É impressionante como muitas doenças têm sido estudadas e fundadas a partir da confusa e precária vida em sociedade. Vivemos em uma cultura narcisista de selfies, cujas curtidas são analisadas sofregamente, seguidas das postagens e reels em aplicativos e programas da internet. E a avidez por seguidores e visualizações tem produzido uma nova doença, chamada de Vício de popularidade.
Há alguns anos, o que interessava às pessoas eram ser populares em suas escolas, na vizinhança ou no ambiente de trabalho. Hoje, entretanto, a popularidade é avidamente perseguida no meio de pessoas desconhecidas, entre “amigos” virtuais nunca vistos na vida real. Se a popularidade estava reservada aos famosos e poderosos, nos dias atuais qualquer pessoa comum, usando filtros diferenciados, ou com um visual ou uma ideia (não necessariamente boas ou plausíveis), pode se tornar popular nas redes sociais.
Nos diversos meios midiáticos, temos pessoas novas e velhas, bonitas e feias, de todo e qualquer credo e aparência, com ideias bíblicas ou anti-bíblicas, postando imagens e/ou discursos. No marketing atual, as pessoas se posicionam como produtos, constroem histórias (verdadeiras ou falsas) de si mesmas, funcionando como Personal brandings, vendendo suas imagens e conselhos, ou o que lhes interessa, para serem patrocinadas por empresas financiadoras.
O triste é que as visitas a sites, os negócios online, as hashtags e likes, precisam ser monitoradas constantemente. Isto faz com que muitos jovens e adolescentes (e muitos adultos), escolham evitar almoços e jantares em família, e até mesmo reuniões sociais presencias. Afinal, postar a foto de um jardim é mais importante do que sentir os aromas ou perceber as cores das flores. E postar a foto de uma xícara de chá, evocando a paz do final da tarde, é mais importante do que realmente viver em paz e unidade em família.
Há algum tempo eu estava em um restaurante bastante conceituado com meu marido, e nos assustamos quando um casal jovem pediu cerca de cinco pratos diferentes, caros e bem elaborados. Os pratos chegaram, eles fizeram uma série de fotos para suas redes sociais, e simplesmente provaram as refeições – a menina disse que não poderia comer para não engordar. Ainda pediram três sobremesas que nem provaram, mas sobre as quais fizeram questão de postar fotos e ingredientes. Que mundo é este em que postar o preço e a arrumação de um prato é mais importante do que o convívio social à mesa?
Muitos membros de comunidades online descobriram que a fama nunca antes foi vista como tão facilmente disponível como é hoje em dia. E a partir desta constatação, cada pessoa pode se mostrar como quiser, defender o que desejar, ou ser quem quiser ser.
A verdade é que, no mundo real, as coisas são bem mais difíceis. O espelho mostra quem realmente somos, nossas atitudes revelam nosso verdadeiro caráter, e nossas escolhas de vida evidenciam nossos valores e conceitos de vida. Não dá para fingir ser quem não é para os familiares, para os amigos mais próximos, ou para Deus, que tudo vê e conhece as intenções profundas do coração.
Jesus nunca teve e intenção de ser popular – quantas vezes ele curava e pedia para que nada falassem! Jesus olhava nos olhos, não estava preocupado com sua fama ou aparência, amava e abraçava pessoas na vida real, como nós devemos fazer.
Cuidado com o vício da popularidade. O popular sempre vai medir sua popularidade pelos likes dos outros, se tornando refém dos valores alheios e das escolhas de outras pessoas. Ao tentar agradar a todos, perde a sua essência: não vai mais conseguir agradar aos que ama, aos que o amam, a si mesmo e a Deus!
Lembremo-nos, portanto, das palavras de Paulo:
“Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo”. (Gálatas 1.10).
Por Elaine Cruz – psicóloga clínica e escolar, com especialização em Terapia Familiar.