Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“[…] Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque; e com ele estabelecerei o meu concerto […].” (Gn 17.19)
INTRODUÇÃO
Durante esse trimestre, estudaremos assuntos relacionados à família. Nesta oportunidade, especificamente, ponderamos que, diferentemente de outros trimestres, os assuntos referem-se aos problemas do cotidiano familiar. Veremos o que a Palavra de Deus tem a nos ensinar quanto a problemas de comunicação conjugal, ciúmes, rebeldia, porfias, mentira, mágoas e educação de filhos, dentre outros assuntos.
Nesta lição, em especial, focaremos nas atitudes precipitadas de Sarai e Abrão, ao decidirem não esperar o cumprimento da promessa de Deus e agirem por conta própria, “ajudando-o” no cumprimento da promessa. Veremos as consequências de quando deixamos de ouvir a voz de do Senhor para “ouvir” a voz de um coração enganoso.
I – DEUS FAZ PROMESSAS A ABRÃO
1. O encontro de Deus com Abrão.
Desde que Abrão saiu de Ur dos caldeus, experimentou algumas emoções ruins que o levaram ao estresse. Em primeiro lugar, pelo fato de ter permitido que o sobrinho Ló e sua família o acompanhassem em sua peregrinação de fé. Depois de algum tempo de guerra com alguns reis da região e tê-los vencido, Abrão vinha de uma jornada de conquistas e vitórias pessoais desde que saiu de Ur dos caldeus e, depois, Harã (Gn 11.31; 12.1-4).
O casal Abrão e Sarai não havia ainda gerado um filho. No capítulo 12 de Gênesis, o patriarca tinha 75 anos de idade quando Deus lhe prometeu uma grande descendência (Gn 12.4). No capítulo 15, Deus se encontra com Abrão e lhe faz uma promessa específica de um herdeiro de sua semente para o qual passaria o fruto de suas conquistas e riquezas. Quando finalmente Isaque, o filho da promessa nasceu, o patriarca tinha 100 anos de idade (Gn 21.5). Ou seja, podemos dizer que Abraão esperou por vinte e cinco anos pelo cumprimento da promessa divina. (Cabral. Elienai,. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 11-12).
2. A dúvida diante da espera.
De nosso confortável ponto de observação, olhando de volta para a história, temos dificuldade para entender a frágil confiança de Abrão. Mas Abrão não tinha a vantagem de olhar em retrospectiva. Ele era um homem velho, com uma esposa que havia muito já entrara na menopausa, e os dois pensavam em como teriam um filho. Veja o que Abrão disse a Deus: “Ó Soberano SENHOR, que me darás, se continuo sem filhos e o herdeiro do que possuo é Eliézer de Damasco? […] Tu não me deste filho algum! Um servo da minha casa será o meu herdeiro!” (Gn 15.2-3).
A expressão “Ó Soberano SENHOR” é incomum, uma vez que coloca juntos dois dos nomes de Deus: Adonai e Yahweh. Isso ajuda a suavizar a pergunta desafiadora, ainda que razoável. Ele diz a Deus exatamente o seguinte: “O Senhor continua prometendo bênçãos, mas estou mais perto da morte do que já estive, e não tenho herdeiro de sangue para receber as promessas de tua aliança. Sarai já não pode engravidar; então, qual é exatamente a recompensa a que o Senhor se refere?”. Tentando compreender a promessa do Senhor, Abrão teoriza que talvez seu mordomo, Eliézer, possa ser o herdeiro que Deus tinha em mente. Esse teria sido o costume daquela cultura.
Se você pudesse ler a resposta de Deus no idioma hebraico, a negação dele o deixaria de cabelo em pé.
Em Gênesis 15.4 está registrado que o Senhor começou com um enfático não. Em seguida, ele ressalta que o herdeiro de Abrão viria do corpo do patriarca. Em termos atuais, ele poderia ter dito: “Seu herdeiro terá o seu DNA”. Então, para deixar as coisas bem claras, o Senhor levou Abrão para fora. O verbo é ativo, quase forçoso, como se Deus o tivesse pego fisicamente e o colocado numa clareira sob o céu noturno.
“Olhe para o céu e conte as estrelas, se é que pode contá-las. […] Assim será a sua descendência” (v. 5).
Quantas estrelas uma pessoa com visão perfeita pode enxergar em uma área rural? Impossível contar. Esse é o ponto. O Senhor usou o céu noturno para ilustrar a amplitude da nação que teria o DNA de Abrão. Deus poderia ter usado a areia como ilustração — poderia ter dito ao seu servo que contasse os grãos de areia na estrada. Ou as folhas de grama da planície, ou os grãos de trigo do vale. Mas ele fez Abrão dobrar seu pescoço para olhar direto para cima, para o vasto, misterioso e imenso universo. Se Abrão se sentiu pequeno ao analisar as milhares de bolas de fogo que cobriam os céus de horizonte a horizonte, então ele entendeu o que o Senhor quis dizer: “Eu sou Deus; você é apenas um pequeno cisco comparado ao meu universo. Confie em mim; estou com você”. (SWINDOLL. CHARLES R., Abraão Um homem obediente e destemido. Ed. 2003. Editora Mundo Cristão).
