Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
INTRODUÇÃO
A leitura e o estudo da palavra de Deus são um dever e privilégio. No cumprimento dessa tarefa, somos auxiliados pela exegese e pela hermenêutica. Contudo, nenhuma das técnicas de interpretação está acima da autoridade da Palavra de Deus. O que a igreja crê e professa deve ser interpretado à luz da própria Escritura. Neste capítulo, veremos a importância dos princípios basilares da interpretação bíblica.
“E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos.” (Tg 1.22)
A BÍBLIA PRECISA SER INTERPRETADA
A importância da exegese. Hermenêutica é a ciência da interpretação; é a doutrina ou ciência cujo objetivo se caracteriza na interpretação ou compreensão dos textos de teor religioso ou filosófico. Ela reúne os princípios, as regras e os métodos de interpretação para que uma pessoa possa compreender corretamente o sentido e o significado de um texto. Podemos defini-la como a ciência que nos ensina os princípios, as leis e os métodos de interpretação. A hermenêutica bíblica, é o processo de interpretação do texto da Escritura. A palavra hermenêutica vem do termo grego “hermeneutike” que, por sua vez, deriva do verbo grego “hermeneuo” e transmite o significado de: “elucidar; explicar; interpretar; traduzir”. Platão foi o primeiro a usar “hermeneutike” de maneira técnica.
A palavra de exegese transmite a ideia de: “expor um ensino; descrever ou relatar detalhadamente”. No grego, a palavra exegese possui o sentido de “conduzir para fora”. Exegese é uma análise, interpretação ou explicação detalhada e cuidadosa de uma obra, um texto, uma palavra ou expressão. Etimologicamente, este termo significa: “interpretação; exposição; explicação”. Então a exegese bíblica é o processo de expor a mensagem do texto bíblico; de “extrair ou conduzir para fora” a informação expressa na revelação divina dentro da Escritura (Ne 8.8). Por conseguinte, a exegese vem de “dentro da Bíblia para fora” e nunca ao contrário (BENTHO, 2005, p. 69). A exegese é por assim dizer, a irmã gêmea da hermenêutica.
“E leram o livro, na Lei de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse” (Ne 8.8)
Enquanto a exegese “tira para fora” o que já está no texto da Bíblia, a eisegese “coloca para dentro” o que não está nas Escrituras. Eisegese é o método que consiste em “injetar no texto um significado estranho ao sentido do autor”. A interpretação peculiar, subjetiva e tendenciosa de um texto bíblico vem de “fora para dentro”. A eisegese, portanto, é o inverso da exegese. Trata-se de uma maneira de contrabandear para o texto das Escrituras Sagradas as crenças, ideias e práticas particulares do intérprete. A eisegese é uma prática utilizada pelo próprio diabo (Gn 2.16,17; 3.1; Sl 91.11 ver Mt 4.5,6) (BENTHO, 2005, p. 69).
As limitações dos leitores
É preciso reconhecer que toda a vez que lemos a Bíblia, estamos interpretando. Isso porque todos os leitores são também intérpretes,
“no ano primeiro do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos.” (Dn 9.2)
O problema reside nas ideias que trazemos conosco antes mesmo de começarmos a leitura da Bíblia, em virtude de nossa inclinação pecaminosa que nos induz ao erro, como o apóstolo Paulo nos afirma tanto na carta aos romanos como aos efésios: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8.7); “que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano” (Ef 4.22).
O erudito D. A. Carson adverte que “é fácil demais aplicarmos ao texto bíblico as interpretações tradicionais que recebemos de terceiros. Então, podemos involuntariamente transferir a autoridade das Escrituras para as nossas interpretações tradicionais”. Em vista disso, nem sempre o “entendimento” daquilo que lemos reproduz a verdadeira “intenção” do Espírito Santo: “falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição.” (2 Pe 3.16).
