Prezados professores e alunos,
Paz do Senhor!
“Então, desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e sua carne tornou, como a carne de um menino, e ficou purificado” (2 Rs 5.14).
A cura de Naamã nos mostra não apenas a autoridade divina no profeta Eliseu para fazer milagres extraordinários e o poder de Deus para curar toda e qualquer enfermidade, mas, acima de tudo, a compaixão de Deus e o seu desejo de se revelar e se fazer conhecido não somente ao povo de Israel, mas, também, aos gentios, inclusive, aos povos inimigos da nação, como ocorreu com os ninivitas, nos dias de Jonas, e com os siros, nos dias de Eliseu. Nesta lição estudaremos quem era Naamã, como se deu a sua cura e conversão, e julgando o próprio servo por sua cobiça. Porém, por mais que sejam importantes os milagres, o tema ministério é muito relevante nessa lição. Deus não somente fez milagre na vida de Naamã, mas também um novo rumo e um ministério. Seria um embaixador do verdadeiro Deus, testemunhando o milagre realizado por Deus na sua vida, mas, infelizmente, o oportunista Geazi perdeu seu ministério como consequência de sua cobiça e mentira.
NAAMÃ, O CHEFE DO EXÉRCITO SÍRIO
Naamã era o comandante do exército da Síria nos tempos do profeta Eliseu. Naamã era um nome comum na antiga Síria, cujo significado é: “gracioso ou justo” (MACARTHUR, 2015, p. 481).
“E Naamã, chefe do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu senhor e de muito respeito; porque por ele o Senhor dera livramento aos sírios; e era este varão homem valoroso, porém leproso” (2 Rs 5.1)
Nesse texto bíblico é descrido as quatro frases sobre a importância de Naamã, vejamos:
a) Ele era o chefe do exército da Síria, ou seja, o oficial de patente mais elevada do exército sírio.
b) Ele era um grande homem diante do seu senhor e de muito respeito. Ou seja, ele era um homem de confiança, respeitado pelo seu povo e, principalmente, pelo rei.
c) Porque por ele o Senhor dera livramento aos siros. Apesar de sua bravura, coragem e valentia, suas conquistas não devem ser atribuídas às suas estratégias de guerra, mas, acima de tudo, à soberania divina (Jó 9.12; Dn 2.20-22; 6.26,27). O texto deixa bem claro que fora o Senhor quem dera livramento aos siros por meio dele.
d) E era este varão homem valoroso, ou seja, uma pessoa honrada e de grande importância para o seu povo. Mas, apesar de suas muitas virtudes, havia algo que lhe incomodava e lhe entristecia: Naamã era leproso!
A lepra nos tempos bíblicos
O termo lepra ocorre por trinta e cinco vezes na Bíblia, quase todas no livro de Levítico, mas, também, em Dt 24.8; 2Rs 5.3,6,7,27; 2Cr 26.19. Os capítulos 13 e 14 do livro de Levítico trazem uma série de recomendações sobre a praga de lepra. “A enfermidade assim chamada na Bíblia não é só a lepra moderna (causada pelo bacilo de Hansen), porquanto as descrições bíblicas dela incluem outras infecções da pele. Metaforicamente falando, essa enfermidade representa o pecado, que é uma condição da alma que se propaga, contagia e é crônica, tal qual aquela enfermidade. No Antigo Testamento, os leprosos não podiam viver em sociedade com os sãos, é o caso de Miriã,
“E disse o Senhor a Moisés: Se seu pai cuspira em seu rosto, não seria envergonhada sete dias? Esteja fechada sete dias fora do arraial; e, depois, a recolham. Assim, Miriã esteve fechada fora do arraial sete dias, e o povo não partiu, até que recolheram a Miriã” (Nm 12.14,15)
e eram considerados imundos (CHAMPLIN, R.N., 2014. pp. 373,374).
“E, se a lepra florescer de todo na pele e a lepra cobrir toda a pele do que tem a praga, desde a sua cabeça até aos pés, quanto podem ver os olhos do sacerdote, e o sacerdote o examinará, e eis que, se a praga se tornou branca, então, o sacerdote declarará limpo o que tem a mancha; limpo está” (Lv 13.12,17).
Como Naamã não pertencia ao povo de Israel, ele não estava isolado da sociedade (2Rs 5.3,4), mas, com certeza, a lepra lhe causava tristeza e angústia, pois tratava-se de uma doença incurável e não havia tratamento adequado para tal enfermidade na época.
