Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“Então, disse: Eis que eu faço um concerto, farei diante de todo o teu povo maravilhas que nunca foram feitas em toda a terra, nem entre gente alguma.” (Êx 34.10a)
INTRODUÇÃO
Nesta lição, temos o propósito de fazer um panorama dos avivamentos em diferentes momentos na história de Israel. Embora a palavra não apareça claramente nos textos do AT, e inconteste que, em diferentes ocasiões, juntamente com o povo, o rei da ocasião fazia um movimento de retorno aos primeiros fundamentos revelados na Tora. Muitas vezes o apelo a esse retorno vinha por meio dos profetas e, atendendo a eles, o rei tomava a iniciativa de acabar com as idolatrias, trazer de volta os princípios das leis e restaurar a adoração no Templo. A partir desse estudo no AT, veremos o quanto se faz necessário uma busca sincera por um avivamento espiritual.
I- PANORAMA DOS AVIVAMENTOS NO ANTIGO TESTAMENTO
1- O avivamento no tempo de Moisés.
O Antigo Testamento é rico em períodos de avivamento e reavivamento entre o povo de Israel. Nada menos de doze eventos dessa natureza podem ser encontrados no tempo da antiga aliança em ocasiões e situações diferentes. Podemos constatar que houve avivamento no reinado de Davi (2 Sm 6–7); no reino de Asa (2 Cr 14.1-16); com Josafá (2 Cr 17–20); no tempo de Joiada (2 Cr 23–24); no reinado de Ezequias (2 Cr 29–32); com Zorobabel (Ed 1–6); no reino de Josias (2 Cr 34–35); no ministério de Esdras (Ed 1.7-10); e também com Neemias (Ne 1–13); com Esdras (Ed 7–10) e por meio de Joel (1–2).
Neste estudo, escolhemos alguns desses avivamentos como representativos do que o Senhor fez no Antigo Testamento, segundo os seus planos e propósitos. Veremos que, em todos eles, o padrão para o avivamento sempre foi, com algumas variações, uma sequência dada pelo Senhor:
(1) uma grande crise, com decadência espiritual e moral;
(2) o reconhecimento dos pecados contra Deus; e
(3) a humilhação e o quebrantamento para orar e buscar a face do Senhor. Como resultado, Deus, no seu imenso amor, envia o perdão, a graça e a misericórdia a quem se arrepende e busca o seu favor: “Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade” (Sl 103.8).
O sofrimento de Israel no Egito
Deus nunca se viu sem uma testemunha dos seus divinos propósitos ou dos seus planos para um povo, uma nação ou uma igreja. Moisés aparece quando o povo de Israel estava escravizado no Egito pouco tempo depois do falecimento de José, quando se levantou “um rei, que não conhecia José” (At 7.18). Enquanto José era vivo e governava o Egito, o povo experimentou longos anos de paz, saúde e prosperidade. No entanto, quando morreu, o povo sofreu, foi oprimido e torturado sob o peso da tirania do Faraó que não o conheceu e nem reconheceu os grandes benefícios que o seu povo recebera da parte de Deus no governo de José (Êx 1.13,14; At 7.18-19).
O chamado de Moisés
Deus já o houvera escolhido para a grande missão de ser o libertador de Israel da escravidão egípcia. O Senhor manifestou-se a ele de forma estranha. Moisés viu uma árvore — uma sarça — que queimava, mas não se consumia. Ao aproximar-se daquela visão, o Senhor falou com Moisés e chamou-o para ser o libertador e tirar o seu povo do Egito.
