Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“No Senhor, Deus de Israel, confiou, de maneira que, depois dele, não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele. Assim, foi o Senhor com ele; para onde quer que saía, se conduzia com prudência; e se revoltou contra o rei da Assíria e não o serviu” (2Rs 18.5,7).
Ezequias foi um dos mais notáveis reis de Judá, e tornou-se famoso tanto devido à sua excepcional piedade como por suas vigorosas atividades políticas. Encontramos três relatos sobre seu reinado:
Livro do Reis (2Rs 18.1-20.21);
Livro do profeta Isaías (36.1-39.8);
Livro das Crônicas (2Cr 29.1-32.33).
Dando continuidade ao estudo dos livros dos Reis, observaremos o reinado de Ezequias, o décimo terceiro rei de Judá, em mais um salto cronológico, já que havíamos deixado Judá sob o reinado de Joás na lição 9.
Com a queda do reino de Israel, o reino do norte, o segundo livro dos Reis, a partir do capítulo 18 passa a tratar exclusivamente de Judá e o rei que reinava ali quando da queda de Israel era precisamente Ezequias.
Faremos um resumo do reino de Judá da morte de Joás até Ezequias, um período de 86 anos, período considerável que, apesar de o livro dos Reis não ser muito detalhista quanto a Judá, deve ser estudado, ainda que brevemente, para termos melhor entendimento dos fatos.
Joás, como vimos na lição 9, foi morto numa conspiração de seus próprios servos, consequência de sua impiedade, notadamente o assassinato de Zacarias, filho de Joiada, dentro do templo.
A conspiração contra o rei, entretanto, não significou uma rebelião contra a casa de Davi e os conspiradores acabaram sendo mortos, tendo sido entronizado Amazias, filho de Joás, que reinou 29 anos:
“No segundo ano de Jeoás, filho de Jeoacaz, rei de Israel, começou a reinar Amazias, filho de Joás, rei de Judá” (2 Rs 14.1).
Amazias começou bem o reinado, porquanto, embora tenha matado os conspiradores que tinham se voltado contra o seu pai, não permitiu que seus filhos fossem também mortos, o que era muito comum, observando, deste modo, a lei de Moisés, mostrando que estava disposto a ser obediente ao Senhor:
“Sucedeu, pois, que, sendo já o reino confirmado na sua mão, matou os seus servos que tinham matado o rei, seu pai. Porém os filhos dos matadores não matou, como está escrito no livro da Lei de Moisés, no qual o Senhor deu ordem, dizendo: Não matarão os pais por causa dos filhos, e os filhos não matarão por causa dos pais; mas cada um será morto pelo seu pecado” (2Rs 14.5,6).
Assim, dava uma guinada no sentido de voltar a servir ao Senhor, depois da apostasia do tempo final do reinado de seu pai, após a morte de Joiada.
Nesta disposição de servir ao Senhor, Amazias teve grande vitória sobre os edomitas:
“Amazias feriu a dez mil edomitas no vale do Sal e tomou a Sela na guerra; e chamou o seu nome Jocteel até ao dia de hoje” (2Rs 14.7).
Amazias, embora tenha demonstrado que serviria ao Senhor, não o fez com coração inteiro. Eis um exemplo de um “coração dividido”.
“E fez o que era reto aos olhos do Senhor, porém não com coração inteiro (2Cr 25.2).
Tanto assim foi que, logo depois da grande vitória militar sobre Edom, aderiu à idolatria, passando a adorar os deuses edomitas, precisamente os deuses daquele a quem havia vencido na guerra:
“E sucedeu que, depois que Amazias veio da matança dos edomitas, trouxe consigo os deuses dos filhos de Seir, tomou-os por seus deuses, e prostrou-se diante deles, e queimou-lhes incenso” (2 Cr 25.14).
Embora tenha se mostrado disposto a servir ao Senhor, logo passou a servir a si mesmo, ao seu ego e isto representou uma ruína em todos os aspectos de sua vida, pois haveria de perder tudo quanto ganhou
Achando-se grande, Amazias desafiou o rei Jeoás, de Israel, uma atitude que não tinha a aprovação divina, já que se tratava de uma tentativa de reunificação dos reinos que haviam sido divididos por Deus (2 Rs 14.8-11).
