Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
INTRODUÇÂO
“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12)
A Bíblia Sagrada é um livro de origem divina. Seu autor é o único Deus vivo e verdadeiro (Jo 17.3). Por isso, a sua mensagem transforma o nosso entendimento, e nos faz compreender “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). As Escrituras ensinam que o Altíssimo não tolera a soberba humana que rejeita a revelação divina. Os israelitas que se rebelaram contra ela sucumbiram no deserto. A Palavra de Deus examina os segredos humanos e desfaz todos os conselhos mundanos. Os humildes que se sujeitam a Deus e a sua Palavra são transformados e agraciados com a plenitude das bênçãos divinas. Neste capítulo, veremos que a Bíblia é viva e eficaz, transpassa o interior do ser humano; tal qual uma espada, anula os conselhos do mundo e nos capacita a viver em humildade diante de Deus. (Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021).
A BÍBLIA É A PALAVRA VIVA DE DEUS
A Palavra de Deus é viva e eficaz
“…viva…” O Senhor Jesus afirmou que as palavras que proferia são espírito e são vida, segundo se lê em João 6:63, A palavra nos transmite vida por ser usada pelo Espírito, o qual é o doador da vida. Estando vivas, as declarações divinas transmitem vida, contanto que sejam aceitas. A palavra de Deus é impulsionada pelo Espírito Santo; não se trata de nenhuma letra morta. Consideremos os pontos seguintes:
1. Trata-se da declaração de uma deidade viva, cujo fito é transmitir sua própria vida aos homens, por meio de Cristo, o Deus homem (João 5:25,26 e 6:57).
2. Essa palavra é impelida pela energia divina, o Espírito Santo; portanto, é algo vital e poderoso, realizando aquilo que lhe compete; não é algo morto, ocioso e improdutivo. A Palavra de Deus dá vida ou condena, dependendo da obediência e da fé.
“…eficaz…” No grego é usado o termo “energes”, que significa “ativo”, “eficaz”, “poderoso”. Cumpre seus propósitos; não se pode resistir à Palavra divina. Conforme diz Cotton. “A Palavra de Deus é forte, com a força de Deus. Quando ele fala, coisas começam a acontecer. O propósito inteiro do intérprete deveria ser permitir que a Palavra de Deus chegasse fresca e clara ao seu povo, pois o seu poder será imediata e poderosamente sentido”.
“…assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei” (Isaías 55:11). Não há como escapar, portanto, de seu escrutínio e poder. Se Deus fizer alguma promessa, devemos apegarmo-nos a ela; se ele proferir alguma advertência, devemos dar ouvidos à sua mensagem. Trata-se de uma palavra revestida de sabedoria e graça infinitas, mas muito exigente, ninguém pode ignorá-la ou dela zombar. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 5. p. 519-520).
A Palavra de Deus é espada penetrante
“…cortante…” É afiada e cortante, penetrante, aguda. Não há «dureza» que ela não possa penetrar; não há negligência que ela não possa identificar e condenar; não há desvio que ela não repreenda; não há desobediência que ela não possa descobrir; não há desobediência que ela não possa censurar eficaz e severamente; não há segredo que não possa descobrir. Esse é o tipo de ideia que o autor nos expõe à atenção. É como uma afiada espada de dois gumes, uma temível arma que corta um homem em dois de um golpe só. No primeiro século de nossa era os romanos tinham uma arma formidável: uma espada de bronze, com ambos os fios extremamente cortantes. Seu desígnio era especialmente o combate de corpo a corpo, um instrumento versátil que podia cortar com movimento para a frente ou para trás. A figura simbólica da espada é bem familiar na Bíblia. (Ver Isa. 49:2; Efé. 6:17; Apo. 1:16 e 2:16). Na referência da epístola aos Efésios, a “palavra de Deus” também é comparada a uma espada. Nessa passagem, trata-se de uma arma para ser usada pelo crente, no combate contra os inimigos da alma. Neste caso, trata-se da palavra de Deus que examina os homens, aceitando-os ou rejeitando-os, aplicando estritamente sua vontade e exigências. A Palavra de Deus desnuda as ilusões, os ludíbrios, as fraudes e os intuitos humanos.
Examina os motivos humanos; é palavra de sabedoria e justiça infinitas.
