“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2Co 4.8-9)
INTRODUÇÃO
Quando um filho ou uma filha morre é, talvez, a maior experiência de dor que os pais podem experimentar. O livro de Jó apresenta o quadro de perda dos filhos do patriarca, bem como seu período de dor e lamentação. De uma só vez, ele perdeu todos os seus filhos. A lição do próximo domingo, tem o propósito de abordar esse tema que é, ou será, a realidade de muitos pais crentes. O relato bíblico em Jó nos mostra que, no momento intenso desse sofrimento, é possível expressar as emoções de dor, tristeza e saudade sem, contudo, deixar de confiar em Deus, tendo como seu verdadeiro esteio. Deus continua soberano e cuidando de nossas vidas mesmo em período de dores. Talvez, uma das experiências mais profundas de fé, em meio a dor, é expressar sinceramente o que Jó disse: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.20).
I – A FAMÍLIA DE JÓ
1- Quem era Jó?
“Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó” (1.1). O autor sagrado faz questão de ressaltar que o protagonista deste drama era, apesar de toda a áurea que hoje o cerca, um homem comum. Por isto usa também um substantivo bastante comum para denotar quão humano era Jó: “ysh”, esta palavra hebraica não significa apenas varão; pode ser usada ainda com estes sentidos: vencedor, grande homem, marido, ou, simplesmente, pessoa.
Nesse único substantivo, é-nos possível fazer um admirável sumário da biografia de Jó. Em virtude de sua fé em Deus, foi-se destacando como um vencedor até ser reconhecido como o maior dos varões de sua geração. Isto significa que todo aquele que se entrega a Deus torna-se um herói por mais insignificante que seja aos olhos do mundo.
Jó não era uma figura lendária; era tão humano como o mais humano dos humanos. E se Deus lhe trabalhou a humanidade não foi para mitologizá-la; trabalhou-a para que, realçando lhe as limitações, mostrasse que é justamente na fraqueza que Ele nos aperfeiçoa o seu ilimitado poder. Somente a Bíblia é capaz de apresentar os seus heróis de maneira tão bela e completa.
Num memorável discurso, declarou Charles Spurgeon:
“A fé capacita-nos a regozijarmo-nos no Senhor de tal forma que nossas fraquezas tornam-se vitrines de sua graça”.
Consideremos o significado de seu nome. Em hebraico, lembra a silhueta de alguém que, amorosa c incansavelmente, vai ao encontro de Deus. Naqueles dias por virem, se não corresse Jó aos braços do Senhor, certamente pereceria. Até no nome era ele dependente do Todo-Poderoso! Ao contrário dos personagens de Homero, que se bastavam a si mesmos, ele não conseguia arredar-se de ao pé de seu Deus.
Um Santo em toda a sua Geração
De uma feita afirmou Phillip Henry ser a santidade a simetria da alma. Como a santidade permeasse inconfundivelmente toda a vida de Jó, achava-se ele em plena harmonia com as demandas divinas. A consonância entre o patriarca e o seu Deus refletia-se em seu caráter “íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1.1).
Se levarmos em conta a sua riqueza; se lhe considerarmos a posição social; e se lhe pesarmos a influência política, concluiremos ter sido Jó um perfeito reflexo da santidade de Deus.
Se o seu Senhor era santo, por que ele também não o seria?
Não foi sem razão que E. G. Robmson declarou: “A santidade no homem é a imagem da santidade de Deus”.
No decorrer deste livro, ainda apreciaremos com mais vagar a integridade de Jó. Por enquanto, vejamos os predicados que fizeram do patriarca um dos três homens mais piedosos de todos os tempos (Ez 14.20).
Jó era um homem íntegro. A palavra “íntegro”, originária do vocábulo latino íntegru, significa inteiro, perfeito, exato, completo, imparcial e inatacável. A Vulgata Latina, contudo, preferiu usar o termo simplex para exemplificar esta virtude de Jó. Em certo sentido, este vocábulo é mais forte do que aquele; denota algo que, de tão perfeito e completo, não comporta qualquer análise.
A Septuaginta optou pelo vocábulo alelhinós que, em grego, significa verdadeiro, sincero.