Esta menina israelita era o suprassumo da inferioridade. Senão vejamos:
Por primeiro, era mulher e as mulheres naquela época não tinham qualquer vez ou voz;
Por segundo, era menina, ou seja, jovem e os jovens também não tinham qualquer credibilidade e ninguém lhes dava ouvido, já que tidos por inexperientes e ignorantes;
Por terceiro, era israelita em terra sira, ou seja, era uma estrangeira de um país inimigo e em quem portanto não se podia confiar.
Apesar de todas estas desvantagens, a menina se sobressaiu na casa de Naamã, a ponto de ter tido a coragem e dizer a sua senhora que se seu senhor fosse até o profeta que estava em Samaria, ele seria restaurado de sua lepra,
“E disse ‘a esta a sua senhora: Tomara que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra” (2 Rs 5.3).
Esta afirmação da menina contém algumas lições:
A primeira é que ela não levou em conta a sua condição de inferioridade e a altíssima probabilidade de ser ignorada ou até de sua afirmação ocasionar-se dano, que poderia ser até a sua própria morte, já que os senhores tinham poder de vida e morte sobre seus escravos (lembremos que ela estava na Síria e não em Israel, onde tal direito não era reconhecido).
Aquela menina, apesar de todas as suas desvantagens, sabia que havia um profeta em Samaria, sabia que ele era homem de Deus e que Deus era poderoso para curar os leprosos. Era o suficiente para que ela fizesse o anúncio, já que sabia que seu senhor era leproso.
A segunda lição é que ela bem sabia o que estava a falar. Ela havia sabido que seu senhor era leproso. Ela sabia que havia um profeta em Samaria. Ela sabia que Deus cura leprosos. Por isso, tendo conhecimento de tudo isso, divulgou a mensagem a sua senhora.
A terceira lição é do testemunho. Aquela menina foi ouvida por sua senhora, e isto somente se deu porque tinha credibilidade e uma credibilidade decorrente de seu comportamento na casa de Naamã, credibilidade tamanha que lhe permitiu superar todas as desvantagens existentes.
A quarta lição é a fé demonstrada por aquela menina. Ela tinha plena convicção de que o profeta em Samaria faria o milagre. Não teve medo de que poderia ser morta se tudo desse errado. Ela confiava em Deus. Sua fé era tanta que fez com que Naamã também tivesse fé e fosse até Israel para obter a cura, num comportamento que foi, inclusive, mencionado pelo Senhor Jesus,
“E muitos leprosos “havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc 4.27).
A quinta lição é o amor demonstrado por aquela menina. Humanamente falando, tinha ela todos os motivos para odiar e desejar o mal para Naamã. Ele era o chefe do exército do povo que era, na época, o principal inimigo de Israel, que muitos males haviam causado aos israelitas. Era ele o seu senhor e ela estava escravizada por causa dele. Ele era leproso e, na cultura israelita, o leproso era um maldito. Mesmo assim, ela quis o bem de seu senhor, ela queria vê-lo curado.
Naamã creu na mensagem da menina e foi até o rei da Síria, notificando ao monarca o que lhe dissera sua escrava. O rei da Síria, então, autorizou Naamã a ir até Samaria, mandando uma carta. Naamã, então, recebeu dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de vestes. A carta do rei dizia ao rei de Israel que, em chegando Naamã, deveria ser ele restaurado da lepra (2 Rs 5.3-6).
Ao ler a carta do rei da Síria, Jorão, o rei de Israel, rasgou as suas vestes, dizendo que não era Deus para matar e para vivificar e que não tinha como restaurar alguém da sua lepra, tendo visto nisto uma artimanha do rei da Síria para iniciar nova guerra contra Israel,
“E sucedeu que, lendo o rei de Israel a carta, rasgou as suas vestes e disse: Sou eu Deus, para matar e para e para vivificar, para que este envie a mim, para eu restaurar a um homem da sua lepra? Pelo que deveras notai, peços-vos, e vede que busca ocasião contra mim” (2 Rs 5.7).
A carta dizia que Jorão deveria restaurar a lepra a Naamã, mas não disse que era o rei quem deveria fazê-lo. Na cabeça de Jorão, ele era o rei e, portanto, ao lhe encaminhar a carta, queria o rei siro que o próprio Jorão resolvesse o problema.
Jorão tinha conhecimento de Eliseu, tanto ou até mais do que a menina criada de Naamã, pois havia visto o milagre feito pelo profeta na guerra contra Moabe e não sabemos se a menina tenha presenciado algum milagre de Eliseu, o que, aliás, era improvável.
Se a menina, sem ter visto qualquer milagre, confiava em Deus e tinha convicção de que o profeta poderia restaurar a lepra de Naamã, o rei, que havia visto um tremendo milagre do profeta, nem sequer se lembrou do próprio Eliseu para que pudesse restaurar a lepra do general siro.
