“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl 6.7)
INTRODUÇÃO
No próximo domingo, estudaremos a respeito das consequências que a negligência dos pais acarreta para a família. O rei Davi e sua casa, infelizmente, acabaram entrando para a história como um exemplo de uma família nada perfeita. A família de Davi era grande, pois ele teve muitas esposas. O rei teve mais de 20 filhos. Naturalmente, não era fácil administrar a sua família. Entretanto, a escolha que Davi fez influenciou toda a sua casa, conforme lemos em 2 Samuel 12.11 e 12. O episódio de Amnom e Tamar é uma dessas consequências, assim como a rebelião e a possessão das mulheres de Davi por parte de Absalão também são consequências do ato imoral de do rei. Nesta oportunidade, podemos refletir a respeito do impacto de nossos atos morais em nossa família.
I – O REI DAVI E SUA GRANDE FAMÍLIA
1- Davi, o ungido por Deus. (1 Sm. 9.25; 10.1 e 16.1)
Davi é ungido, o óleo santo foi usado para ungir o segundo dos reis de Israel. Mediante esse ato, o reinado de Saul foi formalmente substituído, embora ele ainda continuasse no poder por algum tempo, a fim de cuidar do restante dos acontecimentos necessários em sua vida. Como no caso de Saul, o Espírito de Deus veio sobre Davi para capacitá-lo à missão. (1Sm. 10.6,10; 11.6).
O Espírito, no tempo do Antigo Testamento, ia e vinha ajudando e capacitando em tempos de crise e momentos especiais. O fraseado do versículo, “daquele dia em diante”, pode significar a presença contínua do Espirito, ou que a vinda do Espírito sobre Davi era constante, tendo havido muitos incidentes semelhantes. Através dessa unção espiritual, que se seguiu à unção com azeite, as qualidades necessárias para o reinado foram transmitidas a Davi.
Ό efeito da descida do Espírito do Senhor sobre Davi foi que o jovem pastor cresceu para tornar-se um herói, um estadista, um erudito, um sábio, um rei de profunda visão”.
“Essa era a autenticação sobrenatural da vontade de Deus. Posteriormente, Davi foi ungido rei de Judá e, mais tarde ainda, de todo Israel” (Eugene M. Merrill). Foi assim que o poder espiritual pousou sobre aqueles a quem Deus escolheu para Seu serviço. (Jz 3.10; 6.34; 14.6; 1 Sm. 10.10; 16.13).
Davi, filho de Jessé, era neto de Rute e Boaz (Rute 4.18-21) e estava na linhagem da promessa, descendendo de Abraão através de Isaque e Jacó. A dinastia real deveria vir através de Rute (4.11). Ver uma ilustração da linhagem de Davi em 1Sm. 17.12. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1182).
2- Davi, o homem de Deus.
Em Atos 13.22, apostolo Paulo cita o testemunho divino relativo a Davi: “Achei a Davi, filho de Jessé, varão conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade” (cf. 1 Sm 13.14; SI 89.20). Estas palavras se referem ao caráter de Davi como um todo. Na verdade, Davi cometeu grandes pecados, mas seus pecados não mudaram a estimativa que Deus tinha a respeito dele, porque Davi se arrependeu. Saul fracassou na obediência e adoração de Deus. Davi, fazendo a vontade divina e arrependendo-se, provou ser o tipo de homem que Deus queria que ele fosse.
3- A grande família de Davi.
É difícil uma pessoa ser bem-sucedida e não se tornar segura e indulgente em relação à carne. A fraqueza de Davi foi o fato de que quando ele se estabeleceu em seu reino, tomou mais esposas (v. 3); mas a prole numerosa que ele teve aumentou a sua honra e força.
Ora, os filhos são uma herança do Senhor. Temos uma relação dos filhos de Davi, não só em Samuel, mas neste livro, e agora aqui novamente; porque era uma honra para eles o fato de terem um pai como este. (HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pag. 664).
II – FILHOS E PARENTES NA CASA DE DAVI
1- Tamar.
No hebraico, “palmeira” ou “tâmara (palmeira)”. Uma filha de Davi com Maaca, irmã de Absalão e meia-irmã do depravado Amnom, o filho mais velho de Davi com Ainoa, uma jezreelita (2 Sm. 3.2). Depois de elaborado planejamento, Amnom conseguiu estuprar Tamar, cometendo formicação, incesto e estupro ao mesmo tempo!
Depois foi a vez de Absalão fazer o planejamento de assassinato. Ele acabou matando Amnom, para constrangimento de Davi que, contudo, não tomou nenhuma atitude, o que combinou com sua inação no caso do estupro de Tamar. A época foi em tomo de 980 a.C. (CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 6. 11 ed. 2013. pag. 317-318).
2- Absalão.
