EBD – A Deturpação da Doutrina Bíblica do Pecado

Pr. Sérgio Loureiro
Pr. Sérgio Loureiro
Sou o Pastor Sérgio Loureiro, Casado com Neusimar Loureiro, Pai de Lucas e Daniela Loureiro. Graduando em Administração e Graduando em Teologia. Congrego na Assembleia de Deus em Bela Vista - SG

Mais lidas

Prezados professores e alunos,

Paz do Senhor!

“Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.” (Rm 3.20)

INTRODUÇÃO

A doutrina bíblica do pecado, por natureza, faz oposição às principais ideologias modernas que buscam enaltecer o homem, destacando sua suposta bondade intrínseca. Quando a doutrina bíblica do pecado é deturpada, então, tudo o mais no campo moral também o é. Talvez essa seja a raiz de fenômenos éticos tão distantes do cristianismo bíblico, que podem ser encontrados em movimentos que se dizem cristãos, tais como: “igreja gay”; “casamentos abertos”; “prática sexual entre solteiros” etc.

I – O ENSINO BÍBLICO DA NATUREZA PECAMINOSA

1- Definição de Pecado.

A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras usadas na Bíblia, as quais indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado. São vários os termos que amplificam o conceito de pecado nas suas várias manifestações.

  1. Hatta’t. Este vocábulo, que aparece 522 vezes nas paginas veterotestamentárias, e seu termo correlato no Novo Testamento – harmatia – sugerem a idéia de “errar o alvo” ou “desviar-se do rumo”, como o arqueiro antigo que atirava as suas flechas e errava o alvo. Porém, o termo também sugere alguém que erra o alvo propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo intencionalmente. Em síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou, foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv 16.21; Sl 1.1; 51.4; 103.10; Is 1.18; Dn 9.16; Os 12.8).
  2. Pesha‘. O sentido tradicional dessa palavra é “transgredir”, “rebelar”, “revoltar-se”. Porém, uma variante forte para defini-la implica o ato de invadir, de ir além, de rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi além dos limites estabelecidos (Gn 31.36; 1Rs 12.19; 2Rs 3.5; Sl 51.13; 89.32; Is 1.2; Am 4.4).

Existe outras variantes do termo que ensinam sobre o pecado, mas nos detivemos apenas em dois deles que ilustra a diversidade e a perversidade do pecado em suas várias manifestações.

2- A universalidade do Pecado e a Corrupção Total.

A Palavra de Deus afirma que Deus criou o ser humano reto, (Ec 7.9). O termo no hebraico yäshar, significa “correto”, “integro”. A Palavra de Deus declara que Deus classificou que tudo que foi criado por Ele incluindo a formação do homem, como sendo “muito bom” (Gn 1.31). essa verdade é corroborada pelo fato da Palavra de Deus afirmar que Deus criou o homem à sua “imagem e semelhança” (Gn 1.26). Claro, essa “imagem e semelhança”, não diz respeito a parte física, porque Deus é espírito (Jo 4.24). O homem foi criado um ser livre, racional, autoconsciente (imagem natural), dotado de espiritualidade e de consciência e agencia morais (imagem moral), e que era puro e inocente em seu estado inicial. A Queda, a imagem e semelhança não foi destruída no ser humano, mas foi danificada e, dessa forma, transmitida a todos os seus descendentes (“…à sua semelhança…”, Gn 5.3; Jó 14.4; Sl 51.5; 58.3; Jo 3.5,6) , conferir com (Rm 8.5,8,13; At 17.26; Rm 5.12,19).

Portanto, a Palavra de Deus assegura que, após a Queda, o ser humano passou a ser “escravo do pecado” (Jo 8.34; Rm 7.14; 2Pe 2.19). A Palavra de Deus afirma mesmo a natureza danificada, pode ser regenerada em Cristo, pela graça por meio da fé (Ef 2.8).

II – AS TEOLOGIAS MODERNAS

  1. Teologia do pecado social.

A compreensão divergente sobre o pecado pode ser observada em relação ao conceito tradicional e à tese do pecado social. Enquanto a perspectiva tradicional enfoca o pecado como uma questão individual e moral, a tese do pecado social amplia essa visão, considerando que o pecado também está presente nas estruturas sociais e nas relações humanas.

De acordo com essa abordagem, o pecado não é apenas uma questão espiritual, mas também está relacionado a fatores como pobreza, injustiça e desigualdade. A tese do pecado social argumenta que é necessário tratar essas questões sociais como parte da redenção do pecado.