No original hebraico, “íntegro” é uma palavra representada pelo substantivo tãm que, entre outras coisas, significa completo, certo, são e puro. O vocábulo é encontrado apenas treze vezes no Antigo Testamento. Jacó também é assim descrito (Gn 25.27). Neste último caso, o vocábulo hebraico é usado para caracterizar um homem simples, pacato e calmo; a pessoa realmente integra é notabilizada por uma serenidade inexplicável; não se abala jamais. Thomas Watson tem a integridade como um perfeito sinônimo de simplicidade: “Quanto mais simples o diamante, mais ele brilha; quanto mais simples o coração, mais ele resplandece aos olhos de Deus”.
Quanta necessidade não temos de homens como Jó! Desgraçadamente, muitos são os crentes que já negociaram a sua integridade. Na igreja, santos; na sociedade, demônios. Justificando a sua iniquidade, alegam que a sua vida social nada tem a ver com a espiritual. Esta dicotomia, porém, é estranha à Palavra de Deus. O Senhor requer tenhamos uma postura irrepreensível tanto em público como em particular.
Jó não carecia de um marketing para cultivar-lhe a imagem, nem de um publicitário para cevar-lhe a postura, pois contava com o respaldo de Deus. Desfrutamos nós de igual conceito? Ou nossa integridade já é algo pretérito? Confúcio declarou ser a integridade a base de todas as virtudes; sem ela, nenhuma bondade é possível.
Jó era um homem reto. Devido ao relativismo moral de nossos dias, a retidão, que era um substantivo concreto, acabou por se acomodar à sua condição gramatical. Hoje não passa de algo abstrato e até utópico. Houve um tempo, todavia, que assim era definido um homem reto: imparcial, justo, direito. Era alguém que, moralmente, não apresentava qualquer curvatura ou desvio; em tudo, conformava-se com a justiça divina. Não tinha dois pesos, nem possuía duas medidas.
Sua palavra era: sim, sim; e: não, não. Inexistia nele o que se chama de vazio de justiça: um sim que pode ser não; e um não que talvez seja sim.
A tradução latina das Escrituras diz que “Job erat rectus”. Nele não havia sinuosidade, nem casuísmo. Era um homem que, pondo-se a caminhar numa estrada, não se desviava nem para a direita nem para a esquerda; não fazia o jogo dos poderosos, nem comungava com as injustiças e os pecados da plebe.
Em. português, a palavra hebraica traduzida para retidão é yãshãr. Este vocábulo é usado para descrever um homem justo, reto e que, em todas as coisas, atende aos mais altos reclamos da justiça divina. Como alcançar semelhante padrão?
Deseja o Senhor que todos os seus filhos sejam considerados perfeitos em retidão.
Jó era um homem temente a Deus. Richard Alleine assim descreve o homem piedoso: “Aquele que sabe o que é ter prazer em Deus temerá a sua perda; aquele que viu sua face, terá medo de ver suas costas”. Esta declaração é um perfeito resumo do relacionamento de Jó com o Todo-Poderoso.
O patriarca temia a Deus não porque tivesse medo dEle; temia-o, porque nEle encontrava a verdadeira felicidade. Como poderia Jó viver longe do Senhor? A semelhança de Thomas Browne poderia ele afirmar: “Temo a Deus, contudo não tenho medo dEle”.
A expressão hebraica que descreve o homem temente a Deus: yará, evoca um medo santo e respeitoso pelo Todo-Poderoso.
Medo esse, aliás, que não tem a natureza do terror.
Através de seu temor a Deus, o patriarca Jó introduzira-se em todos os princípios da sabedoria (Pv 1.7). Daí a razão de ser ele contato entre os homens mais sábios e piedosos de todos os tempos. Mui acertadamente escreveu o teólogo americano A. W. Tozer: “Ninguém pode conhecer a verdadeira graça de Deus, se antes não conhecer o temor de Deus”.
Alguns homens da Bíblia são singularmente destacados por seu temor a Deus. Haja vista Hananias, ajudante de Neemias na reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 7.2).
O idoso Simeão, que tomou o menino Jesus nos braços, também é realçado como temente ao Todo-Poderoso (Lc 2.25). E o centurião Cornélio? (At 10.2). O peregrino Jacó evocava o Deus de seu pai como o Temor de Isaque (Gn 31.42).