A necessidade de estudarmos as Escrituras isto está implícito em Salmo 119.130; Isaías 34.16; 2 Timóteo 2.15; 1 Pedro 3.15, e nos conduz a dois pontos de suma importância:
a) porque devemos estudar a Bíblia, e
b) como devemos estudar a Bíblia.
Estudar é mais que ler; é aplicar a mente a um assunto, de modo sistemático e constante. Porque devemos estudar a Bíblia Ela é o único manual do crente na vida cristã e no trabalho do Senhor. O crente foi salvo para servir ao Senhor (Ef 2.10; 1 Pe 2.9). Sendo a Bíblia o livro texto do cristão, é importante que ele a maneje bem, para o fiel desempenho de sua missão (2 Tm 2.15). Um bom profissional sabe empregar com eficiência as ferramentas de seu ofício. Essa eficiência não é automática: vem pelo estudo e prática. Assim deve ser o crente com relação ao seu manual – a Bíblia. Entre as promessas de Deus nesse sentido, temos uma muito maravilhosa em Isaías 55.11. Deus declara aí que sua Palavra não voltará vazia. Portanto, quando alguém toma tempo para estudar com propósito a Palavra de Deus, o efeito será glorioso quanto à edificação espiritual e ao engrandecimento do reino de Deus. Ela alimenta nossas almas (Jr 15.16; Mt 4.4; 1 Pe 2.2). Não há dúvida de que o estudo da Palavra de Deus traz nutrição e crescimento espiritual. Ela é tão indispensável à alma, como o pão ao corpo. Nas passagens acima, ela é comparada ao alimento, porém, este só nutre o corpo quando é absorvido pelo organismo.
Em suma: precisamos ficar saturados da Palavra de Deus. Um requisito primordial para Deus responder às nossas orações é estarmos saturados da sua Palavra (Jo 15.7). Aqui está, em parte, a razão de muitas orações não serem respondidas: desinteresse pela Palavra de Deus.
“Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” (Jo 15.7)
Pelo menos três fatos estão implícitos aqui:
a) Na oração precisamos apoiar nossa fé nas promessas de Deus, e essas promessas estão na Bíblia,
b) Por sua vez, a Palavra de Deus produz fé em nós (Rm 10.17).
c) Devemos fazer nossas petições segundo a vontade de Deus (1 Jo 5.14), e um dos meios de saber-se a vontade de Deus é através da sua Palavra.
Na vida cristã, e no trabalho do Senhor em geral, o Espírito Santo só nos lembrará o texto bíblico preciso, se de antemão o conhecermos (Jo 14.26). É possível o leitor ser lembrado de algo que não sabe? Pense se é possível! Portanto, o Espírito Santo quer não somente encher o crente, mas também encontrar nele o instrumento com que operar a Palavra de Deus. (Silva, Antônio Gilberto da, A Bíblia através dos séculos. Editora: CPAD. 15 Edição 2004)
A natureza das Escrituras
Nesse ponto, ratificamos que a necessidade de a Bíblia ser interpretada acha-se na natureza da própria Palavra de Deus. Como já estudado, o texto bíblico foi escrito majoritariamente em duas línguas distintas (hebraico e grego), no período aproximado de 1600 anos, por cerca de 40 autores que viveram em épocas e culturas diferentes. Portanto, os textos canônicos possuem particularidades que não podem ser ignoradas. Dentre tantas, podemos citar as narrativas, as poesias, as crônicas, as profecias e as parábolas que precisam ser interpretadas, sob a orientação do Espírito Santo, observando as regras gramaticais e o contexto histórico e literário de quando foram redigidas:
“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido.” (Mt 5.18).
