EBD – Resguardando-se de sentimentos ruins

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Prezados professores e alunos,

Paz do Senhor!

“Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo (Mt 5.22)

A presente lição mostrará que o Evangelho do Senhor Jesus tem uma dimensão moral muito bem delimitada. Nesse sentido, essa dimensão moral não abre margem para que sentimentos hostis ao Evangelho façam parte da vida interior do crente. Veremos que evitar a cólera é uma atitude sábia para evitar pecados trágicos como o do homicídio.

INTRODUÇÃO

Abordaremos a primeira temática dos seis pontos importantes que serão tratados por Cristo Jesus. A forma como Ele introduz os seus ensinos deixa claro o que quis dizer aos seus discípulos sobre a justiça deles ultrapassar a dos escribas e fariseus. Outro ponto relevante nos versículos que analisaremos é que Jesus faz uma distinção clara entre a forma como Ele e os seus opositores interpretavam a Lei.

É preciso entender que em momento algum Jesus será antagonista a Moisés, pois, como dito anteriormente, Ele tinha consciência de que a Lei e os profetas eram a Palavra de Deus. Sua intenção era mostrar a fragilidade da interpretação dos escribas e dos fariseus.

Podemos declarar que a partir de agora a lâmina de Cristo será bem afiada e o corte profundo, atingirá o âmago da essência humana, o coração, de onde procede o pecado (Mt 15.19). Ele atacará a interpretação mórbida dos escribas e dos fariseus, condenando-os, depois mostrará o que de fato a Lei de Deus propõe ao homem. No teor desse capítulo, nosso alvo é mostrar que o evangelho não é contra a Lei e que toda ação positiva ou negativa realizada pelo homem começa primeiramente no coração. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 47).

I- O EVANGELHO NÃO É ANTINOMISTA

1- O que é Antinomismo?

Antinomianismo é a negação da lei; é o “anti lei”. O antinomiano nega a necessidade do crente em guardar a lei de Deus. Essa heresia surgiu muito cedo nas igrejas primitivas e os apóstolos tiveram que exortar que o crente deve observar a lei de Deus como expressão de nosso amor.

A Lei de Deus é única, mas com bases morais, sociais e cerimoniais, conforme já vimos no estudo 1.7 A Lei de Deus. As leis sociais são para o povo de Israel, a lei cerimonial se cumpriram em Cristo e se tornaram obsoletas e desnecessárias. Mas a parte moral de Lei são eternas e todo Cristão deve guardar. A parte moral da Lei tem como base o perfeito caráter de Deus e está exposta nos Dez Mandamento (Êxodo 20) e nas ordenanças, mandamentos e exortações dos profetas, Jesus Cristos e dos apóstolos por toda a Escrituras Sagradas. Todo Cristão deve guardar a lei moral de Deus. Nas leis morais estão expostas a santidade e a vontade de Deus. O cristão verdadeiro deve amar a lei moral de Deus e guardá-la. Quem ama a Deus, guarda sua lei (João 14.15; 1 João 2.3-6; 1 João 5.1-3).

Uma grande confusão tem acontecido desde cedo na igreja entre a relação da lei e a graça. A lei estabelece o padrão moral que devemos seguir, no entanto, ela em si mesma não nos salva. A lei foi criada apenas para dizer o que devemos fazer, mas sem o poder de nos capacitar de obedecê-la. A lei expõe a vontade de Deus e quando não seguimos a lei, cometemos pecado (1João 3.4.) A lei revela o pecado, é fundamento para decência na sociedade e é um guia para vida cristão. A graça de Deus é seu favor imerecido, que pela ação do Espírito Santo, nos regenera e nos capacita para guardar a lei de Deus. Cada uma está em campos diferentes. Ambas são necessárias, mas uma não anula a outra. Somos dependentes da lei de Deus e quando nós guardamos a sua lei, demonstramos que o amamos (João 14.15).

Existem dois tipos mais comuns de antinomismo, o antinomianismo dualístico e o antinomianismo “espiritual”. O antinomianismo dualístico ensina que a salvação é somente para alma e não importa o que fazemos com o nosso corpo em nossas ações e comportamento. A conclusão do antinomianismo dualístico era que não precisamos guardar a lei de Deus e que poderíamos viver desenfreadamente em pecado. O antinomianismo “espiritual” atribui a confiança total a ação do Espírito Santo para guiá-lo, rejeitando e negando a lei como um guia para nossa conduta. A conclusão do antinomianismo “espiritual é que a lei deve ser rejeitada e que o “Espírito” diz a cada pessoa o que é certo e errado, deste modo, fazer a vontade de Deus se torna subjetiva, segunda a revelação “espiritual” de cada indivíduo. Ambas posições antinomistas são malignas heresias.

