Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.” (Jo 7.38)
INTRODUÇÃO
O capítulo 47 é um dos capítulos mais conhecidos dos leitores do livro de Ezequiel. Nesta lição, veremos que este capítulo tem um aspecto escatológico, sob uma relação com o período do Milênio; esse capítulo tem um aspecto pneumatológico, ou seja, as águas descritas no livro podem ser comparadas ao enchimento do crente com o Espírito Santo; e, finalmente, o presente capítulo desdobra a visão escatológica do livro com o reavivamento geológico do vale do Mar Morto. Portanto, a lição desta semana tem lições preciosas para a vida cristã.
I – SOBRE O ASPECTO ESCATOLÓGICO
1- A nascente do rio (v.1).
“Depois disso, me fez voltar à entrada da casa, e eis que saíam umas águas de debaixo do umbral da casa, para o oriente; porque a face da casa olhava para o oriente, e as águas vinham de baixo, desde a banda direita da casa, da banda do sul do altar”. v.1
Já está claro que o livro de Ezequiel antecipa o aspecto apocalíptico nas Escrituras Sagradas. As quatro linhas de interpretação apocalíptica são preterista, idealista, histórica e futurista. Isso se aplica também ao livro de Apocalipse, mas o nosso enfoque é sobre Ezequiel. A escola preterista se relaciona exclusivamente aos acontecimentos contemporâneos do profeta, o contexto do cativeiro e destruição de Jerusalém, e exclui o futurismo, pois tais profecias teriam se cumprido no passado.
Segundo o pensamento idealista, as visões de Ezequiel seriam símbolo e figuras para transmitir ideias ou simbologias. De acordo com a interpretação historicista, essas visões seriam um prenúncio dos acontecimentos históricos desde o cativeiro babilônico até o fim dos tempos. O futurismo é uma interpretação literal e inclui a linha historicista.
A primeira parte desse oráculo é narrativa no seu estilo e forma. Depois disto, ou seja, depois de o Profeta ser levado ao templo para conhecer as suas dependências e dimensões e receber a visão do retorno da glória de Deus, ele recebe essa visão: o homem me fez voltar à entrada do templo. Esse é o mesmo “homem cuja aparência era como a do bronze” da visão do templo (40.3) que continua como cicerone nesse “tour”.
A visão continua: e eis que água saía de debaixo do limiar do templo e corria na direção do leste. A promessa divina do novo templo remete a uma fonte de águas vivas procedendo do templo, que não é nem o templo de Salomão, que a essa altura da revelação já estava destruído, nem o templo de Herodes, pois os detalhes da profecia mostra ser um templo para os últimos dias (Jl 3.18; Zc 14.8). O leste do templo é exatamente a direção para onde a glória de Deus se dirigiu quando se retirou do templo de Salomão (11.23), e de onde a glória de Javé retornará para o novo templo (43.1, 2): porque a fachada do templo dava para o leste (v. 1b).
A fonte das águas é o próprio Deus, pois as águas fluem do novo templo: A água vinha de debaixo do lado direito do templo, do lado sul do altar (v. 1c). O limiar do templo, ou “umbral da casa” (ARC), é uma referência ao templo da visão do profeta (40.1, 2). Há certo paralelismo entre essa visão de Ezequiel e a revelação do apóstolo João em Apocalipse (Ap 22.1, 2), mas ambas as profecias tratam de eventos diferentes. A visão de Ezequiel é do milênio, e o capítulo 22 de Apocalipse fala sobre o mundo vindouro.
São quatro interpretações sobre a descrição do templo de Ezequiel. a) Refere-se ao templo físico literal que vai ser construído em Israel. Essa hermenêutica histórico-gramatical literal dita que a visão seja entendida como referência a uma estrutura física futura comparável ao templo de Salomão, a não ser que o texto exija uma análise figurativa. b) A visão é figurativa de um templo celestial ideal que nunca se pretendeu ser construído ou estabelecido na terra. c) É a descrição de uma visão figurativa de um templo ideal. d) É a representação de um templo celestial real que desceria e seria estabelecido na terra nos últimos dias.