Filo chamava o Logos de cortador, com base na ideia que é capaz de cortar o caos existente no mundo, levando este a ser algo ordeiro e organizado—um cosmos organizado ao invés de caos. A Palavra de Deus faz isso na vida de todo homem. Revela o que é confuso e o que é “organizado”.
“…penetra…” Tal como uma espada, que não para ante a resistência da pele, da carne e dos ossos, assim também a Palavra de Deus revela o coração inteiro, o intuito e o caráter de um homem. Deixa claro quem é obediente e tem fé, e quem é incrédulo e desobediente. Revela quem pode entrar no descanso divino e quem deve perecer no deserto da incredulidade.
“…dividir alma e espírito …” Esta porção do versículo tem sido empregada, com razão ou sem razão, na controvérsia sobre o problema “tricotomia-dicotomia”. O homem se comporia de dois elementos (dicotomia), isto é, “corpo e espírito” (a “alma” seria sinônimo deste último), ou se comporia de três elementos (tricotomia, isto é, “corpo”, “alma” e “espírito”. Neste último caso, haveria certa distinção entre duas espécies de energia «espiritual»: a «alma», que teria consciência sobre as coisas terrenas, e o “espírito”, que teria consciência de Deus, como algo aliado à “razão”.
Porém, não há como resolver essa pendência, com base nas Escrituras, pois não há informações suficientes sobre a mesma. Os versículos que parecem estabelecer diferença entre a alma e o espírito são vistos como duvidosos pela m aio ria dos eruditos. Entretanto, através de estudos feitos no campo da parapsicologia, ficou conclusivamente demonstrado que o homem possui pelo menos três formas distintas de energia, talvez havendo até maior número de formas.
Pelo menos se sabe que há mais de um nível de energia espiritual no homem, e que um desses níveis está preso à terra, ao passo que o outro é transcendental. Esses estudos favorecem muito mais a posição da tricotomia do que a posição da dicotomia; mas é possível que o homem tenha mais de “três” níveis de energia. As notas expositivas, sobre a referência aludida, tentam relatar o que já se sabe, dentro de nosso conhecimento presente. Uma coisa é certa, porém, o homem é mais do que meramente o seu corpo.
O presente versículo, apesar de parecer estabelecer certa distinção entre alma e espírito, não pode ser dogmaticamente pressionado a serviço da posição tricotômica, porquanto as expressões usadas são poeticamente apresentadas. É verdade, porém, que se pode estabelecer certa divisão dentro das energias «espirituais» de um homem. Assim, haveria o “veículo da vitalidade”, que provavelmente seria o responsável pela maioria dos fantasmas, mas que não seria a verdadeira pessoa, por ser uma espécie de espírito elementar, e o espírito, que seria a pessoa real, inteligente. Não sabemos até que ponto o autor sagrado reconhecia essas coisas; mas podemos supor que ele usava uma linguagem meramente poética, para comentar sobre o poder extremamente penetrante da «palavra de Deus», sem referir-se a qualquer realidade metafísica que conhecesse, no tocante à personalidade humana. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 5. p. 520).
A Palavra de Deus é apta para discernir
“…apta para discernir…” O «homem interior», o “homem essencial”, a “alma”, é desnudado perante os olhos perscrutadores de Deus, mediante a instrumentalidade da Palavra. Não se trata meramente ’de um livro, de algumas declarações, de uma vibração de ondas sonoras. Aquilo que Deus diz em seu livro, através dos seus profetas, por meio de Cristo, no evangelho cristão, é ativado pelo Espírito, de modo a revelar, condenar e julgar, ou então dar promessa e abençoar, dependendo das condições espirituais do indivíduo.
Desse modo a hipocrisia se desfaz, o engano é desmascarado. Algumas vezes o indivíduo nem compreende claramente seus motivos e intenções. Ficou auto iludido; pensa que é algo, quando ainda não é nada; imagina-se espiritual, quando ainda é carnal.
A história abaixo ilustra o ponto. Certo homem foi hipnotizado; e, nesse estado, foi-lhe dito que ao despertar tomaria um vaso de flores da janela, o colocaria em um sofá e se prostraria perante o mesmo por três vezes. Era um ato totalmente irracional. Ao despertar, segundo ele mesmo contou, eis o que sucedeu:
“Ao despertar, vi o vaso de flores ali; pensei que fazia frio e que seria bom que o vaso fosse esquentado para que a plantinha não morresse. Portanto, embrulhei-o em um pano. Como o sofá estava perto da lareira, coloquei ali o vaso. E me inclinei porque fiquei satisfeito comigo mesmo, por ter tido tão brilhante ideia”. (W. Fearon Halliday, Psychology and Religious Experience, p. 75).
