Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
A lição desta semana tem como proposta apresentar o conjunto de doutrinas entregue à Igreja do Senhor por intermédio dos escritores das epístolas do Novo Testamento. O conteúdo dessas epístolas tem como função instruir e formar os crentes no que diz respeito à fé cristã, bem como prepará-los para o encontro com o Senhor por ocasião do arrebatamento da Igreja.
Introdução
O termo grego epistole, traduzido para o português como “epístola”, indica uma comunicação escrita, uma carta ou missiva de natureza formal. As Epístolas da Bíblia apresentam instruções vitais para a compreensão da doutrina cristã, bem como para a formação dos cristãos. Elas correspondem 21 dos 27 livros do Novo Testamento. As treze escritas por Paulo são denominadas de “paulinas”. As oito epístolas restantes são de outros autores e designadas de “gerais”.
Esses livros são divinamente inspirados e representam quase 80% do cânon do Novo Testamento. Apenas os quatro Evangelhos, Atos e Apocalipse não são considerados Epístolas. O conjunto de doutrina dessas Epístolas, revelado aos seus diversos autores, continua a instruir o povo de Deus, a formar o caráter do crente salvo em Jesus e a preparar a Igreja para a vinda do Senhor. Neste capítulo, agrupamos as Epístolas por temas e autoria, e destacamos alguns de seus aspectos doutrinários. (Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021).
COMO AS EPÍSTOLAS PAULINAS NOS INSTRUEM
Instruções salvíficas
As menções que Paulo faz a Jesus como “Cristo” (christos) também servem para lembrar seus leitores da humanidade de Jesus, em especial, seu papel como o Messias judaico. Quando Paulo enumera para os romanos alguns privilégios característicos de Israel como povo de Deus, ele conclui com a observação de que “dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne” (Rm 9.5; cf. Ef 2.12). Em uma passagem anterior da epístola (Rm 1.3), Paulo também faz essa afirmação quando conecta sua proclamação do evangelho ao cumprimento de promessas referentes à Cristo, feitas pelos profetas do Antigo Testamento.
Ele menciona Jesus como aquEle “que nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (1.3). O cumprimento das afirmações proféticas sobre Cristo é importante para Paulo, pois ele encontra nelas a certeza para a salvação de Israel. Conforme ele escreve, mais adiante nessa epístola, citando Isaías 59.20: “De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades” (Rm 11.26). Paulo aguarda o dia em que Israel receberá Jesus como Cristo.
Embora Paulo considerasse importante que os gentios cristãos entendessem a dívida que eles tinham para com Israel, o povo de quem Cristo veio (cf. Rm 11.18), a humanidade de Cristo também serve como um exemplo para a vida e a prática cristãs. Ao se preocupar com a tendência dos coríntios concernente ao comportamento egocêntrico deles, Paulo enfatiza a vida de sacrifício de Cristo, culminando com sua morte na cruz. O “Cristo crucificado” (1 Co 1.23) sintetiza a mensagem de Paulo: “Nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (2.2). De forma similar, ele lembra os romanos que “nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos […] Porque também Cristo não agradou a si mesmo” (Rm 15.1,3a).
O cumprimento profético ligado à vida de Cristo e o sacrifício de si mesmo como exemplo para a vida estão unidos no chamado de Paulo à unidade na igreja: “Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu” (15.7a). Judeus e gentios vivenciam os benefícios do ministério de Cristo.
“Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais; e para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia” (w. 8,9a), verdade demonstrada pelos textos do Antigo Testamento citados na seqüência da epístola. (15.9b-12; cf. G1 3.28; Ef 2.11-22).
Embora Paulo conecte esses temas do serviço e do cumprimento a suas referências a Cristo, ele também usa o título como um nome prático, a fim de que ele, com frequência, seja permutável ou combinado livremente com as outras designações discutidas antes. Todavia, uma designação remanescente permanece à parte. Essa designação, embora limitada em sua aplicação e frequência, é relevante para a compreensão da cristologia de Paulo. Essa designação é a alusão a Cristo como o “último Adão” (1 Co 15.45). Roy B. Zuck. Teologia do Novo Testamento. Editora CPAD. 1ª edição: 2008 p. 282-283.