Houve, então, guerra entre Jeoás e Amazias, tendo Judá sido derrotado, sendo Amazias aprisionado por Jeoás, que invadiu Jerusalém e a saqueou (II Rs.14:12-14).
Amazias ainda viveu quinze anos depois da morte do rei Jeoás, mas o país já não era mais o mesmo, ante a derrota militar sofrida. O rei acabou sendo vítima de uma conspiração e foi morto quando havia se refugiado em Laquis, para onde fugira (2 Cr 25.27; 2 Rs 4.17-20).
“E, desde o tempo que Amazias se desviou do Senhor, conspiraram contra ele em Jerusalém, porém ele fugiu para Laquis; mas enviaram após ele a Laquis e o mataram ali” (v.27)
Mesmo diante da conspiração, o povo se manteve fiel à casa de Davi e tomou o filho de Amazias, Azarias (que é chamado também de Uzias), entronizando-o:
“E todo o povo de Judá tomou a Azarias, que já era de dezesseis anos, e o fizeram rei em lugar de Amazias, seu pai” (2 Rs 14.21).
Apesar das investidas contra a linhagem de onde viria o Messias, o Senhor continuava no controle da situação, fazendo com que a casa de Davi subsistisse.
Azarias reinou 52 anos sobre Judá(2Rs 15.2). Aqui, os inimigos das Escrituras gostam de apontar uma divergência entre o livro dos Reis e o livro das Crônicas, onde consta que Azarias (ou Uzias) reinou 55 anos (2Cr 26.3). Ainda que esta diferença em nada altere ou afete a veracidade e a autenticidade da Bíblia Sagrada ou o fato de ser ela a Palavra de Deus, não nos esqueçamos de que esta divergência é facilmente explicável, porque houve um período em que Azarias não pôde efetivamente reinar, já que ficou leproso (2 Rs 15.5; 2Cr 26.20,21). Assim, o texto do livro dos Reis só considera o tempo em que ele esteve de fato à frente do governo, enquanto o livro das Crônicas considera o tempo em que ele esteve no trono, o seu tempo de vida desde sua subida ao poder até a sua morte.
O reinado de Azarias foi muito próspero. Ele se pôs a buscar ao Senhor (2 Cr 26.5) e o Senhor o fez prosperar, dando-lhe sabedoria, inteligência, de modo que pôde promover um avanço tecnológico no país, passando a ter um exército bem armado e moderno, tendo também desenvolvido a agropecuária, trazendo progresso econômico para o país (2 Cr 26.5-15).
Entretanto, diante de tanta prosperidade, Azarias desenvolveu, também, a soberba e quis exercer funções sacerdotais, confrontando o próprio sumo sacerdote e, ao entrar no lugar santo para oferecer incenso, acabou sendo punido por Deus com lepra, perdendo tudo quanto tinha, pois, como leproso, teve de se afastar do convívio social, permanecendo como rei mas sem que de fato governasse, o que passou a ser feito pelo seu filho Jotão (2Cr 26.16-23; 2 Rs 15.5).
Temos aqui mais um exemplo de alguém que, tendo iniciado bem a sua carreira espiritual, deixou-se levar pelo orgulho e deixou de servir a Deus, tendo um triste fim. Joás, Amazias e Azarias são exemplos que devemos ter sempre em mente para que não venhamos a perder a nossa salvação!
Jotão assumiu o governo antes mesmo da morte de seu pai por causa da lepra, tendo reinado 16 anos:
“No ano segundo de Peca, filho de Remalias, rei de Israel, começou a reinar Jotão, filho de Uzias, rei de Judá” (2 Rs 15.32).
Foi um rei fiel ao Senhor, tendo edificado a porta alta da casa do Senhor. Apesar de ter sido um bom rei, o fato é que seu pai tinha sido um verdadeiro herói nacional e a derrocada final de Azarias trouxe grande decepção ao povo judaíta. O profeta Isaías o mostra bem ao lembrar que teve uma visão no ano em que morreu aquele rei.