A cegueira espiritual é terrível. Jorão, que quisera “agradar” a Deus tirando a estátua de Baal, agora nem sequer se lembrava que havia um profeta que operava milagres em seu país. Tinha uma mente totalmente voltada para as coisas desta vida e não enxergava na carta senão uma ocasião para o início de uma nova guerra.
O problema da “burocracia eclesiástica” é este: reduz tudo ao aspecto terreno, à dimensão humana, desconsidera o poder de Deus, a presença do Senhor no meio do Seu povo. Trata as igrejas como meras organizações, como verdadeiras empresas.
O rei se desesperou, rasgou as suas vestes em sinal de desespero, não de humilhação, como havia feito seu pai Acabe anos antes (1 Rs 21.27). Todo o poder que Jorão gostava de ter, em que confiava, mostrou-se totalmente inútil diante do pedido do rei siro para que se restaurasse Naamã da lepra. Daí o desespero do monarca.
Onde estamos a depositar a nossa esperança? Neste mundo ou em Deus? Pensemos nisto!
O MERGULHO NO RIO JORDÃO
Quando o profeta Eliseu soube da aflição do rei de Israel, mandou lhe dizer:
“Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel” (2Rs 5.8).
É certo que a função do profeta não era, necessariamente, a de operar milagres, pois a grande maioria deles foram apenas mensageiros de Deus e não realizaram prodígios e maravilhas. No entanto, o profeta Eliseu, à semelhança do seu antecessor Elias, havia sido o instrumento de Deus para realizar muitos milagres, dentre eles,
o aumento do azeite da viúva (2Rs 4.1-7),
a ressurreição do filho da sunamita (2Rs 4.32-37),
a multiplicação de pães (2Rs 4.42-44).
E o profeta Eliseu sabia que Deus seria glorificado mais uma vez, na cura daquele general leproso.
Com certeza, o general Naamã estava acostumado a ser recebido com honrarias aonde chegava, principalmente quando era enviado pelo rei da Síria. Ele pensou consigo que o profeta Eliseu iria recebê-lo pessoalmente, com as honrarias que lhe eram devidas e que o profeta iria orar por ele para que ele fosse curado (2Rs 5.11). Mas, para a sua surpresa, o profeta Eliseu mandou um mensageiro lhe dizer:
“Vá e lave-se sete vezes no rio Jordão; sua pele será restaurada e você ficará purificado” (2Rs 5.10 – NVI).
“Eliseu mandou Naamã lavar-se nas águas turvas do rio Jordão como uma simples demonstração de humildade e de obediência. Tanto os israelitas quanto os sírios sabiam que o Jordão não poderia curar a lepra. Naamã precisava saber que a cura provinha milagrosamente da graça e do poder de Deus, mediante a palavra do seu profeta” (STAMPS, 2005. p. 579).
Ao ouvir o mensageiro enviado pelo profeta Eliseu, Naamã ficou indignado e disse:
“Não são, porventura, Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar purificado?” (2Rs 5.12).
“O rio Abana (atual Barada) nascia nas montanhas do Líbano e corria até Damasco; suas águas límpidas produziam pomares e jardins. O rio Farpar corria para o leste, a partir do Monte Hermon até o sul de Damasco. Se Naamã precisava lavar-se num rio, certamente aqueles dois seriam melhores que o rio Jordão. Entretanto, a questão era a obediência à palavra de Deus e não a qualidade da água” (MACARTHUR, 2015. p. 482). Quando os servos de Naamã perceberam a sua resistência em lavar-se no rio Jordão, lhe disseram:
“Meu pai, se o profeta te dissera alguma grande coisa, porventura, não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te e ficarás purificado” (2Rs 5.13).
“O título ‘pai’ não era normalmente usado pelos servos para seus senhores. O uso do termo aqui pode indicar certo carinho dos servos por Naamã. Os servos de Naamã ressaltam que ele estivera disposto a fazer qualquer coisa, independente da dificuldade, para ser curado. Então deveria estar ainda mais disposto a fazer uma coisa tão fácil quanto lavar-se no rio Jordão” (MACARTHUR, 2015, p. 482).
Quando Naamã mergulhou sete vezes no Jordão, ele foi curado e a sua pele ficou como de uma criança, como o profeta Eliseu havia dito (2Rs 5.14). Depois de sua cura, Naamã retornou do rio Jordão à casa de Eliseu em Samaria (cerca de 40 Km) para testemunhar de sua cura e confessar a sua fé no Deus de Israel. Ele confessou que só havia um único Deus, o Deus de Israel (MACARTHUR, 2015, p. 482).
