Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mt 7.11)
Na lição do próximo domingo, veremos um dos atributos de Deus ressaltados por Jesus no Sermão Monte: a Bondade. Ele é um Pai amoroso que concede aos seus filhos aquilo que é essencial para sua subsistência. A bondade do Pai também é revelada a nós mediante o sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário. Quando o buscamos em oração, Ele nos atende, ajuda e socorre pela sua bondade. Pela sua bondade somos instados a entrar pela porta estreita e estar cuidadosos a respeito dos falsos profetas. O que seria de nós se Deus não olhasse-nos com bondade, misericórdia e amor, pessoas tão imperfeitas?
I – A BONDADE DE DEUS
1- Definição de bondade.
No aspecto filosófico, a bondade é caracterizada como algo transcendente. Sua essência consiste naquilo que é bom, que nesse sentido pode ser conceituado como o bem maior. Pode-se observar que há uma relação do nome Deus em inglês, God, com o sentido de bom good. Por vezes, alguns filósofos fizeram uso do substantivo Deus apontando para o bem supremo, mais sublime.
Nas palavras do filósofo Hegel, a bondade é vista como a coincidência de uma vontade humana com a vontade universal, isto é, a vontade racional: a correção de vontade, e, por conseguinte, de ação, com base em princípios metafísicos. Ainda na perseguição de uma definição apropriada para a palavra bondade, alguns filósofos passaram a entender essa palavra como sendo superior ao termo direito, pois o direito envolve aquilo que é justo, porém, a bondade pratica a misericórdia e evidencia amor em todas as situações da vida.
Pela ótica filosófica, a definição da palavra bondade não está simplesmente sendo vista como algo natural, mas transcendente, de modo que isso nos leva ao entendimento de que será na Bíblia e na teologia que o verdadeiro significado de bondade terá seu real sentido, pois, no aspecto humano, sua definição não ultrapassa esses limites: qualidade de quem tem alma nobre e generosa e é naturalmente inclinado a fazer o bem; benevolência, benignidade, magnanimidade, ação que reflete essa qualidade, atitude amável, cortês; delicadeza. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 138,139).
2- A bondade de Deus no aspecto bíblico.
A forma preservada por Mateus parece indicar que Cristo quis provocar uma discussão filosófica sobre a natureza da bondade, mas isso não é provável.
Hendriken em seu livro diz que Jesus respondeu: Por que me perguntas acerca do que é bom? Bom só existe um. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Certamente o que Deus pede em Sua lei é bom, porque o próprio Deus é o Sumo Bem. Por que perguntar a Jesus a respeito “do que é bom” quando Deus o Pai o revelou de maneira tão clara? Se aquele que formula a pergunta pensa que poderá obter a vida eterna fazendo bem, então que guarde os mandamentos. (HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. 1 Ed 2001. Editora Cultura Cristã. p. 966).
3- A bondade de Deus no aspecto teológico.
No aspecto teológico, a bondade de Deus faz parte de um dos seus atributos morais, sendo descrita como parte de sua essência; não é uma manifestação momentânea, casual. Quando faz o bem ou manifesta atos de bondade, Ele faz isso porque realmente é bom por natureza.
Deus é um ser bondoso, do qual emanam as boas dádivas para nós (Tg 1.17). Essa bondade é confirmada por aqueles que têm suas mentes esclarecidas pelo Espírito Santo de Deus, pois constatam tanto no seu ser quanto em seus atos essa verdade bíblica. O salmista nos aconselha a provar o quanto o Senhor é bom (Sl 34.8), e, quando fazemos isso, temos o melhor padrão para entendermos o que é bom no sentido estético e ético.
Teologicamente falando, o padrão mais elevado do conceito de bondade está em Deus, que se revela no seu próprio caráter. Ele só aprova aquilo que condiz com sua natureza (Sl 119.68). Quando atentamos para os Salmos bíblicos que exaltam a bondade de Deus, alguns mostram-na revelada na criação (Sl 104), outros exibem a bondade divina agindo em favor do seu povo, Israel (Sl 106 3 107). Na essência, esse ser divino é bom, por isso o apóstolo Paulo nos aconselha na prática a termos experiência com a boa vontade de Deus para conosco (Rm 12.2). Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 140.