Outro ponto da heresia antinomiana é que Jesus nos libertou da lei e que agora vivemos pela graça. A correta resposta a essa heresia é que Jesus cumpriu a lei cerimonial que apontava para sua vida e obra, mas a lei moral é eterna, nunca passará. A graça de Deus não anula sua lei moral, mas nos capacita a guardá-la. O apóstolo Paulo lutou contra essa heresia e nos ensina em suas cartas que apesar da nossa salvação ser pela graça mediante a fé, sua graça não anulou a lei moral, “de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei” (Romanos 3.31). Paulo combate em Romanos 6 a heresia de que os salvos pela graça devem viver em pecado para que a graça de Deus seja mais abundante e nos exorta que de modo alguma devemos viver em pecado, desobedecendo a lei moral de Deus e que mortos para pecado, devemos viver em santidade, assim como Cristo viveu e guardou toda lei de Deus (Leia Romanos 6).

A lei nos desnuda diante de Deus e de nós mesmos o nosso pecado, e a graça nos ajudar a revestirmos de justiça, da justiça de Cristo. Não somos salvos pelas obras da lei, porque como pecadores e corruptos que somos em nosso ser, não conseguimos guardá-la como deveríamos, mas aqueles que foram regenerados e justificados por Deus, buscam diariamente guardar sua lei como expressão de amor. (Mascolo F. – Fonte: https://sites.google.com/site/verdadesessenciaisdafecrista/9-a-espiritualidade-e-vida-crista/9-15-antinomianismo)

2- A Lei e o Evangelho.

Ele começa cada seção dizendo: “Vocês ouviram o que foi dito”. É possível que Jesus aqui use ou aluda a um método de ensino rabínico, no qual o rabi começaria com uma expressão similar, e então passaria a dar uma interpretação falsa, mas aparentemente possível, das Escrituras, após o que ele refutaria o erro e forneceria o que considerava o entendimento correto da passagem sob discussão.

Em todo caso, decerto Jesus não está contradizendo os mandamentos do Antigo Testamento nessas passagens, uma vez que ele havia acabado de dizer que não veio para os abolir, mas para cumpri-los, e que seus discípulos deveriam praticá-los e ensiná-los. Em seguida, ele começa dando esses exemplos logo depois de dizer que se deveria ter uma justiça superior àquela dos fariseus e escribas. (Cheung. Vincent, O Sermão do Monte. Editora Monergismo. 1 ed, 2011).

3- Legalismo x Antinomismo.

Facilmente se pode perceber a diferença entre legalismo e antinomismo.

A primeira, teologicamente falando, refere-se a uma obediência à Lei de modo egoísta, pois sua prática estava firmada no propósito de alcançar a redenção por meio da conduta. Uma pessoa legalista prende-se totalmente à prática e obediência à Lei apenas no seu aspecto exterior, não atentando realmente para o seu espírito, sua essência, seu real desígnio.

A segunda, o antinomianismo, nega a Lei, o que faz com que a pessoa viva totalmente descompromissada. Os legalistas desprezam a graça divina e passam a afirmar que para se obter a salvação é preciso que a Lei seja observada. Note que essa concepção transforma a Lei em um alicerce da salvação. Desse modo despreza plenamente a justificação pela fé como foi ensinado por Paulo e a presença do Espírito na vida que passa a ser a lei que age no interior daquele que crê em Jesus (Rm 8.2).

Quando procuramos servir a Deus por nossos próprios esforços, confiando que por meio de nossas obras e justiça pessoal seremos aceitos por Ele, trocamos a alegria da salvação pelo medo. Foi isso que Paulo falou para alguns cristão de Filipos, que já sendo salvos por meio da fé em Cristo Jesus, procuravam estabilizar a salvação que tinham recebido pelo aperfeiçoamento de obras. Ele então reafirma que, quando se aceita a Jesus pela fé, confiando em sua justiça, todos passam a ser aceitos aos olhos de Deus, de modo que não precisam mais esforçar-se para serem perfeitos (Tt 3.5).

