Prezados alunos e professores,
Nas lições anteriores estudamos sobre quando a família age por conta própria, a predileção dos pais por um dos filhos, ciúme, o mal que prejudica a família e ídolos na família. No próximo domingo estudaremos “Motim em família”.
“Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas.” (Fp 2.14)
A palavra “motim” sugere a ideia de reunir pessoas para se oporem contra uma autoridade ou contra uma ordem estabelecida. A palavra “motim” pode referir-se aos atos explícitos de desobediência e uma reação negativa contra regras e ordens estabelecidas num grupo social. Em síntese, motim é um ato de rebeldia contra um poder ou autoridade estabelecida.
A insurreição de Miriã e Arão à liderança de Moisés é um exemplo perfeito para aprofundar o estudo de algumas causas de desunião e contendas na família até os dias de hoje. Deus nos criou para a comunhão. Dessa forma, a família, como o primeiro e principal meio social humano, deve ser um ambiente seguro de cooperação e valorização das potencialidades e papéis individuais.
Entretanto, como as Escrituras nos mostram desde a Queda, a primeira família já foi marcada por uma inveja tão corrosiva que culminou em assassinato. Não por acaso, o Senhor trata com tamanho rigor a murmuração de Miriã. Essa atitude foi usada contra o casamento de Moisés com uma midianita, para atacar o irmão, secretamente invejado. Por meio desse estudo, vamos nos munir da sabedoria para que tais mazelas não adoeçam nossos lares, como a contagiosa lepra que acometeu a Miriã.
O coração humano é tão pecaminoso que tem a tendência de se esquecer das bênçãos de Deus, de ignorar as promessas dele e de encontrar defeitos na providência divina. “Rendam graças ao Senhor por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens!” (S l 107:8, 15, 21, 31).
I – A INFLUÊNCIA NEGATIVA DA MURMURAÇÃO
1. Assim nasce um motim.
O verbo “murmurar” serve como tradução para várias palavras em hebraico e grego (gogguzo, diagogguzo, embrimaomai e um substantivo grego, goggusmos). Em geral, as palavras significam resmungar ou murmurar um discurso subalterno ou se mi-articulado. Envolvidos na murmuração podem estar elementos tais como descontentamento, queixa, insatisfação, desacordo, ira, oposição e rebelião. Embora nem sempre seja este o caso (cf, At 6.1), Deus é geralmente o objeto da murmuração que é mencionada nas Escrituras. Por exemplo, em Êxodo 15-17 e Números 14; 26-17 os israelitas descontentes murmuraram contra Deus enquanto atravessavam o deserto; eles sem dúvida também murmuraram contra Moisés e Arão, mas Deus considerou essas murmurações contra seus servos como sendo, na realidade, contra Ele próprio (cf. Ex 16.2,7,8; Nm 14.2,27).
As atitudes e ações dos que murmuram são a manifestação de um temperamento inconveniente correspondente. Por exemplo: o queixume e a rebelião dos israelitas no deserto, a presunção dos escribas e fariseus, a incredulidade do restante dos judeus que rejeitavam os ensinos e as reivindicações de Cristo, o ressentimento dos empregados, na parábola de Cristo, que se opuseram à generosidade do patrão para com outros, e a impiedade dos apóstatas na Epístola de Judas.
E mais, foi a primeira ameaça à unidade da igreja primitiva, evitando-se a discórdia e a divisão pela designação dos sete diáconos para servir as viúvas de modo equitativo (At 6.1-6), Obviamente o murmúrio é completamente estranho ao caráter do povo de Deus. Indubitavelmente, por duas vezes Paulo alerta os crentes sobre este perigo – advertindo os a não murmurar como fizeram os israelitas (1 Co 10.10), e fazer todas as coisas sem murmurações (Fp 2,14).