Deus é bom e atende aos seus filhos que invocam em oração
II – HÁ DOIS CAMINHOS PARA ESCOLHER
1- A porta e o caminho no aspecto bíblico.
Vamos começar esse ponto fazendo uma inversão. Primeiramente, destacaremos a palavra caminho, porque à luz das páginas do Antigo Testamento era algo bem conhecido de todos. Em Salmos 1.1, faz-se menção a dois caminhos: o primeiro, dos pecadores; o segundo, dos justos (Sl 1.6). A palavra caminho é um substantivo masculino que do hebraico é derek, cujo significado é estrada, distância, jornada, maneira, vereda, direção. Expressa também um hábito. Caminho, no aspecto figurado, tem dois sentidos: um refere-se ao curso da vida; o outro fala do caráter moral.
No Salmo em questão, temos a distinção clara entre o viver do ímpio e do justo, ou melhor, da conduta de cada um. Jó deixou bem claro que Deus conhecia o seu caminho, sua conduta de vida, por isso iria sair daquela prova como ouro (Jó 23.10). Paulo disse que o Senhor conhece os que são seus (2Tm 2.19), destacando também um viver santo com Cristo. Em Mateus 7.13, Jesus fala sobre a conduta dos ímpios, quando faz menção à palavra caminho.
O que se tem na figura do caminho são dois modos de vida, isto é, o caminho do justo e o caminho do ímpio. O justo evita o caminho comprometedor dos ímpios e procura seguir os projetos de Deus, nisso é que consiste sua felicidade. Não há da parte do justo nenhum prazer de aceitar os princípios expressados pelos pecadores; pelo contrário, o justo tem um contentamento glorioso, maravilhoso, que é meditar na Palavra de Deus, o que resultará em um prazer sem igual cuja vida será sempre cheia de bons frutos e seu futuro final já está garantido, pois depositou todo o seu viver em Deus.
No Salmo 1, o salmista primeiro mostra o caminho ou proceder do ímpio. Como seu viver é maléfico e pecaminoso, ele não tem estabilidade como o caminho dos justos, que é representado como uma árvore bem plantada. Os ímpios serão varridos como restos de palha, deixando apenas o grão. Esses tais não irão nunca participar na eternidade com os justos, pois Deus conhece, ou melhor, tem interesse apenas no caminho dos justos, e, quanto aos ímpios pecadores, serão destruídos.
Quando lemos Atos 9.2 (ARA), os crentes da Igreja Primitiva eram chamados de aqueles “do caminho”. I. Howard Marshall, falando desse caminho, escreve que se referia a uma descrição dos cristãos como sendo “os que eram do Caminho” é uma peculiaridade de Atos.
Pressupõe o emprego do termo “o Caminho” para significar, na realidade, o “cristianismo”.
Por trás desse termo, há, outrossim, a ideia do “caminho do Senhor, de Deus” (At 18.25,26), como o “caminho da salvação” (At 16.17). Deus indicou o caminho ou modo de vida que os homens devem seguir se desejam ser salvos (Mc 12.14); a declaração dos cristãos de que o caminho deles era aquele indicado por Deus levou ao uso absoluto do termo, como aqui.
Em relação à porta, que do grego é púle, quer dizer portão, porta, do tipo mais largo no muro da cidade, num palácio, numa cidadezinha, no templo, numa prisão; no aspecto metafórico, quer dizer o acesso ou entrada num estado. No aspecto espiritual, fala da entrada para o caminho a †m de viver uma experiência nova com Cristo Jesus (Jo 10.9). É por meio dessa passagem ou porta que o cristão poderá desenvolver um viver piedoso.