Quando dizemos que o cristão não deve ser legalista, jamais queremos afirmar com tal proposição que deve viver do seu jeito, ao seu querer, de modo libertino. Todavia, como já possuem o real crescimento por meio do conhecimento de Cristo, passam a ser maduros e perfeitos para desenvolverem uma vida de fé e obediência a Deus firmada no amor, fazendo tudo com alegria, sem temor algum de perder a salvação.

Entendemos que do lado legalista há uma extrema necessidade de se praticar a Lei para se obter a salvação. Ainda muitos crentes pensam que a salvação se dá por meio da prática de regras, obras, o que não é verdade, mas, por outro lado, aqueles que seguem o antinomianismo passam a ser contrários a todo tipo de lei, crendo que a salvação se dá somente pela fé, o que não é verdade, aliás, muitos se servem desse ponto para ter liberdade para pecar.

O apóstolo Paulo faz um contraste entre o legalismo e o antinomianismo de modo bem didático. Em Filipenses 3.2,3, ele diz que não confiava nem na circuncisão, nem na carne, pois isso era legalismo, e em 3.18 fala dos inimigos da cruz de Cristo. Na primeira citação, ele destaca a confiança na Lei para se obter a perfeição desejada, na segunda, fala do antinomianismo. Paulo compreendia que a perfeição não era o alicerce da salvação, mas procurava crescer na perfeição de Cristo Jesus, motivo pelo qual disse que esse era o seu alvo (Fp 3.13,14). O escritor aos Hebreus realça essa verdade falando que sempre devemos olhar para o Autor e Consumador de nossa fé (Hb 12.2). Assim, o cristão não pode ser nem legalista, para não desprezar a graça de Deus, nem ser antinomianista, para viver a vida do seu jeito. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 49,50).

O Evangelho Não é antinomista, isto é, ele tem normas, regras e limites claros. O Evangelho também não é legalista, isto é, não está preso a observâncias rigorosas de datas, dietas e ou­tras práticas religiosas, esperando algum favor divino.

II- A CÓLERA É O PRIMEIRO ATO PARA O HOMICÍDIO

1- Jesus e o sexto mandamento.

Para compreendermos bem o relacionamento de Jesus com o sexto mandamento exposto por Ele aqui em seus ensinos, devemos atentar para a expressão ouvistes o que foi dito (Mt 5.21,27,33,34,43). Com isso, Ele já começa a introduzir a superioridade da sua justiça, que é mais elevada do que aquela que ensinavam os escribas e fariseus.

Esse verbo “ouviste” tem grande significado aqui, ou melhor, um valor grandioso, isso porque naquele tempo o acesso à literatura era bem escasso, inclusive às Escrituras. A maioria do povo não sabia ler, assim, tudo o que eles conheciam era por meio do ouvir, e quem detinha o maior poder nesse particular eram os escribas, os quais atuavam nas sinagogas fazendo a exposição da Lei.

Quanto aos antigos, há vários debates conforme se pode notar em algumas versões. Em algumas consta aos antigos, enquanto em outras pelos antigos. Alguns tradutores preferiram pelos antigos, que nesse caso seria uma referência direta àqueles que faziam a interpretação das Escrituras, Moisés, os escribas e os mestres daquele tempo. A expressão aos antigos, por outro lado, estaria se direcionando ao povo, a quem falou Moisés e outros que vieram depois dele.

O que se pode entender é que pela forma como Jesus fala dos antigos, é bem possível que Ele esteja tanto com o passado marcado por intérpretes falsos, que estiveram presentes como mestres no meio do povo judeu, como também com os que viviam durante o ministério de Cristo (Rm 9.12,26).

Jesus fala do sexto mandamento, “Não matarás”, conforme consta em Êxodo 20.13, mas, lendo Gênesis 9.5,6, vemos que ele havia sido dito antes da Lei. Da forma que Jesus irá introduzir seus seis exemplos da justiça mais elevada que a dos escribas e fariseus, contrastando o Antigo com o Novo Testamento, oriundo de seus lábios, o destaque especial e a superioridade se vê na expressão “eu, porém, vos digo” (22, 28, 32, 34, 39, 44), que também aparece seis vezes. O que se compreende é que aqui Jesus não quer demonstrar ser alguém prepotente, egoísta, superior, mas o que pode se entender é que está em voga sua autoridade divina como Filho de Deus, por isso desafia, ataca, ensina.