2. A primeira queixa.
A primeira queixa aconteceu depois que Israel havia saído da região ao redor do Sinai, em que havia relativa fertilidade para a produção de grãos e água. De repente, depois de andarem para além do Sinai, depararam-se com o inóspito deserto e começaram a reclamar de que Moisés os havia trazido para morrerem naquela terra seca, quando poderiam ter ficado no Egito. Aquela murmuração, não só entristeceu a Moisés, mas a Deus, que operou um juízo com fogo destruindo um grupo de pessoas que viviam reclamando. O Senhor chamou aquele lugar de “Taberá” que significa “queimar” (Nm 11.1-3).
3. A segunda queixa (Nm 11.4-7).
A segunda queixa (Nm 11.7,8) referia-se ao fato de que toda manhã o povo teria que recolher o “maná” que Deus enviava. Todavia, o povo passou a ter repugnância ao maná e desejava comer algo que lhes lembrasse os melões, os alhos e as cebola, os pepinos, os peixes dos rios (Nm 11.4-6). Facilmente, esqueceram de todas as privações experimentadas como escravos e passaram a ter saudades do velho Egito. Esqueceram, também, dos milagres operados pelo Senhor, abrindo o mar Vermelho, transformando água amarga em água doce e outros.
4. A terceira queixa (Nm 12.1-3).
A terceira queixa (Nm 12.1-3) era a queixa de Miriã e Arão de que não eram mais consultados em algumas decisões que Moisés tomava. Os dois irmãos não aceitavam o casamento de Moisés com uma mulher cuxita, que não era de nenhuma família hebreia e era uma descendente de um filho de Cam, geralmente considerado como povo vil e desprezível.
Eles não conseguiam entender essa postura de Moisés, mas não havia nada que impedisse o casamento. Por serem mais velhos que Moisés, seus irmãos acreditavam que tinham de ser consultados a respeito das decisões importantes em relação ao povo, por isso se sentiram menosprezados.
Arão e Miriã reclamaram por não serem consultados, até mesmo para a formação de um grupo de 70 anciãos do povo para ajudarem a Moisés no atendimento das necessidades do povo (Nm 11.16,17). Os dois chegaram a um ponto de se perguntarem: “Porventura, falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu” (Nm 12.2).
A liderança dada a Moisés não foi estabelecida por uma democracia, na qual o povo decidia. O princípio dessa liderança não era, também, oligárquico, nem monárquico, mas, sim, o princípio que regia a autoridade de Moisés era a autoridade de Deus delegada para executar as ordens que vinham diretamente do Senhor.
II – O MOTIVO DA REBELIÃO DE MIRIÃ E ARÃO
1. A inveja.
Mais uma vez uma murmuração pessoal está ligada ao questionamento da autoridade espiritual de Moisés (cf. 11:4-34). Desta vez Miriã e Arão a princípio se queixam a respeito da mulher cusita de Moisés, antes de trazer à baila o verdadeiro problema: Porventura tem falado o Senhor somente por Moisés? A respeito dessa mulher cusita nada sabemos, a não ser o que o versículo 1 nos conta. Ela pode ser a mesma Zípora, mais costumeiramente descrita como midianita (Ex 2:16ss.); Habacuque 3:7 e alguns textos assírios sugerem a identidade de Midiã e Cusã. Cuxe, todavia, normalmente refere-se à Etiópia (v.g. Gn 10:6).
Assim a maioria dos comentaristas acham que pode ser que ela fosse a segunda esposa de Moisés, e que ela havia vindo da Etiópia (v.g. 10:6). O texto não explica porque Miriã e Arão puseram objeções contra essa mulher, porque na verdade as suas objeções a ela eram apenas uma cortina de fumaça para o desafio que estavam fazendo a autoridade espiritual de Moisés. Não obstante, o fato de se ligar o casamento de Moisés com o seu relacionamento com Israel, pode não ser arbitrário como a princípio parece. Costumeiramente, o casamento é considerado como símbolo do pacto de Deus com Israel. Moisés, como representante de Deus por excelência, por conseguinte precisa demonstrar em seu relacionamento com sua esposa como Deus age para com Israel.