Em virtude dessas características, no período dos Pais da Igreja, o desenvolvimento dos princípios da hermenêutica e da exegese deu-se basicamente em três grandes centros:
(a) A Escola de Alexandria, que era dotada de um espírito conciliatório e tentava harmonizar a doutrina cristã com a filosofia da época por meio de uma abordagem alegórica;
(b) A Escola de Antioquia, que era caracterizada pela abordagem literal das Escrituras, na busca pelo sentido primário pretendido pelo autor; e
(c) A Escola Ocidental, que ficou marcada pelo acréscimo de outro elemento, a saber, a autoridade da tradição e da Igreja na interpretação da Bíblia. Essa última escola adentrou a Idade Média, e, nessa época, a interpretação bíblica ficou refém da tradição e dos concílios da Igreja. Quanto a essa deplorável situação, Hugo de São Vitor (1096-1141 d.C.) escreveu o seguinte: “aprende-se primeiro o que deves crer e então vai à Bíblia para encontrar confirmação”.
Nesse contexto, na Alemanha foi deflagrada a Reforma Protestante (1517 d.C.). E, com a influência da Renascença, se passou a dar atenção ao conhecimento das línguas originais a fim de entender a Bíblia. A compreensão histórico-gramatical começou a ser valorizada. Os dois grandes expoentes são Martinho Lutero e João Calvino. É de Calvino a célebre frase: “O intérprete deve permitir que o autor diga o que realmente diz, invés de lhe atribuir o que pensamos que devia dizer”. (Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021).
As Escrituras Sagradas precisam ser interpretadas para que todos conheçam o verdadeiro significado da mensagem.
PRESSUPOSTOS PENTECOSTAIS PARA LER A BÍBLIA
Autoridade da Bíblia
A Bíblia tem muita coisa a dizer sobre a sua própria autoridade. Na realidade, “a autoridade das Escrituras é o grande pressuposto de toda a pregação e doutrina bíblica”. Os escritores das Sagradas Escrituras afirmam constantemente que escreveram a Palavra viva de Deus. Quando o Antigo Testamento é citado no Novo, lemos frequentemente afirmações como “diz o Senhor” e “o Espírito Santo diz”, ou equivalentes (At 1.16; 3.24,25; 2Co 6.16). O que “a Escritura diz” e o que “Deus diz” são, na realidade, simplesmente a mesma coisa, caso após caso. A Escritura é até personificada, como se fosse Deus (Êx. 9.16; Rm 9.17). Foi B.B. Warfield quem constatou acuradamente que os escritores do Novo Testamento podiam falar da Escritura fazendo exatamente o que a Escritura registra como sendo Jeová fazendo. “E isto naturalmente subentende autoridade”, acrescenta Ridderbos.
A frase “está escrito” (gegraptai), usada muitas vezes no Novo Testamento, comprova-o fartamente acima de qualquer dúvida. Quando examinamos os escritos do Novo Testamento, notamos de imediato que nada menos do que a autoridade dos escritos do Antigo Testamento é atribuída aos escritores do Novo Testamento (Rm 1.15; 1Tm 2.7; G1 1.8,9; 1Ts 2.13). Gegraptai é usado em textos do Novo Testamento e o texto apostólico é colocado paralelamente com escritos do Antigo Testamento (2Pe 3.15,16; Ap 1.3). O conceito de fé encontrado no Novo Testamento é coerente com esse testemunho, pois a fé é simplesmente obediência ao testemunho dos apóstolos, ou seja, a Escritura do Novo Testamento (Rm 1.5; 16.26; 10.3).
Devemos observar: O testemunho apostólico distingue-se fundamentalmente a esse respeito de outras manifestações do Espírito, que exige da Igreja (ekklesià) não somente obediência, mas também discernimento crítico entre o verdadeiro e o falso (1Ts 5.21; 1Jo 4.1). Pois esse testemunho merece fé e obediência incondicionais, em seu escrito e também em sua forma verbal. Portanto, a autoridade da Escritura não está na inteligência ou no testemunho. Ela não é encontrada na pessoa de Moisés, Paulo ou Pedro.