O oráculo é um quadro escatológico e apocalíptico. A visão nessa passagem é futurista e literal; as evidências tanto internas quanto externas dão sustentação para uma interpretação escatológica e literal. Os detalhes desse complexo, como dimensões de áreas, dependências e medidas, sugerem um templo literal. Se os dois templos que foram destruídos, o de Salomão (2Rs 25.9) e o de Herodes (Lc 21.6), eram literais, não faz sentido o novo templo ser uma mera visão idealista, como símbolo ou figura para transmitir ideias ou simbologia. A ideia de um templo literal estava na agenda dos profetas (Jl 3.18; Zc 14.8). (Soares. Esequias,. Soares. Daniele. A Justiça Divina: A Preparação do povo de Deus Para os Últimos Dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pag. 136-138).
2- O guia celestial (vv.2,3a).
“E ele me tirou pelo caminho da porta do norte e me fez dar uma volta pelo caminho de fora, até a porta exterior, pelo caminho que olha para o oriente; e eis que corriam umas águas desde a banda direita. Saiu aquele homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir”
O mesmo cicerone continua acompanhando o profeta: Ele me fez sair pelo portão do norte, para dar uma volta por fora, até o portão exterior, que dá para o leste (v.2). Esse anjo fez Ezequiel sair pelo portão do norte e dessa forma contornar o templo no sentido horário em direção ao oriente. Isso porque a porta oriental estava fechada: “Este portão permanecerá fechado; não deverá ser aberto. Ninguém entrará por ele, porque o Senhor, o Deus de Israel, entrou por ele. Por isso, permanecerá fechado” (44.2).
No período dos dois templos, a porta oriental nunca esteve trancada, e isso revela o caráter escatológico da visão. Essa porta era o acesso ao recinto sagrado, e, antes de Javé, o Deus de Israel, passar por essa porta, aparentemente os sacerdotes também passavam por ela. Mas, depois que Deus passar por ela para habitar entre os filhos de Israel (43.4,7), essa porta ficará fechada e, dessa forma, a tragédia de 11.23 nunca mais se repetirá.
Há nesse versículo uma figura de linguagem raríssima na Bíblia, a onomatopeia: e eis que a água borbulhava do lado direito (v.2b). O verbo hebraico usado para borbulhava foi bem pensado; só aparece uma vez no Antigo Testamento, mepakkim, “escoar”, como diz Block: “expressando o som do líquido borbulhando num frasco”. Lá estava Ezequiel, do lado de fora da porta, observando a água escoar lentamente debaixo da parede. (Soares. Esequias,. Soares. Daniele. A Justiça Divina: A Preparação do povo de Deus Para os Últimos Dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pag. 138-139).
3- Os novos frutos (v.12).
“E junto do ribeiro, à sua margem, de uma e de outra banda, subirá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer; não cairá a sua folha, nem perecerá o seu fruto; nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; e o seu fruto servirá de alimento, e a sua folha, de remédio”.
A exposição do guia sobre o poder revigorante do rio do templo se conclui por uma volta rápida à quarta cena, especificamente às árvores que florescem em ambas as margens. Desta vez, o foco será na abundância do crescimento delas e nos seus benefícios para o uso humano. Esta imagem é obtida com alguns golpes impressivos do pincel literário. Primeiro, ambas as margens ficam cheias de kol-‘es (lit. “todas as árvores”), que sugere tanto profusão como variedade, correspondendo às espécies mencionadas no v. 10.
Segundo, como as árvores no Éden (Gn 2.15- 17), elas ficarão perpetuamente verdes e fornecerão um infindável suprimento de alimento (ma’àkâl). A impressão de regularidade e confiabilidade, refletida em lõ’-yittõm piryô, “seus frutos não faltarão”, é traduzida mais concretamente com lohôdãSãyw yèbakkê e, “conforme seus meses produzirão frutos frescos”. Este quadro de abundância contrasta com a mediocridade que caracteriza a produção no final de um tempo de colheita. Terceiro, além de satisfazer as sensibilidades estéticas, as folhas que nunca murcham (lõ’-yibbôl) têm uma função medicinal, oferecendo cura aos corpos doentes e feridos. Como no caso do mar Morto revigorado (v. 9), uma oração causai tira todas as dúvidas a respeito da fonte dessa fertilidade e dessa cura: porque suas águas nutrientes se originam (yasa) do santuário.