Carecemos de homens, mulheres e crianças que temam a Deus. Ser cristão não é suficiente; exige Deus lhe sejamos tementes em todas as coisas. Que o nosso temor sobressaia principalmente entre os que ainda não receberam a Cristo!
Jó era um homem que se desviava do mal. Anselmo, que tantas contribuições trouxe ao pensamento evangélico, fez uma afirmação, certa vez, que hoje seria considerada radical até mesmo por alguns crentes piedosos: “Se o inferno estivesse de um lado e o pecado do outro, eu preferiria saltar para o inferno a pecar deliberadamente contra o meu Deus”. Sabia ele perfeitamente que existe algo pior do que o inferno: o pecado.
O vocábulo hebreu utilizado para descrever o ato de se desviar do mal é sar. retirar-se, afastar-se de tudo quanto nos possa induzir à iniquidade, cuja força gravitacional é a tentação.
Se fugirmos desta, não cairemos naquela. O processo que leva à queda é assim descrito por Tiago: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg 1.I4). Por conseguinte, é imprescindível que nos apartemos de tudo quanto é concupiscente. Esquivemo-nos, pois, do mal tão logo este se apresente. Em Gênesis, o pecado é apresentado como aquela serpente que se põe a espreitar os incautos: “Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás” (Gn 4.7).
N a Septuaginta, o referido versículo de Jó é assim traduzido: “Afastando-se de todas as coisas más”. Os santos desviam-se do mal, pois sabem que o pecar contra Deus é pior do que o castigo eterno. Crisóstomo, o grande orador da igreja, é mui categórico e enérgico: “Prego e penso que é mais amargo pecar contra Cristo do que sofrer os tormentos do inferno”. Portanto, se não nos apartarmos do pecado, seremos destruídos. Diante do pecado não há segurança: “O sábio teme e desvia-se do mal, mas o tolo encoleriza-se e dá-se por seguro” (Pv 14.16). (ANDRADE. Claudionor Corrêa de, Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 30-36).
2- A esposa de Jó.
A esposa de Jó uma crente sem crença. Sim! Uma crente sem crença! Assim era a esposa de Jó. Pelo menos é o que se conclui das palavras que lhe dirige o patriarca quando ela o instigou a amaldiçoar a Deus: “Falas como qualquer doida” (Jó 2.10). Ora, se o princípio da sabedoria é o temor a Deus, a loucura espiritual só pode advir do destemor e da irreverência ao Todo-Poderoso. Logo: era a esposa de Jó uma mulher que, até aquele momento, não tivera ainda uma experiência real com o Senhor Deus. Limitara-se ela a desfrutar das bênçãos sem ligar qualquer importância ao Abençoador.
O vocábulo hebraico usado para descrever a esposa de Jó é nebalôt. A palavra não denota apenas alguém destituído de juízo; indica prioritariamente uma pessoa caracterizada pela falta de recato e pudor. Seria este o fiel retrato da mulher do patriarca? Agora compreendo por que Charles Spurgeon veio a endereçar a Deus está oração: “Senhor, livra-nos das mulheres que são anjos nas ruas, santas nas igrejas e demônios no lar”. É bem provável que o príncipe dos pregadores tivesse em mente a esposa de Jó.
A mulher de Jó limitara-se a receber os benefícios do Senhor, sem jamais se preocupar em santificar lhe o nome. Se a mãe era incrédula, como poderiam os filhos ser crentes? Se utilitarista a mãe, como haveriam os filhos de ser piedosos? Se louca a mãe, como sábios os filhos? J. Edgar Hoover, fundador do FBI, depois de lidar com tantos malfeitores, chegou a uma conclusão que, conquanto óbvia, não deixa de ser dolorosa:
“Ninguém nasce criminoso; ele é gerado nos lares”. Teria a impiedade dos filhos de Jó nascido exatamente daquela mulher que os dera à luz, e, depois, entregou-os às trevas?
Certamente ela os induziu à idolatria. Exteriormente, aqueles jovens adoravam ao Deus de seu pai; interiormente, bendiziam aos deuses de sua inconsequente mãe. (ANDRADE. Claudionor Corrêa de, Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 50-51).
3- Os filhos de Jó.
“Seus filhos iam às casas uns dos outros e faziam banquetes, cada um por sua vez, e mandavam convidar as suas três irmãs a comerem e beberem com eles. Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração. Assim o fazia Jó continuamente” (Jó 1.5,6).