A questão importante da citação de Jesus quanto ao sexto mandamento é gloriosa porque a forma como interpretará tal assunto é totalmente diferente de como faziam os escribas e os fariseus. Estes ensinavam quanto à questão de não matar, viam como algo errado tirar a vida de uma pessoa, porém, tudo se resumia apenas a esse ato exterior, inclusive havia um processo que era formado para a execução de quem praticasse o homicídio (Lv 24.17).

Nas palavras de Cristo, tudo não se resumia apenas ao ato de matar.

A Lei de Deus era mais do que isso, ela apontava para a causa interna que levava alguém a praticar tal crime. Nesse sentido, podemos entender que Jesus não via o sexto mandamento apenas como um elemento presente em um código penal, ou seja, apenas uma lei, mas a questão era muito mais profunda, pois estava no âmago do coração perverso (Mt 5.19). O escritor aos Hebreus fala do poder da Palavra que discerne tudo (Hb 4.12). Portanto, para Jesus, o cumprimento da Lei vai muito além, não se conforma apenas com o que é exterior. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ªedição: 2022. p. 51,52).

2- A cólera no contexto bíblico.

“A ira começa com a insensatez e termina com o arrependimento”. (Henry George Bohn).

No versículo 21 Jesus começa fazendo um destaque em relação à ira. O verbo grego é “orgizómenos” e significa provocar, incitar à ira, ser provocado à ira, estar zangado, estar enfurecido. Como dissemos antes, Jesus não atentava apenas para o ato de matar alguém, mas, sim, ao que levava a pessoa a cometer o crime. Por isso, Ele quer reforçar o que é denominado de Principiis obsta, que quer dizer resiste aos inícios, que no caso aqui o princípio do homicídio é o ódio, a ira pecaminosa.

Na interpretação de Cristo em relação ao sexto mandamento (Êx 20.13; Dt 5.17), percebe-se que há um destaque mais elevado acima daquele exposto pelos escribas e fariseus, que era superficial e legalista. O Mestre fala de algo espiritual, não apenas a prática do ato em si, mas sua causa, no caso a ira, posto que a sua manifestação contra alguém já é o começo para a prática do homicídio contra o irmão. O Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal define muito bem a cólera na interpretação de Cristo:

Jesus ensinou que seus seguidores não deveriam nem pensar em se encolerizar a ponto de cometer um assassinato, pois já teriam então cometido um assassinato no coração. Aqui, a palavra “cólera” se refere a um desespero planejado e revoltado que sempre ameaça fugir do controle, levando à violência, aflição emocional, maior tensão mental, prejuízo espiritual e, sim, até à morte. A cólera nos impede de desenvolver um espírito agradável a Deus.

Observamos biblicamente que o primeiro homicídio praticado por Caim começou no seu coração, o qual foi dominado e impulsionado por uma cólera ou ira violenta a ponto de cometer o assassinato. O texto diz que por Deus não se agradar de Caim nem de sua oferta, mas ter atentado à oferta do seu irmão Abel, a ira nasceu de imediato em seu coração. Observe que o verbo irar do hebraico é “charah”, estar quente, furioso, queimar, tornar-se irado, inflamar-se. Esse sentimento fez com que Caim matasse seu irmão (Gn 4.5-8). O apóstolo João mostra quem de fato era Caim, quais as obras que dominavam seu coração e quem era o chefe de sua vida (1Jo 3.12).

O Senhor Jesus nos ensina que jamais devemos nutrir em nossos corações qualquer sentimento de cólera, ira, sem qualquer causa justa, no demais, é impossível um cristão verdadeiramente transformado alojar em seu coração uma ira odiosa contra o seu irmão, pois tem consciência de que, caso proceda dessa maneira, será passível de julgamento, pois aos olhos de Deus tal sentimento corresponde ao homicídio.

Quanto à questão da ira, o melhor é seguir o conselho de Paulo, que diz: “Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar” (Cl 3.8, ARA). Gomes.Osiel,Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. p. 52,53.

3- O valor da pessoa humana.

O insulto proferido aqui, traduzido em algumas versões por raca (5.22), tem origem aramaica e significa “eu cuspo em você”. Corroborando essa ideia, Lawrence Richards diz que “raca” vem da palavra aramaica “rak”, que significa “cuspir”. Barclay acrescenta que chamar alguém de “raca” era o mesmo que chamá-lo de estúpido, idiota, imprestável.