“Tão-somente os altos se não tiraram; porque ainda o povo sacrificava e queimava incenso nos altos; Jotão edificou a Porta Alta da Casa do Senhor” (2Rs 15.35)
“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo” (Is 6.1).
Por isso, a partir de então, vamos ter uma decadência espiritual no meio do povo, pois, se Jotão servia a Deus, o povo se corrompia:
“E fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera Uzias, seu pai, exceto que não entrou no templo do Senhor, e ainda o povo se corrompia” (2 Cr 27.2).
Durante seu reinado, Jotão edificou muito sobre o muro de Ofel, que é uma região montanhosa no sul de Jerusalém, como também edificou cidades e elevações., tendo, também, guerreado e vencido os amonitas, que se tornaram seus tributários.
Jotão foi bem sucedido e fortalecido porque dirigiu os seus caminhos na presença do Senhor:
“Assim se fortificou Jotão, porque dirigiu os seus caminhos na presença do Senhor, seu Deus” (2Rs 27.6).
Seu nome significa “Javé é perfeição”, entretanto, como dissemos, o rei Jotão estava em boa situação espiritual, mas não era está a situação do povo e, quando Jotão morre, é sucedido por seu filho Acaz, que, lamentavelmente, não fez o que era reto aos olhos do Senhor, mas andou nos caminhos dos reis de Israel, praticando idolatria, feitiçaria, tendo, inclusive, queimado seus filhos para o deus Moloque no vale de Hinom, em Jerusalém:
“Tinha Acaz vinte anos de idade quando começou a reinar e dezesseis anos reinou em Jerusalem, e não fez o que era reto aos olhos do Senhor, como Davi, seu pai. Antes, andou nos caminhos dos reis de Israel e, demais disso, fez imagens fundidas a baalins. Também queimou incenso no vale do Filho Hinom, e queimou os seus filhos, conforme as abominações dos gentios que o Senhor tinha desterrado de diante dos filhos de Israel. Também sacrificou e queimou incenso nos altos e nos outeiros, como também debaixo de toda árvore verde” (2Cr 28.1-4).
Acaz acabou por seguir a corrupção do povo e, como consequência disto, o Senhor o entregou tanto nas mãos do rei da Síria, quanto do rei de Israel, tendo o rei Peca matou num dia cento e vinte mil soldados judaítas:
“Porque Peca, filho de Remalias, matou num dia em Judá cento e vinte mil, todos homens belicosos, porquanto deixaram o Senhor, Deus de seus pais” (2Cr 28.6).
A derrota foi tão grande que o rei de Israel chegou a levar para Samaria cativos cerca de duzentos mil judaítas, além de terem saqueado todo o reino de Judá:
“E os filhos de Israel levaram presos de seus irmãos duzentos mil, mulheres, filhos e filhas; e saquearam também deles grande despojo e trouxeram o despojo para Samaria” (2 Cr 28.8).
Os israelitas aproveitaram-se desta situação para levar este povo em cativeiro, mas isto foi desagrado do Senhor que levantou o profeta Obede, censurando esta atitude de Israel, tendo os israelitas ouvido o profeta e libertado os presos. O Senhor interviu para que os judaítas não ficassem cativos em Israel e, pouco tempo depois, assim como eles fossem dispersos entre as nações (2Cr 28.9-15).
Ante esta situação perigosa em que se encontrava, o rei Acaz foi pedir ajuda para o rei da Assíria, que era a potência mundial que se erguia naquele momento na história, sendo que, enquanto solicitava este apoio, os edomitas também vieram e levaram judaítas presos cativos, tendo, igualmente, os filisteus, que haviam sido contidos em suas incursões sobre Israel desde os dias de Davi, também igualmente investido sobre os judaítas. Tudo isto era consequência da desobediência e da impiedade de Acaz (2Cr 28.16-19).