Absalão no hebraico quer dizer “o pai é da paz” foi o terceiro filho de Davi, nascido de Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur, em Hebrom (2Sm 3.2,3. 1 Cr 3.1,2). O autor do livro no qual ocorrem as narrativas de Absalão (2Sm 13-19) está primeiramente preocupado com os atos justificados do Senhor nos anos em que foi formada a dinastia de Davi. Para o autor, Salomão (e não o primogénito Amnom, nem o terceiro filho, Absalão, nem o quarto, Adonias etc.) foi o escolhido de Deus para ser o sucessor de Davi, Uma apreciação dessa ênfase ajuda a explicar a escolha de dois eventos da vida de Absalão (o assassinato de Amnom, 2Samuel 13.1-38; e a conspiração e rebelião de Absalão, 2 Sm 13.39-19.8) que o levaram a ser preterido em relação aos demais. A intenção do escritor é mostrar como o Senhor castigou Davi pelo adultério e assassinato, mas conservou sua promessa de perpetuar a dinastia de Davi (anunciada por Natã em 2 Samuel 12.10-14; 7.12-16). (PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pag. 14-15).
3- Amnom.
No hebraico significa fiel. É o nome de duas pessoas no Antigo Testamento. Amnom era o filho primogênito de Davi, e sua mãe era Ainoã, a jezreelita, quando Davi ainda não havia assumido o trono de Israel, mas já era o escolhido de Deus. Feito homem, Amnom demonstrou ser desajustado emocionalmente e dominado por paixões carnais incontroláveis. Ele desenvolveu um comportamento dominado por uma paixão louca e doentia por sua meia irmã. Ficou doente de angústia e de desejo incontinente pela moça e, por esse motivo, não comia nem bebia, Amnom estava totalmente dominado por essa paixão avassaladora (2 Sm 13.4).
Um sentimento incestuoso tão forte que se tornou uma verdadeira obsessão, Amnom faria qualquer coisa para possuir sua irmã. Tamar, nos parece uma jovem ingênua que não podia imaginar a obsessão de Amnon. Entretanto, as imaginações devassas e pervertidas do filho mais velho de Davi fizeram-lhe perder o controle, ele foi capaz de fingir estar doente e precisando da benevolência de sua meia irmã para fazer-lhe bolos que ele pudesse comer da sua mão.
Para conseguir o que queria, Amnon fingiu-se doente para receber a visita do pai Davi, a quem pediu que deixasse Tamar preparar-lhe dois bolos. A verdade sobre a atitude de Davi para com os seus filhos era que ele era muito relapso. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 158).
4- Jonadabe, um conselheiro do mal.
Algumas versões grafam esse nome com a forma de Jeonadabe. Seu nome significa “Yahweh impele”. Mas outros estudiosos interpretam-no como “Yahweh é nobre” ou “Yahweh é liberal”. Um sobrinho de Davi, filho de Siméria, irmão de Davi. Jonadabe era homem inescrupuloso e cheio de truques, pelo que causou muitas dificuldades. Ajudou a seu primo e amigo, Amom, filho de Davi, a obter satisfação para seus desejos incestuosos, o que resultou na violentação de Tamar. Tamar era meio irmã de Amom e irmã de Absalão.
Por causa disso, Amom acabou sendo assassinado por ordens de Absalão. Daí resultou uma guerra civil, com a consequente brecha política em Israel. Apesar de toda essa participação de Jonadabe, parece que, pelo menos durante algum tempo ainda, ele continuou a desfrutar de intimidade com a casa real (2 Sm. 13:1-33). (CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 3. 11 ed. 2013. pag. 575).
III – O PROBLEMA MORAL NA FAMÍLIA DE DAVI
1- As consequências de sua falta de domínio próprio.
O profeta Natã anunciou três maneiras pelas quais Deus iria punir Davi:
(1) O filho de Bate-Seba (2 Samuel 11.27, e possível herdeiro do trono) iria morrer (2 Sm 12.14). Quem sucederia a Davi? Talvez Amnom? Incitado por Jonadabe (seu “amigo”, 2 Samuel 13.3-7, um “confidente da corte”, cf. Husai, “amigo” de Davi, 2 Sm 15.37; 16.16; 1 Cr 27.33) Amnom estuprou sua meia irmã (irmã de Absalão) Tamar; e (tendo Davi fracassado em vingar esse ato) dois anos mais tarde Absalão provocou a morte de Amnom e em seguida fugiu para a casa de seu avô materno. Será, então, que o sucessor de Davi poderia ser Absalão? Cinco anos se passaram até que Davi o reintegrasse totalmente.