Com esse comentário, a interpretação da visão chega a uma parada abrupta. Tanto o profeta como o leitor são deixados maravilhados ante o poder doador de vida do rio que flui da morada de Yahweh. (Block. Daniel,. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pag. 627-628).
II – SOBRE A IMPLICAÇÃO PNEUMATOLÓGICA
1- As águas (vv. 3-6).
“Saiu aquele homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir; e mediu mil côvados e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos tornozelos. E mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; e mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos lombos. E mediu mais mil e era um ribeiro, que eu não podia atravessar, porque as águas eram profundas, águas que se deviam passar a nado, ribeiro pelo qual não se podia passar. E me disse: Viste, filho do homem? Então, me levou e me tornou a trazer à margem do ribeiro.”
Na terceira cena, o guia do passeio assume, agora, um papel inteiramente familiar, simbolizado pelo instrumento de medida em sua mão. Se ele pegou, ou não, um instrumento diferente, o uso de um novo termo, qaw, alerta o leitor para uma possível mudança na significação. A primeira medição do templo e de seus arredores realçou sua planta simétrica e as graduações de santidade, à medida que se ia para o lado de dentro, em direção a habitação sagrada de Yahweh. Mas, agora, as intenções do guia mudaram.
Ezequiel o observa andando, com dificuldade, rio abaixo, medindo a distância do templo à medida que caminha. A terceira estrutura é, na verdade, subdividida em quatro cenários, que descrevem, em termos visuais vívidos, o aumento do volume do rio à medida que ele flui em direção ao leste. O estilo repetitivo dos três primeiros cenários reflete a maneira metódica do guia, mas a saída do padrão, no quarto cenário, sinaliza a tese culminante. Tendo a porta oriental como seu ponto de partida, o guia mede seu movimento a partir do templo, parando a intervalos de 1.000 cúbitos (cerca de 500 metros) para levar o profeta junto com ele. A cada intervalo, Ezequiel observa a profundidade da água onde anda com dificuldade. Os resultados são bastante fantásticos. Havendo começado com um simples filamento, o rio alcança seus tornozelos nos 1.000 cúbitos; seus joelhos, nos 2.000 cúbitos; e sua cintura, nos 3.000 cúbitos.
Na marca dos 4.000 cúbitos, o filamento (mèpakkim) havia se tornado um rio (nahal), fundo demais para andar nele e suficientemente fundo para nadar nele. A essa altura, para a medição, deixando o profeta e o leitor extrapolarem um aumento geométrico no volume da água a cada 1.000 cúbitos, à medida que ele corre em direção ao mar. O fato desse efeito ser alcançado sem a aparente contribuição de afluentes realça a grandeza do milagre. (Block. Daniel,. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pag. 623-624).
2- O Espírito Santo.
Billy Graham escreveu em seu livro O Poder Do Espírito Santo que na casa dele tem um reservatório que recebe água de duas fontes das montanhas através da casa. As pessoas que moravam ali antes dele diziam que a quantidade de água destas duas fontes nunca varia. Sempre é a mesma, em tempos de seca ou de chuva. Nós usamos a água que precisamos, mas pela água corrente das fontes o reservatório está sempre transbordando. Literalmente é isto que quer dizer “ser cheio do Espírito”.
Todos os cristãos devem ser cheios do Espírito. Qualquer coisa menos que isto é só parte do plano de Deus para nossa vida.
O que a Bíblia quer dizer quando fala da plenitude do Espírito Santo? Vamos definir o termo: Ser cheio do Espírito é ser controlado ou dominado pela presença e pelo poder do Espírito. Em Efésios 5:18 Paulo diz: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito.” Ele está contrastando duas coisas. Alguém cheio de álcool é controlado ou dominada por este. A Presença e o poder do álcool sobrepujaram suas capacidades e atitudes normais.