O avivamento do Sinai
O sofrimento de Israel tornara-se cruel e insuportável, mas o Senhor estendeu a sua mão e, através de Moisés, operou tantos sinais, prodígios e maravilhas na terra do Egito que Faraó se apressou em libertar os israelitas. Com a dureza do Faraó, o Senhor enviou as dez pragas, incluindo a morte dos primogênitos, e o Faraó não pôde resistir à dura mão de Deus sobre o seu reino e sobre o seu povo. Sem dúvida alguma, a ação de Deus foi um grande avivamento em resposta ao clamor e aos gemidos do povo. Outro grande avivamento ocorreu quando Moisés foi chamado pelo Senhor para receber os Dez Mandamentos. (Renovato, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023).
2- O avivamento no tempo de Samuel.
“Arrependimento Nacional. Enquanto a arca esteve em Quiriate-Jearim, houve um período de paz entre Israel e os filisteus. Eleazar fora consagrado para tomar conta da arca da aliança. Durante todo esse período, Samuel, profeta da nação, deve ter servido quieta e constantemente como pasto.
Aqueles anos não foram um tempo de ócio para ele, porquanto logo chegou o dia em que ele chamou o povo para um ato de arrependimento nacional (vs. 3). O motivo óbvio para qualquer reavivamento religioso parece ter sido a promessa de vitória sobre os inimigos. Contudo, por si só, isso não poderia ter produzido um arrependimento de âmbito nacional e universal” (John C. Shroeder).
A mera presença da arca devolvida não era suficiente. Israel foi chamado à obediência e ao serviço ao Deus da arca. “O que era essencial era a submissão ao Deus da arca (vs. 4)” (Eugene H. Merrill).
3- O avivamento no tempo de Josias.
O povo de Israel deixou-se levar pelas influências malignas e voltou-se outra vez para longe dos seus santos caminhos. Em lugar de buscar ao Senhor e agradecê-lo pelas bênçãos e livramentos experimentados na sua história, o povo seguiu o exemplo dos seus antecessores que, depois de prosperar, deram as costas para o Senhor.
a) A terrível idolatria. Depois do reinado de Ezequias, considerado um bom rei, governou o país o seu filho, Manassés, que realizou um governo corrupto e marcado pela idolatria, a ponto de levantar altares aos baalins e encurvar-se perante os astros.
Manassés construiu altares aos ídolos e demônios em ambos os pátios da “Casa do Senhor” e levou o povo a fazer “pior do que as nações que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de Israel.
E falou o Senhor a Manassés e ao seu povo, porém não lhe deram ouvidos” (2 Cr 33.1-10).
b) O juízo de Deus e a reconciliação. Em resposta à rebelião de Manassés e de Israel, o Senhor mandou os exércitos da Assíria, que o prenderam com cadeias. Diante da amarga situação, Manassés arrependeu-se, humilhou-se e clamou ao Senhor. E Deus ouviu a sua oração e restituiu-lhe o reino: “[…] então, reconheceu Manassés que o Senhor é Deus”. Como consequência do seu arrependimento, Manassés reconstruiu muros, tirou da Casa do Senhor os deuses estranhos e reparou o altar do Senhor que estava destruído. Ele morreu reconciliado com Deus, e o seu filho, Amom, foi o seu sucessor. Em lugar de seguir o exemplo do pai, honrando ao Senhor, o jovem monarca fez ainda pior do que ele. O seu reinado durou pouco. Os seus servos mataram-no e a toda a sua família. E fizeram Josias rei no seu lugar (2 Cr 33.11-25).
Josias – um rei usado por Deus
Josias tinha tudo para ser um mau rei. Era filho de Amom, que fora um péssimo chefe de Estado e que se comportou de modo reprovável diante de Deus. Todavia, colocou-se diante de Deus como o seu servo para fazer a sua santa vontade. Assumiu o reino ainda criança, com apenas oito anos de idade, como quase sempre acontecia quando a norma era passar o governo de pai para filho.