O texto bíblico é claro ao dizer que o Senhor estava humilhando Judá, porque Acaz desviara a Judá, que de todo se dera a prevaricar contra o Senhor;
“Porque o Senhor humilhou a Judá por causa de Acaz, rei de Israel, porque Acaz desviara a Judá, que de todo se dera a prevaricar contra o Senhor” (2 Cr 28.19).
O rei da Assíria atendeu ao chamado de Acaz, mas, em vez de o fortalecer, o que fez Tiglate-Peser foi pôr Acaz em aperto, isto porque, para atender ao pedido do rei de Judá, recebeu grande soma em dinheiro:
“E tomou Acaz a prata e o ouro que se achou na Casa do Senhor e nos tesouros da casa do rei e mandou um presente ao rei da Assíria” (2 Rs 16.8).
Acaz cometia o mesmo erro dos reis de Israel, que buscam ajuda junto às potências da época, em vez de buscar a Deus.
Acaz, ao morrer, não foi sepultado junto com os demais reis. Seu ímpio reinado não ficaria impune. O próprio povo reconheceu que era indigno da posição real que ocupara:
“E dormiu Acaz com seus pais, e o sepultaram na cidade, em Jerusalém, porém não o puseram nos sepulcros dos reis de Israel; e Ezequias, seu filho, reinou em seu lugar” (2 Cr 28.27).
Nessa lição, iremos estudar o reinado de Ezequias, inicialmente veremos a integro reinado de Ezequias, veremos as ameaças de Senaqueribe e o seu fim, compreenderemos que os princípios extraídos das reformas do rei Ezequias nos remete a um verdadeiro avivamento espiritual.
O JUSTO REINADO DE EZEQUIAS
Com a morte de Acaz, assume Ezequias, seu filho, o trono de Judá. Uma nação empobrecida, humilhada e totalmente distante de Deus, a ponto de o templo estar simplesmente fechado.
Entretanto, o novo rei chamava-se “Ezequias”, que significa “Fortalecido por Deus”. Ezequias começou a reinar com 11 anos de idade em 729 a.C. em corregência com o seu pai, Acaz, mas incrivelmente não foi influenciado pela apostasia espiritual promovida pelo seu pai. Tinha Ezequias 25 anos de idade quando começou a reinar e reinou 29 anos (II Cr.29:1).
Diferentemente de seu pai, ele: “[…] fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera Davi […]” (2Rs 18.3).
Por isso mesmo, é considerado um dos maiores e mais virtuosos reis que subiram ao trono. Durante o seu reinado, que durou 29 anos, empreendeu uma grande reforma religiosa que conduziu o reino à adoração ao Deus verdadeiro.
Sua primeira providência foi abrir as portas da casa do Senhor e determinar a purificação do templo
“Ele, no ano primeiro do seu reinado, no mês primeiro, abriu as portas da Casa do Senhor e as reparou (2 Cr 29.3).
Mostrava, assim, toda a sua piedade e a necessidade que temos de purificar a Casa do Senhor. Havia diversos problemas para enfrentar, mas o principal era o de retomar a adoração a Deus, pois ali estava o povo santo, a propriedade peculiar de Deus entre os povos (Êx 19.5,6).
Ezequias não pensa duas vezes, convoca os sacerdotes e os levitas, determinando que se santificassem e santificassem a casa do Senhor, tirando do santuário toda a imundícia, reconhecendo que a geração anterior havia cometido grande pecado ao permitir a prática da idolatria e a proliferação de altares tanto em Jerusalém como no próprio templo ((2 Cr 29.5-10).
Ezequias entendia que era momento de fazerem um concerto com o Senhor, de pedir-Lhe perdão, confessar as suas culpas e, deste modo, fazer com que a ira divina se desviasse de Judá. Ezequias pediu diligência para sacerdotes e levitas, tanto no serviço, quanto no ministério como também na queima de incenso:
“Agora, filhos meus, não sejais negligentes, pois o Senhor vos tem escolhido para estardes diante dele para os servirdes, e para serdes seus ministros, e para queimardes incenso” (2Cr 29.11).