No entanto, existem críticas a essa visão. Alguns argumentam que essa abordagem pode enfraquecer a responsabilidade moral do indivíduo, deslocando a ênfase do pecado original e da necessidade de arrependimento pessoal para a resolução de questões sociais.

Essa crítica sugere que a solução para o problema do pecado não pode ser encontrada apenas na resolução de problemas sociais, mas também requer um confronto com a própria natureza humana.

É importante reconhecer que essas perspectivas representam diferentes interpretações e opiniões sobre o conceito de pecado. Cada pessoa pode ter sua própria compreensão e crenças a respeito desse assunto, com base em sua fé, filosofia ou contexto cultural.

2. Teologia da libertação.

A teologia da libertação é uma corrente teológica que apresenta afinidade com as ideias socialistas de Karl Marx. Seus principais expoentes são Gustavo Gutiérrez, do Peru, e Leonardo Boff, do Brasil, que surgiram na década de 1970. Essa abordagem teológica busca a libertação do oprimido das estruturas opressoras presentes na sociedade.

Uma das características da teologia da libertação é a ênfase na indignação social e na busca pela justiça social, econômica e cultural. Para seus proponentes, o estudo teológico não deve estar centrado apenas em doutrinas bíblicas para libertar o ser humano do pecado, mas também na luta contra as injustiças sociais.

Dessa corrente teológica surgem outras vertentes, como a Teologia da Missão Integral (TMI), que busca abordar questões relacionadas à gênero, sexualidade e raça. No entanto, críticos apontam que essas influências tendem a reduzir a fé cristã a uma militância política de cunho socialista e marxista.

Eles argumentam que as pautas sociais e progressistas muitas vezes são colocadas acima dos valores morais do Reino de Deus.

Assim, há o risco de transformar o Evangelho em um movimento de inconformismo, crítica e assistencialismo, deixando de lado aspectos centrais da mensagem cristã (1Co 15.19; Fp 3.18-20).

Essa crítica se baseia na importância de manter o equilíbrio entre a dimensão social e política do Evangelho e sua dimensão espiritual e moral, buscando uma abordagem integral que promova tanto a transformação pessoal como a transformação social em conformidade com os valores do Reino de Deus.

3. Liberalismo teológico

Após a Reforma Protestante em 1517, começou a surgir o movimento do liberalismo teológico, que colocava a razão humana acima da revelação divina. Esse movimento questionava a inspiração, inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas, além de considerar os milagres e o sobrenatural como elementos mitológicos.

No contexto do liberalismo teológico, as doutrinas da fé foram reinterpretadas e resinificadas para se adequarem aos princípios da razão humana e às ideias progressistas da época.

A mensagem da salvação, que antes enfatizava o arrependimento, a confissão de pecados e a transformação do caráter, passou a ser substituída por uma visão progressista que priorizava a transformação social, muitas vezes utilizando como paradigma o marxismo.

Essa abordagem teológica relativizava o conceito de pecado, diminuindo sua importância e impacto, ao mesmo tempo em que promovia o ecumenismo religioso, buscando unir diferentes tradições religiosas em uma visão mais abrangente e inclusiva. Além disso, toda experiência espiritual passou a ser considerada válida, independentemente de sua base bíblica.

O ideário da teologia liberal é contrário às antigas doutrinas bíblicas que se baseiam na revelação das Escrituras. Em vez disso, busca-se uma interpretação mais flexível e adaptável às demandas e tendências da sociedade contemporânea.

Essa tendência é mencionada na passagem de 2 Timóteo 4:3, que alerta sobre o tempo em que as pessoas não suportarão a sã doutrina, mas buscarão mestres que lhes agradem e satisfaçam seus próprios desejos.

É importante notar que essas são algumas características gerais do liberalismo teológico, mas é preciso lembrar que dentro desse movimento há variações e diferentes correntes de pensamento.

III – A NORMALIZAÇÃO DO PECADO

1. Crise ética e moral

Na concepção geral, os valores que orientam a conduta de uma pessoa são chamados de ética, e a prática desses valores é denominada moral. Como cristãos, a obediência aos princípios bíblicos reflete nosso caráter (Rm 12.2; 1 Pe 1.15). No entanto, quando o conceito do pecado é deturpado e relativizado, isso leva a desvios e falhas de caráter (2 Tm 3.5).