Na adolescência, com 16 anos, “começou a buscar o Deus de Davi, seu pai” e, no duodécimo ano, com vinte anos, “começou a purificar a Judá e a Jerusalém dos altos, e dos bosques, e das imagens de escultura e de fundição” (2 Cr 34.1-3).
a) Era o começo de um grande e poderoso avivamento. Josias programou e realizou uma verdadeira limpeza na vida espiritual corrompida da nação. Ele derribou altares aos demônios, destruiu imagens de esculturas, reduzindo-as a pó, e estendeu essas medidas saneadores da adoração a Deus em outras cidades, como em Manassés, Efraim, Simeão e até mesmo em Naftali e os seus arredores. Ele próprio ficou à frente dessas medidas drásticas, porém necessárias, para levar o povo de volta aos pés do Senhor (2Cr 34. 4-7). Além do zelo pelo lado espiritual da nação, Josias foi um grande administrador. O Templo estava destruído, carecendo de reforma e reconstrução. Josias buscou homens de confiança e promoveu a reconstrução do santuário com recursos postos nas mãos de homens hábeis e fiéis (2 Cr 34.8-14).
b) Acharam o livro da Lei. Mesmo com todo o empenho de Josias em buscar ao Senhor com o seu povo, a situação espiritual de Israel era tão decadente que, durante quase vinte anos, a Lei do Senhor não tinha sido valorizada. Até o livro da Lei estava perdido.
Durante a reconstrução do Templo, liderada pelo sumo sacerdote Hilquias, ajudado por homens que “trabalhavam fielmente na obra”, houve uma descoberta jamais esperada em meio aos escombros do Templo:
E, tirando eles o dinheiro que se tinha trazido à Casa do Senhor, Hilquias, o sacerdote, achou o livro da Lei do Senhor, dada pelas mãos de Moisés.
E Hilquias respondeu e disse a Safã, o escrivão: Achei o livro da Lei na Casa do Senhor. E Hilquias deu o livro a Safã. (2 Cr 34.14-15)
Quando Josias tomou conhecimento de que o livro da Lei, dado por Moisés para o povo de Israel, houvera sido achado, foi grande a sua preocupação:
Sucedeu, pois, que, ouvindo o rei as palavras da Lei, rasgou as suas vestes. E o rei deu ordem a Hilquias, e a Aicão, filho de Safã, e a Abdom, filho de Mica, e a Safã, o escrivão, e a Asaías, ministro do rei, dizendo: Ide, consultai ao Senhor, por mim e pelos que restam em Israel e em Judá, sobre as palavras deste livro que se achou, porque grande é o furor do Senhor, que se derramou sobre nós; porquanto nossos pais não guardaram a palavra do Senhor, para fazerem conforme tudo quanto está escrito neste livro (2 Cr 34.19-21 – grifo acrescido).
c) A avivamento com juízo de Deus. O Senhor usou a profetisa
Hulda para responder ao rei que mandou consultar ao Senhor pela gravíssima situação do povo de terem desprezado a Lei do Senhor durante tanto tempo. Ela primeiramente falou sobre o juízo de Deus sobre Israel e que traria todas as maldições que constavam no livro perdido:
Assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre este lugar e sobre os seus habitantes, a saber, todas as maldições que estão escritas no livro que se leu perante o rei de Judá. Porque me deixaram e queimaram incenso perante outros deuses, para me provocarem à ira com toda a obra das suas mãos; portanto, o meu furor se derramou sobre este lugar e não se apagará (2 Cr 34.24,25).