Esta diligência exigida por Ezequias começou pelo próprio rei. Ezequias tirou os altos, prática que o povo de Israel adotara desde os dias de Salomão (1 Rs 3.3; 15.14; 22.44; 2 Rs 12.3; 14.4; 15.4,35; 17.9) e que nenhum rei tinha tido a coragem de fazer cessar, pois não era lícito oferecer sacrifícios ao Senhor a não ser no altar de sacrifícios do tabernáculo e, depois, do templo (Dt 12.4-8,11-14).
Certamente não foi uma atitude popular nem que tenha sido facilmente acolhida pelo povo, mas era a vontade de Deus. Tanto assim é que, querendo obter o apoio da população contra o rei, os emissários do rei da Assíria, Senaqueribe, lembraram esta medida de Ezequias anos depois:
“Se, porém, me disserdes: No Senhor, nosso Deus, confiamos, porventura, não é este aquele cujos altos e cujos altares Ezequias tirou, dizendo a Judá e a Jerusalém: Perante este altar vos inclinares em Jerusalém?” (2 Rs 18.22; 2 Cr 32.12).
Ezequias, também, pôs fim à prática da queima de incenso à serpente de metal que Moisés construíra no deserto quando do episódio das serpentes mandadas por Deus para assolar os israelitas em uma de suas murmurações serpente a quem os israelitas tinham posto o nome de “Neustã”, que significa “pedaço de cobre”.
“E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ele. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo” (Nm 21.8,9)
Esta prática de queima de incenso a esta serpente de metal durou, segundo os cronologistas bíblicas Edward Reese e Frank Klassen, 698 anos! Isto que é coragem para enfrentar as tradições contrárias às Escrituras!
Estes atos de Ezequias demonstravam como ele era diligente em servir a Deus, tanto que é dito que ele se chegou ao Senhor, não se apartou de após dele, de modo que não houve rei semelhante a ele nem antes nem depois em Judá:
“Porque se chegou ao Senhor, não se apartou de após ele e guardou os mandamentos que o Senhor tinha dado a Moisés” (2 Rs 18.6).
Durante o seu reinado, o rei Ezequias teve um cuidado todo especial para organizar as Escrituras, tendo havido um trabalho de compilação da porção até então redigida do que viria a ser o Antigo Testamento.
Sabemos disto porque é dito que, no seu tempo, foram coligidos provérbios do rei Salomão, salmos de Davi e outros profetas (2 Cr 29.25,30) e alguns livros históricos e proféticos (2 Cr 32.32).
“Também estes são provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá” (Pv 25.1).
O avivamento proporcionado por Ezequias muito contribuiu para que o Senhor levantasse profetas que não só exerciam o ministério corriqueiro do profeta, que era o de levar o povo à observância da lei, mas que progredia a própria revelação divina aos homens, pois foi no tempo de Ezequias que se levantaram profetas como Isaías e Miqueias que, além de corrigirem o povo, trouxeram importantes predições a respeito do Messias.
Ezequias reinou num período em que a Assíria tomou o reino do norte e o levou para o cativeiro e, naturalmente, queria fazer o mesmo com relação a Judá. Aumentava, e muito, a tensão entre Assíria e Egito, ante estas grandes vitórias que os assírios haviam obtido, levando seu império até Canaã e conquistando dois importantes reinos, que eram a Síria e Israel.
Como Ezequias era fiel a Deus e procurou d’Ele se aproximar, o Senhor foi com ele, de modo que Ezequias se conduziu com prudência em todas as suas atitudes:
“Assim, foi o Senhor com ele; para onde quer que saía, se conduzia com prudência; e se revoltou contra o rei da Assíria e não o serviu” (2Rs 18.7).
Não é difícil de imaginar que, tendo havido a compilação dos provérbios de Salomão, tenha Ezequias tido conhecimento de tais escritos e, ao seguir o que eles diziam, tenha sido bem sucedido em suas ações.