Instruções a respeito de Cristo
A epistola aos Efésios apresenta a autoridade de Jesus. O Roy B. Zuck apresenta “Os eventos descritos em Efésios 1.20-22 deixam evidente que Paulo ressalta a autoridade atual de Jesus. Ele menciona a ressurreição de Jesus, o fato de Ele estar sentado à destra de Deus (SI 110.1), e escreve que Jesus é o Cabeça da igreja. Esses três eventos já ocorreram, é natural, portanto, esperar que Paulo também queira dizer que a submissão de todas as coisas deve ser entendida como algo que Deus já realizou por intermédio de Cristo (Ef 1.22).
Se Paulo quisesse dizer que essa submissão se refere a algo futuro, teria mencionando-as por último e mudaria o tempo verbal aoristo (passado), que usa em toda a lista, pelo tempo futuro. O ponto de Paulo é que o que Deus começou e pôs em andamento por intermédio de Jesus Cristo, Ele também fará acontecer. Paulo expressa essa ideia de “triunfo-submissão” como algo que já ocorreu (e também em Cl 2.14,15), além de aguardar sua realização na íntegra no futuro (1 Co 15.24-28). Na doutrina de Paulo, esse elemento “já” em relação ao governo de Jesus não é a mesma doutrina do “reino mais que concretizado” que ele condena na epístola aos Coríntios (1 Co 4.8).
Essa última doutrina é fruto do conceito errôneo dos coríntios de que o Reino não é um governo em andamento, mas um governo totalmente realizado que não precisa nem mesmo da esperança da ressurreição, conforme a admoestação de 1 Coríntios 15 deixa claro. Paulo ensina que Cristo já está triunfante e também fala de uma futura realização mais extraordinária desse governo. No entanto, a batalha contra o pecado ainda precisa ser travada nesta vida (Ef 6.10-18), embora os crentes se entreguem a ela sabendo que o poder daquEle que está ao lado deles é maior do que o das forças que se opõem a eles e que Ele já triunfou sobre elas.
Por isso, em Efésios 1.19-23, Paulo sustenta que como resultado da exaltação de Cristo, todas as coisas estão submissas a Ele, e Ele é o Cabeça da igreja. O governo de Jesus na igreja é, principalmente, a expressão de sua autoridade no presente século. Nesse contexto, fica claro que o termo Cabeça não se refere à origem de Cristo, mas a sua posição preeminente na igreja. Liderança retrata autoridade, mas não o mero poder; antes, o termo enfatiza serviço, uma vez que Jesus se derrama sobre sua igreja. Paulo retorna ao tema da exaltação no capítulo 4.7-10, onde ele mostra que os dons da igreja refletem a vitória alcançada por Cristo na exaltação, perspectiva semelhante à de Atos 2.30-36. Assim, a exaltação faz com que Cristo se derrame sobre a igreja (1.23) e também conceda dons a ela (4.7-10). O Único com autoridade continua a servir entregando a si mesmo da mesma forma como entregou sua vida por nós (Mc 10.42-45).
O poder de Deus já exercido para a salvação e transformação. A maioria das pessoas interrompe a oração em Efésios 1.23, mas isso não é sábio, já que Efésios capítulo 2.1 se inicia com “e” (kaí), estendendo, assim, o modelo da oração. No capítulo 2.1-10, Paulo fornece uma segunda descrição do exercício de poder de Cristo para os crentes e para a formação deles como comunidade (observe o prefixo syn em nos versículos 5 e 6). Todo crente já vivenciou o exercício decisivo e definidor do poder de Deus.
A salvação é o livramento da vida guiada por Satanás, pelo mundo e pela carne. Deus estende grande poder vivificador quando ressuscita a pessoa da morte resultante do pecado e a assenta junto a Cristo (2.4-7). Embora a linguagem seja muita abstrata, o ponto é que o crente é graciosamente ressuscitado (isto é, nasce de novo) e, agora, tem uma posição permanentemente ligada a Cristo. Deus concede novidade de vida e cidadania celestial para quem crê. O crente não está mais associado às forças terrenas nem preso a elas. Na batalha cósmica entre Deus e as forças que se opõem a Ele, o crente mudou de lado e agora tem acesso ao Rei.
Essa é uma forma mais elaborada de expressar o que Paulo diz sobre o livramento, em Colossenses 1.12-14, e cidadania, em Filipenses 3.20,21. Na verdade, o que é verdade para cada crente individual é verdade para todos eles como comunidade. Eles compartilham juntos seus benefícios (2.5,6). O que Deus faz por um, faz por todos. Esse é o fundamento da unidade deles em Cristo (4.1-6).
