Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6.36).
Nesta lição, veremos que as Escrituras Sagradas revelam que devemos ter cuidado com a medida com que julgamos os outros. Não cabe a nós nenhum tipo de julgamento, pois quando julgamos as pessoas nos colocamos em uma posição que não compete a nós, seres imperfeitos e falhos. Antes de fazer qualquer tipo de julgamento, faça uma autoavaliação. Observe se não existe nenhum a trave em seus olhos. Quando julgamos alguém nos tornamos imperdoáveis, por isso esteja atento,
“Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo.” (Rm 2.1).
INTRODUÇÃO
Jesus introduz um novo tema em seu sermão, tratando agora do complexo tema do julgamento. Ao mesmo tempo que condena o julgamento temerário (7.1-15), ele incentiva o julgamento daqueles que desprezam a mensagem de Deus e atacam os mensageiros (7.6). O que Jesus está condenando aqui, portanto, é o hábito de fazer crítica ferina e dura, e não o exercício da faculdade crítica pela qual os homens podem fazer, e se espera que façam, em ocasiões específicas, juízos de valor, escolhendo entre diferentes programas e planos de ação.
Warren Wiersbe tem razão ao dizer que os escribas e fariseus julgavam falsamente a si mesmos, às outras pessoas e até mesmo a Jesus. Esse julgamento falso era alimentado por sua falsa justiça.
I – NÃO DEVEMOS JULGAR O OUTRO
1- Aprendendo a se relacionar com os outros.
Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! Estão em foco os hebreus, agora sujeitados a fatores universalizadores após o retorno do cativeiro babilônico, aprendendo os caminhos do mundo helenista. Conforme diz um cântico popular, isso ocorreu no fim da Segunda Guerra Mundial: “Como você pode mantê-los agora nas fazendas, depois que viram Paris?”. Agora que Israel se expandia para fora, enquanto seus vizinhos se expandiam internamente, seria possível conservar os hebreus dentro de seu contexto distintivo, que fora criado por serem eles o povo da lei
“Porém vós, que vos chegastes ao Senhor vosso Deus, hoje todos estais vivos.Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus: para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar.Guardai-os pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo só é gente sábia e entendida.Porque, que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o chamamos?E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje dou perante vós? (ver Dt. 4.4-8)
O autor desta pequena porção da literatura de sabedoria esperava que suas palavras ajudassem Israel a reter sua fraternidade especial. Naturalmente, essas palavras aplicam-se a indivíduos, e não somente a comunidades nacionais, mas podemos estar seguros de que a inspiração da paz era uma preocupação que dizia respeito a laços nacionalistas na nação restaurada de Israel. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2479).
2- Ninguém deve ser julgado?
O texto apresenta-nos algumas verdades solenes, como vemos a seguir, vejamos o diz o pastor Hernandes Dias Lopes:
[..] uma ordem expressa (7.1a). Não julgueis… Não temos conhecimento suficiente para julgar imparcialmente nem temos poder para condenar. Esse julgamento subjetivo, temerário e tendencioso não deve ser praticado pelos súditos do reino. Resta claro que Jesus está se referindo ao hábito de condenar e criticar. Trata-se da crítica tendenciosa e injusta. Fritz Rienecker, nessa mesma linha de pensamento, escreve:
Jesus se refere nesta passagem à atitude condenável de julgar sem amor, a qual ocorre com especial facilidade pelas costas do próximo.
E qual é em geral o motivo do julgamento frio e da condenação pelas costas? E a satisfação malévola secreta com a desgraça do próximo.
O próprio “eu” quer destacar-se com tanto maior brilho diante do fundo escuro da pretensa injustiça do outro. Gostamos de rebaixar o outro para que nós mesmos pareçamos grandes.
[…] uma justificativa clara (7.1b)…. para que não sejais julgados. Quem julga, será julgado. Quem se assenta na cadeira do juiz, assentar-se-á no banco dos réus. A seta que você lança contra o outro volta-se contra você. Robertson acredita que Jesus esteja aqui citando um provérbio semelhante a “quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado dos outros”. (LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 236).