A prudência é a consequência da “ciência do Santo” e, ao se aproximar de Deus, Ezequias obteve sabedoria e, conhecendo ao Senhor, pôde agir prudentemente, de modo que pôde manter o seu país livre e independente, apesar de estar no centro do fogo cruzado entre Egito e Assíria.
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e a ciência do Santo, a prudência” (Pv 9.10),
Ezequias reverteu o quadro adverso com relação aos filisteus, ferindo-os até Gaza, novamente os expulsando do território de Judá, de onde haviam sido extirpados desde os dias de Davi:
“Ele feriu os filisteus até Gaza, como também os termos dela, desde a torre das atalaias até à cidade forte” (2 Rs 18.8).
A prioridade de Ezequias, entretanto, como já dissemos, tinha sido o restabelecimento do culto a Deus, tendo determinado a reabertura e purificação da casa do Senhor e, então, feito uma reinauguração do templo.
Depois, tomadas estas providências indispensáveis, Ezequias, de madrugada, ajuntou os maiorais do povo e subiu à casa do Senhor, a fim de oferecer sacrifícios pelo pecado, fazendo a devida expiação:
“Então, trouxeram os bodes para sacrifício pelo pecado, perante o rei e a congregação, e lhes impuseram as mãos. E os sacerdotes os mataram e, com o seu sangue, fizeram expiação do pecado sobre o altar, para reconciliar a todo Israel, porque o rei tinha ordenado que se fizesse aquele holocausto e sacrifício pelo pecado por todo o Israel” (2Cr 29.23,24).
Em seguida a estes sacrifícios, que efetuou a reconciliação do povo com Deus (2 Cr 29.24), iniciou-se a adoração a Deus por meio do louvor, um louvor que seguia aos parâmetros estabelecidos pelo próprio Senhor quando da preparação para o serviço do templo, nos dias de Davi, Natã e Gade (2 Cr 29.25-28).
– Depois dos louvores e de se terem oferecido os sacrifícios, Ezequias e os que com ele estavam se prostraram e adoraram
“E, acabando de oferecer, o rei e todos quantos com ele se acharam se prostraram e adoraram” (2Cr 29.29),
sendo seguidos pelos levitas e sacerdotes, que louvaram com alegria e se inclinaram e adoraram.
“Então, o rei Ezequias e os maiorais disseram aos levitas que louvassem ao Senhor com as palavras de Davi e de Asafe, o vidente. E o louvaram com alegria, e se inclinaram, e adoraram” (2Cr 29.30).
Então, já devidamente consagrados ao Senhor, ofereceram sacrifícios de gratidão em grande número (2 Cr 29.31-36).
Ezequias demonstrou, assim, que não só queria estarem comunhão com Deus, mas que todo o povo também estivesse na mesma situação, a fim de que se evitasse o que havia ocorrido no reinado de seu avô Jotão.
Ezequias, sabendo a situação aflitiva em que se encontrava o reino do norte, acossado que era pelos assírios, também fez questão de convidar as tribos do norte, sendo que alguns atenderam a este convite e vieram celebrar a Páscoa, alguns de Aser, Manassé e Zebulom
“Todavia, alguns de Aser, e de Manassés, e de Zebulom se humilharam e vieram a Jerusalém” (2 Cr 30.11), enquanto que outros zombaram do convite, em Efraim e Manassés, “E os correios foram passando de cidade em cidade, pela terra de Efraim e Manassés até Zebulom; porém riram-se e zombaram deles” (2Cr 30.10).
O resultado de toda esta dedicação de Ezequias ao Senhor e à Sua obra é que a mão do Senhor esteve sobre Judá “E em Judá esteve a mão de Deus, dando-lhes um só coração, para fazerem o mandado do rei e dos príncipes, conforme a palavra do Senhor” (2 Cr 30.12) e isto foi fundamental para que o reino de Judá não viesse a ser destruído juntamente com o reino de Israel.