Filipenses
O ponto de referência para a vida e a morte. Em uma das declarações mais definidoras de todas suas epístolas, Paulo deixa claro o motivo de poder descansar no cuidado de Deus enquanto está na prisão. A afirmação do apóstolo de que “viver é Cristo, e o morrer é ganho” (1.21) fortalece sua declaração anterior de que deseja que Cristo seja engrandecido em seu corpo, quer pela vida quer pela morte (1.20). A identidade e motivação pessoais de Paulo são definidas por Jesus e pela comunhão que tem com Ele. Viver representa servir a Cristo, enquanto morrer é estar com Ele.
Hawthorne afirmou muito bem a força do versículo 21. “A vida é sintetizada em Cristo. A vida é totalmente preenchida e ocupada por Ele, no sentido de que tudo que Paulo faz — confiar, amar, esperar, obedecer, pregar, seguir… e assim por diante — é inspirado por Cristo e é feito por Ele. Cristo, e apenas Cristo, dá inspiração, orientação, sentido e propósito à existência”.13 Paulo expressa reiteradamente esse desejo de glorificar a Cristo e deixá-lo definir a vida (1 Co 11.31; G12.20; Cl 3.17). A esperança de Paulo para o futuro, centrada como é em Jesus, guarda-o de dar muita importância a suas circunstâncias atuais. Essa esperança capacita-o a repensar suas circunstâncias não pela supressão de suas emoções, evidenciadas ao longo dessa epístola, mas ao relacioná-las, em sua vida, à soberania de Deus e à centralidade de Jesus.
Colossenses
Quando Paulo considera essa atividade redentora na esfera pessoal, em vez da cósmica, observa que os pecadores, inimigos de Deus que vivem afastados dEle, são reconciliados com Ele por meio da morte de Jesus para que os que persistem na fé possam ser separados como especiais diante de Deus (1.21-23).
Jesus, além de ser o Mediador, também é quem os capacita. Quando a pessoa está nEle, ela tem o fundamento necessário para vivenciar a plenitude da bênção de Deus.
Unido com seu corpo, a igreja. A igreja é tão identificada com Cristo e unida a Ele que é chamada de seu “corpo”. Na verdade, Jesus procurou beneficiar essa nova comunidade com sua própria morte. Para Paulo, sofrer em favor dessa igreja representa cumprir as “aflições de Cristo” (1.24), pois quando a igreja sofre (como corpo de Cristo), Cristo sofre (cf. At 9.1-6). Essa identificação corporativa também pode ser expressa pelo fato de Cristo habitar na comunidade, o grande mistério de Deus (Cl 1.29). Os membros dessa nova comunidade não vivem mais para si mesmos, mas vivem para Ele e representam a Ele (3.1-17).
A fonte e o centro do crescimento. Estar em Cristo quer dizer que a pessoa pode buscar a maturidade que vem dEle (1.28). Quando os crentes fazem isso, a igreja vivência amor e união extraordinários. Essas verdades a respeito de Cristo representam que a fé pode ser organizada (2.2-4). Todavia, quando alguém afasta o foco de Cristo, surgem problemas (2.8). Por isso, Paulo chama os cristãos para que caminhem “segundo Cristo” (2.8).
Ele é aquEle que eles receberam como Senhor e devem continuar a caminhar com Ele como Senhor, já que Ele é a fonte da capacitação, sabedoria e conhecimento deles (2.2-6). E por isso também que os crentes são descritos como “circuncisão de Cristo”, pois foram separados por Ele (2.11). Ao longo da passagem 2.9-15, Paulo afirma várias vezes que os que estão em Cristo e com Cristo crescem, e também diz que o crescimento acontece por intermédio dEle. Cristo é vida, enquanto o que os outros ensinam práticas não passam de sombras (2.17).
Morrer e ressuscitar com Cristo. A existência do crente está tão identificada com Jesus, que Paulo escreve sobre morrer com Cristo “quanto aos rudimentos do mundo” e ressuscitar com Ele (2.20—3.11). Essa linguagem repete a imagem de 2.9-15. Ela reflete a mudança de identidade e submissão para que os padrões, métodos e forças criadas do mundo não mais definam a vida. Em vez disso, Deus, que os libertou em Cristo, guia e define a vida. Assim, aquele que tem a mente voltada para o céu não deve fugir nem retrair-se, mas refletir as características divinas da nova vida que Deus disponibilizou para os crentes (3.1-17).