A autoridade é encontrada no próprio Deus soberano. O Deus que “soprou” as palavras por meio dos escritores humanos está por trás de toda afirmação, toda doutrina, toda promessa e toda ordem contidas na Escritura. Afinal, aconteceu que “Deus, outrora, [falou], muitas vestes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas” (Hb 1.1). Posteriormente, o apóstolo Paulo fez uma afirmação tão arrojada que deve nos impressionar, se a lermos cuidadosamente. Ele disse à igreja de Corinto: “Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo” (1Co 14.37).
Sua autoridade, como um escritor da Escritura soprada por Deus, está acima de toda outra autoridade. Por quê? Porque ele é um apóstolo, o qual, breve veremos claramente, é comissionado especialmente pelo Senhor para lançar a fundação da igreja cristã (cf. Ef 2.20; Ap 21.2,14). Ele era um enviado especial do próprio Senhor. Sua palavra, portanto, era o mandamento real do Senhor! Todos devem submeter-se à autoridade dessa Palavra, sem rebelião ou reserva. Por quê? Porque essa Palavra tem uma autoridade da mais distinta natureza. Ela tem sua origem na vontade de Deus, não do homem. E é ao mesmo tempo completa e final, “nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” Hb 1.2. Sobre essa autoridade Paulo escreve:
“Porque as armas da nossa lutas não são carnais e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando nós, sofismas e toda altivez se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão.” (2Co 10.4-6).
O teólogo luterano Edward WA. Koehler, escrevendo no início do nosso século, conclui corretamente que “ela [isto é, essa autoridade que nos vem da própria Bíblia] requer aceitação imediata e absoluta de cada afirmação da Bíblia da parte do homem”. (Dr. John H. Arm Strong. Sola Scriptura, Numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. Editora Cultura Cristã. 1 Ed. 2000. pag. 89-91).
A iluminação do Espírito Santo
Sobre a iluminação, Chafer nos dá um entendimento, assinalando um tríplice divisão da humanidade em sua atitude em relação à Palavra de Deus:
(1) O homem natural ou não-regenerado não pode receber as Escrituras, visto que elas são discernidas pelo Espírito, e o homem natural, conquanto educado com tudo o que o olho, o ouvido e o poder de raciocínio possam comunicar, não recebeu o Espírito; portanto, toda a revelação é “loucura” para ele (1Co 2.14);
(2) O homem espiritual está numa posição de receber toda verdade (não há sugestão de que ele já a alcançou). Ele é habitado pelo Espírito Santo e todos os ajustes a respeito da sua vida diária são feitos com a finalidade de que o Espírito Santo não possa ser obstruído em seu ministério de ensino dentro do seu próprio coração (1Co 2.15);
(3) O cristão carnal demonstra sua carnalidade por sua incapacidade de receber as verdades mais profundas que são comparados a uma comida sólida em contraste com o leite (1Co 3.1-3).
O Espírito Santo pode e irá ajudar todo crente a interpretar e compreender corretamente a Palavra de Deus e a sua obra contínua neste mundo. Ele nos levará a toda a verdade. Esta promessa, no entanto, exige também que cooperemos com o nosso esforço. Devemos ler com cuidado e com oração. Deus jamais teve a intenção de fazer da Bíblia um livro de difícil compreensão para o seu povo. Porém, se não nos dispusermos a cooperar com o Espírito Santo mediante o estudo e a aplicação de regras sadias de interpretação, nosso modo de entender a Bíblia nossa regra infalível da fé e conduta ficará carregado de erros.
O Espírito Santo nos levará a toda a verdade à medida que lermos e estudarmos cuidadosamente a Bíblia, sob sua orientação. Uma das verdades ensinadas pelo Espírito Santo é que não podemos recitar uma fórmula mágica do tipo: “Amarro Satanás; amarro minha mente; amarro minha carne. Agora, Espírito Santo, creio que os pensamentos e as palavras que se seguem vêm todos de ti!” Não nos é lícito usar encantamentos para submeter Deus à nossa vontade. João admoesta a Igreja: “Provai se os espíritos são de Deus” (1 Jo 4.1). Significa que devemos permitir ao Espírito da Verdade orientar-nos na tarefa de interpretar a Palavra de Deus e a testar, pelas Escrituras, os nossos pensamentos e os de outras pessoas. Há perigos genuínos neste assunto. Certo autor reivindica, na capa do seu livro: “Este livro foi escrito no Espírito”. Outra reivindicação do seu livro: “Predições cem por cento corretas das coisas do porvir”.
