Fofocar é um hábito construído e reforçado socialmente. Crianças que nascem em lares onde os adultos da casa gostam de fofocar, aprendem a observar o comportamento alheio a fim de ser mais um para agregar informações que sua casa valoriza. Até porque, pais fofoqueiros prestam mais atenção nos filhos quando estes falam de outros (irmãos, amigos, vizinhos) do que quando eles falam sobre seus próprios sentimentos ou atitudes.
É certo que aprendemos com erros alheios. Nossa aprendizagem sempre parte da observação e imitação de outras pessoas, ao mesmo tempo em que vamos internalizando conceitos e valores (corretos ou não), que nos são ensinados na escola, na igreja, na parentela, na sociedade e em casa. Porém, por mais que em alguns momentos acabamos comentando comportamentos alheios com pessoas mais próximas, fofocar, para quem gosta, é ir muito além de uma troca de informações para focar nas atitudes de outras pessoas – na maioria das vezes apontando defeitos, erros e desgraças, de modo a tentar a autovalorização da própria existência.
Fofoqueiros são curiosos e estranhamente interessados pela vida alheia. E quanto mais fofocam, mais as pessoas insistem em desmerecer sua própria vida e experiências. O que o outro faz, como ele age, o que falou ou como se comportou adquire mais importância do que rever as próprias atitudes e erros o fofoqueiro sempre se espanta com a fala do outro, mas não percebe o quanto sua vida se torna pequena quando tudo o que interessa é a vida dos outros.
A fofoca não escolhe sexo ou idade. Há homens mais fofoqueiros do que mulheres, e crianças pequenas, se não forem tratadas e travadas, gostam de fazer fofocas sobre seus irmãos. O triste é que as informações trazidas nunca abordam as boas notícias ou as atitudes louváveis – até porque boas notícias não dão ibope!
Fofocar implica, portanto, em desmerecer outros, e pode ser definida também como a prática de fortalecer uma pessoa em detrimento de outra, bem como uma forma de ataque ao que nos incomoda. No espaço de trabalho pode ser motivada pelo desejo de alcançar visibilidade ou um status mais elevado. Muitas vezes, dentro de espaços sociais, como igrejas, é utilizada para aumentar a rede de influências ou para fazer convergir a admiração de outros para o fofoqueiro, que não percebe estar com sua reputação danificada diante das pessoas e diante de Deus.
As pessoas gostam de fofocar sobre os dilemas de outras pessoas, sobre os filhos dos outros, dinheiro, atitudes que consideram estranhas, e especialmente sobre relacionamentos alheios. Mas esquecem-se, sobretudo, que suas atitudes também estão sendo analisadas e comentadas por outros fofoqueiros, mui especialmente pelos que acabaram de ouvir suas fofocas. Sim quem gosta de ouvir fofoqueiros também é fofoqueiro!
A Bíblia já declara: “Sem lenha a fogueira se apaga; sem o caluniador morre a contenda.” (Provérbios 26.20); “Quem muito fala trai a confidência, mas quem merece confiança guarda o segredo.” (Provérbios 11.13); “Quem vive contando casos não guarda segredo; por isso, evite quem fala demais.” (Provérbios 20.19).
Só há uma forma de evitarmos e pararmos os fofoqueiros de plantão não ouvir suas histórias! O ouvido alheio é a gasolina para os fofoqueiros continuarem em seus erros. E o mais sério é que quem fala demais da vida alheia, certamente vai cometer perjúrio ou calúnia – pecados que farão com que percam a salvação Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus Não se deixem enganar nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. (1 Coríntios 6.9,10); Portanto, você, que julga os outros é indesculpável; pois está condenando você mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas. (Romanos 2.1).
Por Elaine Cruz – psicóloga clínica e escolar, com especialização em Terapia Familiar.