O novo homem. Jesus formou nova humanidade, ou o “novo homem”, na qual pessoas de várias nações habitam e são renovadas segundo a imagem de Deus (3.10,11). O novo homem é o Messias incorporado. O contraste novo homem/velho homem descreve a vida da pessoa em termos de dois períodos em dois mundos distintos. Primeiro, há o “velho homem”, ou seja, a antiga comunidade em que o crente morava antes da vinda de Cristo e a qual, no momento da conversão, foi retirada como se fosse roupa velha (3.9). Os crentes, ao deixar o velho mundo para trás, são exortados a deixar as antigas práticas para trás.
Segundo, há vida quando se vive em Cristo, a vida da nova comunidade na qual as antigas distinções sociais e raciais foram eliminadas e transformadas em unidade e na qual acontece a transformação à imagem de Deus (3.10,11).
Resumo. Assim, Cristo é o Mediador e a Fonte da vida, aquEle que capacita os cristãos. Responder a essa realidade quer dizer que a paz de Deus pode reinar no coração (3.15), a Palavra de Cristo pode habitar abundantemente na vida (3.16), e tudo que é feito ocorre com o reconhecimento de que a pessoa é dEle (3.17). A autoridade dEle governa os relacionamentos do crente; todas eles; em casa com o cônjuge, com os filhos ou pais, como escravos ou como senhores (3.18,20,24).
Compartilhar os graciosos benefícios do governo do Senhor, representa honrar o governo dEle com a vida que adotamos. A cristologia é o cerne teológico de Colossenses que leva à formação de uma nova comunidade, cujo compromisso de amor, de conhecimento, de sabedoria e de união deve permitir que os seguidores de Cristo ajam contra a falsa doutrina (2.4). Mas exatamente de qual problema Paulo tratou por meio dessa cristologia?” (Roy B. Zuck. Teologia do Novo Testamento. Editora CPAD. p. 344-345; 356-357; 335-336).
Instruções sobre as últimas coisas
Essas orientações enfatizam os aspectos da segunda vinda de Jesus. Em 1 Tessalonicenses, Paulo ensina que, no retorno de Cristo, “os que ficarmos vivos, seremos arrebatados” (1 Ts 4.17). Quanto à vinda de Cristo, nossa Declaração de Fé professa que é um evento a ser realizado em duas fases:
A primeira é o arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação (1Ts 1.10; 4.17; 5.9);
A segunda fase é a sua vinda em glória depois da Grande Tribulação e visível aos olhos humanos (Ap 1.7).
Nessa vinda gloriosa, Jesus retornará com os santos arrebatados da terra: “na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos” (1 Ts 3.13).
O arrebatamento é um termo que designa o rapto da Igreja da face da terra para o encontro com o Senhor nos ares. Nesse evento, os mortos em Cristo e os santos do Antigo Testamento ressuscitarão primeiro (1 Ts 4.16), seguindo-se a transformação dos salvos vivos e o simultâneo encontro de ambos os grupos com o Senhor nos ares (1 Ts 4.17). Acontecerá em fração de segundos, e nosso corpo será transformado num corpo glorioso, que estará revestido de incorruptibilidade e imortalidade (Fp 3.21; 1 Co 15.51,53). Será um evento repentino e secreto (Mt 24.36,44,50; 25.13). A condição para fazer parte desse glorioso evento é estar em Cristo.
Enquanto aguarda o arrebatamento, o crente deve conservar irrepreensível o espírito, a alma e o corpo (1 Ts 5.23). Em 2 Tessalonicenses, Paulo corrige o falso ensino de que Cristo já tinha vindo (2 Ts 2.1,2). Esclarece que somente após o arrebatamento da Igreja é que o “Dia do SENHOR” terá início com a manifestação do Anticristo (2 Ts 2.3,8).
