Alguns acreditam que o ciúme é uma prova de amor. Assim como existem mulheres com um sentimento de inferioridade, acham o máximo o seu parceiro sentir ciúmes. Outras provocam ciúmes em seu marido/namorado, relatando o quanto são desejadas etc. Isso faz com que muitas pessoas não vejam o ciúme como um sentimento negativo.
Sentir-se incomodado com algo, em algum momento do relacionamento é comum; outra coisa é quando esse sentimento se torna recorrente ou patológico, e transforma-se em algo doentio, que afasta o parceiro e as pessoas que cercam o indivíduo. Isso é ciúme.
Como o ciúme é desenvolvido?
O ciúme é desenvolvido durante a vida, podendo ser potencializado por experiências pessoais, inseguranças e pelo convívio familiar.
São comuns os casos de mulheres que são ciumentas em relação ao marido e que, durante sua vida, tiveram contato com parente do sexo masculino que traia sua parceira, talvez o avô traindo a avó, pai traindo mãe, sogro traindo sogra etc. A existência desses casos, tal como o contato com eles, pode levar a mulher sentir-se ameaçada e insegura, passando a acreditar que todo homem possui esse comportamento ou desejo, ou seja, a construção daquele antigo e equivocado pensamento de que “todos os homens traem”.
Outro acontecimento familiar que influencia no fortalecimento do ciúme, é a mãe ciumenta que transmite para a filha esse comportamento, através de comentários e comportamentos, fazendo com que a filha desenvolva o ciúme.
Vale ressaltar que as experiências traumáticas vividas pelo indivíduo, homem ou mulher, tornam-no inseguro e até ciumento, sentimento motivado pela traição sofrida.
Tipos de ciúmes
Ciúme Comum – aquele em que uma das partes relata que o outro “motiva” o ciúme dele, ou seja, o indivíduo enciumado diz que o outro “dá motivos” para isso, e que por esse fator sente-se abandonado ou desprezado pelo outro. Esse ciúme, se for algo leve, pode ser visualizado como algo próximo de um sentimento normal, comportamento em que um filho eventualmente sente um pouco de ciúmes de seu irmão, ou de seus pais, sendo constantemente gerado pelo medo, medo de perder a pessoa que a ama, o que é comum e que frequentemente passa a ser desencadeado já na infância.
Ciúme Neurótico – situação em que a pessoa até sabe que seu sentimento é exagerado, mas tem muita dificuldade de controlar. Essa sensação de insegurança e angústia torna-se constante e expressivamente mais destrutiva.
É muito frequente, em meu consultório, esse tipo de ciúme. Os relatos mais frequentes são: “Sondei meu marido com meu carro”, “Peguei o celular dele sem ele ver”, “Instalei um aplicativo que sempre sei onde ele está”, ou até mesmo “ligo para ele e pergunto onde ele está, ele sempre me fala verdade, mas não sei, não consigo confiar”. No tipo neurótico a própria pessoa percebe que suas atitudes são desnecessárias e exageradas, o que faz com que depois sinta-se culpada por conta desse comportamento abusivo.
Ciúme Projetado – a pessoa ciumenta é aquela que trai o outro, ou se não trai, possui de maneira reprimida essa vontade/desejo. Dessa forma, a pessoa torna-se ciumenta por conta da culpa, além de projetar no outro o mesmo sentimento, ou seja, o ciumento acredita que seu sentimento de infidelidade pode existir no outro, e utiliza o ciúme como forma de aliviar sua culpa. Esse tipo de ciúme é especialmente muito agressivo, podendo gerar delírios e histeria. Como a pessoa trai, acredita que a outra também o faça.
Ciúme Paranoico – esse é o mais grave dos ciúmes e necessita de tratamento psicológico e/ou psiquiátrico. Nesse tipo de ciúme as fantasias e os pensamentos delirantes da pessoa ciumenta podem levar a situações extremas e perigosas.
Certa vez atendi uma pessoa desesperada, pois um de seus pais tinha um ciúme doentio e chegou a cometer um crime, assassinando seu cônjuge. Crime esse motivado por algo que na verdade não existia, tamanha era a perturbação em seu psiquismo.
Tanto o ciúme neurótico como paranoico são ciúmes considerados patológicos, nesses casos o enorme sofrimento ocorre tanto para o ciumento como para quem é o alvo dele. Segundo a psicanálise, através de Ryad Simon, a inveja destrói o bem, já o ciúme de caráter patológico possui como manifestação provável a violência. O ciumento patológico sempre desconfia, ele possui um transtorno grave, uma disfunção neurótica.