O rei Josias, entretanto, tinha o reconhecimento de Deus de que era um homem sábio, humilde e santo. E, pela profetisa Hulda, o Senhor mandou dizer a ele o seguinte:
Porém ao rei de Judá, que vos enviou a consultar ao Senhor, assim lhe direis: Assim diz o Senhor, Deus de Israel, quanto às palavras que ouviste: Como o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante Deus, ouvindo as suas palavras contra este lugar e contra os seus habitantes, e te humilhaste perante mim, e rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te tenho ouvido, diz o Senhor. Eis que te ajuntarei a teus pais, e tu serás recolhido ao teu sepulcro em paz, e os teus olhos não verão todo o mal que hei de trazer sobre este lugar e sobre os seus habitantes. E voltaram com esta resposta ao rei. (2 Cr 34.26-28 – grifo acrescido)
Diante da resposta de Deus, o rei Josias tomou urgentes medidas para atender à vontade do Senhor, provocando um dos maiores avivamentos do Antigo Testamento:
Convocou toda a liderança do povo (v. 29);
Convocou todo o povo de Judá para ir ao Templo com ele (v.30a);
Ele próprio fez questão de ler o livro da Lei, no livro achado no Templo (v.30b);
Ele pôs-se de pé e “fez concerto perante o Senhor, para andar após o Senhor e para guardar os seus mandamentos, e os seus testemunhos, e os seus estatutos, com todo o seu coração e com toda a sua alma, cumprindo as palavras do concerto, que estão escritas naquele livro” (v.31);
Josias eliminou todas as abominações praticadas pelo povo de Israel: “E Josias tirou todas as abominações de todas as terras que eram dos filhos de Israel; e a todas quantos se achara em Israel obrigou a que com tal culto servissem ao Senhor, seu Deus; todos os seus dias não se desviaram de após o Senhor, Deus de seus pais” (v.33);
E, para concluir medidas e providências que revelavam um grande avivamento entre o povo, Josias celebrou a Páscoa em Jerusalém, conforme todo o rito previsto na Lei de Moisés. A Páscoa deixara de ser celebrada desde o tempo do profeta Samuel. Dezoito anos depois, Josias restaurou essa festa determinada por Deus: “E os filhos de Israel que ali se acharam celebraram a Páscoa naquele tempo e a Festa dos Pães Asmos, durante sete dias. Nunca, pois, se celebrou tal Páscoa em Israel, desde os dias do profeta Samuel, nem nenhuns reis de Israel celebraram tal Páscoa como a que celebrou Josias com os sacerdotes, e levitas, e todo o Judá e Israel que ali se acharam, e os habitantes de Jerusalém. No ano décimo oitavo do reinado de Josias, se celebrou essa Páscoa” (2 Cr 35.1-18 grifo acrescido). Renovato. Elinaldo, Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.
II- CONFISSÃO DE PECADOS E RETORNO A PALAVRA DE DEUS
1- O chamado de Neemias.
O seu nome significa “Deus consola”. No momento em que se informou da crítica situação de Jerusalém, Neemias achava-se na função de copeiro do rei Artaxerxes, da Pérsia. Catorze anos depois da expedição de Esdras (444 a.C), Neemias foi informado da miséria em que se encontrava Jerusalém, mesmo depois de o Templo já estar reconstruído (Ne 1.1.2). A missão de Neemias era reconstruir os muros de Jerusalém que estavam fendidos “e as suas portas, queimadas a fogo” (Ne 1.3). Já temos uma grande lição aqui.
Não adianta nada ter um templo bonito se os crentes estão em desobediência ao Senhor Deus. O resultado é miséria espiritual, que pode levar à ruína moral e material. Templo sem muro é igreja sem doutrina, sem proteção. Portas queimadas são sinônimos do liberalismo que domina muitas igrejas; são portas que permitem a entrada do mundanismo. Por acaso, não é o que está ocorrendo com grande parte das igrejas evangélicas em nosso país, as quais perderam a sua identidade e os padrões norteadores da conduta cristã? (Renovato. Elinaldo, Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023).
2- A confissão de pecados.
“[…] e faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, que pecamos contra ti; também eu e a casa de meu pai pecamos” (Ne 1.6b). Esse, certamente, foi um dos pontos altos da oração de Neemias. Ele tinha consciência do pecado do seu povo, da sua desobediência e rebeldia perante Deus.