Uma porta serve como um acesso para bênção ou maldição (Gn 4.7; 28.17), simboliza grandes oportunidades — isso foi dito por Paulo (1Co 16.9). Também há portas que se abrem no Senhor (2Co 2.12). No demais, o Senhor Jesus coloca diante de sua igreja a porta aberta (Ap 3.8). Em relação a essa porta aberta, escreve George Ladd:
Partindo do contexto de que Cristo tem autoridade absoluta para abrir a porta do Reino de Deus, isto pode ser uma promessa de que a Igreja tem entrada garantida no Reino de Deus escatológico, apesar do conflito óbvio travado com os judeus. No Novo Testamento, no entanto, a ideia de porta aberta aparece diversas vezes para indicar uma porta de oportunidade, principalmente para a pregação do Evangelho (1Co 16.9; 2Co 2.12; Cl 4.3; At 14.27). Não está longe a ideia de que Cristo pôs diante da igreja uma grande oportunidade de difundir o evangelho, apesar de ela ser pequena e fraca. Do ponto de vista do contexto, a primeira interpretação é preferível. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 141-142).
2- O que as duas portas e os dois caminhos ilustram para nós?
As bênçãos que são prometidas por Cristo aos que fazem parte do Reino são maravilhosas, em especial quando se diz: Bem-aventurados (Mt 5. 5-9). No entanto, é preciso entender que a entrada e permanência nele envolve momentos bons e difíceis. Jesus promete consolo aos que choram e terra para os mansos, e, ao mesmo tempo, diz que seus seguidores serão perseguidos, caluniados (Mt 5.10,11), e que precisam ter um viver justo, que esteja acima dos escribas e dos fariseus (Mt 5.20), não devem jamais odiar os inimigos, mas orar por eles.
No quesito porta e caminho, para saber o que vem primeiro e realmente qual a definição precisa sobre essas duas expressões, teólogos e estudiosos do Novo Testamento se debateram apresentando diversas teorias, uns chegando a usar Lucas 13.23,24 para se referir à porta do Reino no sentido escatológico. O certo é que a porta vem antes do caminho, e aqui ela não tem a definição de morte (Mt 16.18), mas se refere a uma escolha consciente para andar pelo caminho certo, ou seja, aponta para a conversão que é seguida pela santificação, que a cada dia requer que crucifiquemos nossos desejos pecaminosos em Cristo.
O adjetivo estreito do grego é stenós, que significa apertado. A ideia que se tem é que só dá para passar uma pessoa, que figuradamente quer dizer que quem tem muita bagagem, por exemplo, da justiça pessoal, do egoísmo, da avareza, do rancor, não tem como passar; é preciso negar-se a si mesmo para poder entrar por ela (Mt 16.24-26; Gl 2.20; 6.14).
Lendo o texto de Hebreus 11.10, compreendemos que as pessoas que trilham o caminho apertado estão seguindo o modelo traçado por Cristo, ao passo que o modelo do caminho espaçoso foi modelado por Satanás. Aqueles que escolhem o caminho traçado por Cristo terão poucos companheiros, porém é bom lembrar que sempre há servos fiéis a Deus na terra e que no final a multidão de salvos será incontável (Rm 9.27; 11.5; Ap 7.9). Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 142,143.
3- A escolha entre os dois caminhos.
Jesus apresentou a todos os dois caminhos, os quais são representados por duas portas, sendo que uma é estreita e a outra larga. A entrada para o Reino de Deus acontece somente por meio da porta estreita, e o caminho a se seguir por essa porta é apertado, mas seu destino é a vida eterna. A porta larga leva o transeunte a um caminho espaçoso, e nele há muita facilidade, comodidade, pode-se escolher a direção que se quer seguir, mas tem um destino certo, o inferno.
Pelo ensino de Cristo, ficou evidente que os que quiserem receber a vida eterna para entrar no céu devem escolher a porta estreita e o caminho apertado, que falam de Jesus, uma vez que fora dEle não há como se ter a salvação. O que entendemos com esse ensino ilustrativo de Jesus é que o nosso destino depende de nossa decisão. Caso escolhamos viver um cristianismo que permite tudo, nosso destino estará comprometido, porém, se optarmos em viver uma vida santa, entrando pela porta estreita e trilhando o caminho apertado, nosso futuro será maravilhoso. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 143).
Jesus mostrou que existe apenas dois caminhos: o Largo e o Estreito
III – A MENTIRA DOS FALSOS PROFETAS
1- Cuidado com as falsas aparências.