3- O julgamento defendido por Jesus.
Assim está escrito em João 7.24 (ARA): “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça”. Os escribas e os fariseus se prendiam na Lei para fazer seus julgamentos, mas faziam isso de modo totalmente pervertido, sem atentar realmente para o espírito da Lei.
Na verdade, suas tradições e ritos religiosos, os sistemas externos, tudo isso falava mais forte do que o sentido espiritual da Lei, portanto, o reto juízo não vem da mera trivialidade de normas exteriores, nem de imposições legalistas, mas origina-se verdadeiramente de um discernimento espiritual, daqueles que realmente têm a mente de Cristo (1Co 2.16), que desenvolvem com Ele uma verdadeira comunhão.
Quando lemos Êxodo 23.6 (ARA), está escrito assim: “Não perverterás o julgamento…”. Aqui estava se falando para não deturpar os direitos do pobre no tribunal. No hebraico, o verbo perverter é “natah” e tem vários sentidos, mas quero ficar apenas com este: virar para o lado, inclinar, declinar, curvar-se. Quem julga sem base, sem verdade, está procurando virar para o lado, esconder a verdade.
Na Bíblia, encontramos dois tipos de julgamento em que se escondeu a verdade.
O primeiro que citaremos foi promovido pela ardilosa e satânica Jezabel. Ela, dissimuladamente, formulou um julgamento contra Nabote para se apossar de sua herança, a qual não negociou com seu marido, Acabe, de modo que o sentenciou à morte injustamente (1Rs 21.2-15).
O segundo julgamento envolveu Davi, que no momento em que o profeta Natã, em parábola, falou do rico que se apossara da ovelhinha do pobre, prontamente disse que o tal deveria morrer, não sabendo que se tratava dele mesmo (2Sm 12.1-7). Nos dois casos, o julgamento foi pervertido.
Portanto, amados e queridos irmãos, julguemos segundo a verdade, com provas cabais, sempre buscando o bem, e não segundo a aparência. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 128-129).
No sermão do Monte Jesus Deixa claro que não devemos julgar o outro
II – DEVEMOS PRIMEIRAMENTE OLHAR PARA NÓS MESMOS
1- Cuidado com o juízo exagerado sobre os outros.
Notemos o furor de Davi que se acendeu. Isso aconteceu quando ele ouviu a parábola contada por Natã. Até aquele momento, a mente de Davi estava por demais embotada para compreender que Natã falava sobre o próprio Davi, o tempo todo. Assim, com grande indignação, o rei pronunciou a execução do rico. Ele merecia a morte e deveria morrer! Talvez Davi passasse a sentença sobre o homem em uma corte de justiça (I Sam. 26.16). O mais provável, ainda, é que saísse atrás do homem pessoalmente, ou enviasse seus melhores soldados para despedaçá-lo. De acordo com a lei, uma ovelha furtada ou morta tinha de ser substituída por sete vezes (conforme determina a Septuaginta), ou por quatro vezes (conforme determina o Antigo Testamento no original hebraico, em Êx. 22.1). Mas Davi, como rei, poderia decretar qualquer punição que achasse justa. Ele não estava atrás de restauração. Ele queria o homem morto.
“Quão facilmente nosso ressentimento acendeu-se em casos de injustiça óbvia… que não dizem respeito, diretamente, à nossa própria segurança, orgulho ou posição, ou nossos próprios desejos egoístas? Quão facilmente, todo o tempo, praticamos nossas próprias formas de injustiça!’ O temperamento fogoso de Davi imediatamente fez acender sua ira, conforme por muitas vezes aconteceu com ele (1Sm. 25.13,22,33); e, no entanto, ele não estava irado consigo mesmo, o ofensor da parábola. Ele estava ansioso para dirigir seu desprazer contra outra pessoa. Assim, externamente, desculpamos em nós mesmos o que condenamos, com veemência, em outras pessoas. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. p. 1276).