Isso mostra como um homem geralmente racionaliza os seus motivos, ocultando-os até mesmo de si próprio, embora esses é que façam dele o que é e o que pratica. A Palavra de Deus pode dar-nos real discernimento sobre os nossos motivos.
“…coração…” O “homem interior”, o homem essencial, a alma, algumas vezes vista como a natureza “intelectual” ou “moral” do homem. A Palavra de Deus trata do homem essencial, do espírito, tal como uma espada corta o corpo físico.
O ponto deste versículo é que é impossível alguém enganar a Deus. Sua Palavra revela-nos aquilo que somos. A “geração do deserto” não pode entrar no descanso de Deus por causa de incredulidade e desobediência.
Nem podemos nos enganar ao Senhor, se tivermos o mesmo caráter possuído por aqueles. Se finalmente entrarmos em seu descanso, será porque Deus julgou-nos dignos de tal. Se desobedecermos e formos incrédulos, sua Palavra se voltará contra nós e nos desmascarará. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 5. p. 520).
A Palavra de Deus é viva, eficaz e apta para discernir o interior do ser humano.
A BÍBLIA ANULA OS CONSELHOS DO MUNDO
As armas da nossa milícia
As palavras “…as armas… não são carnais…” Com isso Paulo quis dar a entender os métodos deste mundo, as atitudes mundanas, as “ações mundanas”, mediante o que os homens incrédulos procuram realizar seus propósitos neste mundo. Pelo contrário, Paulo não apelava para as paixões e perversões humanas, para o orgulho e a ambição humanos, conforme os homens fazem na política e no mundo dos negócios. Não se voltava Paulo para a calúnia e para o menosprezo ao próximo, conforme faziam os seus oponentes. Antes, se conduzia com humildade e bondade, conforme o próprio Senhor Jesus fizera (ver o primeiro versículo), de modo contrário à altivez de espírito e à atitude crítica de seus antagonistas.
“…sim, poderosas em Deus…” Podemos contrastar aqui “…Deus…” com “…carnais…” Aquilo que é carnal são inerentemente fracos, e, com frequência, também é corrupto. Paulo não lançava mão dos meios débeis e corrompidos do mundo, ao procurar realizar os seus propósitos. Pelo contrário, munia-se de armas “poderosas”, por estarem firmadas no “poder de Deus”, aprovadas “aos olhos de Deus”.
“…poderosas em Deus…”, isto é, conforme Deus olha para as coisas, aos olhos de Deus. A tradução inglesa RSV, aqui vertida para o português, diz simplesmente “têm poder divino”. E é possível que essa ideia deva ser incluída, apesar de não ser a tradução central. Por isso mesmo é que Faucett comenta: “…‘poderosas em Deus…’, isto é, ‘perante Deus’; o poder divino. Tal poder não é nosso, mas é o de Deus”. E Alford diz: “…segundo a estimativa de Deus, de acordo com suas regras de combate”. As armas utilizadas por Paulo eram a verdade, a fé, o amor, a bondade, a esperança, a retidão, a mensagem do evangelho a pessoa de Cristo a esperança da salvação final. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. p. 390).
A destruição das fortalezas
A Bíblia afirma que o mundo jaz no Maligno (1 Jo 5.19). O Comentário Bíblico Beacon sublinha que, nas Epístolas de João, o conceito de mundo “inclui as pessoas que são controladas pelo sistema mundial maligno” v.17 Pedro ratifica que o líder das forças do mal é o Diabo (1 Pe 5.8). O termo “diabolos” significa “acusador, caluniador”, sendo um dos nomes de Satanás. Nossa Declaração de Fé o identifica como “o inimigo de Deus e dos seres humanos, que a Bíblia chama de Satanás, opositor (Zc 3.1), Diabo (Mc 4.1), Inimigo (Mt 13.39), Belzebu, príncipe dos demônios (Mt 12.24), Tentador (Mt 4.3), Grande Dragão, a Antiga Serpente (Ap 12.9), Pai da mentira (Jo 8.44), entre outros”.