3. Deus garante a Abrão o cumprimento da promessa.
Depois de o Senhor lhe dar a garantia de que o herdeiro sairia de suas entranhas e do ventre de Sarai, Abrão ainda faz alguns questionamentos acerca desse filho, porque a fé do velho patriarca estava em crise para ver a realização daquele sonho do casal, uma vez que Sarai continuava estéril e não dava qualquer sinal de gravidez. Às vezes, somos bloqueados por dúvidas e angústias quando não conseguimos ver pela fé a operação do sobrenatural.
O velho Abrão, alimentado com as dúvidas de sua esposa Sarai não conseguia ver pela fé a realização daquele sonho do filho gerado por ele e sua mulher. Parece incrível, mas Abrão, um homem de fé, de repente parece ter estagnado sua fé. Mas Deus não desistiu de Abrão, porque Ele conhece particularmente cada pessoa e sabia das fraquezas do seu servo. Pelo contrário, o Senhor revelou seu amor para com Abrão, identificando-se com ele e dizendo-lhe: “Eu sou YAHVEH” (Gn 15.7) e, desse modo, Deus estava afirmando a Abrão que suas promessas têm base no seu caráter perfeito. A Bíblia declara em Números 23.19 que “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria?”
O Senhor cumpre a sua palavra (Sl 145.13; 1 Co 1.9). No texto de Gênesis 16.13-15, Deus revelou a Abrão o futuro de sua posteridade e ele deveria transmitir essa mesma confiança à sua mulher, Sarai, mas não o fez como deveria. Porém alguns fatos extraordinários aconteceram com Abrão e Sarai que os levaram a agir por conta própria acerca da promessa. O tempo estava passando, e Sarai entendeu que deveria fazer alguma que contribuísse com o plano de Deus. (Cabral. Elienai, RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pag. 12-13).
II – INTERFERÊNCIA NO PLANO DE DEUS
1. A tentativa de Sarai em “ajudar” a Deus.
A mulher de Abrão, Sarai, já está com 75 anos. Por ser estéril e muito provavelmente por ter chegado à menopausa, ela concluiu que seria impossível o filho da promessa nascer de seu ventre. Sarai chega a expressar uma ponta de mágoa ao afirmar: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar à luz filhos (16.2). Então, ela, em conformidade com sua cultura, mas completamente fora do propósito divino, propõe entregar a Abrão sua serva Agar, para que dela fosse suscitado filhos a Abrão. Vale lembrar que serva é uma escrava pessoal adquirida por uma mulher rica, não uma jovem escrava responsável por seu senhor. A relação de Agar com Sarai lembra a de Eliezer com Abrão (15.2); ela é responsável por Sarai. O Anjo do Senhor reafirmará essa identificação (16.8). Sarai deixou morrer em seu coração a esperança do cumprimento da promessa, e essa esperança que se adia adoece o coração (Pv 13.12). (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
2. Os dois vacilam na fé.
Abrão deslizou-se na fé para deixar-se guiar pela razão e pelo conselho de Sarai. Abrão, em vez de encorajar sua mulher a crer nas promessas de Deus, aquiesceu, por incredulidade, à sua proposta e possuiu Agar, serva de Sarai, e ela concebeu.
Abrão não ministrou ao coração de Sarai, e ele, que já tinha caído nas provas ao descer ao Egito, cai, agora, nas provas de sua mulher com uma serva egípcia. Abrão imita Adão ao agir sob a sugestão de sua mulher em vez de agir de acordo com a Palavra de Deus.
Matthew Henry diz que uma das artimanhas de Satanás é nos tentar por meio dos nossos parentes mais próximos, uma vez que a tentação é mais perigosa quando é enviada por uma mão que é menos suspeita. Nessa mesma linha de pensamento, Derek Kidner diz que é uma ironia que, depois das alturas atingidas por Abrão nos dois últimos capítulos, ele houvesse de capitular ante a pressão doméstica, mostrando-se maleável sob o plano e a censura de sua mulher e rápido em lavar as mãos quanto ao resultado. (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
3. O problema da precipitação.
Sarai, tomada de uma suspeita ciumenta, culpa injustamente Abrão pelo comportamento de Agar, como se ele compactuasse com a insolência da serva. Para ratificar seu engano e absolver-se, Sarai irrefletidamente apela a Deus:
Julgue o SENHOR entre mim e ti, como se Abrão tivesse se recusado a lhe dar razão. Concordo com Matthew Henry quando diz: “Não estão sempre certos aqueles que se apressam a apelar a Deus em altos brados. As imprecações impensadas e ousadas normalmente são evidências de culpa e de maus motivos”. (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
III – AS CONSEQUÊNCIAS DE UMA DECISÃO PRECIPITADA
1. O conflito na família de Abrão.
A atitude de Sarai é descrita em poucas palavras, mas há uma tonelada de intolerância e crueldade em suas atitudes. Sarai humilhou Agar, mostrando a ela quem mandava naquela casa e fazendo que Agar ficasse sem vez, sem voz e sem espaço naquela família. Se os costumes daquela época permitiam que uma esposa sem filhos oferecesse ao marido uma criada para servir no lugar dela e a descendência dessa relação seria sua, esse mesmo costume que permitia uma esposa substituta não permitia a expulsão dessa esposa depois que ela ficasse grávida, qualquer que fosse sua atitude.