Porém, seria pura especulação tentar imaginar as objeções de Miriã e Arão, com base nesta analogia. Miria e Arão alegam que o Senhor fala com eles da mesma maneira íntima que fala com Moisés. “Fala com” é uma tradução melhor do hebraico dibber be do que tem falado… pôr da ARA, pois a mesma frase é usada nos versículos 6 e 8 a respeito das discussões íntimas entre Deus e os Seus servos.
O fato de eles questionarem a autoridade peculiar de Moisés segue o relato da divisão do espírito de Moisés com os setenta anciãos, o que pode ser interpretado como demonstração de que Moisés era apenas o primus inter pares. Entretanto, os próprios termos em que Arão e Miriã expressaram o seu desafio mostram que eles reconheciam que havia uma diferença de fato entre a autoridade deles e a de Moisés. Isto é confirmado pelas palavras de Deus nos versículos 6-8, pelo julgamento de Miriã no versículo 10, pela incapacidade de Arão em curá-la (11-12), e pela sua cura através da intercessão de Moisés (13-15).
2. O motim familiar promove dissabores e ofensas.
Quanto à forma e ao conteúdo, esta história do desafio lançado por Míriã e Arão contra a suprema autoridade de Moisés tem muitos pontos em comum com os dois episódios93 anteriores. Embora este protesto pareça ser muito menos sério do que o descontentamento popular generalizado, descrito no capítulo anterior, de fato ela foi peculiarmente pungente e fundamental.
Não foi apenas um caso trivial de inveja familiar, pois Arão, irmão de Moisés, era também o sumo sacerdote, e portanto, o supremo líder religioso e o homem mais santo de Israel; enquanto que Miriã, sua irmã, era uma profetisa e, desta forma, chefe das mulheres cheias do espírito (Ex 15:20s.). Aqui, portanto, verifica-se uma aliança de sacerdote e profeta, dois protótipos da religião israelita, desafiando a posição de Moisés como único mediador entre Deus e Israel. A sua vindicação é ao mesmo tempo decisiva e dramática; de fato, a descrição da sua posição e do seu ofício prefiguram claramente os de nosso Senhor do Novo Testamento.
III – MOISÉS: UM HOMEM MANSO E HUMILDE
1. O mais manso que havia na Terra.
A Bíblia declara que Moisés era homem humilde e manso em todas as atitudes que tomava “E era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia na terra” (Nm 12.3). O modo como Moisés enfrentou a murmuração do povo e a rebelião de Miriã e Arão se constitui num aprendizado para os que exercem liderança na Igreja de Cristo. Ele teve serenidade e ficou em silêncio até o momento em que Deus agiria por ele. Moisés não revidou a atitude de seus irmãos. Sua mansidão era uma qualidade de caráter que o distinguia entre todos.
Na língua hebraica, a palavra manso é “anaw”, que significa “ser brando, gentil, ter disposição suave; ser tolerante”. Moisés possuía essas qualidades de temperamento e caráter. Sabendo que seus irmãos murmuravam contra si e contra a sua liderança, Moisés não se indispôs com eles. Ele era capaz de suportar com paciência as ofensas que lhe eram dirigidas e não reagia com atitude violenta.
Ele não se deixava dominar por ímpetos de seu temperamento e sabia esperar em Deus o modo de agir.
Jesus, em seu Sermão do Monte, em Mateus 5.5, disse: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” e mais à frente, no mesmo discurso, Jesus também falou: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). Essas duas atitudes destacadas por Jesus eram as que Moisés demonstrava em sua liderança do povo de Deus. Na mentalidade mundana, ser manso pode significar “ser fraco, covarde, retraído”, mas, na filosofia bíblica, “ser manso” implica ter a capacidade de exercer autocontrole, o controle do seu próprio ego. Moisés teve serenidade suficiente para agir com firmeza sem se deixar arrebatar pela ira.
Uma das qualidades do fruto do Espírito é a mansidão (Gl 5.22).
Na língua grega do Novo Testamento, “mansidão” é praotês, que significa a força que põe sob controle o nosso dia a dia.