2- A inconsistência dos que possuem espírito de crítica.
Negar o julgamento correto é contrariar o próprio texto bíblico, mas ao fazê-lo é preciso que sejamos firmes, que haja lógica, coerência, consistência. Isso está bem claro quando Jesus diz para não dar as coisas santas aos cães (Mt 7.6) e quando fala para termos cautela quanto aos falsos profetas (Mt 7.15). Para determinarmos o que é certo e errado, precisamos fazer uso correto do nosso juízo discriminador.
No Novo Testamento, há grandes exemplos de homens de Deus que fizeram julgamento de modo firme, consistente. Citaremos dois exemplos: Paulo foi o primeiro — certa vez disse a Tito para evitar o homem faccioso, isso depois de tê-lo advertido duas vezes (Tt 3.10). É claro, quando Paulo chamou esse homem de faccioso não o fez simplesmente por fazer, sem base, mas com conhecimento verdadeiro.
Outro exemplo é o de João, o apóstolo do amor. Ele dizia que aquele que não trazia a verdadeira doutrina não poderia ser recebido e gozar da comunhão com os irmãos (2Jo 10). O julgamento desses dois homens de Deus não estava alicerçado em crítica que visasse exibir a sua justiça pessoal, como procediam os escribas e os fariseus (Lc 16.15), nem buscava uma ação condenatória alicerçada no ego, como fazia o fariseu quando orava (Lc 18.9-14). Quando se age assim, o ar de superioridade vem em primeiro lugar e condenar os outros como não tendo razão é muito fácil.
O verdadeiro julgamento é feito com total desprendimento, pois o inconsistente aproveita a falha, o erro daquele com quem se manifesta um sentimento de inveja, ciúmes, que ao tomar conhecimento de alguma falha ou erro que cometeu em sua vida, vale-se disso imediatamente para condenar. O julgamento inconsistente gosta das mesas redondas para falar de pessoas que, por vezes, não conhece de verdade; isso gera preconceitos, impedindo que se enxergue as boas qualidades que elas possuem.
Não somos Deus; somente Ele pode dar a palavra final. Cabe a nós fazermos julgamentos firmados no amor e sempre atentando para nós mesmos. É lamentável, mas muitos líderes e cristãos estão vivendo no meio do povo de Deus na mesma atitude dos discípulos de Jesus, que quando não foram recebidos pelos samaritanos, logo queriam que fogo viesse do céu e os consumissem, desejavam destruí-los por um fato isolado. A resposta de Jesus foi: “Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.” (Lc 9.55, ARA). Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. P. 131,132.
3- O que fazer para não julgarmos precipitadamente os outros?
Para não julgarmos os outros de modo precipitado, basta que atentemos para as palavras de Cristo em Mateus 7.3-5. Se as colocarmos em prática, não julgaremos os outros precipitadamente. Nessa seção, de modo metafórico, Jesus nos leva à conscientização de que temos em nossas vidas muitos pecados. Alguns são como argueiros (kárphos, um talo ou ramo seco, palha, palhiço, resíduos dos cereais) ou estilhaços, outros como trave (dokós, viga) ou tábua. A primeira coisa a fazer com eles é tratá-los antes de tratarmos os outros.
Precisamos entender que em momento algum, como antes falamos, Jesus está dizendo que não devemos nos preocupar em corrigir ninguém, pois em Tiago 5.19,20 somos incentivados a corrigir os faltosos. Porém Ele nos lembra de que não devemos nos precipitar em nosso julgamento em relação a outras pessoas, condenando-as; devemos estar cientes dos nossos pecados e, como espirituais que somos, o tratamento deve ser criterioso e com amor (Gl 6.1).
Os que procuram julgar os outros sem primeiramente atentar para a sua vida agem como hipócritas, querendo curar as outras pessoas quando elas mesmas estão enfermas. Jesus quer que o crítico tire a trave do seu próprio olho para poder enxergar melhor. Somente depois disso, vendo seus próprios erros, suas fraquezas humanas, procure tirar o pequeno cisco do olho do irmão. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. P. 132).