A expressão “Dia do SENHOR” também é designação para a Grande Tribulação (Is 13.6-9; 1 Ts 5.2,3), ocasião em que a ira de Deus será derramada sobre os moradores da terra.8 Após a Grande Tribulação se dará a segunda fase da Segunda Vinda de Cristo, que será visível e corporal com a sua Igreja glorificada (Lc 21.27). Enquanto o salvo aguarda, deve orar para que o evangelho tenha livre curso, e vigiar para não viver desordenadamente (2 Ts 3.1,11,12). Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
Instruções pastorais e pessoais
Os motivos e propósitos das instruções pastorais Russel em sua enciclopédia diz que “Há três impulsos primários que podem ser observados nas epístolas pastorais”, a saber:
a. a necessidade de combater as heresias;
b. a necessidade de encorajar a nomeação de homens espiritual e moralmente qualificados para o ministério, o que exigiu várias instruções sobre as qualificações desses homens;
c. a necessidade de instrução no caminho da piedade, que envolve a vida prática e moral. Nesse ponto, as epístolas pastorais ocupam terreno comum com todas as demais epistolas paulinas. (CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 2. p. 418).
As epístolas paulinas nos instruem a respeito de Cristo, sobre as últimas coisas e trazem instruções pastorais e pessoais.
COMO AS EPÍSTOLAS GERAIS NOS FORMAM
As Epístolas de Pedro
A 1ª Epístola de Pedro foi escrita aos irmãos dispersos no “Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1 Pe 1.1). Refere-se aos judeus convertidos a Cristo, mas principalmente aos gentios cristãos que habitavam em uma dessas cinco províncias romanas. Eles eram minoria em uma sociedade pagã, idólatra, injusta, pervertida e imoral. Estavam sofrendo pressões e perseguições por causa da sua fé em Cristo e de seu modo de viver e agir contrário a cultura predominante. Nesse contexto, ressalta-se que em 1 Pedro a abordagem enfatiza o sofrimento cristão (1 Pe 1.6).
O apóstolo ensina que as provações fortalecem a fé. Afirma que a fé é testada no fogo das adversidades (1 Pe 1.7). Exorta os cristãos a não ceder às concupiscências, mas manter uma vida de santidade (1 Pe 1.15). Orienta os crentes a suportar os agravos para a glória de Deus (1 Pe 2.19) e alegrar-se por serem participantes das aflições de Cristo (1 Pe 4.13). Assegura que o próprio Deus é quem aperfeiçoa, confirma, fortifica e estabelece o crente fiel (1 Pe 5.10). Essas verdades devem nos dar a confiança, paciência e esperança para perseverar, mesmo quando formos perseguidos.
Se o foco da primeira carta foi preparar a igreja para enfrentar o sofrimento que se espalhava, o propósito desta epístola é alertar a igreja acerca dos falsos profetas. Assim como Paulo escreveu duas cartas tanto aos crentes de Tessalônica como aos crentes de Corinto, Pedro também escreveu duas epístolas para os crentes judeus e gentios da Ásia Menor. Nessa segunda carta, ele advertiu os crentes sobre os perigos dos falsos mestres que se infiltraram nas comunidades cristãs. Michael Green diz que há uma concordância geral entre os comentaristas de que a heresia em mira é uma forma primitiva de gnosticismo. (Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021).
Myer Pearlman reforça esse pensamento quando destaca que a Primeira Epístola de Pedro trata do perigo fora da igreja: as perseguições. A Segunda Carta trata do perigo dentro da igreja: a falsa doutrina. A primeira foi escrita para animar; a segunda, para advertir. Na primeira, vemos Pedro cumprindo a missão de fortalecer os irmãos (Lc 22.32); na segunda, cumprindo a missão de pastorear as ovelhas, protegendo-as dos perigos ocultos e insidiosos, para que andem nos caminhos da justiça (Jo 21.15-17). O tema da segunda carta pode ser resumido da seguinte maneira: o conhecimento completo de Cristo é uma fortaleza contra a falsa doutrina e contra a vida imoral. (LOPES. Hernandes Dias. 2 Pedro e Judas. Quando os falsos profetas atacam a Igreja. Editora Hagnos. p. 18-19).
As Epístolas de João
A 1ª Epístola de João adverte sobre o falso ensino que negava a encarnação de Jesus (1 Jo 1.1; 4.2,3) e as demais heresias gnósticas (1 Jo 5.13-21). Os hereges ensinavam que Cristo só tinha a aparência de ser humano. Essa heresia é chamada de “docetismo” (do grego dokeo, “parecer”). O gnosticismo ligava a salvação a uma experiência de revelação esotérica (do grego gnosis, “conhecimento”). João esclarece que ele próprio era testemunha da encarnação (1 Jo 1. 1-4). Explica que o salvo deve viver em comunhão com os irmãos (1 Jo 1.6,7); afastar-se da prática do pecado (1 Jo 2.1; 3.7); amar uns aos outros (1 Jo 4.11); vencer o mundo por meio da fé (1 Jo 5.4); e permanecer no que é verdadeiro: Jesus Cristo (1 Jo 5.20).