Essa distorção do conceito de pecado e a consequente crise de integridade resultam em uma sociedade moralmente desajustada (Hc 1.4). A partir dessa crise, observamos a manifestação de ações incompatíveis com a fé bíblica (Rm 2.21,22).

Temas progressistas que violam a ética e a moral bíblicas, como imoralidade sexual, aborto e uso de drogas ilícitas, passam a ser normalizados, indo de encontro aos princípios estabelecidos nas Escrituras (1 Sm 2.6; Rm 1.27; 1 Co 6.15,19).

Essa normalização de comportamentos e práticas contrárias aos princípios bíblicos reflete uma sociedade que abandonou os padrões éticos e morais estabelecidos por Deus.

É importante que como cristãos permaneçamos firmes nos valores bíblicos e busquemos viver de acordo com a vontade de Deus, mesmo quando há pressões contrárias ao nosso redor.

2. Imoralidade sexual.

A deturpação da doutrina do pecado tem consequências significativas, especialmente no que diz respeito à imoralidade sexual. Ao distorcer a compreensão do pecado, a sociedade tende a avançar na prática de comportamentos sexuais imorais (Rm 1.24).

Em nome da liberdade individual e da autonomia sobre o próprio corpo, o sexo pré-conjugal e extraconjugal são banalizados, a homossexualidade é normalizada (Rm 1.26,27) e a importância da castidade é desvalorizada (Rm 6.12).

Essa flexibilização da moral sexual é acompanhada pela disseminação da ideologia de gênero e pela erotização da infância, o que resulta em um aumento da luxúria e da libertinagem. O pecado é tolerado, a família é enfraquecida e os princípios da santidade são negligenciados (Hb 13.4).

É importante destacar que a Bíblia apresenta diretrizes claras sobre a sexualidade e a importância da santidade em todas as áreas da vida. O afastamento desses princípios leva a uma distorção do plano de Deus para o relacionamento humano e causa danos tanto individualmente como socialmente.

Como cristãos, devemos manter a fidelidade aos ensinamentos bíblicos, preservando a santidade em nossa conduta sexual e promovendo a valorização da família como instituição divinamente estabelecida.

Isso implica em resistir às pressões culturais e buscar viver de acordo com os padrões morais e éticos estabelecidos por Deus.

3. A dessacralização da vida.

As Escrituras ensinam que a vida humana é sagrada porque tem sua origem em Deus (Gn 1.27). Portanto, a vida é inviolável e deve ser valorizada (2 Pe 1.3). O corpo humano, como templo do Espírito Santo, deve ser cuidado, alimentado e preservado (Ef 5.29).

No entanto, devido à deturpação da doutrina do pecado, tem surgido ideologias que menosprezam a sacralidade e a dignidade humana. Propaga-se a ideia de uma autonomia absoluta sobre o próprio corpo, sem levar em consideração as limitações éticas e morais.

O lema “meu corpo, minhas regras” é usado para reivindicar o suposto direito de uma pessoa usar drogas, se prostituir, realizar aborto, cometer suicídio e praticar a eutanásia. Essas atitudes profanam o corpo que deveria ser consagrado ao serviço de Deus (1 Co 6.19). A criatura, de forma intencional, desafia a vontade do Criador (Rm 1.25).

É importante ressaltar que a dignidade humana e a sacralidade da vida são princípios fundamentais estabelecidos por Deus. Nenhum ser humano tem o direito de agir de forma desrespeitosa com seu próprio corpo ou com o corpo de outras pessoas.

Devemos reconhecer a importância de cuidar e preservar a vida humana, valorizando a santidade do corpo e buscando viver de acordo com os princípios éticos e morais estabelecidos por Deus em Sua Palavra.

CONCLUSÃO

Em conclusão, é importante destacar que a relativização do pecado, ao restringi-lo apenas à solução de questões sociais, e o exclusivismo moral, ao negligenciar causas sociais, não representam a verdadeira essência da fé cristã. Embora a igreja não deva ser apolítica nem insensível às desigualdades sociais, é fundamental compreender que o mal primário a ser combatido é o pecado presente na natureza humana. Quando uma pessoa é regenerada pela fé em Cristo, ela passa a repudiar as injustiças cometidas contra o próximo (Rm 1.18; 1 Co 13.6). A igreja verdadeiramente atuante é aquela que continua lutando na terra contra a influência da carne, do mundo, do Diabo, do pecado e da morte (Ef 6.12).

- Propaganda - spot_img

Últimas Noticias

- Propaganda -