e ergam uma cerca para a Torá.” (Pirkei Avot 1:1).
A religiosidade dos fariseus será extremamente combatida pelo Senhor Jesus, que fez o Seu mais duro discurso precisamente contra eles (Mt 23) e não se tem surpresa alguma que os fariseus tenham se colocado como vorazes inimigos dos cristãos, que eles chamavam como “a seita dos nazarenos” (At 24.5). Paulo, sendo um fariseu extremamente zeloso (At 26.5), logo irá se colocar radicalmente contra os cristãos, a ponto de liderar a primeira grande perseguição contra a Igreja.
Vejamos como Paulo era carente da revelação Divina:
a) Paulo um religioso judeu cego. Em seu extremado zelo religioso, Paulo estava cego para a realidade de que o Jesus de Nazaré que ele combatia, era o Cristo prometido nas Escrituras do AT. Por isso, consumido pelo zelo sem entendimento perseguiu este caminho até a morte (At 22.4). Escrevendo as igrejas da Galácia, testemunhou: “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava” (Gl 1.13). Diante do rei Agripa, ainda asseverou:
“Na verdade, a mim me parecia que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno; e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia” (At 26.9-11).
b) Paulo um pecador como qualquer outro. Em seus ensinos Paulo sabia da universalidade do pecado: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Ele sabia que, mesmo tendo sido criado sob a Lei, e que o mandamento era santo, justo e bom (Rm 7.12), a Lei não tinha o objetivo de salvar, pois seu objetivo era nomear o pecado (Rm 7.7,8). Paulo também via em si mesmo uma outra lei que o impelia a fazer o mal e que jamais dela poderia se livrar, exceto por Cristo Jesus (Rm 7.14-25). Paulo, passou a dizer que a a Lei é o aio (condutor) que nos leva a Cristo Jesus (Gl 3.23-25).
c) Paulo, um homem carente da graça. Paulo, como todo judeu, pensava alcançar a justiça de Deus pela obediência da Lei, até que confrontado por Cristo, entendeu que o homem é justificado pela fé e não pelas obras “[…] não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (Fp 3.9-b). Paulo se tornou o principal instrumento para transmitir o pleno significado da graça em Cristo. Não é de admirar que mais tarde ele viesse a ser conhecido como “o apóstolo da graça”. Com maestria, ele nos falou sobre a graça de Deus de forma abundante (Rm 1.5,7; 3.24; 4.4,16; 5.2; 5.15,17,18; 5.20; 5.21; 11.6). Ele afirmou que pela graça foi salvo (1Tm 1.13,14); que pela graça de Deus era o que era (1Co 15.10-a); e, por fim, que trabalhou mais que os outros apóstolos (1Co 15.10-b).
CONCLUSÃO
Esta lição nos mostrou os três “mundos” do apóstolo Paulo: o romano, o grego e o judeu. Vimos que o apóstolo se comunicou na língua predominante da época, o grego koiné, bem como fez uso da vasta literatura de seu tempo e, a soma de tudo isso serviu ao Espírito Santo para que a vida do apóstolo fosse usada integralmente para a causa do Evangelho.