Em 2 João, o apóstolo reitera a prática do amor como mandamento divino (2 Jo 1.5,6) e novamente refuta as heresias do docetismo e gnosticismo. João assegura que todo aquele que não confessa que Cristo veio em carne é enganador e anticristo (2 Jo 1.7). Portanto, a Igreja é exortada a não se deixar enganar, nunca ir além daquilo que está escrito, mas perseverar na doutrina de Cristo (2 Jo 1.9). A Epístola orienta os cristãos a não receber pessoas com falsos ensinos em casa (2 Jo 1.10). Nesse quesito, João declara que aquele que escuta um herege tem parte nas suas más obras (2 Jo 1.11).
Em 3 João, destaca-se em posições opostas a fidelidade e a infidelidade. A Epístola condena a soberba e a rivalidade mesquinha que coloca cristãos uns contra os outros. O apóstolo aprova o comportamento de Gaio e Demétrio, cujas virtudes são: “andar na verdade”, “proceder fielmente”, “exercitar o amor” e “dar verdadeiro testemunho” (3 Jo 1.4-8,12). De outro lado, Diótrefes é reprovado por “desejar a primazia”, “desprezar os líderes”, “ser maledicente” e “causar escândalos” (3 Jo 1.9,10). Nessa missiva, somos exortados a seguir o bom exemplo dos servos que são fiéis a Deus, a sua obra e a seus líderes. (Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021)
As outras Gerais
A Epístola aos Hebreus foi provavelmente escrita aos judeus cristãos helenistas que são instados a manter firme a fé em Cristo (Hb 3.6,14; 4.14; 10.23). A ênfase da mensagem repousa na supremacia de Cristo: Ele é superior aos Pais e aos Profetas (Hb 1.1); superior aos anjos (Hb 1.4); superior a Moisés (Hb 3.3); e superior ao sacerdócio levítico (Hb 4.14). Ele é Mediador de uma melhor aliança (Hb 8.6); Ele é o Sumo Sacerdote de um maior e mais perfeito tabernáculo (Hb 9.11) e por seu próprio sangue executou uma eterna redenção (Hb 9.11,12). Desse modo, o crente é estimulado a olhar para Cristo, o “autor e consumador da fé” (Hb 12.2).
Tiago foi destinada aos judeus cristãos que tinham deixado a Palestina (Tg 1.1). O autor é meio-irmão de Jesus (Mc 6.3). Seus leitores estavam enfrentando pressão a respeito de seus valores e crenças (Tg 1.2-4). Em vista disso, entre outros conselhos, Tiago adverte que “a ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tg 1.20); esclarece que “a fé sem obras é morta” (Tg 2.26); acentua que a fé deve ser mostrada em ações (Tg 2.14); enfatiza a importância de controlar a língua (Tg 3.2), e estimula os crentes a orar e ajudar uns aos outros (Tg 5.16-20). Para tanto, o texto adverte o cristão a ser praticante da Palavra, e não somente ouvinte (Tg 1.22).
Judas foi endereçada aos cristãos judeus espalhados pelo mundo (Jd 1b). O autor é também meio-irmão de Jesus (Jd 1a). Judas exorta o salvo a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Isso por causa dos hereges infiltrados na igreja (Jd 4). Eles diziam que a liberdade em Cristo os isentava das regras morais; eram insubmissos aos líderes; e desprezavam o mundo espiritual (Jd 8). Em suma, ensinavam concupiscências e licenciosidade (Jd 18,19). Em vista disso, o crente é instruído a se firmar na fé, orar e a preservar a esperança da vida eterna (Jd 20,21). Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
As epístolas gerais advertem o crente a respeito da santificação, dos falsos ensinos; e enfatizam a supremacia de Cristo e a esperança da vida eterna.