A tarefa do leitor, com a ajuda do Espírito Santo, é seguir o exemplo dos bereanos, que o próprio Espírito recomenda através das palavras de Lucas. Eles persistiam “examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17.11). HORTON. Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Editora CPAD.
O valor da experiência
A BÍBLIA tem direitos singulares, únicos, sobre nós, merece atenção única. Como Jó, devemos dizer: “Tenho apreciado mais as palavras da tua boca do que o pão de que necessito” (Jó 23.12). Se, afinal, a história nos ensina alguma coisa, certamente ensina que as nações que mais honraram a Palavra de Deus têm sido mais honradas por Deus. E o que se pode dizer da nação, pode-se igualmente dizer da família e do indivíduo.
Os maiores intelectos de todos os séculos hauriram sua inspiração da Escritura da Verdade. Os mais eminentes estadistas têm testificado o valor e a importância do estudo da Bíblia. Benjamin Franklin disse: “Jovem, meu conselho a você é que cultive a familiaridade com as Escrituras Sagradas e nelas tenha firme fé, porquanto fazer isso é do seu certo e seguro interesse”. Thomas Jefferson fez esta declaração como sua opinião: “Tenho dito e sempre direi que o estudo minucioso e aplicado do Livro Sagrado fará melhores cidadãos, melhores pais e melhores maridos”. Quando perguntaram à finada rainha Vitória qual o segredo da grandeza da Inglaterra, ela apontou para a Bíblia e disse: “Esse Livro explica o poder da Grã-Bretanha”.
Daniel Webster certa vez afirmou: “Se cumprirmos os princípios ensinados na Bíblia, o nosso país continuará próspero e prosperando, mas, se nós e a nossa posteridade negligenciarmos suas instruções e sua autoridade, ninguém poderá dizer que tremenda catástrofe nos sobrevirá repentinamente e sepultará toda a nossa glória numa profunda obscuridade. A Bíblia é, dentre todas as demais obras publicadas, o Livro para advogados bem como para teólogos, e tenho dó do homem que não consegue encontrar nela um rico suprimento de pensamento e de regra de conduta”. Quando Sir Walter Scott estava morrendo, chamou para o seu lado o homem que o atendia e lhe pediu: “Leia-me algo do Livro”.
“Que livro?”, respondeu seu servidor. “Existe somente um Livro”, foi a resposta do moribundo, e acrescentou: “A Bíblia!”. A Bíblia é o Livro pelo qual viver e pelo qual morrer. Portanto, leia a Bíblia para ser sábio, creia nela para ser salvo, pratique-a para ser santo. Como outra pessoa disse: “É importante que você saiba a Bíblia na cabeça, que a armazene no coração, que a mostre na vida e que a semeie no mundo”. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17). Arthur Walkington Pink; A inspiração divina da Bíblia. Editora Monergismo. 1ª edição, 2013.
A Bíblia é a autoridade final, o Espírito Santo nos auxilia na sua compreensão e a experiência confirma as verdades bíblicas.