“É surpreendente que Naamã, embora sendo estrangeiro, foi milagrosamente liberto da lepra e convertido ao Deus verdadeiro, enquanto muitos leprosos em Israel permaneceram na sua impureza. O próprio Cristo referiu-se a Naamã (Lc 4.27) a fim de ressaltar que quando o povo de Deus desobedece à sua Palavra, Ele tira deles o seu reino e suscita outros para experimentarem a sua salvação, justiça e seu poder (Mt 8.10-13; 23.37-39)” (STAMPS, 2005, pp. 579,580).
GEAZI É ACOMETIDO DA LEPRA
Após receber a cura e demonstrar a sua fé no Deus de Israel, Naamã ofereceu presentes ao profeta Eliseu, mas ele se recusou a recebê-los, apesar de sua insistência, Naamã tinha ido até a casa de Eliseu e ali parado com toda a sua comitiva, trazendo dez talentos de prata (ou seja, 350 kg de prata, algo que, em 5 de maio de 2021, equivalia a R$ 1.580.000,00), seis mil siclos de ouro (72.000 g de ouro, algo que, em 5 de maio de 2021, equivalia a R$ 22.163.760,00) e dez mudas de vestidos (2 Rs 5:5).
“Então, voltou ao homem de Deus, ele e toda a sua comitiva, e veio, e pôs-se diante dele, e disse: Eis que tenho conhecido que em toda terra não há Deus, senão em Israel: agora, pois, te peço que tomes uma benção do teu servo. Porém ele disse: Vive o Senhor, em cuja presença estou, que a não tomarei. E instou com ele para que a tomasse, mas ele recusou” (2Rs 5.15,16).
Porém, Geazi, o servo de Eliseu, correu atrás de Naamã e, mentindo, lhe disse que o profeta Eliseu havia mandado buscar 35 kg de prata e duas mudas de roupas para dois filhos dos profetas que haviam chegado de Efraim,
“E ele disse: Tudo vai bem; meu senhor me mandou dizer: Eis que que agora mesmo vieram a mim dois jovens dos filhos dos profetas da montanha de Efraim; dá-lhes, pois um talento de prata em dois sacos, com duas mudas de vestes; e pô-las sobre dois dos seus moços, os quais os levaram diante dele” (2Rs 5.22).
O general Naamã, então, prontamente atendeu ao pedido de Geazi e fez mais do que ele havia pedido, o moço Geazi viu apenas uma ação humana quando deveria ver uma ação divina,
“Então, Geazi, moço de Eliseu, homem de Deus, disse: Eis que meu senhor impediu a este siro Naamã que da sua mão se desse alguma coisa do que trazia; porém, tão certo como vive o Senhor, que hei de correr atrás dele e tomar dele alguma coisa. E disse Naamã: Sê servido tomar dois talentos. E instou com ele e amarrou dois talentos de prata em dois sacos, com duas mudas de vestes; e pô-las sobre dois dos seus moços, os quais os levaram diante dele” (2Rs 5. 20,23).
Ao chegar em casa, Geazi guardou os presentes que havia ganhado de Naamã. Fez de conta que não havia acontecido nada. E, ao ser indagado pelo profeta Eliseu de onde ele vinha, ele mentiu dizendo que não havia ido a lugar algum (2Rs 5.24,25). O profeta Eliseu condenou Geazi e seus descendentes a sofrerem com a doença da pele de Naamã para sempre (2Rs 5.27). “Geazi tinha um coração cobiçoso e tentou desvirtuar o ato gracioso de Deus, visando proveito próprio e material. Nas suas transgressões, ele traiu Eliseu, mentiu a Naamã e ao profeta Eliseu e desonrou o nome de Deus” (STAMPS, 2005. p. 580).
“Geazi foi à procura de Naamã em busca de “alguma coisa” e terminou sem “coisa alguma”. Foi em busca de valores materiais, mas perdeu os espirituais. É um perigo quando alguém troca o “ser” pelo “ter”, quando transforma a vocação em carreira. Quando o ministério deixa de ser um projeto divino para se transformar em algo meramente humano” (Gonçalves, José, Porção Dobrada, p. 130, 2012).
CONCLUSÃO
A história de Naamã demonstra o poder de Deus e sua graça redentora, mas, também, o seu juízo contra o pecado. A narrativa destaca a verdade de que a graça e a salvação divinas não se limitavam a Israel, mas que Ele queria compadecer-se dos gentios, ou seja, os não israelitas, e levá-los a conhecer o Único Deus verdadeiro. Mas adverte também a todos nós sobre os perigos da avareza e do apego aos bens materiais.