Por meio do espírito do erro, o Diabo trabalha contra o Reino de Deus (2 Ts 2.4). Wiersbe lembra que “Satanás está em guerra contra Deus desde que, como Lúcifer, rebelou-se contra Deus e tentou usurpar seu trono (Is 14.12-15). […] Satanás não apenas se opõe a Cristo, mas também deseja ser adorado e obedecido no lugar de Cristo (Is 14.14; Lc 4.5-8)”. Na busca desse objetivo, ele se opõe aos valores cristãos, dissemina o ódio, o desrespeito à vida, a corrupção e a imoralidade, dentre outros males (2Ts 2.9-11).
Contudo, o poder de Deus é capaz de destruir todas as fortalezas do Diabo (2 Co 10.4c). O Comentário Bíblico Beacon esclarece que “o poder de Deus é capaz de romper barreiras nas mentes e corações dos homens por meio de um ministério verdadeiramente evangélico. O aprisionamento torna-se, então, uma libertação radical em virtude do caráter do Rei (2 Co 2.14)”. Essa verdade sinaliza que por maior que seja a escravidão infringida por Satanás no coração de uma pessoa, o poder da verdade e a autoridade da Palavra de Deus quebra as correntes e coloca o cativo em liberdade. A conversão da alma é a subjugação de Satanás nessa alma. A Palavra de Deus anula o mal com graça e poder e liberta as almas da prisão espiritual (Jd 1.21-23). Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
“…para destruir fortalezas…”, ou seja, “para a demolição de fortins”, aquelas fortalezas da maldade, que impedem o avanço bem-sucedido da luta cristã. Esses pecados entravadores, a maldade do homem contra o homem, a desumanidade dos homens, o orgulho e a ambição humanos, os valores envilecidos, a ignorância sobre as realidades eternas, precisam ser derrubados por terra. Tudo quanto se opõe a Deus deve e pode ser destruído, tal como as tropas de um exército assaltam um fortim do inimigo’ e são capazes de destruí-lo, despindo-o de toda a sua resistência. As armas da verdade, da fé, do amor e da esperança da vida eterna da alma, podem derrotar qualquer adversário, destruir qualquer fortaleza, obter a vitória para o crente fiel e sincero.
Vários comentadores bíblicos supõem que Paulo se referiu a essa metáfora ao lembrar-se das guerras contra os cilícios, efetuadas pelos romanos; pois Paulo, tendo nascido na região da Cilicia, tinha conhecimento dessas campanhas militares. Tal guerra terminou com a destruição de cento e vinte fortins dos cilícios, quando nada menos de dez mil prisioneiros foram tomados. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. p. 390).
A palavra fortalezas “ochurõma” encontra-se apenas aqui, no Novo Testamento. É empregada em sentido literal em Provérbios 21:22 (LXX), sendo que Filo a usa de modo figurado, ao falar de uma fortaleza construída por palavras persuasivas contra a honra de Deus. Todavia, o fato importante é que a prática militar de edificar fortalezas (havia uma, enorme, no Acrocorinto) proveu a imagem empregada pelos filósofos cínicos e estóicos, e de modo particular por Sêneca, contemporâneo de Paulo, a fim de descrever a fortificação da alma mediante argumentação racional, que a tome inexpugnável sob o ataque (de sofismas) da fortuna adversa. (Colin Kruse. 2 Corintos Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. p. 185-186).
A destruição dos falsos argumentos
“…anulando sofismas…” Alguns estudiosos pensam que essas palavras fazem parte do versículo seguinte. O termo grego original é “logismos”, que significa “argumentos”, “raciocínios”, “reflexões”. Seu sentido não é “imaginações”, como se estivessem em foco ideias falazes, capazes de anular sofismas. Paulo se referia aos argumentos capciosos de seus oponentes, aos seus “sofismas”, com o que procuravam degradar ao apóstolo dos gentios e suas atividades. As armas de Deus eram boas para derrubar os antagonistas que procuravam solapar a autoridade apostólica de Paulo. E essas tentativas devem ser numeradas entre os males que o soldado cristão precisa enfrentar. Mui provavelmente Paulo incluía nisso as falácias plausíveis dos mestres falsos de Corinto, meros raciocínios humanos, destituídos de influências do Espírito de Deus, falácias essas que alguns ensinavam, ao invés de anunciarem o evangelho de Cristo (em consonância com a mensagem geral do primeiro capítulo da primeira epístola aos Coríntios).