SENAQUERIBE INVADE JUDÁ
Ezequias estava servindo a Deus como nenhum outro rei de Judá, mas isto não impediu que viesse a ter problemas, e sérios, no seu reinado. A Assíria tomou Samaria e levou cativas as tribos do Norte e, no décimo quarto ano de Ezequias, ou seja, nove anos depois da conquista de Samara, o rei de Assíria, que, naquela oportunidade era Senaqueribe, invadiu Judá e tomou as “cidades fortes”, ou seja, as principais cidades do país
“Porém, no ano décimo quarto do rei Ezequias subiu Senaqueribe, rei da Assíria, contra todas as cidades fortes de Judá e as tomou” (2Rs 18.13).
Ezequias, então, não tendo como resistir ao poderoso exército assírio, mandou emissário a Laquis, cidade conquistada pelos assírios, aceitando a paz e pagar um tributo a Assíria, tendo sido, então, imposto um tributo de 300 talentos de prata (o que corresponde a R$ 42.632.100,00 em valores de 8 de maio de 2021) e 30 talentos de ouro (o que corresponde a R$ 280.408.320,00 em valores de 8 de maio de 2021).
Ezequias, então, deu todo o ouro que se achou na casa do Senhor e na casa do rei, tendo até cortado o ouro das portas do templo e das ombreiras, que ele mesmo havia revestido quando da reinauguração da casa de Deus (II Rs.18:14-16).
No entanto, Senaqueribe, depois de ter aparentemente feito a paz e recebido o tributo, tratou de mandar emissários até Jerusalém, para que levantassem o povo contra Ezequias e aceitassem a completa rendição, com a consequente ida ao cativeiro.
Ezequias, embora tivesse feito acordo com Senaqueribe, prudentemente havia alterado o armazenamento de águas em Jerusalém, a fim de impedir que, em eventual cerco, a cidade ficasse sem água (2Cr 32.2-4).
Os emissários de Senaqueribe eram comandantes do exército do rei assírio e que vieram acompanhados de um grande exército, a saber: Tartã, Rabe-Saris e Rabsaqué, os quais, ao chegarem a Jerusalém, pararam justamente onde havia ocorrido o desvio das águas
“Contudo, enviou o rei da Assíria a Tartã, e a Rabe-Saris, e a Rabsaqué, de Laquis, com um grande exercito, ao rei Ezequias, a Jerusalém; e subiram, e vieram a Jerusalém; e subiram, e vieram a Jerusalém ; e subindo e vindo eles, pararam ao pé do aqueduto da piscina superior, que está junto ao caminho do campo do lavandeiro” (2Rs 18.17).
Ao chegarem ali, os emissários de Senaqueribe chamaram o rei Ezequias que, prudentemente, não foi ao encontro deles, mas mandou a eles o mordomo Eliaquim, o escrivão Sebna e o chanceler Joá
“E chamaram o rei, e saiu a eles Eliaquim, filho de Hilquias, o mordomo, e Sebna, o escrivão, e Joá, filho de Asafe, o chanceler” (2 Rs 18.18).
Os emissários do rei Ezequias foram, então, até o palácio para dar conhecimento ao rei da mensagem trazida pela comitiva de Senaqueribe. Ezequias, então, mostrando toda a sua piedade, rasgou as suas vestes, cobriu-se de pano de saco e entrou na casa do Senhor
“E aconteceu que Ezequias, tendo-o ouvido, rasgou as suas vestes, e se cobriu de pano de saco, e entrou na Casa do Senhor” (2 Rs19.1).
Ezequias sabia que era impotente para lutar contra os assírios, tanto que havia tentado fazer a paz. Ante a obstinação de Senaqueribe, não fez senão o que estava ao seu alcance fazer: humilhar-se diante da potente mão de Deus e pedir misericórdia.
Ezequias vai ao templo e ora ao Senhor, mostrando a Deus que, realmente, o rei da Assíria havia vencido todas as outras nações, mas que isto se tinha dado porque as outras nações tinham falsos deuses e pede a ajuda do Senhor (2 Rs 19.2-19).
O Senhor ouviu a oração de Ezequias e mandou que o profeta Isaías levasse uma mensagem ao rei, confortando-o e dizendo que Deus haveria de livrar Judá (2 Rs 19.20-34).