AS EPÍSTOLAS CONTINUAM A FALAR
A doutrina da justificação
Justificação é um termo (gr. díkaiosis) que se refere ao julgamento judicial. Não significa tornar reto ou santo, mas anunciar um veredicto favorável, declarar ser justo. Este significado é patente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento (heb. tronco hiphil de sadaq, “declarar justo”; gr, dikaioo, “vindicar, inocentar, pronunciar e tratar como justo”). O ato de “justificar” é contrastado com o ato de “condenar” (cf. Dt 25.1; 1 Rs 8.32; Pv 17,15; Rm 8.33); e assim como condenar é o meio de tornar alguém ímpio, justificar é o meio de tornar alguém justo, E esta força declarativa do termo que levanta a questão; como Deus pode justificar o ímpio? Na justificação que Deus faz dos pecadores, há um único ingrediente que não aparece em nenhum outro caso de justificação.
Esta característica única é que Deus faz com que a nova relação declarada por Ele se torne realidade. Esta operação é expressamente declarada nas Escrituras, e é o ato pelo qual muitos são constituídos como justos (Rm 5.19), a concessão do dom gratuito da justiça (Rm 5.17), tornando-nos a justiça de Deus em Cristo (2 Co 5.21). E por esta ação que a sentença de condenação sob a qual repousamos como pecadores é mudada para uma ação de justificação; não há, “portanto, nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Este ato constitutivo é corretamente mencionado como a imputação da justiça de Cristo a nós.
Assim, fica patente que a sentença de condenação não tem nenhuma afinidade com o que é interiormente operado em nós, seja pela regeneração ou pela santificação, A imputação é o crédito, em nossa conta, de uma justiça que nâo é a nossa própria, mas que é, na realidade, baseada na obediência de Cristo (Fp 3.9; Rm 5.17,19). Ela é, portanto, distinta do perdão dos pecados, embora o perdão esteja necessariamente incluído nela (At 13.38-39).
Como a natureza da justificação é, desse modo, mostrada como declarativa, constitutiva e imputativa, assim a base reside em nada mais além do que a obra realizada por Cristo, a fonte da graça gratuita de Deus. Somos justificados gratuitamente pela graça de Deus “pela redenção que está em Cristo Jesus” (Rm 3.24). Esta verdade passa à expressão focal na designação “a justiça de Deus” (Rm 1.17; 3.21,22; 10.3; 2 Co 5.21; Pp 3.9), A obra de Cristo foi a obediência (Rm 5.19; Fp 2.8; Hb 5.8,9). Deste modo, ela foi a justiça (Mt 3.15; Rm 5.17,18,21). Foi operada por Ele como o Deus-homem e é, portanto, uma justiça com uma propriedade divina, uma justiça de Deus contrastada não só com a injustiça humana, mas com toda a justiça- humana. Somente esta justiça atende o desespero da nossa situação pecadora e fica à altura de todas as exigências da santidade de Deus. Eia não só garante a justificação de Deus, mas ao ser imputada em nossa conta, exige a nossa justificação. A graça reina “pela justiça para a vida eterna” (Rm 5.21),
Como a justificação é concedida pela graça, ela é recebida pela fé (Rm 1.17; 5.1). A fé é coerente com todas as outras características.
Isto é verdade não apenas pelo fato de a fé ser um dom de Deus, mas porque o caráter distinto da fé consiste em receber a Cristo e permanecer nele para a salvação. E a qualidade generosa e autoconfiante da fé que a torna o instrumento adequado de tudo o mais que envolve a justificação. É pela fé que somos justificados e somente pela fé, embora nunca por uma fé que esteja sozinha, A justificação é a questão religiosa básica.
Não vem agora a simples pergunta: Como o homem pode ser justo para com Deus? E ainda a pergunta mais forte: Como o homem, na condição de pecador, pode tornar-se justo para com Deus? A resposta é; Através da justificação pela graça, por meio da fé. (PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. p. 1123)
A doutrina da santificação
Etimologicamente (do hebraico kadosh e do grego hagios), o significado da palavra “Santo” é respectivamente “puro” e “separado para Deus”. Nesse sentido, a doutrina da santificação implica uma vida separada do pecado e dedicada a Deus (Rm 12.1,2). É um processo mediante o qual Deus purifica os que a Ele se achegam e passam a ser orientados pelo Espírito Santo (1 Jo 3.3). A Bíblia Sagrada ensina enfaticamente que Deus é “Santo”: Ele é o “Santo de Israel” (Is 1.4); “Deus, o Santo” (Is 5.16); o seu nome é “Santo” (Is 40.25; 57.15), dentre outros textos. Portanto, o Deus “Santo” requer que sua criação ande em santidade (1 Pe 1.15,16), isto é, o atributo comunicável de Deus da santidade é concedido a todos os que verdadeiramente são regenerados.