Mediante tais falácias, aqueles mestres falsos procuravam evitar ensinar o evangelho que Paulo pregava, cujo centro é a cruz de Cristo; antes, substituíam-no pelo legalismo mosaico ou pelos sofismas da filosofia grega. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. p. 390).
A destruição de toda a altivez
“…altivez…” A maioria das cidadelas ou fortins da antiguidade era erigida em algum lugar elevado, porquanto é mais difícil o combate contra essas fortalezas elevadas do que se elas estivessem em terreno plano. Portanto, Paulo imaginou certos males como fortalezas elevadas, que desafiam a majestade do próprio Deus. No trecho de Romanos 8:39, esse mesmo vocábulo é empregado para indicar aquelas «alturas» que não nos podem separar do amor de Deus. As coisas que os homens exaltam, que são um empecilho para a caminhada cristã, de fato são coisas exaltadas contra Deus e o conhecimento de Deus.
Mas as armas espirituais da fé, da esperança, do amor, da Palavra de Deus, podem derrubar esses males altivos, de tal modo que o “conhecimento de Deus”, os seus caminhos, a esperança em Cristo, a sua salvação, a sua majestade, possam ter livre curso entre os homens. Essas virtudes divinas sempre tendem para a salvação e o bem dos homens, e jamais operam em detrimento deles. Os opositores de Paulo, os falsos apóstolos que havia em Corinto, entretanto, pregavam contra essas doutrinas sãs, e assim se faziam reais inimigos do conhecimento de Deus, já que se mostravam contrários à posição e à dignidade de Cristo, por meio de quem todo o conhecimento de Deus nos é dado. (João 1:18). As armas da verdade destroem os fortins do legalismo, da sabedoria humana, da filosofia sofista que é transmutada em religião, como também derrubam todas as demais doutrinas que, de uma maneira ou de outra, impedem os homens de virem a Deus, por intermédio de Jesus Cristo.
Mas os homens têm suas próprias exaltações, seu orgulho, a busca pelas vantagens materiais, o desejo pelo conforto, e tudo isso são cidadelas, exaltadas contra o conhecimento de Deus. Todas essas coisas, por semelhante modo, as armas espirituais podem derrubar por terra. Quase todo o indivíduo, e a maioria dos próprios crentes, tem seus «obstáculos exaltados» contra o conhecimento de Deus.
“…levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo…” Esses “pensamentos” podem ser coletivos, isto é, aceitos por vários elementos, formando um sistema doutrinário; mas também podem ser particulares, indicando as ideias de alguma pessoa, que distorçam verdades doutrinárias ou que de outra maneira qualquer desonrem a Cristo, por serem blasfemas.
Maus pensamentos certamente estão incluídos. Toda a ação começa nos pensamentos; e assim como um homem pensa, assim também será ele.
Não há que duvidar que maus e errôneos pensamentos são aqui focalizados: pensamentos imorais, pensamentos erroneamente motivados, pensamentos espirituais destrutivos. Do ponto de vista divino, poder-se-ia considerar isso como uma desordem mental. Ora, as armas da justiça podem pôr novamente em ordem a mente desordenada, levando todo o pensamento errôneo e mal ao cativeiro, levando assim o crente de seu domínio, libertando-o para assim servir e obedecer a Cristo. (CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. p. 390).
Nossas armas são poderosas em Deus para derrubar as fortalezas do Diabo, os falsos argumentos e toda a altivez humana.
A BÍBLIA NOS TORNA HUMILDES
Deus aborrece a soberba
O apóstolo João exortou os cristãos contra o amor ao mundo e tudo o que ele oferece (1Jo 2.15). O mundo a que João se refere é o sistema iníquo da sociedade rebelada contra Deus. James Boice enumera duas razões por que os cristãos não devem amar o mundo.