Bruce Waltke tem razão em dizer que a reação de Sarai é muito severa. Vitimada pela esterilidade e por Agar, Sarai se converte em algoz, e nem ela nem Agar, porém, portam-se bem aqui, uma vez que a senhora é cruel e despótica, e a serva, impenitente e insubordinada.
Warren Wiersbe é mais abrangente ao mencionar a forma errada como cada pessoa envolvida agiu nesse episódio. A solução de Sarai foi expressar toda a sua raiva, culpando o marido e maltratando sua serva. Parecia ter se esquecido de que a ideia daquela união havia partido dela. A solução de Abrão foi ceder à esposa e abdicar da liderança espiritual do seu lar. Deveria ter se compadecido de uma serva desamparada e grávida, mas permitiu que Sarai a maltratasse. Deveria ter chamado todos para o altar, mas não o fez. A solução de Agar foi fugir do problema, uma tática que todos nós aprendemos com Adão e Eva (3.8).
Derek Kidner ainda corrobora: “Cada uma das três personagens exige a inverdade, que faz parte do pecado, com falso orgulho (16.4), acusação falsa (16.5) e falsa neutralidade” (16.6). (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
2. A fraqueza de Abrão.
Abrão, em vez de assumir a liderança de sua família para resolver o conflito, transfere para sua mulher a solução do problema: A tua serva está nas tuas mãos, procede segundo melhor te parecer (16.6). Bruce Waltke diz que, como Eva, Sarai transfere a culpa; e, como Adão, Abrão se desvencilha da responsabilidade.
Assim, Abrão é o único que tem autoridade para efetuar uma mudança e, então, não agiu para proteger seu casamento. Abrão se acovarda e se omite. O guerreiro valente que enfrenta uma coalizão de reis beligerantes do Eufrates apequena-se diante de sua mulher em Hebrom. Por transferir a solução do problema para as mãos de Sarai, abriu para ela, tomada pelo sentimento de desprezo, o caminho da violência e da injustiça. (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
3. Uma opinião equivocada acerca de Deus.
Á HAVIA DEZ ANOS desde que Abrão havia saído de sua terra. Deus lhe havia prometido uma numerosa descendência como o pó da terra (13.16) e como as estrelas do céu (15.5). Contudo, Sarai já está agora com 75 anos, e, além de estéril, sua ovulação já havia cessado. Sarai compreendeu que tinha chegado para ela o fim da linha da esperança de ser a mãe do herdeiro. Desesperançada, ela arquiteta um plano para “cooperar” com Deus na consecução de Seu propósito. Desse expediente irrefletido, surge o primeiro relato de barriga de aluguel da história. Agar, serva de Sarai, será entregue a Abrão para suscitar o herdeiro da promessa. Este, porém, não era o plano de Deus, nem frustrou o plano de Deus, porém trouxe muitas dores de cabeça para a família de Abrão e seus descendentes ao longo da história. Warren Wiersbe destaca que aquilo que os jornalistas chamam hoje de “conflito árabe-israelense” começou com esse desvio de Abrão e Sarai.
Por que Deus demorou tanto para dar o filho da promessa? Por que ainda se passaram mais quinze anos até que a promessa fosse cumprida? Deus queria que Abraão e Sara estivessem “amortecidos” (Hb 11.12), a fim de que a glória fosse dada somente ao Senhor. Aquilo que é verdadeiramente feito pela fé é realizado para a glória de Deus (Rm 4.20), não para a exaltação do homem. (LOPES. Hernandes Dias. Gênesis, O Livro das Origens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021).
CONCLUSÃO
A primeira lição nos convida a refletir a respeito da nossa responsabilidade diante da nossa família. Somos os responsáveis diretos por conduzi-la dentro da vontade do Senhor.
Portanto, verificar evidências da verdadeira fé bíblica:
- Disposto a esperar no Senhor
- Fazer tudo para Glória de Deus
- Obedecer a Palavra de Deus
- Buscar Paz e Alegria de Deus
Se Abraão e Sara esperassem em Deus, Ele aumentaria a sua fé e a sua paciência do casal construiria seu caráter (Tg 1.1-4). Fica um alerta para as famílias, para que não venhamos a praticar desvios.