E o mesmo autor ressalta: A ira persistente é má; piores ainda são as palavras de desprezo, mas o pior de tudo é a malicia que destrói o bom nome do próximo. O homem que é escravo de sua ira, e se dirige ao próximo com palavras de desprezo, destruindo seu bom nome, pode nunca ter assassinado alguém, mas em seu coração é um assassino. (LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. p. 199-200).

Sobre a expressão “tolo”, há várias ideias sobre o sentido dessa palavra:

1. Por acaso, as letras dessa palavra grega concordam com as letras de certo termo hebraico que significa “rebelde”. Alguns acham que esse é o sentido que o autor quis dar aqui, como se tivesse usado outra palavra hebraica, como já usara “raca”. Moisés e sua irmã o não puderam entrar na terra prometida, nem em parte, porque usaram esse termo quando repreenderam o povo de Israel (ver Núm. 20:10).

2. Provavelmente a palavra é grega, e significa “tolo”. O termo era forte. Jesus mesmo usou essas palavras contra os escribas e fariseus, em Mt  23.17,19. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos.Vol.1.p. 311).

A cólera é o primeiro passo para a prática do homicídio

III- A “OFERTA DO ALTAR” E A DESAVENÇA

1- A oferta do altar.

O cristão deve sempre fazer uma análise de seu coração e de sua vida espiritual (Mc 7.2,12; 2Co 13.5), especialmente em relação ao seu procedimento para com o seu irmão, vizinho, amigo, se realmente está agindo com ele em amor, sinceridade e verdade. Isso é interessante porque pode afetar tanto o nosso culto como nosso relacionamento com o Pai. Deus não irá se voltar para aquele que se diz cristão, mas está com o coração cheio de ódio, e não de amor. Essa pessoa jamais poderá trazer uma oferta a Deus quando estiver em inimizade contra o seu irmão, pois Ele jamais a receberá.

Nosso Mestre divino deixa óbvio que Deus não se interessa por um culto de nossa parte quando as atitudes do coração não são puras para com o nosso semelhante, pois quem odeia seu irmão é assassino (1Jo 3.15). Um cristão verdadeiro não tem sua língua para bendizer a Deus e amaldiçoar o seu irmão (Tg 3.9,10). Aquele que ama a Deus de verdade nunca vive em inimizade com o seu irmão, pois está consciente, segundo o apóstolo João falou, de que aquele que não ama o seu irmão que vê, jamais poderá amar a Deus, a quem não vê (1Jo 4.20).

Para os judeus, o ato de ir uma vez por ano levando oferta para sacrificar no altar do Templo em Jerusalém era o bastante.

Acreditavam que, dessa maneira, estariam cumprindo cabalmente a Lei. Porém, Jesus diz que para estar na presença de Deus e adorá-lo verdadeiramente é preciso muito mais do que dádivas naturais. É preciso estar com o coração totalmente puro, sem qualquer relacionamento pessoal rompido, e, caso isso tenha acontecido, que busque logo a reconciliação.

O escritor da carta aos Hebreus nos lembra de que nossa comunhão tem que ser tanto vertical, com Deus, como também horizontal, com o próximo, somente assim é que podemos ver ao Senhor (Hb 12.14). Deus não está interessado apenas no rito e cerimoniais culticos, isso porque muitos podem fazer isso por aparência, enquanto o coração está cheio de pecado, o que será pura hipocrisia. Perdoar aos outros e viver em comunhão é o que Ele deseja de cada um de nós, pois não haverá perdão divino para nossas ofensas se primeiro não aprendermos a perdoar o próximo (Mt 6.15).

Aquela prática que ainda acontece em algumas igrejas nos cultos de Santa Ceia, de sanar desavenças entre os membros, era uma prática presente na Igreja Primitiva. Que possamos continuar procedendo assim para que nossas ofertas e cultos sejam aceitos pelo Senhor. (Gomes. Osiel, Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. EditoraCPAD.1ªedição:2022. p. 54-55).

2- Evitando a desavença.

Porque, até que isto seja feito, estaremos expostos a muitos perigos (w. 25,26). É arriscado não procurarmos um acordo, e rapidamente, sob dois aspectos:

(1) Um aspecto temporal Se a ofensa que causamos ao nosso irmão, ao seu corpo, aos seus bens ou à sua reputação, for tal que exija alguma ação na qual ele possa recuperar danos consideráveis, é sábio de nossa parte, e é a nossa obrigação p ara com a nossa família, evitar isto por meio de uma submissão humilde e uma satisfação justa e pacífica, para que, de outra maneira, ele não recupere os danos p ela lei e não nos coloque numa prisão.