Antes de emitir qualquer juízo de valor a respeito do próximo, devemos, primeiramente, olhar para nós mesmos.
III – E SE FÔSSEMOS JULGADOS PELA SEVERIDADE DE DEUS
1- Deus é severo?
No segundo século, encontramos a história de um homem chamado Marcião, que foi fundador de igrejas que entraram em debate com o cristianismo ortodoxo. Ele veio de Sinope, no Ponto, para Roma, e ofereceu à igreja uma soma em dinheiro. Em 144 d.C., foi afastado da comunhão porque seus ensinos eram errados, e seu dinheiro foi devolvido. Com as riquezas e capacidade intelectual que possuía, procurou criar uma igreja rival e passou a espalhar sua doutrina por diversas partes.
Marcião proferia muitas heresias nos seus ensinos, mas a que queremos destacar aqui é quanto ao ponto de vista que ele tinha sobre o Deus do Antigo Testamento. Em sua concepção, o Antigo Testamento foi feito por Demiurgo, um tipo de deus justo e iracundo, o qual colocou seu povo para viver debaixo de uma lei muito severa.
Era impossível que esse deus fosse o real poder divino; era apenas o deus do Antigo Testamento, e não o Deus mais alto, sublime, desconhecido da revelação do Novo Testamento.
Por causa desse seu entendimento, Marcião deixou de lado o Antigo Testamento e publicou o seu próprio Novo Testamento, composto do Evangelho de Lucas e de dez epístolas paulinas, com exceção das pastorais. Esse homem falava de um deus criador e de um deus redentor. O deus criador julgava, o deus redentor, que era Pai e desconhecido, era mais amoroso. No Antigo Testamento, encontra-se o deus dos judeus que julga, comete males, é contraditório e severo.
Podemos dizer que Marcião não entendeu bem o verdadeiro Deus descrito nas páginas do Antigo Testamento, o qual não é injusto, maléfico, severo e nem contraditório, mas, sim, amoroso e justo. A bondade divina pode ser descrita no ato de sua criação, pois providenciou o melhor para o homem, inclusive colocando-o em um jardim (Gn 2.15). Toda a criação divina foi um ato de bondade com o homem (Gn 1.31), contudo, a severidade e a rigidez de Deus só acontecia quando o homem desprezava suas leis e seus ensinos.
As páginas do Antigo Testamento não mostram um Deus inflexível, indulgente, um tirano, mas um Deus bondoso, justo. Ele não castiga o justo como faz com o ímpio pecador (Gn 18.23), não tem prazer na morte do pior perverso (Ez 33.11) e é flexível quando um pecador cruel se arrepende, como aconteceu com o rei Acabe (1Rs 21.29). Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 132,133.
2- Como Deus nos julga?
Não precisamos recorrer às diversas e belíssimas definições sobre Deus e sua justiça para entendermos como Ele procede no julgamento. Basta atentarmos para as palavras de Paulo: “Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas” (Rm 2.2, ARA).
O teólogo Champlin, seguindo a perspectiva paulina, esclarece que, quanto ao julgamento segundo a verdade, Deus não julga o homem de acordo com noções éticas dos homens; a verdade divina, acerca da verdadeira moralidade, é absoluta, exigindo uma perfeição absoluta. Somente na pessoa de Deus, como é evidente, pode ser encontrada essa perfeição absoluta. A base do julgamento e da condenação de um homem da parte de Deus está assente em sua própria santidade, pois como bem fala o teólogo Eurico Bergstén:
“A justiça de Deus é uma expressão de sua santidade” e ele ainda acrescenta:
A justiça é a santidade de Deus em ação, relativamente aos homens. Deus é justo (Rm 1.17; 10.3; Jo 17.25; Sl 116.5; 2Tm 4.8). Na sua justiça, Ele zela pelo cumprimento das suas leis e normas dadas aos homens. Na sua santidade e verdade, Deus não pode revogar a sua própria Palavra, nem a sentença imposta aos transgressores, porque elas são imutáveis como Ele o é. A justiça de Deus leva o homem, que vive em pecado, ao juízo divino (Dt 1.17).