O texto, acima citado, não revela de imediato a apostasia em que haviam caído os filhos de Jó. Mas o seu desvio patenteia-se naqueles festins que se arrastavam por vários dias, durante os quais celebravam eles os deuses pagãos. Não lhes bastasse a idolatria, sutilmente amaldiçoavam ao Todo-Poderoso.
Se recorrermos ao original, veremos que Mishteh é a palavra para “banquete”; traz a imagem de uma irrefreável orgia na qual os convivas agem irrefletida e loucamente: “Comamos e bebamos, porque amanhã todos morreremos”.
Quão profanos e hipócritas eram aqueles jovens! E o coração de Jó não se enganava: “Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração” (Jó 1.5).
Leiamos o versículo em hebraico: ulai hataú vánai vuberakau Elohim bilevavam. Literalmente, diz esta escritura: “Talvez hajam pecado meus filhos, bendizendo a Deus em seus corações”.
Afinal, amaldiçoavam ou bendiziam eles a Deus? Considerando-se que o substantivo empregado para designar tanto a Deus quanto aos deuses pagãos é o mesmo na língua hebreia, tem-se a impressão de que os filhos de Jó louvavam ao Todo-Poderoso. Mas a verdade é que eles, disfarçada e impiamente, bendiziam aos deuses, amaldiçoando ao único e verdadeiro Deus.
Na maioria das versões modernas, os tradutores, abandonando as sutilezas do autor sacro, optaram pelo óbvio: mostram que os filhos de Jó, naqueles banquetes, amaldiçoavam a Deus no silêncio de seus corações. Pode haver pecado maior? A apostasia, somava-se a hipocrisia. Eis por que o patriarca, terminadas aquelas festanças, levantava-se de madrugadas, e oferecia sacrifícios em favor de cada um de seus filhos.
Muitos são os filhos de crentes que estão a professar um cristianismo perversamente nominal! Quando se reúnem, fazem-no para amaldiçoar a Deus através de seus atos abomináveis. E chegada a hora, pois, de nos mostrarmos mais vigilantes quanto à conduta de nossos jovens. Se não os disciplinarmos; se não os mantivermos no caminho de Deus; se não lhes exigirmos a devida postura, o Todo-Poderoso o fará dolorosamente.
Se não podemos exigir sejam eles piedosos e tementes a Deus, uma demanda é-nos lícitos apresentar-lhes: enquanto estiverem conosco, e sob o nosso teto, têm eles a obrigação de se portarem com decência. Tem-se a impressão de que os filhos de Jó, embora solteiros e apesar de não estarem devidamente preparados, moravam cada um em sua própria casa. Afastados da supervisão paterna, iam eles vivendo irresponsavelmente, dissipando os haveres do pai naqueles excessos e inconsequência.
Desgraçadamente, muitos são os pais que autorizam seus adolescentes e jovens a saírem de casa para “tocarem” a sua própria vida. Como a maioria destes ainda não tem a necessária estrutura psicológica, moral e espiritual, acaba por se corromper. Os filhos somente devem deixar o lar paterno no momento certo e na ocasião propícia.
Cada filho que nos sair de casa antes do tempo será um pródigo a mais a engrossar a fileira dos desajustados. Lamentavelmente, como diria Oliver Goldsmith, “há progenitores que se preocupam mais em guardar a pureza racial de seus cães e cavalos do que com a educação da vida cristã de seus filhos”.
Levantemo-nos de madrugada, e intercedamos por nossos filhos; oremos por eles; e por eles jejuemos, a fim de que não pereçam. Se não o fizermos, nenhuma esperança lhes restará.
Em suas Lamentações, exorta-nos Jeremias: “Levanta-te, clama de noite no princípio das vigílias; derrama o teu coração como águas diante da face do Senhor; levanta a eles as tuas mãos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome à entrada de todas as ruas” (Lm 2.19). (ANDRADE. Claudionor Corrêa de, Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 47-49).
II – LIDANDO COM A MORTE DENTRO DA FAMÍLIA
1- Jó e sua esposa foram surpreendidos pela morte dos filhos.
As filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito, eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei, para te trazer a nova. (Jó 1.18,19)
O conceito bíblico sobre a morte declara que “a morte não é um fenômeno natural na vida humana”. Na perspectiva bíblica, “morte” aparece no grego bíblico como thanatos, que significa “separação, cessação da vida física”. Não podemos aprofundar esse assunto porque estamos, de fato, querendo saber como se enfrenta a morte quando ela nos surpreende na vida cotidiana. Quando tudo parecia normal, a morte surpreendeu a Jó e a sua esposa. Como crentes em Cristo, devemos encarar a realidade da morte com a confiança de que, quando a vida cessar, não nos reterá na sepultura, mas servirá como trampolim para a vida eterna (Jo 5.24). Todos ficamos perplexos ante a morte quando ela nos pega de surpresa. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 175-176).
2- Razões para a tristeza do luto de Jó e de sua mulher.
“Melhor é ir à casa onde há luto do que… onde há banquete”. (Ec. 7.2)
Onde há banquete, existe a tentação de esquecer-se de Deus. Diante da morte é mais fácil lembrar o fim de cada um e a necessidade de preparar-se para o juízo de Deus. A morte nos fez pensar na vida. “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). Cada funeral alheio fez lembrar nosso próprio funeral.
3- Fidelidade ao Senhor em meio à dor.
Preste atenção na primeira palavra. Não sabemos quanto tempo se passou entre Jó ter ouvido as notícias e sua reação a elas. E possível que tenha ficado ali todo o resto da tarde. Pode ter ido aos tropeços até a porta para ver na distância, com seus próprios olhos, os remanescentes da casa, agora uma ruína, onde estavam os corpos de seus filhos. Pode ser que tenha reagido apenas depois dos funerais, enquanto ficava ao lado das dez sepulturas novas. Depois de suportar golpes tão brutais, as palavras não têm grande propósito.
O homem estava despedaçado, até o mais fundo de seu coração, tendo perdido tudo. O grande pregador escocês do passado recente, Alexander Whyte, disse muito bem: “As tristezas de Jó não vieram uma de cada vez, mas em batalhões.”
O homem talvez tenha ficado ao relento, sob as estrelas, até que o orvalho o molhasse. Finalmente, porém, falou. E quando o fez, que resposta notável! O versículo 20 é composto de nove palavras no texto hebraico. Essas palavras descrevem o que Jó fez, antes que o texto nos diga o que ele disse. Cinco das nove palavras são verbos. A Bíblia que uso contém 18 palavras no versículo 20; mas, mesmo assim, 5 são verbos. Ao ler a Bíblia, sempre preste atenção nos verbos. Eles o levam por toda a ação de uma narrativa, ajudando você a entrar vicariamente no evento.
Em primeiro lugar, Jó se ergueu do chão. Ele “se levantou”.
O verbo seguinte nos diz algo estranho. Ele “rasgou o seu manto”.
A palavra traduzida manto é um termo que descreve uma peça de vestuário que se ajusta frouxamente ao corpo, como uma roupa usada por cima de outras, que vai até os joelhos. Não se trata de uma túnica vestida por baixo; mas era a peça que o mantinha aquecido à noite. Jó levantou a mão até o pescoço, e não encontrando uma costura, segurou uma parte gasta do tecido, rasgando-a, e nesse ato de rasgar está anunciando sua terrível tristeza. Este foi o ato de um homem angustiado. O termo é usado várias vezes no Antigo Testamento para descrever o luto profundo.
Lemos então o terceiro verbo: “Rapou a cabeça.”
O cabelo é sempre representado nas Escrituras como a glória do indivíduo, uma expressão do seu valor. Rapar a cabeça é, portanto, um símbolo da perda da glória pessoal.
Seu quarto ato é cair no chão, mostrando o seu sofrimento em nível extremo. Vamos deixar bem claro que não se tratava de alguém sofrendo um colapso por causa da tristeza: o propósito era inteiramente outro. E isto que retrata o heroísmo da perseverança de Jó. Ele não chafurda e se lamenta, mas adora.
O verbo hebraico significa “cair prostrado em completa submissão e adoração”. Ouso dizer que a maioria de nós nunca adorou desse modo! Ou seja, com o rosto no chão, deitado de comprido. Esta era considerada na época a expressão mais sincera de obediência e submissão ao Deus Criador.