Quando nasce o bebê
Caso que também ocorre com frequência no consultório, em relação ao ciúme, é a mulher que demostra amor pelo filho ao nascer, mas o marido imaturo emocionalmente passa a sentir um ciúme delirante durante a gravidez, tendendo a se agravar com o nascimento da criança. O pai não aceita o fato de que a relação familiar que antes era dual (marido e esposa), agora passa a ser triangular (marido, esposa e filho). Com a dificuldade de aceitação, alguns maridos buscam amantes ou até o divórcio, pois não suportam que o olhar não seja exclusivo para eles. Vale ressaltar que o amor é capaz de enxergar o outro de maneira harmoniosa e sensata, inibindo esse comportamento relacionado à fragilidade emocional.
Quem ama cuida e busca que a outra pessoa sinta-se amada e respeitada, não se preocupando com o domínio sobre o outro, possibilitando um verdadeiro sentimento de liberdade, felicidade e paz, de maneira mútua. Filhos são bênçãos. Alegria para o casal. E a mulher sábia, ao ter o bebê, equilibra as atenções, ajudando o marido nesse momento e mostrando a ele a importância do cuidado e atenção com o bebê.
Ciúme destrói Relacionamento
O ciúme não é bom sentimento em uma relação, muito pelo contrário, pode ser um veneno para destruir e corroer a relação. O ciúme é egoísta, pois quer controlar o outro pelo medo de perder, o que ocorre por fim, muitas vezes, é o sentimento de aprisionamento tomando conta e consequentemente a perda do relacionamento. Ciúme é ruim.
Expressões carinhosas como: “Você é minha vida”, “tudo que eu tenho”, aparentemente parecem ser bonitas, tendem até a seduzir a namorada ou namorado. Porém, se forem frases utilizadas por pessoas com problemas emocionais podem ser uma forma de colocar o companheiro(a) em uma gaiola, gerando brigas, agressões verbais e/ou físicas quando não são correspondidas ao ciumento. “Faço tudo por você! Penso em você todo o tempo! Como você não faz o que eu quero na hora que quero?”. Esse é o pensamento da pessoa com ciúme. Pensamento de posse.
Relato Pessoal
Certa vez fiz uma ligação, achava que estava ligando para meu irmão, contudo troquei a ordem do novo número dele e me enganei, com isso outro rapaz atendeu e logo percebi que era engano.
No dia seguinte recebi uma ligação daquele mesmo número, e uma mulher na linha já iniciou gritando comigo e proferindo um discurso de ódio extremo, ela dizia que sabia quem era eu e que havia descoberto tudo (ciúme paranoico). A partir disso tentei tranquilizá-la explicando que havia confundido o número e que ela não precisava ficar nervosa, esclarecendo a situação. Durante a conversa comentei que eu era casada, psicóloga e que ela podia ligar ao meu irmão para confirmar a similaridade dos números, com isso ela se acalmou e me disse que havia brigado com o marido e obrigado ele a dormir no sofá, tamanha a desconfiança e nervosismo.
Aconselhei-a pedir perdão ao marido e procurar ajuda de um psicólogo. Ela chorou muito, desculpou-se e salientou estar extremamente envergonhada.
Alerta Final
Será que você mulher nunca brigou ou fantasiou algo? Cuidado para que não venha a acontecer aquilo que você mais teme, perder o seu marido, contudo não por traição, e sim porque ele não suportou mais o seu ciúme. Busque ajuda, não apenas no salão de beleza ou nas roupas lindas que te deixam visualmente bem perante teu namorado ou marido. Mas busque tratamento e peça a Deus para que Ele torne você uma pessoa confiante, equilibrada e segura. Você é como Deus te fez. Você é capaz e amada. Você não precisa ter ciúme. Quando temos amor queremos o bem dos outros e não pensamos apenas em nós mesmos. Tenha um relacionamento leve, gostoso, sadio. Se seu parceiro está com você é porque gosta de você! Ele será ainda mais feliz quando você deixar para trás o ciúme e viver a plenitude de uma relação sem sofrimentos.
“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade”. I Coríntios 13.4-6
“Porque furioso é o ciúme do marido e de maneira nenhuma perdoará no dia da vingança”. Provérbios 6.34.
Por Valquíria Salinas é cristã evangélica, com vasta formação na Psicologia e áreas correlatas.