REGRAS BÁSICAS DE INTERPRETAÇÃO
A Escritura é sua própria intérprete
Como já visto, a “hermenêutica” designa os princípios que regem a interpretação dos textos sagrados. E, conforme observa Gordon Fee, “embora a palavra abranja o campo inteiro da interpretação, inclusive a exegese, também é usada no sentido mais estreito de procurar a relevância contemporânea dos textos antigos”. Nesse propósito, Martinho Lutero (1483-1546 d.C.) desenvolveu a máxima que a Escritura tem de ser interpretada e entendida por si própria (Is 8.20). Durante a Reforma Protestante, em 15 de junho de 1520, por meio da bula Exsurge Domine, Lutero foi acusado de interpretar as Escrituras pelo espírito humano, em oposição à tradição e a interpretação oficial da Igreja Católica. Em sua defesa, Lutero insistiu que a Bíblia deve ser interpretada por ela mesma: “Eu não quero ser elogiado por ser mais culto do que todos, mas por ter somente a Escritura por regra. Também não quero que ela seja interpretada pelo meu próprio espírito ou por qualquer espírito humano, mas entendida por si própria e por seu próprio espírito”. Essa afirmação culminou na máxima “a Escritura é a sua própria intérprete”. No sentido passivo, a frase indica que as passagens obscuras da Bíblia devem ser lidas à luz das mais claras. Porém, esse não é o único sentido possível.
Em seus escritos, Lutero falou da Escritura como sujeito ativo, isto é, no engajamento com a Palavra de Deus, é tarefa do exegeta permitir que o Espírito da Escritura o ilumine,
“Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho.” (Sl 119.105)
Desse modo, apesar de a Bíblia possuir uma heterogênea estrutura literária, dezenas de autores distintos, e aspectos culturais e históricos diversos, Lutero ensinou que o seu significado “era claro para quem presta atenção à gramática do texto e à liderança do Espírito”. Essa propositura, valida o estudo das Escrituras seguindo o método pelo qual uma parte do texto auxilia na compreensão de outro texto, e assim ilumina o entendimento do intérprete. Tal afirmação é verdadeira porque a coesão da Escritura é o resultado de um único autor divino,
“Toda palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso.” (Pv 30.5,6).
Contudo, embora esse método seja legítimo, a estudante das Escrituras precisa do auxílio de regras básicas para uma correta interpretação. Esse cuidado é importante para não incorrer no erro de fazer um texto significar aquilo que Deus nunca pretendeu. (Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021).
Princípios de interpretação bíblica
Nossa Declaração de Fé assegura que os pentecostais interpretam as Escrituras “sob a orientação do Espírito Santo, observando as regras gramaticais e o contexto histórico e literário”. O historiador Isael de Araujo enfatiza que o método histórico-gramatical vem sendo reafirmado como uma reação ou alternativa em relação ao método histórico-crítico, que foi intensamente difundido no século XX:
A interpretação histórica se refere ao contexto em que os livros da Bíblia foram escritos e às circunstâncias em jogo. A interpretação gramatical se refere à apuração do sentido dos textos bíblicos mediante estudo das palavras e das frases em seu sentido normal e claro. Em termos simples e objetivos, há três estágios para o método:
observação (o que diz o texto),
interpretação (o que quer dizer o texto) e
aplicação (o que o texto quer dizer para nós).
Nessa concepção, o artigo em comento destaca que “os defensores desse método na hermenêutica pentecostal argumentam que a intenção autoral propagada pelo método histórico-gramatical é testada pelo tempo (desde os primórdios da igreja com a escola de Antioquia) e ideal para um sadio método de interpretação bíblica pentecostal”.
Em contrapartida, debate-se a construção da “hermenêutica pentecostal” em solo brasileiro. Essa discussão resultou na publicação de um manifesto do Conselho de Doutrina e Comissão de Apologética da CGADB, com os seguintes esclarecimentos:
A Hermenêutica Pentecostal sadia não é uma negação do método histórico-gramatical. Por outro lado, não é um apego rigoroso e absoluto a esse método, cujo emprego não conduziu a fé reformada à compreensão e crença na atualidade da obra do Espírito Santo, tal qual prometida por Jesus e vivenciada pelos apóstolos e pelas igrejas do Novo Testamento. Conquanto se valha de ferramentas da erudição bíblica, a Hermenêutica Pentecostal não flerta com quaisquer das aplicações do método histórico-crítico ou da atual crítica literária e histórica que negam a plena inspiração das Escrituras e a literalidade dos milagres.