Antes de continuar, eu gostaria de sugerir que você tentasse isso um dia. Com as palmas das mãos para baixo, de bruços, com os joelhos e pés tocando o solo, corpo estendido, enquanto derrama o coração em adoração. É a posição tomada deliberadamente por Jó. Completa e humilde submissão.
A essa altura, o único que está lançando maldições é Satanás. Ele ficou com ódio de tudo! Detestou a reação de Jó. Apesar de todos aqueles acontecimentos funestos, o homem continuou adorando o seu Deus – aquele que permitiu que as catástrofes acontecessem.
Em um milhão de pessoas não haveria uma que fizesse isso, mas foi o que Jó fez. Os espíritos perversos ficaram boquiabertos, por assim dizer, ao observarem um homem que reagiu a todas as adversidades com adoração; que concluiu todos os seus ais adorando. Nenhuma acusação. Nenhuma amargura. Nenhuma maldição. Nada de punhos cerrados contra o céu, gritando: “Como ousas fazer isto comigo, depois de ter andado contigo todos esses anos?” Nada disso. (SWINDOLL. CHARLES R., Jó Um homem de tolerância heroica. Ed. 2003. Editora Mundo Cristão. pag. 39-41).
III – OS CRISTÃOS E O LUTO
1- Não culpe a Deus.
Suas palavras foram estas: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!”
Isso diz tudo. Todos nascemos nus. Ao morrer, todos iremos nus, enquanto somos preparados para o sepultamento. Nada temos ao nascer; nada temos ao partir. Tudo o que possuímos nesse intervalo nos é dado pelo Doador da vida. Tudo o que temos são ossos envoltos em pele, órgãos, nervos e músculos, junto com uma alma pela qual devemos prestar contas a Deus.
Jó já cuidou disso. E como se ele estivesse dizendo: “Aquele que me deu vida e concedeu tudo por empréstimo durante a mesma decidiu (e tem esse direito) tirar tudo. Não vou levar nada comigo de forma alguma. Bendito seja o seu nome por esse empréstimo enquanto o tive. E bendito seja o seu nome por decidir removê-lo.”
Entenda isso muito bem. Entenda enquanto passeia por sua casa e vê todos os seus pertences. Entenda quando abre a porta e entra em seu carro, atrás do volante. Tudo é por empréstimo, cada pequena coisa. Entenda quando o seu negócio fracassa. Ele também era um empréstimo. Quando o preço das ações sobe, todo o lucro é um empréstimo.
Olhe isso de frente. Você e eu chegamos em um pequeno corpo nu (e não muito bonito, para falar a verdade!). O que teremos ao partir? Um corpo nu quase sempre cheio de rugas. Você não leva nada porque não trouxe nada! O que significa que não possui nada.
Que grande revelação! Está pronto para aceitá-la? Você não possui sequer os seus filhos. Eles são filhos de Deus, dados por empréstimo para você cuidar, criar, alimentar, amar, disciplinar, encorajar, afirmar e depois soltar. (SWINDOLL. CHARLES R., Jó Um homem de tolerância heroica. Ed. 2003. Editora Mundo Cristão. pag. 41-42).
2- Vivendo o luto.
Há no seu íntimo um sentimento que ele não entende, mas sente. As suas entranhas se remexem, como a participar da luta moral que o aflige, e afirma: dias de aflição sobrevêm (Jó 30.27). Moralmente andava de luto e vivia no escuro, sem ver a luz do sol; então recorda a sua ida à congregação, quando era bem-vindo e desejado, mas agora levanto-me e clamo por socorro, mas ninguém o acode.
Sou irmão dos ‘chacais e companheiro de avestruzes (Jó 30.29). Mesmo vivendo no meio da sociedade, onde tantos serviços havia prestado, agora era um abandonado, atirado nos matos, vivendo com os animais, que não participam dos serviços humanos. Era o cúmulo do desprezo e do abandono. Pobre Jó! (Mesquita. Antônio Neves de, Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).
3- Mantenha a esperança.