De modo milagroso, o Senhor, naquela mesma noite, mandou um anjo que matou 185 mil soldados assírios e, ante tamanha mortandade, Senaqueribe retornou para a Assíria e lá, inclusive, foi morto por seus filhos Adrameleque e Sarezer, certamente porque, com tamanha derrota militar, sua posição política ficou insustentável. O arrogante e soberbo Senaqueribe foi vencido e Judá se livrou do domínio assírio, tudo pelo poder da oração da fé de Ezequias (2 Rs 19.35-37).
EZEQUIAS FICA DOENTE
Após este grande e milagroso livramento dado a Judá por Deus, Ezequias viria a enfrentar um outro problema, a nos mostrar, mais uma vez, que não é verdadeiro o ensino de que o servo de Deus está imune a dificuldades ou adversidades se mantiver a sua comunhão com o Senhor.
Quando Ezequias já reinava 14 anos, tendo 39 anos de idade, adoeceu e a sua doença era mortal o profeta Isaías foi até o palácio com uma dura mensagem para o rei:
“Naqueles dias, adoeceu Ezequias de morte; e o profeta Isaias, filho de Amoz, veio a ele e lhe disse: Assim diz o Senhor: Ordena a tua casa, porque morrerás e não viverás” (2 Rs 20.1).
O rei estava acamado e, ainda relativamente novo, ficou doente e a doença era mortal. Apesar de ter servido a Deus como nenhum outro rei de Judá
“No Senhor, Deus de Israel, confiou de maneira que, depois dele, não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele” (2 Rs 18.5),
era acometido de uma enfermidade e o próprio Senhor mandava dizer-lhe que iria morrer. Que situação!
Entretanto, quando o Senhor mandou que Ezequias ordenasse a sua casa porque iria morrer, o rei se desesperou. Ele até então não tinha filhos e, portanto, a sua morte significaria o fim da sua linhagem, a linhagem messiânica, a linhagem prometida a Davi que reinaria para sempre sobre Jerusalém.
Ezequias, tão ativo na adoração a Deus, tão zeloso para que a nação voltasse a servir ao Senhor, havia se descuidado do seu principal dever como rei: prover a descendência para a continuidade da linhagem davídica de onde viria o Messias.
Ezequias, naquele instante, virou seu rosto para a parede e começou a orar (2 Rs 20.2). Ezequias abriu o seu coração para Deus. Diz o texto sagrado que chorou muitíssimo e apresentou ao Senhor a sua vida santa e piedosa (2 Rs 20.3).
A oração de Ezequias continha a admissão de seu descuido, reconhecia que o ativismo não é uma conduta que se deva seguir e, humildemente, pediu uma nova oportunidade, uma nova chance.
Deus ouviu a oração do monarca. Isaías nem havia saído ainda do palácio, quando recebeu uma nova mensagem da parte de Deus mandando dizer ao rei que ele teria ainda quinze anos de vida (2 Rs 20.4-7).
A cura, porém, não se deu de imediato e sem qualquer providência, como o Senhor poderia ter feito, como, aliás, fez quando da destruição do exército assírio, em que um anjo matou 185.000 soldados de uma só vez. Deus mandou que se fizesse um remédio, uma pasta de figos, que, posta sobre a chaga, promoveu a cura da enfermidade de Ezequias
Ezequias pediu um sinal para o profeta Isaías de que isto aconteceria e o profeta, então, deu ao rei uma opção: queria que o relógio adiantasse ou que atrasasse dez graus? O rei, então, foi ousado, pedindo que o relógio atrasasse dez graus e assim ocorreu (2 Rs 20.8-11).
CONCLUSÃO
O rei Ezequias, mesmo sendo criado em uma casa ímpia, não se deixou corromper e tornou-se um dos reis mais justo de Judá. Empreendeu reformas que afastou a idolatria, restabeleceu a páscoa, demonstrando que o redentor de Israel é Deus, convocou o povo para a santificação e ao serviço a Deus. Essas atitudes de Ezequias nos encaminha a buscar um verdadeiro avivamento espiritual.