É interessante que nós dizemos às vezes que alguém está “sob a influência” do álcool. Isto de certa forma traduz o que é ser cheia do Espírito. Estamos “sob a influência” do Espírito. Ao invés de fazermos as coisas baseadas somente em nossa força ou habilidade, Ele nos dá poder. Ao invés de fazermos somente o que nós queremos fazer, somos agora guiados por Ele. Infelizmente milhões de filhos de Deus não se alegram da riqueza espiritual ilimitada que está à sua disposição, porque não estão cheios do Espírito Santo. (Graham., Billy,. O Poder Do Espírito Santo. Editora Vida Nova. pag. 103).
3- Imerso nas águas e no Espírito (vv.3-5).
“Saiu aquele homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir; e mediu mil côvados e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos tornozelos. E mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; e mediu mais mil e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos lombos. E mediu mais mil e era um ribeiro, que eu não podia atravessar, porque as águas eram profundas, águas que se deviam passar a nado, ribeiro pelo qual não se podia passar”.
O verbo traduzido por encher (pimplemi), usado em Atos 2.4, está estreitamente ligado como Espírito (Lc 1.41,67; At4.8,31; 9.17; 13-9). Este verbo é usado por Lucas para indicar o processo de ser ungido com o poder do Espírito para o serviço divino. Ser cheio com o Espírito significa o mesmo que ser batizado com o Espírito ou receber o dom do Espírito (cf. At 1.5; 2.4,38). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pag. 632.
Qual é o efeito do Espírito Santo sobre todos os crentes? Lucas escreve: “Eles ficaram cheios”. Nós não devemos limitar o adjetivo todos como aplicável somente aos apóstolos, pois Pedro em seu sermão mostra que a profecia de Joel fora cumprida: “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão” (v.17; Jl 2.28). E quando Pedro e João, subsequentemente, relataram aos crentes os comentários dos maiorais dos sacerdotes, todos ficaram cheios com o Espírito Santo (4.31). O efeito da habitação do Espírito Santo é o de que ele assume o controle total de cada crente.
O cristão que é cheio do Espírito passa a ser o seu porta-voz. No caso dos crentes de Jerusalém, eles falam em outras línguas e por meio disso provam que o Espírito Santo os controla e capacita. (Simon J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento Atos I. Editora Cultura Cristã. pag. 110-111).
III – SOBRE O CONTEXTO GEOLÓGICO DO VALE DO MAR MORTO
1- A abundância de árvores (v.7).
“E, tornando eu, eis que à margem do ribeiro havia uma grande abundância de árvores, de uma e de outra banda”.
A visão deixou Ezequiel perplexo, com os olhos arregalados. Ele é trazido de volta aos seus sentidos pelo comentário do guia, que, embora geralmente entendido como uma pergunta, faz mais sentido, neste contexto, como uma exclamação.” Obviamente, o profeta estava olhando! O guia, então, o conduz para fora da água, de volta á margem.
O terceiro wèhinnêh expressa sua surpresa diante de uma nova visão, que ele não havia observado antes. Em ambos os lados do rio, enfileiravam-se densos arvoredos. Quais as conclusões que o profeta tira dessa observação se pode apenas especular, conquanto, agora, ele deve ter reconhecido que estava testemunhando mais do que uma lição sobre o poder miraculoso que Yahweh tem para aumentar o volume das águas de um rio. Será que ele começou a “ver” a importância simbólica das águas? (Block. Daniel,. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pag. 624).
Champlin, nos traz a informação que à margem do rio havia grande abundância de árvores. Uma multidão de árvores cresceu nos dois lados do rio, embelezando o ambiente e fornecendo frutos deliciosos a qualquer um que passasse. Temos aqui o tema do jardim do Éden, o Paraíso de Deus na terra, para o benefício de homens espiritualmente transformados.
As árvores obviamente têm qualidades espirituais, e o homem que come de seus frutos compartilha da vida divina (II Ped. 1.4). Cf. Gên. 1.28; 2.9 e Apo. 22.2, onde temos o mesmo tema. As árvores cresceram nos dois lados do rio, falando de uma vida abundante, uma provisão ampla, uma graça que superabunda. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3354).
2- O Mar Morto (v.8).
“Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, sararão as águas”.