Os falsos profetas parecem inofensivos (7.15). Os falsos profetas são lobos, mas se apresentam como ovelhas. São assassinos da verdade, mas andam com a Bíblia na mão. Têm a voz sedosa, mas seus dentes são afiados. Parecem inofensivos, mas são “lobos devoradores”.
Os falsos profetas já existiam nos tempos do Antigo Testamento. Jesus prediz a vinda de falsos cristos e falsos profetas, que desviarão muitos (24.24). No tempo determinado, eles surgirão como se fossem anjos de luz. Entre eles, haveria os judaizantes (2Co 11.13-15), os protognósticos (1Tm 4.1; 1Jo 4.1). Por fora, parecem “ovelhas”, mas por dentro são “lobos devoradores”. Vale destacar que os lobos são mais perigosos do que cães e porcos. (LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 241).
2- Como detectar os falsos profetas?
Não precisamos ir longe para detectamos os falsos profetas. Jesus disse: “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” (Mt 7.16, ARA). O fruto aqui prova a real essência ou natureza do que a coisa é, apontando para duas coisas: os ensinos e as obras desses impostores. Árvores boas dão bons frutos. É impossível colher uvas do espinheiro, que por natureza só produz espinhos; nem se pode colher figos de abrolhos, uma erva daninha. Diz-se que há variedades de formas nesse tipo de planta, e algumas dão flores parecidas com as da figueira. O uso de espinheiro e abrolho feito por Cristo era para ilustrar o caráter comprometedor desses falsos profetas, os quais não têm nada para oferecer, seus frutos são imprestáveis.
A boa árvore que é bem cuidada, cultivada, alimentada, com certeza, dará bons frutos, ao contrário da árvore má, que é podre, estragada, e por isso só dará fruto maus. Aqueles que não vivem a vida espiritual sadia darão vinho azedo, com muito ácido, ensinarão o liberalismo teológico, crença sem compromisso com a Palavra, serão relativistas, adotarão concepções da pós-modernidade, como bem falou Isaías: deram uvas bravas (Is 5.4). Em Gênesis, há uma repetição constante que diz que o fruto é segundo a sua espécie (Gn 1.11).
A pessoa que realmente foi transformada pelo poder do evangelho tem a sua natureza mudada, seus frutos serão conforme a transformação ocorrida no seu interior (Mt 3.8). Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 144-145.
3- Uma análise criteriosa.
Os crentes não irão somente enfrentar a deserção e a traição de dentro do corpo da igreja, como também surgirão muitos falsos profetas e os seus ensinos enganarão a muitos. O Antigo Testamento frequentemente menciona os falsos profetas (veja 2 Rs 3.13; Is 44.25; Jr 23.16; Ez 13.2,3; Mq 3.5; Zc 13.2). Os falsos profetas afirmavam receber mensagens de Deus, mas diziam o que o povo queria ouvir, mesmo quando a nação não estava seguindo a Deus. Nós temos falsos profetas hoje em dia, líderes populares que dizem às pessoas o que elas desejam ouvir – como “Deus quer que você seja rico”, “Faça o que os seus desejos lhe ordenarem” ou “Não existe pecado ou inferno”. Jesus disse que os falsos mestres viriam, e advertiu os seus discípulos, da mesma maneira como Ele nos adverte, a não ouvir às suas perigosas palavras.
Os falsos ensinos e a lassidão moral trazem uma doença particularmente destrutiva – a perda do verdadeiro amor por Deus e pelos outros. O amor esfria quando o pecado direciona a nossa atenção a nós mesmos e aos nossos desejos. (Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 1. p. 141).
Jesus advertiu quanto às mentiras dos falsos profetas.
CONCLUSÃO
O caminho que nos leva ao céu é estreito, difícil e exige renúncia e sacrifício. Quem gosta de pregar facilidades são os falsos profetas. Precisamos estar vigilantes. Neste mundo enfrentamos dores, tentações e dificuldades. Contudo, há uma recompensa para nós, um dia estaremos para todo o sempre junto do Pai. Por isso, não podemos desistir. Também não podemos pegar atalhos. O caminho que conduz ao céu é somente um, Jesus Cristo. Ele é o único caminho, a única verdade e sem Ele estamos perdidos (Jo 14.6).