Concordes com esse posicionamento, dentre os princípios gramaticais, históricos e literários, enfatizamos que o texto bíblico tem sentido único e sempre que possível deve ser interpretado literalmente. Nesse aspecto, é preciso tomar cuidado com as expressões de uso simbólico/alegórico.
Por exemplo, Cristo disse: “Tomai, comei, isto é o meu corpo” (Mt 26.26). Esse texto mostra que corpo aqui não é no sentido literal, mas no figurado. Outro princípio refere-se ao contexto, isto é, analisar os versículos que precedem e seguem o texto que se estuda. Diz a máxima que “texto fora do contexto é pretexto”. Desse modo, observados esses princípios, a Bíblia precisa ser interpretada no todo, nenhuma doutrina pode basear-se em único texto ou em hipóteses particulares,
“sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pe 1.20).
(Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021).
Os perigos da hermenêutica pós-moderna
A denominada hermenêutica pós-moderna nega que existe um sentido absoluto para a verdade bíblica, e, portanto, busca rever ou ressignificar a verdade revelada na Palavra de Deus. Nesse debate, a hermenêutica na perspectiva pentecostal também foi acusada de promover interpretações exclusivamente baseadas na experiência do leitor. Diante disso, as Assembleias de Deus no Brasil se manifestaram nos seguintes termos: É preciso estabelecer com firmeza com o que não comungam os pentecostais clássicos em termos de técnicas de interpretação. Isso é imperativo especialmente diante de métodos hermenêuticos pós-modernos, focados no leitor e não no autor e no texto, e que emprestam à experiência um lugar que a ela não cabe no processo interpretativo. Isso não é Hermenêutica Pentecostal. Em suma, nossa ortodoxia refuta todo e qualquer método que nega a inspiração verbal e plenária da Bíblia e sua consequente autoridade
“porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” (2 Pe 1.21).
Ratifica-se que as experiências devem ser submetidas ao crivo das Escrituras Sagradas
“Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (At 17.11).
As Assembleias de Deus reconhecem que as técnicas hermenêuticas não são infalíveis. Durante o processo de aplicação dos métodos interpretativos, o crente necessita da iluminação do Espírito Santo (Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021).
“Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.” (1Co 2.12)
Quando Paulo fala que as Escrituras são, em primeiro lugar, para que o homem de Deus seja artios, ele está evocando o mesmo que afirma em Efésios 4, quando diz que Deus deu à Igreja apóstolos, profetas, evangelistas e pastores e mestres (homens que manejam a Palavra da Verdade) “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço [já que, para sermos bem equipados para as boas obras, precisamos ser cada vez mais artios], para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.12-15, grifos do autor). Daniel., Silas. A Sedução das Novas Teologias. Editora: CPAD. p. 80.
A Escritura é a sua principal interpretação. Assim sendo, o uso da hermenêutica e a iluminação do Espírito auxiliam na correta interpretação.
COMO DEVEMOS LER A BÍBLIA
Devemos ler a Bíblia conhecendo o seu Autor (2Tm 3.16). Apesar de ter sido escrita por aproximadamente 40 escritores, a Bíblia possui um único autor: Deus. Ao lermos a Bíblia devemos entender que os escritores foram apenas os instrumentos de Deus para nos transmitir a Sua palavra. A Bíblia não nos transmite apenas as palavras de Moisés, Davi e Paulo, e sim, as palavras de Deus por intermédio dos escritores. O apóstolo Paulo diz que toda Escritura é inspirada por Deus (2Tm 3.16) e o apóstolo Pedro diz que os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo (2Pe 1.20,21).