Embora Ezequiel possa ter interpretado o rio e as árvores na sua margem, a interpretação oferecida pelo guia não deixa dúvidas a respeito do significado desejado. A primeira estrutura do painel interpretativo dessa caricatura é essencialmente geográfica na natureza. Ezequiel aprende que esse rio, que desaparece no horizonte oriental, entra, eventualmente, no mar. O número 4 aparece novamente em quatro discretas expressões usadas para descrever o curso do rio.
Primeira, o rio flui ‘el-haggèlilâ haqqadmônâ (lit. “o circuito oriental”), uma vaga referência à região entre Jerusalém e o rio Jordão. Segunda, o rio desce até a Arabá. Atualmente, o nome identifica, geralmente, a depressão sul do Mar Morto, que termina no golfo de Aqabah, mas no AT o nome era usado, também, mais genericamente para o vale que vai do lago Tiberíades (Galileia), no norte, para o golfo de Aqabah, no sul. Ezequiel tem em mente a extremidade sul do vale do Jordão. Terceira, é mencionado que a água flui para o mar (hayyãmmâ). Ainda que yãm tenha, anteriormente, feito referência ao mar ocidental, viz., o Mediterrâneo, aqui, obviamente, significa o mar Morto. Quarta, o destino é definido mais precisamente como hayyãmmâ hammüsã’im, o mar de águas estagnadas. A expressão é textualmente problemática, mas o contexto apoia uma referência à natureza estagnada do mar Morto.
hammúsã’im é uma descrição apropriada para o mar Morto. A superfície dessa notável massa de água é de, aproximadamente, 400 m abaixo do nível do mar, tomando-a não só o ponto mais baixo no vale da calha do rio, mas, também, o mais baixo na superfície da terra. Com uma salinidade atualmente de 26-35 por cento, essa massa de água é, também, justificadamente, conhecida como “o mar de sal”. Três fatores contribuem para essa qualidade especial; os incomuns ribeiros salinos afluentes, que emergem de fontes sulfurosas e fluem ao longo do solo salitroso; a ausência de uma saída,
0 que significa que todos os seus minerais ficam presos; a atmosfera quente, seca, que produz uma taxa de evaporação igual, se não maior que o influxo da água dos rios e ribeiros tributários. Após milênios de acúmulo, as elevadas quantidades de sódio, magnésio, cálcio, potássio, e outras substâncias químicas deixaram o mar Morto virtualmente sem vida. Com exceção de alguns oásis, a vegetação ao longo de suas margens se limita a algumas espécies halófitas (apreciadoras do sal).
O mensageiro parece absorto pelos problemas geográficos que o curso desse rio apresenta. Para que a água flua de Jerusalém para o vale do Jordão, ela precisa descer para o Cedrom, subir para o monte das Oliveiras, e, depois, atravessar uma série de vales e cadeias de montanhas antes de alcançar seu destino. Se ele prevê, ou não, uma rachadura nas barreiras, como a que foi prevista em Zc 14.4:
“E, naquele dia, estarão os seus pés sobre os monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente e para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade dele, para sul”.
A cena clama por um ato miraculoso, o inverso daquilo que foi experimentado pelos israelitas no mar Vermelho. Em vez de criar uma passagem seca pelo mar, esse rio sagrado produz um curso de água pelo meio do deserto. (Block. Daniel,. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pag. 624-625).
3- Vida no Mar Morto (vv.9,10).
“E será que toda criatura vivente que vier por onde quer que entrarem esses dois ribeiros viverá, e haverá muitíssimo peixe; porque lá chegarão essas águas e sararão, e viverá tudo por onde quer que entrar esse ribeiro. Será também que os pescadores estarão junto dele; desde En-Gedi até En-Eglaim, haverá lugar para estender as redes; o seu peixe, segundo a sua espécie, será como o peixe do mar Grande, em multidão excessiva”.
A chegada das águas vivificadoras do templo revive o mar Morto, e o resultado é a grande multiplicidade de peixes: As águas do mar Morto se tornarão saudáveis, e tudo viverá por onde quer que esse rio passar (v. 9b). Isso faz lembrar da criação no princípio (Gn 1.20, 21). O nome “mar Morto” vem do fato de não haver nele vida; as águas são espessas, uma pessoa deitada sobre as águas não consegue afundar nele dada a grande quantidade de sais mineiras.