E, na condição de um intercessor, ele confessou que se incluía entre os pecantes, incluindo a casa do seu próprio pai. Nessa hora, as sementes da vitória já estavam sendo lançadas. Neemias não orou como certos crentes, inclusive obreiros, que encobrem os pecados do povo, da sua família e deles próprios. Ele confessou mais: “De todo nos corrompemos contra ti e não guardamos os mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos que ordenaste a Moisés, teu servo” (Ne 1.7). Renovato. Elinaldo, Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.
3- Avivamento pelo ensino.
Só o ensino da Palavra de Deus produz verdadeiro avivamento no meio da igreja local. Nos nossos dias, há uma onda de movimentos evangelísticos produzidos por ação humana com o objetivo de atrair multidões a vidas por novidades e modismos. Tais movimentos carecem da base fundamental e consistente, que é o ensino da Palavra de Deus.
Todos os verdadeiros avivamentos na história do povo de Israel e no seio da Igreja, ao longo dos séculos, só tiveram resultados duradouros quando começaram e prosseguiram alicerçados na Palavra de Deus. Avivamentos sem a Palavra de Deus são apenas movimentos que passam com o tempo e não geram mudanças significativas na vida e no comportamento das pessoas envolvidas. O avivamento, no tempo de Neemias, teve a marca do ensino da Palavra de Deus.
Neemias, o líder da reconstrução, e Esdras, o sacerdote, eram homens que se dedicavam ao estudo da Palavra do Senhor. Ao reunirem o povo na praça principal da cidade, sem meios de transmissão da mensagem, deve ter sido uma tarefa extraordinária e difícil, mas eles o fizeram. Repassaram para o povo o conteúdo da lei do Senhor para a vida dos habitantes de Jerusalém. Eles não tinham preocupação com a oratória, nem com a retórica nem com a eloqüência do discurso.
Simplesmente leram a palavra de modo didático, pausadamente, para que o povo entendesse o que Deus requeria dos que o serviam naquele momento crucial para a história de Israel após anos e anos de cativeiro em terra estranha. Diz o texto: “E leu nela, diante da praça, que está diante da Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens, e mulheres, e entendidos; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei. (Ne 8.3). Além da leitura, havia a explicação do significado de cada expressão. O povo entendeu, e como resultado, sobreveio poderoso avivamento no meio deles. Houve um quebrantamento verdadeiro, e não um simples remorso. Houve alegria, festa, e o povo se dispôs a trabalhar na reconstrução.
Um Verdadeiro Culto de Doutrina
Reunidos para ouvir a Palavra. Diante do que Deus fizera através do esforço denodado dos israelitas, sob a liderança de Neemias, na edificação dos muros em redor do Templo, o povo sentiu necessidade de ter sua edificação espiritual também. Como foi dito anteriormente, não adiantaria um templo lindo com admirável beleza arquitetônica se o povo não tivesse o temor de Deus, um quebrantamento para adorar ao Senhor. Templo sem a presença de Deus é corpo sem alma, sem espírito.
O texto bíblico nos revela que houve uma fome e uma sede de ouvir a Palavra de Deus. “E chegado o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades, todo o povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante da Porta das Águas; e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da Lei de Moisés, que o Senhor tinha ordenado a Israel” (Ne 8.1). Ali, na praça principal, “diante da Porta das Águas”, iniciou-se um poderoso avivamento na história de Jerusalém.
O Templo construído, os muros restaurados. Os arautos tocavam suas trombetas convocando os habitantes de Jerusalém e cidades vizinhas para um grande evento no centro da cidade. Certamente a praça estava arborizada. Havia um cenário apropriado para a grande reunião festiva em que todo o povo se deslocou dos lugares onde habitavam para chegar ao centro de Jerusalém.
Não era para assistir a um show de grupos musicais nem ouvir um artista da época, mas o ajuntamento impressionante acontecera para que o povo ouvisse a Palavra de Deus. Se fosse hoje, aquele grande evento teria a cobertura de alguns órgãos da imprensa, “…o povo se ajuntou como um só homem.” Isso nos fala não só de reunião, mas de união e integração do povo de Israel, a fim de ouvir a Palavra de Deus.