Devemos ler a Bíblia diariamente (Dt 17.19). O Senhor disse, por intermédio de Moisés, que os reis de Israel deveriam ler o Livro da Lei diariamente (Dt 17.18,20). Lamentavelmente, muitos cristãos não encontram tempo para ler a Bíblia, mas passam horas a fio diante do computador, da TV, e outros tipos de entretenimento como a internet.
Devemos ler a Bíblia meditando (Sl 1.1-3; Js 1.8). O cristão deve ler a Bíblia meditando, isto é, pensando, refletindo, sussurrando, analisando, como fez Davi (SI 119.15,16) e Daniel (Dn 9.2-4). A meditação aprofunda o sentido. O Senhor disse a Josué que meditasse no Livro da Lei de dia e de noite (Js 1.8); e o salmista disse: “Bem-aventurado é o varão… que tem o seu prazer na Lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite…” (Sl 1.1-3).
Devemos ler a Bíblia inteira. Muitos cristãos contentam-se em ler apenas pequenos trechos da Bíblia e outros apenas leem os textos da caixinha de promessa. No entanto, devermos lembrar que a Bíblia não contém apenas promessas, mas também, mandamentos, ordenanças, advertências, ensino etc. Todo conteúdo das Escrituras é de suma importância para nós. Por isso, devemos lê-la do princípio ao fim (Rm 15.4).
POR QUE DEVEMOS LER A BÍBLIA
Porque a Bíblia é o manual do crente (2Tm 2.15; 3.16). Ela é o livro-texto do cristão. Ela nos ensina como devemos amar, temer e obedecer a Deus (Dt 17.18,19; Ec 12.13; Lc 10.27); como devemos amar ao próximo (Mc 12.33; Lc 10.27-37); bem como nos ensina a viver neste mundo (Mt 5.13-16; 1Co 10.32). Por isso, devemos ler a Bíblia para ser sábio; crer na Bíblia para ser salvo e praticar a Bíblia para ser santo (1Tm 4.16; 2Tm 3.15).
Porque a Bíblia alimenta nossas almas (Mt 4.4; Jr 15.16; 1Pd 2.2). Sem dúvidas, a leitura da Palavra de Deus produz nutrição e crescimento espiritual. Ela é tão indispensável à vida espiritual como o alimento é para o corpo. Por isso, ela é comparada ao alimento. O texto de 1 Pedro 2.2, fala do intenso apetite do recém-nascido: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo”. Assim deve ser o nosso apetite pela Palavra de Deus.
Porque a Bíblia é a espada do Espírito (Ef 6.17; Hb 4.12). Escrevendo aos efésios, o apóstolo Paulo fala sobre a armadura de Deus (Ef 6.10-17), onde ele descreve diversas peças da armadura, que servem para defesa, tais como: capacete, couraça, escudo, etc. A Palavra de Deus, que é chamada de “espada do Espírito”, é a única arma de ataque nessa descrição: “Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6.17). O escritor aos Hebreus também compara a Bíblia a uma espada (Hb 4.12). Foi com esta arma que Jesus venceu a tentação (Mt 4.1-11).
Porque a Bíblia é um livro diferente dos demais livros (2Tm 3.16; 2Pd 1.20,21). Desde a invenção da escrita e da imprensa, milhares de livros já foram escritos no mundo. Muitos deles se tornaram conhecidos no mundo, marcaram a história e até se tornaram best-seller, ou seja, mais vendidos. Mas, nenhum deles pode ser comparado à Bíblia. Isto por quê: Somente a Bíblia é inspirada por Deus (2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21); somente a Bíblia é viva, eficaz e infalível (Hb 4.12; Is 55.10,11; Is 40.8; 1Pe 1.24,25).
CONCLUSÃO
A Bíblia deve ser lida e interpretada. Nesse compromisso, somos auxiliados pela exegese e pela hermenêutica. Contudo, nenhuma das técnicas de interpretação estão acima da autoridade da Palavra de Deus. O que a igreja crê e professa deve ser interpretado à luz da própria Escritura.
Até a próxima lição!