A primeira razão é que o amor pelo mundo e o amor pelo Pai são incompatíveis. Deus se coloca contra os pecados e os valores do mundo: “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2.15b);
A segunda razão é que tudo que está no mundo é transitório e, assim, leva à destruição. O mundo é passageiro e passageiros também são seus valores e aqueles que são caracterizados pelos seus valores: “E o mundo passa, e a sua concupiscência” (1 Jo 2.17).28 Desse modo, o apóstolo advertiu os crentes a não desejarem e nem praticarem as “coisas do mundo”, as quais ele descreve em três categorias principais: a “concupiscência da carne”, a “concupiscência dos olhos” e a “soberba da vida” (1 Jo 2.16).
Dentre essas ações condenadas nas Escrituras, a “soberba da vida” refere-se “tanto à atitude interior quanto à vanglória exterior devido a uma obsessão pela condição ou pelas posses de uma pessoa”. Diz respeito ao sentimento de superioridade em relação ao próximo, conceito exagerado de si próprio, presunção de estar acima de seu próximo seja pela intelectualidade, seja pela condição social, aparência ou frivolidade de caráter. Matthew Henry destaca que a soberba da vida é conduta de “mente vaidosa que almeja toda grandeza e pompa de uma vida vangloriosa; é uma ambição desenfreada e uma avidez por honra e aplauso”. A pessoa soberba se porta com arrogância e busca exaltação por meio das riquezas, obtenção de títulos e outros meios que possam alimentar o seu próprio ego. Em sua jactância, não reconhece a existência de Deus e tampouco submete-se a Sua Palavra: “Em sua soberba, o perverso não investiga; tudo o que ele pensa é que Deus não existe” (Sl 10.4, NAA).
Em reprovação a esse comportamento, a Escritura declara que “Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes” (Tg 4.6). Esse texto é citação de Provérbios 3.34 e indica que os escarnecedores não alcançarão o favor divino; ao contrário, eles serão julgados pela lei da semeadura (Gl 6.7). Pressupõe que Deus abomina os arrogantes que confiam na sabedoria mundana e rejeitam os preceitos divinos. Por isso, Tiago exorta: “Sujeitai-vos, pois, a Deus” (Tg 4.7); e ainda, “humilhai-vos perante o Senhor” (Tg 4.10). As expressões “sujeitar-se” e “humilhar-se” significam obediência absoluta ao Todo-Poderoso. Quando nos achegamos a Deus, Ele se achega a nós (Tg 4.8). Ele nos liberta da sabedoria “terrena, animal e diabólica” (Tg 3.15) e nos agracia com a verdadeira “sabedoria que vem do alto” (Tg 3.17). Em vista disso, a bênção plena de Deus é concedida aos humildes que são transformados pela Palavra do Altíssimo (Tg 1.21,22). Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
Tiago fala do diabo (4.6,7). O pecado predileto do diabo é a vaidade, o orgulho. Ele tenta as pessoas nessa área (4.6,7). Ele tentou Eva e tenta os novos crentes (1Tm 3.6). Deus quer que dependamos dEle enquanto o diabo quer que dependamos de nós. O diabo gosta de encher a nossa bola. O grande problema da igreja hoje é que temos muitas celebridades e poucos servos. Há tanta vaidade humana que não sobra espaço para a glória de Deus.
Como podemos vencer esses três inimigos?
Tiago nos informa que Deus está incansavelmente do nosso lado (4.6). Ele sempre nos dá graça suficiente para vencer. Mas a graça de Deus não nos isenta de responsabilidade. Nos versículos 7-10 há vários mandamentos para obedecer. A graça não nos isenta da obediência. Quanto mais graça, mais obediência.
Tiago menciona quatro atitudes, segundo Warren Wiersbe, que podem nos dar vitória; submissão a Deus, resistência ao diabo, comunhão com Deus e humildade diante de Deus. (LOPES. Hernandes Dias. TIAGO Transformando provas em triunfo. Editora Hagnos. p. 88-89).
Cristo é nosso exemplo de humildade
A humildade está conectada e interligada com a mansidão e a longanimidade (Ef 4.2). Em Efésios, Paulo emprega o termo grego “tapeinophrosune” no sentido de “humildade de mente” ou “humildade de espírito” e denota a ideia de gentileza, cortesia e submissão. É uma condição em que o orgulho e a arrogância humana são anulados. A humildade refere-se a uma postura despretensiosa, modesta e isenta de vaidade, que favorece o bem da coletividade, e não o egoísmo (Jo 17.21-23). O pastor e escritor sul-africano Andrew Murray (1828 -1917) estabelece o seguinte contraste entre humildade e orgulho: A humildade é o lugar da plena dependência de Deus […] o orgulho, ou a perda dessa humildade, é a raiz de todo pecado e mal. Foi quando os anjos agora caídos começaram a olhar para si mesmos com autocomplacência que foram levados à desobediência, e foram expulsos da luz do céu para as trevas exteriores. E também foi quando a serpente exalou o veneno do seu orgulho, o desejo de ser como Deus, no coração de nossos primeiros pais, que eles também caíram da sua posição elevada para toda a desgraça na qual o homem está, agora, afundado.