Hoje, em algumas igrejas, há pouca participação dos membros nos cultos de ensino da Palavra de Deus. Reuniões de estudo da palavra são desprezadas por grande parte dos crentes, sobretudo dos mais jovens. No entanto, quando se anuncia a presença de um cantor famoso faltam lugares para os espectadores. Isso é sintoma de fastio da Palavra. É sintoma de doença espiritual de extrema gravidade. O crente que ama a Deus ama a sua Palavra. Disse o salmista: “Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia!” (Sl 119.97).
Esdras traz o livro da lei de Deus. O povo, sofrido, após anos de cativeiro, tinha sede de ouvir a Palavra de Deus (Am 8.11). Esdras, o escriba, levou o livro para a praça. Na verdade, era um grande rolo, provavelmente de pergaminho, que seria desenrolado pouco a pouco, à proporção que o sacerdote fizesse a leitura dos textos da lei (Ne 8.2). Não foi feita uma leitura rápida do livro. Esdras o leu, pausadamente, para que todo o povo entendesse bem o ensino que seria ministrado. Durante cerca de seis horas, das seis da manhã até ao meio-dia, foi feita a leitura do livro da lei.
O povo estava atento à leitura da palavra. “E leu nela, diante da praça, que está diante da Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens, e mulheres, e entendidos; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei.” (Ne 8.3). Podemos imaginar o que estava acontecendo, enquanto Esdras lia o livro da lei. Homens, mulheres, adultos e jovens, todos voltados em direção ao púlpito, ouvindo com muita atenção cada palavra que era lida perante todos.
O sacerdote-escriba estava de pé, sobre um púlpito de madeira, para melhor se fazer ouvir pelo povo. A seu lado, à direita, estavam homens de confiança, líderes auxiliares, que compunham “o ministério local” (Ne 8.4). Vale a pena lembrar que a leitura e explicação dos textos do livro duraram sete dias, durante seis horas por dia (Ne 8.3,18).
O clima era de reverência, de respeito e atenção à Palavra de Deus. As pessoas não ficavam andando de um lado para o outro, nem conversando distraídas. Todos queriam ouvir e entender a mensagem de Esdras. Quando Esdras abriu o livro, todo o povo se pôs em pé em reverência à leitura da Palavra de Deus (Ne 8.5). Certamente esse é um fundamento bíblico para o saudável hábito de se colocar de pé quando é lida Palavra de Deus. Esse deve ser o comportamento dos crentes em Jesus nas igrejas locais. Alguém pode escutar, mas não ouvir a leitura da Palavra e sua explicação por estar desatento durante a ministração. (Renovato. Elinaldo, O livro de Neemias, Integridade e coragem em tempos de crise. Editora CPAD. Ed. 2011).
III- O AVIVAMENTO E A PALAVRA DE DEUS
1- A Palavra de Deus corrige.
Podemos sintetizar esse subtópico de acordo com Warren Wiersbe, que diz há três verdades básicas: Edificação (14.1-5,26b), entendimento (14.6-25) e ordem (14.26-40).
a) Edificação (14.1-5). Paulo diz que o propósito dos dons é a edificação da igreja. Quem fala em outra língua edifica a si mesmo, enquanto quem profetiza edifica a igreja.
Paulo corrige os equívocos da igreja de Corinto que dava mais valor ao dom de variedade de línguas do que ao de profecia; mais valor à edificação pessoal do que à edificação da igreja, mostrando que a profecia é superior às línguas, pois aquela edifica a igreja, enquanto quem fala em línguas edifica apenas a si mesmo.
b) Entendimento (14.6-25). Paulo passa agora a falar sobre a questão do entendimento espiritual. No culto público é preciso ter discernimento. Você precisa sair do culto público e poder dizer: Eu entendi. A minha mente foi clareada.
c) Ordem (14.26-40). No culto da igreja de Corinto não existia ordem. Há duas coisas fundamentais que precisam sempre estar juntas no culto público: seja tudo feito para edificação (14.26b), e também tudo seja feito com decência e ordem (14.40). Deve haver ordem no culto. Alegria e gozo na presença de Deus não são a mesma coisa que êxtase.