No geral, em se tratando da bondade e severidade de Deus, pelo contexto bíblico, é sempre bom analisar as palavras de Paulo em Romanos 11.22 (ARA): “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado”.
Compreendemos a citação anterior à luz da soberania do Senhor.
Por certo tempo resolveu Ele colocar Israel de lado para oportunizar a salvação ao mundo inteiro por meio da fé em seu Filho Jesus. Deus tomou essa atitude vista como severa como castigo para aqueles que caíram (Rm 9.32,33), todavia, tem sido bondoso para com os gentios, em especial com aqueles que aceitaram a fé, porém, eles devem permanecer firmes na sua benignidade, isto é, uma fé perseverante, uma constante dependência de Cristo. Caso não procedam assim, semelhantemente serão cortados como os judeus. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. P. 133,134).
3- O exemplo da justiça de Deus na vida de Davi.
Em 2Samuel 12.10 (ARA), encontramos o seguinte texto: “Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher”. Ao lermos essa passagem, podemos nos questionar se Deus estaria sendo severo demais com o rei Davi. Respondemos que não, pois, diante dos dois crimes que ele cometeu, adultério e homicídio, pela Lei ele teria que morrer, mas assim Deus não o fez. Porém, como o Senhor não é injusto, mas julga conforme a verdade, não deixará que a espada se afaste da casa do monarca por causa de tudo o que ele fez.
Frente a tudo que o rei Davi fez, sua sentença era a morte, mas como se arrependeu, Deus o perdoou. Deve-se entender que Deus trata o pecado como pecado, e quem o comete pagará pelo erro.
Quando alguém peca, logo de imediato fica separado da comunhão com Deus, mas quando se volta com arrependimento sincero Deus o perdoa, como fez com Davi. Ainda assim, o pecado cometido tem suas consequências.
Como Deus é justo, não poderia deixar passar impune o pecado cometido por Davi. Por isso, por meio do profeta Natã, disse: “E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu” (2Sm 12.6, ARA). Por intermédio da restituição quádrupla estaria se atendendo o que estava preconizado na Lei (Êx 22.1).
Há pontos a serem considerados nessa severidade de Deus com Davi. O primeiro deles é que para Deus não importa qual a posição ou destaque que uma pessoa exerça, se peca, pagará por suas consequências, inclusive aqueles que são escolhidos para preservar a Lei e a justiça terão sentenças mais duras, pois ninguém pode estar acima da Lei e, como disse Moisés, Deus não faz acepção de pessoas (Dt 10.17).
O segundo que devemos levar em consideração é que Deus perdoou o pecado de Davi, porém, ele teria que passar pela disciplina divina. Não iria morrer, mas “a espada não se afastaria de sua casa”.
Como diz Goodman: “Deus tem em vista não somente a salvação do pecador, mas também a disciplina da ‘família da fé’. O pecador perdoado precisa ser o santo disciplinado”.
Meus irmãos, sejamos sinceros e verdadeiros diante de Deus, pois seus olhos a tudo contemplam, e jamais tem o culpado como inocente (Êx 34.7), mas julga com severidade aqueles que cometem pecado, que desobedecem a suas ordenanças. Por esse motivo, Paulo nos alerta: “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus” (Rm 11.22). Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 134,135.
Deus julga os seus filhos com bondade e graça. O que seria de nós se o Todo-Poderoso nos julgasse segundo a sua severidade.
CONCLUSÃO
Devemos seguir a recomendação do Mestre para não julgar precipitadamente o próximo. Não devemos tomar a posição de juiz contra ninguém e muito menos julgar uma pessoa apenas por sua aparência exterior. Quando formos fazer alguma avaliação a respeito das atitudes de alguém, devemos fazê-lo de modo criterioso, sensato e lúcido, evitando toda forma de precipitação.