Nessa perspectiva, a nossa redenção compreende também a restauração da humildade perdida no Éden. O desejo soberbo de ser superior ao outro e até de igualar-se ou superar o próprio Deus é obra maligna e carnal. A humildade para reconhecer que em tudo dependemos de Deus é obra do Espírito Santo. Entrementes, a humildade é a única virtude que não aparece de modo explícito na lista do fruto do Espírito (Gl 5.22,23), e isso porque a humildade está intrinsecamente associada às demais virtudes (Mt 11.29; At 20.19; Fp 2; Cl 3.12). Denota maturidade espiritual, submissão e plena confiança na soberania divina.
Nesse aspecto, a Bíblia registra a humildade de Cristo, que “não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo” (Fp 2.6,7). A atitude fundamental que demonstra a humildade de Cristo reside no ato de Ele esvaziar-se e fazer-se semelhante aos homens. Richards comenta que “ao tornar-se um ser humano, Jesus não cessou de ser Deus em sua natureza especial. Mas Ele abandonou sua posição e sua divindade, trocando-as temporariamente pela condição de servo”. Ele deixou a sua glória (Jo 17.5), humilhou-se para tornar-se homem e submeter-se a vontade do Pai, e foi obediente até a morte, e morte de cruz (Fp 2.8).
Cristo novamente agiu com humildade ao lavar os pés dos apóstolos (Jo 13.14). Cristo não realizou tal prática para demonstrar qualquer espírito de autocomiseração assim como faziam os fariseus. Nosso Mestre não ensinava apenas no campo das ideias, ou seja, teoricamente, mas o verdadeiro Rabi instruía o povo e os seus discípulos com ousadia e exemplo. Na ocasião, Ele disse que devemos aplicar esse mesmo princípio em nosso viver (Jo 13.15). O Senhor nos deu o exemplo de sincera humildade. Esse é o padrão de conduta requerido para os cristãos (Fp 2.5). Desse modo, quem é verdadeiramente sábio, humilha-se diante de Deus, obedece à Palavra e imita os passos de Jesus (1 Pe 2.21). Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
Pedro encoraja seus leitores, que sofrem injustamente, a olharem para Jesus. Ao olharmos para Jesus, obtemos alento para suportar com paciência os sofrimentos da carreira cristã (Hb 12.1-3). Matthew Henry salienta que os sofrimentos de Cristo nos devem aquietar diante dos sofrimentos mais injustos e cruéis que enfrentamos no mundo. Se ele sofreu voluntariamente não por si mesmo, mas por nós, com a máxima prontidão, com perfeita paciência, de todos os lados, e tudo isso apesar de ser Deus-Homem, não deveríamos nós, que merecemos o pior, nos submeter às leves aflições desta vida, que produzem para nós vantagens indizíveis?
Pedro recorre à profecia de Isaías 53, que trata do sofrimento e morte expiatória de Jesus, e aplica essa verdade doutrinária à vida do povo. Com isso, Pedro enfatiza que todo cristão foi chamado para uma vida de sofrimento. Concordo com Kistemaker quando diz que seguimos Cristo não no grau de angústia e dor, mas na maneira como ele suportou o sofrimento.
Jesus alertou aos discípulos que o servo não é maior que o seu Senhor e que, assim como o mundo o odiava e o perseguia, também eles seriam perseguidos (Jo 15.20). Todo cristão, por causa da sua identificação com Cristo, tem um chamado para o sofrimento (Fp 1.29). Não existe discipulado sem cruz.