Nossa Declaração de Fé ensina que “já salvo e justificado, o novo crente entra de imediato no processo de santificação, pois assim o requer a sua nova natureza em Cristo (Rm 6.22; 1 Ts 4.3)”. Porém, essa transformação vai sendo aperfeiçoada durante a jornada do cristão (2 Co 3.18; Fp 1.6). Nesse aspecto, a santificação “é uma continuação do que foi começado na regeneração, quando então uma novidade de vida foi conferida ao crente e instilada dentro dele”. Desse modo, o salvo precisa ser santificado pelo Espírito Santo (1 Pe 1.2). O fruto do Espírito nos é concedido para andarmos no mundo conservando a nossa santidade (Gl 5.16-17, 22). Portanto, o crente deve purificar-se tanto da carne como do espírito (2 Co 7.1), pois sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
A doutrina da glorificação
A palavra glorificação é usada nos seguintes casos:
Tomar glorioso ou honroso, louvar, exaltar. João 12:28; 13:31; 32; Atos 2:13. No caso de Jesus Cristo, isso teve lugar, especialmente, por ocasião de sua ressurreição e ascendo.
Conduz; “os crentes ao estado celestial da glória, onde compartilharia do estado glorioso de Jesus Cristo, participando de sua imagem e natureza, isto,” da pr6pria natureza divina (Rm 8:29: Cl 2: 10; 2Pe. 1:4). Isso significa que receberemos a própria plenitude de Deus (Ef 3:19).
Exibir o louvor (1Co 6:20). Os céus declaram a glória de Deus, no dizer de Salmos 19:1. Os homens glorificam a Deus em suas vidas, quando obedecem aos seus preceitos e buscamos desenvolvimento espiritual (1Co 10:31; Joio 17:5; Hb 6:1ss).
Este artigo destaca mais o segundo ponto, acima, ou seja, o aspecto escatológico do assunto, a glorificação do crente.
Característica Geral
As doutrinas bíblicas que envolvem a salvação do homem assemelham-se aos elos de uma corrente. Temos assim a eleição, a chamada, o arrependimento, a fé (estas últimas delas” coisas formam a conversão), a regeneração, a justificação, a união com Cristo, a santificação, a preservação (cujo lado humano é a ‘perseverança) e a glorificação.
Como vemos, a glorificação, é o último elo, dessa cadeia. Porém, cada um desses elos aponta para algum estágio e ou qualidade do processo da salvação. A glorificação espera-nos ainda no futuro, pois é o aspecto celeste da salvação do homem, aquilo que o Senhor realizará, emú1timo lugar, em favor das almas humanas remidas. Porém, caímos em erro quando pensamos na glorificação como um ato único, isolado, antes, trata-se de um processo eterno.
A verdade é que Paulo não estabelece claras distinções entre as doutrinas de justificação, santificação e aspectos da glorificação. Em Romanos 8:30, santificação é omitida e Paulo pula da justificação para a glorificação, – como se esta fosse o próximo passo no progresso da experiência crista. Porém, a verdade é que a justificação subentende a santificação, sendo mesmo a sua semente e raiz.
Podemos observar, em Romanos 5:18, a expressão justificação que dá vida, o que indica que a justificação é a base e a fonte da vida, e essa vida é a “vida eterna”: e a vida eterna a glorificação, já que, nas Escrituras, “vida eterna, não significa meramente existência sem princípio ou sem fim, mas antes, uma modalidade de vida”, Quando as Escrituras falam da “vida eterna”, pois, indicam a vida de Deus, da qual os crentes se tornaram participantes mediante a regeneração efetuada pelo Espírito Santo. A justificação, portanto, é a fonte, contendo em forma de semente esse tipo de vida, aqui chamado de glorificação. (CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 3. p. 915).
A mensagem das epístolas permanece atual: ressalta a justificação, santificação e glorificação do crente.
CONCLUSÃO
As epístolas no período do Novo Testamento assumiram papel vital na disseminação dos ensinos apostólicos. Foi por meio delas que a Palavra de Deus com a mensagem de salvação alcançou vários povos. Além disso, os ensinos contidos nelas são usados para a formação do caráter cristão.
Até a próxima lição!