A História é linear e teleológica, ou seja, ela caminha para uma consumação final, onde se verá a vitória triunfal de Cristo e da Sua Igreja. Na Sua segunda vinda. Cristo colocará todos os Seus inimigos debaixo dos Seus pés e triunfará sobre todos eles (ICo 15.25). Vejamos três pontos:
A desesperança daqueles que não conhecem a Deus (4.13). O mundo pagão era completamente desprovido de esperança. O futuro para eles era sombrio e ameaçador. Frente à morte, o mundo pagão reagia com profunda tristeza. A tristeza do pagão é incurável, contínua, e sem intermitência. Seu desespero não tem pausa. O verbo grego lupesthe, “entristecer-se”, no tempo presente, significa uma tristeza contínua. Uma inscrição típica encontrada em um túmulo demonstra esse fato: “Eu não existia. Vim a existir. Não existo. Não me importa”.
O mundo greco-romano dos dias de Paulo era um mundo sem esperança (Ef 2.12). No entendimento deles não havia nenhum futuro para o corpo, pois este não passava de uma prisão da alma. Os epicureus não acreditavam na eternidade. Para eles a morte era o ponto final da existência. Os estoicos diziam que enquanto estamos vivos a morte não existe para nós, e quando ela aparecer, nós já não existimos. Os pagãos reagiam com desespero diante da morte.
William Barclay registra o que alguns pensadores disseram.
Esquilo escreveu: “Uma vez que o homem morre não há ressurreição”. Teócrito disse: “Há esperança para aqueles que estão vivos, mas os que morrem estão sem esperança”.
Cátulo afirmou: “Quando nossa breve luz se extingue há uma noite perpétua em que deveremos dormir”.
Os crentes de Tessalônica, egressos dessa realidade, e ainda sendo brutalmente perseguidos, estavam se entristecendo, porque julgavam que seus entes queridos, os crentes que dormiam em Cristo haviam perecido. Esta carta foi escrita para abrir-lhes os olhos da alma para a bendita verdade divina acerca da esperança cristã. William Hendriksen afirma com resoluta certeza: “De fato, à parte do cristianismo não existia nenhuma base sólida de esperança em conexão com a vida por vir. A tristeza dos que vivem sem esperança (4.13). A tristeza é filha da desesperança. O mundo sem Deus é um mundo triste. A morte para aqueles que não conhecem a Deus é um fim trágico. Na verdade, não há esperança fora da fé bíblica e evangélica. Só lhes resta uma profunda tristeza quando olham pelo túnel do tempo para verem o palco do futuro.
Howard Marshall diz que a igreja de Tessalônica enfrentava dois graves problemas que tiravam sua alegria:
O primeiro dizia respeito aos membros da igreja que tinham morrido antes da segunda vinda de Cristo. A morte deles significava que estariam excluídos dos acontecimentos gloriosos associados com a parousia (4.13-18)?
O segundo dizia respeito ao cronograma da segunda vinda. Por trás dele havia o temor de que a parousia pudesse pegar os vivos desprevenidos e, portanto, não participariam da salvação (5.1-11).
A revelação de Deus que dá esperança (4.13,15). As religiões têm especulado sobre o destino da alma após a morte. Os filósofos têm discutido sobre a imortalidade. Os espíritas falam na comunicação com os mortos. Os católicos romanos pregam sobre o purgatório, um lugar de tormento e autopurificação. Há aqueles que negam a doutrina da segunda vinda de Cristo (2Pe 3.4).
Agora, Paulo resolve este problema, dizendo que não precisamos especular, pois temos uma revelação específica e clara de Deus acerca do nosso destino após a morte (4.15; 2Tm 1.10). A Bíblia tem uma clara revelação acerca da morte e da ressurreição (ICo 15.51-54; Jo 5.24-29; 11.21-27), bem como a respeito da segunda vinda de Cristo (4.13-18). A autoridade da Palavra de Deus dá-nos a segurança e o conforto que precisamos, afirma Warren Wiersbe. (LOPES. Hernandes Dias. 1 e 2 Tessalonicenses. Como se preparar para a segunda vinda de Cristo. Editora Hagnos. pag. 102-104).
CONCLUSÃO
Consideremos que a lição nos estimula a refletir a respeito de um sofrimento imerecido, como a perda de filhos dos justos. O exemplo de Jó que se encontrar na Bíblia é uma prova de que Deus se interessa com a maneira de como lidamos com as perdas da vida. Essa lição é uma oportunidade de aprender a como lidar com as perdas de pessoas queridas.