Mas, Absalão movimentou-se rapidamente para conseguir o trono. Adotando costumes pagãos (que lhe foram ensinados por Talmaí?) ele apareceu em público em uma carruagem escoltada por um cortejo de corredores. Ele assegurou a simpatia das dez tribos do norte fazendo-se passar por seu defensor. Dentro de quatro anos (na LXX não consta 40 anos – aparentemente devido a uma interpretação errada de um copista hebreu que escreveu ’arba‘ im shanah ao invés de ’arba‘ shanim em 2 Samuel 15.7), sob o pretexto de cumprir um voto, Absalão foi a Hebrom e reclamou o título de “rei” (2Sm 15.10); em seguida, apoderou-se de Jerusa-Túmulo tradicional de Absalão no vale de Cedrom, Jerusalém para ser sua capital. Mas seu sucesso teve fim quando Joabe mandou matá-lo, (desafiando uma ordem explícita de Davi) na floresta de Efraim. Finalmente, será que o sucessor de Davi poderia ser Adonias? Ele havia tentado se apoderar do trono na velhice de Davi, mas foi abertamente denunciado pela nomeação aberta de Salomão (filho de Bate-Seba!) por parte do idoso rei.
(2) A espada não se apartaria da casa de Davi (2Sm 12.10). Absalão trouxe a morte a Amnom por ter estuprado sua irmã; Joabe mandou assassinar Absalão por conspiração e rebelião e Benaia matou Adonias por ter pedido a mâo de Abisague (1 Rs 2.13-25).
(3) Alguém da própria casa de Davi iria conspirar contra ele e tomar publicamente suas concubinas (2 Sm 12.11,12), Absalão conquistou o coração dos homens de Israel (2 Sm 15.6), proclamou-se rei em Hebrom e apoderou-se de Jerusalém sem qualquer batalha.
Mas, apesar da magnitude dos pecados de Davi e do período de incertezas relacionado à identidade de seu sucessor, Deus permaneceu fiel à sua promessa de que a dinastia de Davi se estabeleceria para sempre em Israel. Salomão tomou-se rei em lugar de seu pai (1 Rs 1). (PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pag. 15).
2- Incesto e morte na família.
O incesto é a relação sexual entre duas pessoas da mesma família. Na história dramática de incesto entre os filhos de Davi, Amnom estava dominado por um sentimento destrutível de uma paixão sexual doentia por sua meia irmã Tamar. Sua paixão incestuosa e repugnante tornou seus desejos em uma ação incontrolável, porque sabia que Tamar era virgem.
Para tê-la, tramou por orientação do sagaz Jonadabe, usando de sutileza e mentira para o seu próprio pai, que consentiu e ordenou que sua irmã fosse fazer bolos para o seu irmão doente. Depois de fazer os bolos e levá-los para o seu irmão na cama, Amnom dispensou os servos da casa e pediu a Tamar que se deitasse com ele. Ela rejeitou: “Não, irmão meu, não me forces, porque não se faz assim em Israel; não faças tal loucura” (2 Sm 13.12). Amnom, obcecado por Tamar, quando percebeu que não a teria na cama por livre e espontânea vontade, com força bruta e sendo mais forte, tomou-a nos braços e a fez deitar-se com ele até satisfazer seu desejo doentio (2 Sm 13.11-15).
Tamar foi humilhada por Amnon, que a expulsou da sua casa (2Sm 13.12-17). Depois da sua desonra, Tamar rasgou seus vestidos coloridos, colocou cinza sobre a cabeça e foi andando e clamando de vergonha, e chegou à casa de seu irmão Absalão. O velho pai Davi soube do acontecido, irou-se muito, mas não fez nada para acalmar o coração da filha, nem tão pouco para punir o filho estuprador.
Absalão, vingativo, dois anos depois, deu ordem aos seus moços para que matassem a Amnon. Quando Davi teve notícias da morte do seu primogênito, rasgou seus vestidos, mas sabia que era o fruto do seu pecado. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 164).
3- Vigilância, proximidade e exemplo.
O apóstolo Paulo lança o seguir o princípio: Fazei tudo para a glória de Deus. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). O primeiro princípio é não escandalizar o irmão. O segundo é que Deus seja glorificado. Deus nunca é glorificado se com a minha liberdade eu estou causando escândalo e tropeço para o meu irmão. A glória de Deus não é promovida onde uso minha liberdade para fazer o irmão tropeçar e cair. Não temos o direito de usar nossa liberdade cristã para ferir a comunhão fraternal. (LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios Como Resolver Conflitos na Igreja. Editora Hagnos. pag. 197).
CONCLUSÃO
Convidamos os alunos e professores a refletir a respeito de como temos agido diante dos nossos filhos. É importante destacar que a graça não corre no sangue, mas a perversão sim. Por isso é papel dos pais é importantíssimo transmitir a fé cristã e a devoção piedosa para os seus filhos, não negligenciando essa parte fundamental na criação deles. Muitos filhos de Davi não o imitaram em sua devoção, mas seguiram pelos seus passos errados, e de forma ainda mais maligna, sem se arrepender. Que essa lição nos desperte, a viver em constante vigilância e oração por nossos filhos!