Mesmo sabendo da murmuração e sedição de Miriã e Arão contra a sua liderança, Moisés não teve atitude vingativa para com eles. Pelo contrário, orou por seus irmãos para que Deus os perdoasse. O Senhor puniu, principalmente, a Miriã que ficou leprosa repentinamente e teve que ser colocada fora do acampamento de Israel (Nm 12.15). Moisés compadeceu-se de sua irmã e orou para que Deus a curasse (Nm 12.13).
2. O fardo de uma liderança.
Moisés estava entediado e depressivo com o peso do fardo de sua liderança com Israel (Nm 11.11-15). Depois das murmurações do povo contra Moisés, o povo foi punido pelo Senhor para que aprendesse a reconhecer a soberania divina sobre todos e aprendesse a reconhecer todas as benesses recebidas de Deus desde que Israel saiu do Egito. Mas Moisés era apenas um homem com limitações e sentimentos. Ele parece ter chegado ao limite de sua capacidade de suportar com o peso da liderança sobre Israel. Houve um momento na vida de Moisés em que o peso do fardo da liderança o deixou depressivo e sem ânimo para continuar com a missão de conduzir Israel à Terra Prometida (Nm 11.11,12).
Em outra ocasião (Êx 18.13-24), Jetro, o sogro de Moisés, foi ao seu encontro e, vendo com seus olhos que Moisés carregava o fardo da liderança completamente só, então o aconselhou para que diminuísse o peso de seu fardo e dividisse com outros líderes do povo. Posteriormente, mais uma vez, é Deus que toma a iniciativa para diminuir a carga de responsabilidade de orientar e aconselhar o povo. O Senhor ordenou a Moisés que convocasse os líderes do povo, ou seja, os anciãos, e deles escolhesse 70 anciãos dos príncipes de Israel para o ajudarem.
Para confirmar a escolha desses 70 anciãos, o Senhor desceu na nuvem e falou com eles, e aqueles homens ficaram cheios do Espírito Santo e profetizavam (Nm 11.25). Depois desse episódio especial, visto que fora o Senhor quem orientou Moisés a fazer daquele modo, Moisés não consultou ninguém, porque era ordem do Senhor e, por essa razão, seus irmãos se sentiram esquecidos murmurando contra ele.
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.” — Mateus 5.9
3. A punição de Miriã e Arão (Nm 12.4-7).
“E logo o Senhor disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então, o Senhor desceu na coluna de nuvem e se pôs à porta da tenda; depois, chamou a Arão e a Miriã, e eles saíram ambos. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa”.
O problema familiar provocado pela inveja de Miriã e Arão contra seu irmão Moisés acendeu a ira do Senhor. Por esse motivo, foram convocados juntamente com Moisés para saírem da tenda. O Senhor desceu na coluna de nuvem, que era a demonstração de sua presença, e falou diretamente com os dois revoltosos mostrando-lhes que Ele fala como quer, quando quer e a quem quer.
A Moisés Ele falaria face a face, e não por figura, porque o libertador de Israel era fiel. Por causa da gravidade do pecado, principalmente de Miriã, que instigou Arão a compactuar contra Moisés, ela foi punida imediatamente ficando leprosa e, ainda, teve que ser separada do arraial de Israel por sete dias.
CONCLUSÃO
Devemos ser gratos, para eliminar os sintomas de um problema oculto no interior do murmurador. Que saibamos identificar as causas e consequências desse mal, vigiando para que o nosso lar seja um ambiente de paz, no qual cada papel desempenhado no seio da família seja respeitado e apoiado mutuamente, como tão sabiamente o apóstolo Paulo aconselhou aos pais, filhos, esposas e maridos, quanto aos deveres domésticos (Ef 5.22-33; 6.1-4).
REFERÊNCIAS
Cabral. Elienai,. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. p. 83,84-87,88,89, 92-94,95,96.
Gordon J. Wenham. Numeros Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. p. 117-118.
PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. p. 1316.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. I. Editora Central Gospel. p. 430.