O culto que agrada a Deus não é extático, mas um culto em que a sua mente está em plena atividade, suas emoções estão sendo alcançadas, e sua vontade é desafiada. Paulo dá várias orientações de ordem à igreja.
Em muitas igrejas, entende-se por avivamento a ocorrência de movimentos avivalistas, muitos deles expressos em atitudes exibicionistas, emocionalistas e carnais. Em várias igrejas pentecostais e neopentecostais nos últimos anos, apareceu um comportamento estranho em que pessoas, dizendo-se “cheias do Espírito Santo” ou “cheias de poder”, começaram a sair correndo dentro dos templos de um lado para outro; já outras começaram a rodopiar diante do auditório, e até mesmo pastores e pregadores exibiam-se de maneira esquisita, fazendo “aviãozinho”, “queda de asa” e outras práticas totalmente sem base bíblica e nunca vistas em qualquer denominação. Isso revela falta de doutrina da Palavra de Deus.
2- Cuidado com o formalismo.
Aquele culto seria marcante não apenas para mim, mas para quantos que, naquela noite de domingo, celebrávamos ao Senhor na Assembléia de Deus em São Bernardo do Campo, SP. Desde o início dos trabalhos, já podíamos sentir a presença de Deus. Não estaria exagerando se dissesse que, naquela já distante noite, abrira-se o céu de forma extraordinária sobre a nossa igreja.
O culto transcorria de uma forma tão bela, tão perfeita e tão celestial, que nem dava para ver o tempo passar. À semelhança de Pedro, João e Tiago, tínhamos vontade de construir cabanas para ficar permanentemente ao lado de Jesus naquele monte de transfigurações e poder.
Nossos louvores eram, de imediato, enlevados ao trono de Deus. Com que júbilo o coral se apresentou! Com que vigor a orquestra executou aqueles hinos avivados e singelamente pentecostais! Eu diria que, naquela noite, ajuntaram-se os coros celestes às nossas vozes para, em perfeita harmonia, adorar a Cristo no poder do Espírito.
Houve, naquela noite, conversões de almas, batismos no Espírito Santo, curas divinas e manifestações de dons espirituais.
Naquela minha igreja, pouco ouvira falar de formalismo; era uma palavra que inexistia em nossas devoções. Éramos um autêntico cenáculo. Tínhamos a impressão de estar na Jerusalém dos apóstolos e dos ardentes discípulos de Nosso Senhor.
Infelizmente, não são poucas as igrejas que vêm caindo nas malhas do formalismo. E este, conforme veremos no transcorrer deste capítulo, somente poderá ser desestruturado por um poderoso avivamento. E, assim, à semelhança dos primeiros discípulos, haveremos de usufruir os tempos de refrigério. Urge que voltemos de imediato ao cenáculo!
O QUE É 0 FORMALISMO
O Formalismo pode ser definido como a ênfase exagerada às formas externas da religião em detrimento de sua essência – a comunhão plena com o Deus Único e Verdadeiro.
Também é conhecido como liturgismo e ritualismo. É a liturgia pela liturgia. Muito combatido pelos profetas e por Nosso Senhor (Is 29.13; Mt 6.1-6), é um dos maiores obstáculos à expansão do Reino de Deus.
A própria Igreja Católica, que ostenta um pomposo cerimonial, condena o ritualismo que, em sua terminologia, recebe a alcunha de rubricismo por causa das letras vermelhas que, nos missais e breviários, indicam o modo de serecitar ou celebrar o ofício. Não obstante tal preocupação, os católicos emprestam à liturgia uma importância exagerada.