Não há registro histórico de um cenário de vida como este: a abundância de árvores numa região extremamente árida, e águas e peixes no mar Morto, como no mar Grande (v. 10b) em hebraico, hāiām hāgadôl, nome bíblico do atual mar Mediterrâneo, que aparece 12 vezes no Antigo Testamento, somente em Números, Josué e Ezequiel.118 A palavra profética contempla mais essa bênção extraordinária: Desde En-Gedi até En-Eglaim haverá lugar para estender e secar as redes (v. 10).
En -Gedi é um pequeno oásis localizado no deserto da Judeia, próximo ao mar Morto (Js 15.62), onde Saul se acampou quando perseguia Davi (1Sm 23.29; 24.1). En-Eglaim é uma localidade desconhecida; há quem afirme que fica na outra margem do mar, que seria hoje a Jordânia, mas a linguagem parece indicar sentido norte-sul, e não leste-oeste. O cenário dos pescadores lançando suas redes no mar Morto e pescando não tem paralelo na história. Os pescadores em En-Gedi. (Soares. Esequias,. Soares. Daniele. A Justiça Divina: A Preparação do povo de Deus Para os Últimos Dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pag. 141-142).
4- Sobre os charcos lamaceiros com sal que não será restaurada (v.11).
“Mas os seus charcos e os seus lamaceiros não sararão; serão deixados para sal”.
Mas o guia informa Ezequiel a respeito das exceções desse notável quadro de vida. De acordo com o v. 11, a água nos pântanos (bissô’taw) e nos charcos (gèba’ayw) não se tomará doce. A região de pântanos da Lashon (Lisan, no árabe) que tem a forma de língua, a península saliente no mar, a partir da margem oriental, onde a água é pantanosa demais para os peixes, apresenta-se como o candidato mais provável para tais obscuros reservatórios de água.
A preservação de alguns bolsões de salinidade é intencional, reconhecendo-se o benefício econômico de alguns minerais encontrados tanto no mar Morto como ao redor dele. O sal (melah) não é apenas um valioso tempero e um agente preservador; a palavra funciona genericamente para uma ampla cadeia de substâncias químicas extraídas do mar. (Block. Daniel,. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel Vol. 2. Editora Cultura Cristã. pag. 627).
O pastor Esequias Soares nos traz a informação sobre os charcos lamaceiros com sal que não serão restaurados, que ainda muitas controvérsias. Mas os seus charcos e os seus pântanos não se tornarão saudáveis; serão deixados para o sal. Por mais estranho que isso possa parecer, ou seja, a bênção não ser total, o que acontece é que a vida não se estende além das águas da salvação que fluem do templo; talvez a morte continue nesses bolsões salinos (Is 66.24; Jr 30.23, 24; Ap 20.10).
A descrição do milênio em Isaías indica haver pecado e morte em escala reduzida, nascimento e envelhecimento (65.20-23). Mas há quem afirme que esses charcos serão de grande utilidade para a economia por causa da abundância das riquezas minerais, até para o tempero, como o sal para os sacrifícios (43.24), mas não há unanimidade sobre nenhum desses pensamentos. (Soares. Esequias,. Soares. Daniele. A Justiça Divina: A Preparação do povo de Deus Para os Últimos Dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pag. 142).
CONCLUSÃO
A lição diz que as águas terapêuticas do rio da visão de Ezequiel saem de debaixo do umbral e as águas cristalinas que saem do trono de Deus e do Cordeiro, em Apocalipse, apontam para Cristo e o Espírito Santo. É significativa a presença do rio no Éden, no princípio. No relato da criação e do rio da vida no mundo vindouro, o rio da visão de Ezequiel fica entre eles, ou seja, entre o primeiro e o último. Vemos, em tudo isso, a restauração escatológica da terra e a efusão do Espírito sem medida. Então traga exemplos que mostrem o quanto o Espírito Santo agiu na vida de pessoas. Incentivemos a classe a buscar uma experiência poderosa do Espírito Santo.