Todo cristão deve seguir o exemplo deixado por Cristo. Pedro usa a figura educacional de uma criança que aprende a escrever utilizando um “caderno de caligrafia”. A palavra grega “jypogrammos”, traduzida por “exemplo”, se refere “aos contornos claros das letras sobre os quais os alunos que aprendiam a escrever faziam os seus traços, e também a um conjunto de letras escritas no alto da página ou outro texto qualquer para ser copiado pelo aluno no resto da página”. Devemos escrever a nossa vida copiando o modelo de Jesus. (LOPES. Hernandes Dias. 1 Pedro Com os pés no vale e o coração no céu. Editora Hagnos. p. 91-92).
A humildade é uma virtude cristã
A humildade como virtude faz parte dos ensinos bíblicos. Os povos pagãos e as religiões antigas entendiam que a prática da humildade era uma atitude negativa, de fraqueza de caráter e de falta de amor próprio.
Assim, quando as Escrituras convocam os cristãos a viver e a andar com “humildade”, essa instrução entra na contramão da cultura e da religiosidade da época dos apóstolos, onde tal conduta era vista como gesto de inferioridade. Em nosso tempo, a situação não é diferente; infelizmente, a sociedade em que estamos inseridos atravessa um estágio de putrefação moral e ética. Por exemplo, para o filósofo alemão Friedrich Nietzshe (1844-1900), as virtudes cristãs exprimem fraqueza e incapacidade, tais como: “a compaixão, a mão solícita e afável, o coração cálido, a paciência, a diligência, a humildade, a amabilidade”.
Cristo ensinou que para entrar no Reino dos céus tem que se portar com humildade (Mt 18.4). Assim, somente a genuína conversão é capaz de modificar a nossa forma pecaminosa de viver (1 Co 6.9-11). Nessa direção, Paulo faz um apelo para que os salvos andem “como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef 4.1), e enfatiza a necessidade da prática da humildade (Ef 4.2). Desse modo, ratifica-se que ser humilde significa comportar-se com modéstia, reconhecer as próprias fraquezas e a soberania divina (Jo 15.5). Todavia, ninguém recebe virtude alguma se não for transformado pelo Espírito Santo (Gl 5.16).
O Dicionário Bíblico Wycliffe realça que a humildade é uma graça divina desenvolvida no cristão pelo Espírito de Deus. Em suma, uma pessoa que não foi purificada pela Palavra de Deus, e não é controlada pelo Espírito Santo não pode ser verdadeiramente humilde (Ef 5.26,27). Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
Para que os crentes façam da igreja o modelo da unidade em Cristo, o que virá a ser duplicado no cosmos inteiro, é preciso que se revistam de determinadas qualidades, que passam agora a ser enumeradas:
“…humildade…” No grego, “tapeinophrosune”, que significa “modéstia”, “humildade”. A forma verbal significa “dotado de mente humilde”, “despretensioso”. O adjetivo grego “tapeinos” significa “humilde”, “singelo”. O restante da palavra deriva-se de “phren”, que quer dizer «mente». Portanto, está aqui em foco certa qualidade mental que repudia o orgulho e a atitude voluntariosa, mas antes, que se inclina para a unidade e para a pacificação com todos.
“…toda…” Assim sendo, Paulo deseja que os crentes possuíssem essas virtudes em grau elevado, em sua plenitude, e não de maneira parcial ou como mera imitação. Tais virtudes são contrárias ao orgulho (Rm. 12:16) e ao conceito exagerado sobre nós mesmos (Gl. 6:3).
“Trata-se de crença em nossa pobreza, em confronto com a fé em Cristo, de modo a entendermos que nada temos, nada sabemos, nada podemos fazer, estando de mãos vazias, ainda que abertas, para recebermos aquilo que o Senhor nos quiser dar”. (Braune). CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. p. 593.
Deus resiste aos soberbos e concede verdadeira sabedoria aos humildes que são transformados pela sua Palavra.
CONCLUSÃO
O Altíssimo não tolera a soberba humana nem a rejeição à revelação divina. Os israelitas que se rebelaram contra ela sucumbiram no deserto. A Palavra de Deus examina os segredos humanos e desfaz todos os conselhos mundanos. Os humildes que se sujeitam a Deus e à sua Palavra são transformados e agraciados com a plenitude das bênçãos divinas. Essa é uma das maiores proezas da Palavra de Deus é a sua capacidade transformadora. Os críticos da Bíblia podem não acreditar que ela seja, inspirada, inerrante e infalível, mas jamais poderão negar sua capacidade transformadora.
Até a próxima lição!