E o mesmo parece estar acontecendo com algumas igrejas evangélicas que, ao invés de buscar o poder de Deus, conformam-se com um culto epidérmico e sem a presença do Espírito Santo. Era o que acontecia com os judeus nos dias do último profeta do Antigo Testamento.
O FORMALISMO CANSA A DEUS
O culto levítico fora instituído, a fim de que Israel adorasse a Deus de forma verdadeira e amorosa (Lv 20.7). Os seus vários sacrifícios, oferendas e oblações deveriam ser subentendidos como figuras dos bens futuros (Hb 10.11). Infelizmente, os israelitas passaram, com o decorrer do tempo, a adorar a própria adoração. Acabaram por considerar o culto superior ao cultuado. E isso trouxe-lhes consideráveis prejuízos. Haja vista o que aconteceu à serpente de bronze (Nm 21.8; 2 Rs 18.4).
Na vida dos judeus, cumprira-se o que, certa feita, afirmou Charles Montesquieu: “A maior ofensa que se pode fazer aos homens é tocar nas suas cerimônias e nos seus usos”.
De tal maneira o formalismo contagiou os judeus que, no tempo de Jeremias, passaram eles a considerar o Templo do Senhor como mais importante que o Senhor do Tempo (Jr 7.4).
Achavam que, apesar de suas iniquidades, os sacrifícios e oblações, que pensavam eles endereçar ao Altíssimo, ser-lhes-iam mais do que suficientes para torná-los aceitáveis diante de Deus (Jr 3.1-15). Como estavam enganados! Afim de que também não nos enganemos, recitemos esta oração feita por John L. Williams: “Senhor, que a nossa preocupação não seja apenas pelo ritual, mas, sim, pela abertura de nossos corações”.
Assim é o cristianismo nominal. Supõe que o seu credo, ortodoxia, história e costumes são suficientes, em si mesmos, para manter os benefícios da graça. Todavia, não basta ser cristão; é urgente ter o Cristo. Não é suficiente ser pentecostal; é necessário ser a habitação do Espírito Santo. Não é bastante ser ortodoxo; é imperioso acreditar na Palavra de Deus, e obedecê-la incondicionalmente. Não é muito ter uma linda história, é indispensável prosseguir como um movimento do Espírito; caso contrário: ficaremos estagnados como uma denominação burocrática e empírica. Enfim, não basta ser igreja; é necessário que sejamos Reino de Deus e corpo de Cristo.
Se não buscarmos de imediato o avivamento, o formalismo acabará por comprometer-nos dolorosa e irremediavelmente a espiritualidade. (Andrade. Claudionor Corrêa de, Fundamentos Bíblicos De Um Autêntico Avivamento. Editora CPAD. 1ª edição: 2014. pag. 125-129).
CONCLUSÃO
Num ambiente dominado pela Palavra de Deus, com exposição de salmos, cânticos de louvor e doutrina, que é o ensino fundamentado nas Escrituras, o Senhor pode usar alguém com revelação, que é a manifestação dEle por meio de um servo ou serva que tem o dom de revelação, para mostrar a sua vontade sobre alguma área da igreja que precisa ser revelada para a glória de Deus ou para correção. Num culto verdadeiro, podem ocorrer línguas estranhas como sinal do batismo no Espírito Santo, ou de dom de variedade de línguas, desde que haja interpretação (1 Co 14.27). Em cultos assim, o Senhor Deus pode mandar um avivamento genuíno em resposta às orações e súplicas dos seus servos.
Concluirmos que as lições preciosas que o AT nos ensina a respeito da busca de um avivamento é a disponibilidade para reconhecer o erro, confessando-o ao Senhor, e, posteriormente, uma convicção profunda para fazer diferente de acordo com o que a Palavra de Deus ensina por meio de Jesus Cristo e seus apóstolos.