Em um caso como este, é melhor entrar em acordo, nas melhores condições que pudermos, do que suportarmos alguma punição; pois é inútil disputar com a lei, e existe o perigo de sermos esmagados por ela. Muitos arruínam as suas propriedades e os seus bens persistindo obstinadamente nas ofensas que fizeram, que poderiam ter sido resolvidas de modo pacífico, se cedessem em algo, rapidamente, no início do problema. O conselho de Salomão no caso de responsabilidade é: “Vai, humilha-te… e livra-te” (Pv 6.1-5). E bom chegar a um acordo, pois a pena da lei é cara. Embora devamos se r misericordiosos com aqueles sobre os quais estamos em vantagem, ainda assim devemos se r justos com aqueles que têm vantagens sobre nós, desde que sejamos capazes. “Concilia-te depressa com o teu adversário”, em outras palavras, para que ele não se exaspere com a sua teimosia, e não se sinta provocado a insistir com as máximas exigências, e não deixe de fazer o abatimento que a princípio teria feito. Uma prisão é um lugar incômodo para aqueles que são levados a ela pelo seu próprio orgulho e desperdício de oportunidade, pela sua própria teimosia e tolice.

(2) Um aspecto espiritual. “Vai reconciliar-te… com o teu irmão”, seja justo com ele, seja amistoso com ele, porque enquanto continuar a disputa, assim como você estará incapacitado para trazer a sua oferta ao altar, incapacitado para participar da mesa do Senhor, também estará incapacitado para morrer. S e você persistir neste pecado, existe o perigo de você ser repentinamente levado pela ira de Deus, de cujo julgamento você não poderá escapar nem se isentar. E se você for o responsável por esta iniquidade, você estará perdido para sempre. O inferno é uma prisão para todos aqueles que vivem e morrem na maldade e na falta de amor, pois todos são contenciosos (Rm 2.8), e desta prisão não há resgate, não há redenção, não há fuga, por toda a eternidade.

Isto se aplica à grande questão da nossa reconciliação com Deus, por meio de Cristo: “Concilia-te depressa com [ele]… enquanto estás no caminho”. Observe que:

[1] O grande Deus é um adversário para todos os pecadores, antidikos – um adversário legal; Ele tem uma controvérsia com eles, uma ação contra eles.

[2] É nosso interesse e star de acordo com Ele, nos familiarizar com Ele, para podermos estar em paz (Jó 22.21; 2 Co 5.20).

[3] E prudente fazermos isto rapidamente, enquanto estamos no caminho. Enquanto estamos vivos, estamos no caminho; depois da morte, será tarde demais para fazê-lo; portanto, não dê descanso aos seus olhos antes que isto seja feito.

[4] Aqueles que continuam em uma situação de inimizade com Deus estão continuamente expostos à prisão da sua justiça, e aos exemplos mais temíveis da sua ira. Cristo é o Juiz, a quem os pecadores impenitentes serão entregues. Pois todo o julgamento foi confiado ao Filho. Aqueles que o rejeitarem como Salvador jamais poderão escapar dele como Juiz (Ap 6.16,17). É atemorizante se r entregue, desta forma, ao Senhor Jesus, quando o Cordeiro se tornará o Leão. O s anjos são os encarregados a quem Cristo os entregará (cap. 13.41,42); os demônios também são um tipo de encarregados, tendo o poder de serem os algozes da morte de todos os incrédulos (Hb 2.14). O inferno é a prisão em que serão lançados todos aqueles que continuarem em um estado de inimizade contra Deus (2 Pe 2.4).

[5] Os pecadores condenados continuarão ali por toda a eternidade; eles não poderão partir porque jamais poderão pagar a dívida por seus pecados. Mesmo passando a eternidade em tormentos, jamais conseguirão pagá-la totalmente. A justiça divina só pode ser satisfeita através do sacrifício feito pelo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. (HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 53-54).

Antes de ofertar, o seguidor de Cristo deve reparar qualquer tipo de desavenças.

CONCLUSÃO

Como servos de Cristo que vivem os as verdades do Evangelho, não deixemos que pensamentos, palavras e ações firam o nosso próximo, nem deixemos que as desavenças se tornem disputas entre nós. Em caso de desavenças e desentendimentos, à luz das Escrituras, deve-se reconciliar-se imediatamente, seguir em paz com todos (Hb 12.14), pois é isso que o nosso Deus desejou quando escreveu: “Não matarás!”

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